Povoando Suas Páginas escrita por Daniela Mota


Capítulo 2
Capítulo 1 - Insanidade


Notas iniciais do capítulo

Oi, piupou. Estou aqui novamente bem rapidinho para vocês. Bem, gostaria que os leitores fantasmas se apresentem, eu não tenho nenhum problema com o mundo espiritual, prometo não chamar nenhum Hunter pra vocês.
Boa leitura!



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Melanie PDV

Eu estava dormindo, eu me via dormindo. De repente, eu acordei, tranquila, diferente de como eu acordo todos os dias. Dei um longo suspiro, e notei que eu não conhecia aquele quarto. Onde eu estava? Na minha frente, estava uma estante com meus livros, em destaque o livro que ainda nem fora lançado. Estranho. Virei-me, e percebi que esse não era o meu maior enigma. Alguém dormia ao meu lado. Alguém que eu só podia ver os cabelos aproximados de um tom de loiro escuro. Tentei me levantar para ver quem era, mas parece que algo me prendia. A curiosidade me tomou, pois aquele me remetia o cabelo dele, até em seu comprimento. Eu sempre quis tocá-lo. Não hesitei, e com a mão direita, o toquei, notando a sua grande maciez. Ele se mexeu, em reflexo do meu afago, e, para minha surpresa, ele se virou. Fitei os olhos azuis esverdeados mais lindos da face da Terra, a barba ralinha que sempre imaginei roçando no meu rosto, e um sorriso que se formava no canto da sua boca. Foi aí que meu coração quase saíria pela boca. O que foi estranho, foi que não tive nenhuma atitude histérica, a não ser retribuindo-lhe o olhar. Aquilo era um sonho, só podia ser um sonho. Mas era tão real... Eu não sabia se era real por ser mesmo real ou porque eu queria que assim o fosse.

–Bom dia, Mel... – ele disse, com a voz suave. Se havia uma voz no mundo que me lembrava veludo, coisas doces e sensualidade ao mesmo tempo, era esta que acabara de ouvir.

–Bom.. di..a... – eu disse, gaguejando. Sua mão esquerda tocou a minha face como quem toca a sua coisa mais preciosa do mundo, e fechei meus olhos com o afago dos seus dedos quentes na minha face.

Eu mal podia crer que estava na cama com Arthur Dobrev, ó Jesus Cristinho, filho de Deus vivo, me acode mas não me acorde...!

Seus dedos deslizaram, tocando o meu pescoço. Meu corpo todo se arrepiou. Continuaram deslizando, tocando os meus cabelos e os enrolando nos dedos. Achei que os seus dedos continuariam descendo e me tocariam mais, mas ele voltou a tocar meu rosto novamente. Ouvi o som da sua risada bem baixinha, e meus olhos se abriram, curiosos. Segurou meu rosto com as mãos, e começou a se aproximar aos poucos. Seu hálito quente e bom não era o de uma pessoa que acabara de acordar. Seus lábios estavam cada vez mais próximos dos meus, e quando eu ia tocá-los num milésimo de segundo, ouvi um barulho altíssimo, e quando olhei para o lado, mal podia acreditar que via um tanque de guerra que acabara de derrubar a parede do nosso quarto vindo em direção à cama. Revirei os olhos confusa e comecei-me a sentir apavorada. Íamos morrer esmagados, e logo quando eu ia beijá-lo. Voltei-me a ele para beijá-lo antes que tudo acabasse, e quase pulei da cama, quando, no seu lugar, vi o Laurete, se abanando com as mãos. Arregalei os olhos, e num sobressalto, fiquei empé na cama e gritei: "Nous sommes dormis! Nous dormons!"

De repente, alguém me cutucou e quando olhei era o presidente dos Estados Unidos de pé do lado da nossa cama, olhou o tanque admirado e disse: "It's a beautiful car".

–Mel... Não ouviu o despertador? Mel... – abri os olhos, em choque, porém tudo que vi foi minha mãe. Nada de tanques, nada de Tutuzinho, nada de Laurete, nada de Obama, nem nada de nada. Era apenas a Anna, e parecia pouco preocupada comigo. Então fora o barulho do despertador que me atingiu como o barulho do tanque? A lógica dos sonhos era demais para mim. Balancei a cabeça atordoada, e percebi que ela continuava me encarando, provavelmente até que eu dissesse algo.

–Eu tô bem, mãe... Já acordei. – falei, tentando tranquiliza-la, mas a voz saiu como a voz de um bêbado negando que estava bêbado. Ela levantou a sua bem feita sobrancelha direita, e continuou me encarando.

–Se planeja ir para a escola hoje, você está atrasada. – ela disse, e na mesma hora dei um pulo da cama, quase tropeçando no caminho, e corri para o banheiro.

Olhei-me no espelho, sorri e fiz umas caretas. Notei que meus olhos, entre os bagunçados cílios, estavam meio esverdeados devido à luz. Minhas bochechas estavam ainda mais vermelhas que o normal, o que quase escondia as minhas covinhas. Notei o quanto o meu cabelo estava bagunçado. E por um momento, só por um momento, me perguntei se algum dia um homem me acharia bonita desse jeito. Imaginei uma cara se formando no espelho só pra me dizer “não”, e balancei a cabeça, assustada com a minha imaginação. Enquanto arrumava meu cabelo com os dedos, lembrei-me do sonho, das minhas mechas de cabelo sendo enroladas no dedo do Tutuzinho, como se ele se divertisse. Sorri, desabotoando a minha camisa xadrez que eu usava como camisola, e tratei de me socar dentro do box antes que me atrasasse mais ainda.

Enquanto tomava uma ducha rápida, questionei-me sobre o fato de ter tido este sonho esta manhã. O fato de não conseguir terminar nada nele, e nem ele próprio, era no mínimo curioso. Será que eu não conseguira sentir seu beijo por que meu cérebro não imagina nenhum que seja à altura? Ou será que tenho apenas um subconsciente que está me sacaneando? Bem, uma coisa eu sei: a sensação de tê-lo perto de mim, eu senti, e fora incrível. Daria tudo para senti-la novamente.

Enquanto ensaboava a barriga despreocupada, peguei-me rindo, lembrando da minha reação ao virar e ver o Laurete. Tentei não engasgar com a água enquanto pensava no que ele fazia no meu sonho. Era o irmão mais velho da Cece. Por que o chamo assim? Bem, o seu nome – Lauro – é de engomadinho, então era necessário algo que transbordasse a purpurina do seu ser. Ele é magro, estiloso, bonito, extrovertido, e com luzes loiras nos cabelos lisos e cortados à moda. Se chama assim porque os pais deles queriam que seu primeiro filho fosse uma linda menininha que se chamaria Laura. O exame médico se enganou, e, assistindo ao nascimento perceberam que não eram a menina que saiu do playground do papai. Quero dizer... Era uma menina, só que com um pênis, que por sinal deveria ser muito pequeno para acharem que era uma menina. Mudaram o nome? Não... colocaram Laura no masculino! Desde bebê ele chorara como uma menina. Gostava mais de bonecas que eu e a Cece. Patinava na neve de costas. Por que deixava tudo tão explícito? Simples. Dissera que era claustrofóbico e por isso não podia se esconder em armários. Eu e a Cece nunca ligamos. Acho que, quando crianças, somos capazes de entender que não é a pessoa que tá errada, mas o corpo em que ela nasceu. Já o seu pai, nunca foi capaz de compreender isso, mas isso é uma longa história... Agora eu tinha que correr porque tinha que buscar sua irmã.

Depois de buzinar apenas uma vez, observei Cece fechar a porta de casa e vim ao meu encontro. Enquanto ela praticamente se arrastava pelo seu pequeno quintal com gramas bem aparadas, dei uma checada na minha roupa que pegara para vestir às pressas. Uma blusa floral que caía de um lado do ombro, uma calça jeans e uma sapatilha comum que achara embaixo da cama. Nada mal. Destravei a porta do carro para que minha amiga zumbi entrasse, e por um momento me senti no Monster High.

–Bom dia, Cece do meu core. – eu disse, como se estivesse falando com um bebê, no meu jeito mais sincero de demonstrar amor, e ela revirou os olhos, no seu jeito mais sincero de demonstrar mau humor.

–Que mania de chamar de Cece, fica parecendo que eu não tomo banho. – ela protestou, sentando no banco do carona. Bem, por que eu estava levando-a para a escola? Porque ela bateu o carro. Há boatos que o pé dela provavelmente não alcançou o freio. Enquanto dava partida no meu carro, pensei: Você espera capotar seu carro do Monte Everest, batê-lo enquanto salta por cadeias de montanhas ou nas copas das árvores imitando um vampiro. E a Cece? Bem, ela bate o carro num mero poste. Não que eu pudesse dizer muito, visto que também não era boa motorista quando ficava nervosa. Meus pais só me deram um carro aos 18, com medo de uma chacina. – Mel... minha mãe vai viajar depois de amanhã. E por mais tempo dessa vez. – ela disse, um pouco angustiada.

–Pode ficar em minha casa o tempo que precisar. – eu lhe disse, e ela deu um quase sorriso – Estou planejando até umas noites de pijamas. Mesmo nós usando pijamas todas as noites.

–Parece divertido – ela disse – Ah, o Lauro vem pra cidade hoje, vai passar o dia aqui pra se despedir da minha mãe, e nos convidou para almoçar, no Lótus, depois da escola.

Mal podia esperar. Ênfase no mal. A escola foi como todos os outros dias. Ligeiramente monótona, com professores que pensam que ensinam e alunos que pensam que aprendem. Se eu tivesse que definir escola em uma palavra, a definiria como paleolítica. Passei as 3 aulas, antes do intervalo, sentada no meu rotineiro fundo da sala, pensando sobre o sonho que tivera na noite passada. Por mais que quisesse, que forçasse, eu nunca havia sonhado com o Tutuzinho sem estar acordada. Era, no mínimo, memorável.

Quando fui até a cantina, senti olhares em mim, como sentia de vez em quando. Antigamente, garotos arriscavam vir falar comigo, mas de tanto eu dispensar por não estar pronta para outra decepção, eles desistiram. A verdade é que, depois do Matheus, eu não me envolvi com mais ninguém. Se acha que dói ser traída por outra mulher, experimenta ser por um homem. Mas isso não importa, eu só era a apaixonada por um escritor de romance que diziam que desconhecia a minha existência. Já eu, acreditava que ele lia meus e-mails. E preferia também só pegar meu lanche todos os dias, ignorar, e ir me sentar com a Cece numa mesa afastada. E foi o que eu fiz, exatamente como todos os dias. Desta vez, contei meu sonho à ela, e ela caiu na gargalhada, principalmente com a parte do Obama. Perguntei-lhe se sabia o significado, e ela respondeu: “seu sonho teve um significado, significou que estava dormindo”. Quase levantei para aplaudi-la.

Depois de mais 3 aulas tediosas, encontrei com a Cece, que saía da aula de química avançada, no corredor, e apostamos corrida em quem chegava primeiro no meu carro. Eu, extremamente olímpica, ganhei a corrida. E nem é porque minhas pernas são maiores, só tenho 1,64. A minha barriga estava roncando e eu mal podia esperar para chegar. Quase que acelerei antes da Cece fechar a porta.

O caminho até lá foi tranquilo, principalmente para a minha amiga, que cochilou ao meu lado. Aproveitei para dirigir um pouco que nem louca.

–Laurete...! – eu disse, quando o avistei, e logo saí do meu carro. Corri até ele, parei em sua frente, colocamos as mãos pra cima, fingimos surpresa, bati as minhas duas mãos nas dele, balançamos os dedos freneticamente enquanto levantava as mãos, como um firework, damos uma rodadinha, e batemos o bumbum. Em seguida o cumprimentei com dois beijos no rosto.

–Oi, Melzinha...! – ele disse, em êxtase como sempre. A Cece, como sempre, ria das nossas reações ao nos encontrarmos, e às vezes também tinha um pouco de vergonha quando era em público. Eu nunca me importei com pessoas olhando. Acontece que eu adorava aquela bicha. – Você está um bombom hoje. Tem que deixar uns boy magia pra mim também, kirida. – ele disse, me rodando pelo braço, ri alto.

Em seguida, foi dar um abraço na Cece, e entramos no restaurante. Eu adorava aquele lugar. Tinha um toque moderno, e ao mesmo tempo confortável. Comidas chiques, e ao mesmo tempo simples e variadas. Até o suco de laranja daquele lugar tinha um gosto melhor. A luz ambiente não era forte, nem fraca. As mesas, retangulares ou redondas, era bem bonitas, cobertas com um pano delicado de cor verde, e um lindo vaso com pequenas flores roxas e brancas.

–Ai gente, estou com tanta fome, que tá se formando um oco em mais um lugar. – ele disse, e eu ri alto.

A garçonete veio ao nosso encontro, uma morena magrinha com cabelo cortado estilo Joãozinho. Ela parecia a Hazel Grace, da Culpa é das Estrelas, só que sem o Gus e sem o câncer.

–Boa tarde... – respondemos em coro – Já sabem o que vão pedir? Aceitam alguma sugestão? – ela perguntou, enquanto mirava a caneta num bloquinho de papel.

–Vou variar hoje e não escolher linguiça, risos. – ele disse, fazendo-se de decepcionado. Sim, ele às vezes ria falando risos. Nem olhou o cardápio. – O que acham de uma panqueca salgada de frango, acompanhado de batata frita, molho branco e arroz? E um suquinho de laranja pra ficar saudável. – “Ótima sugestão”, acredito que eu e a Cece pensamos igual, a garçonete anotou e se virou, ele continuou – Estou tão alegre em ver vocês, meninas, foi difícil arrumar uma bicha pra ficar no meu lugar. Pensa naquele filme Mercenários, só que com bichas, risos. – eu e a Cece rimos.

–Como foi a viagem para Paris, Lau? – Cece perguntou, curiosa.

–Foi um babado! Várias aventuras. Lá estava eu, divando na cidade do amor, com minha miga do lado, tirando várias selfies com bico de pato. De repente, vi um boy magia tão gato, que não aguentei. Como era gringo, comentei em bom som “ô que delícia, nossa senhora”, “ô lá em casa”, “dou casa, cumida e roupa lavada” quando cheguei no fim do quarteirão, ele se virou e pediu meu endereço falando a minha língua. Fiquei bege de vergonha. – ele contou, colocou a mão no rosto, e eu e a Cece começamos a rir – Também fui uma bicha muito zueira, devo admitir. Tava todo mundo fumando numa área reservada de fumantes, entrei na área, e disse: “não se preocupem, sou passivo”. Disse que meu nome era pequena Miss Sunshine quando perguntaram no hotel para me registrar. E fiquei insistindo para subir na pontinha da torre Eiffel, alegando que seria homofobia não deixarem, risos. – ri alto, imaginando as cenas. Ele era hilário – E você, Melzinha, como estão as coisas?

–Iguais. – eu disse, dando de ombros. Ele tocou meu rosto devagar, como se fosse me consolar. E eu forcei um sorriso, como se estivesse tudo bem.

–Mel... Você sabe o significado de insanidade? – balancei a cabeça em negação – Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa, esperando resultados diferentes. Não pode reclamar de dias iguais se faz tudo igual todos os dias. Eu sei que seu namorado dava voadora de costas, mas a vida tem que continuar, não pode privar os boy magia de provar o seu mel. Da próxima vez, desejo me sentar aqui e ouvir que está tentando.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Um sonho cômico, em contraponto de uma realidade sem graça. Será que isso vai mudar? O que acharam do Laurete?

NOTA: Não escrevo só pra mim, escrevo pra vocês, por este motivo, está lendo estas palavras agora. Durante a história, não mendigarei reviews, mas espero que fique ciente do quanto são importante, por mais curtos que sejam.
Então, opiniões são bem-vindas. Beijo, e até a próxima.



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