Sétima Lua escrita por Pamela S


Capítulo 7
As Ironias do Destino


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo de hoje.
Dedico á você e sua infinita paciência, Francine Leal.
Beijos e boa leitura.



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—Eu menti pra você, sempre soube a verdade.

—Não entendo... Como poderia saber? Porque me deixou acreditar que não sabia de nada? —ela se afastou, como se o contato com a pele dele queimasse a sua.

—Havia cartazes com seu rosto estampado, espalhados por toda a parte. Zéfiro está muito interessado em encontra-la... Você não me disse o seu nome na caverna. Resolvi respeitar o seu segredo, afinal eu também tenho meu próprio segredo. Fui tolo. Mas pensei que Petros e Alessa poderiam ser felizes como você e eu não podemos.

—Então seu nome... —ela afastou-se o encarando alarmada. —Quem é você?

—Isso realmente importa? —ele perguntou, sentando-se um pouco mais ereto e segurando a mão da feiticeira, puxando-a até que suas resistências cedessem. —Não queria magoá-la, não pretendia revelar a verdade assim, mas não posso morrer sem o seu perdão.

—Você não vai morrer! —ela exaltou-se, não considerara essa possibilidade em momento algum.

—Não se preocupe. Vou encontra-la na próxima vida. —ele sorriu expondo sua cova na bochecha esquerda, Elina acariciou-o no rosto, antes dele se levantar e envolve-la em um abraço. —Dizem que se você morrer sem cumprir seu destino os deuses o mandam de volta ao mundo para que tenha uma segunda chance...

—E qual é o seu destino? —ela perguntou em um fio de voz, ignorando seu desejo de fazer todas as perguntas que pairavam no ar. Queria saber a verdade, mas se ele morresse... Que diferença faria saber do passado se não teria um futuro á seu lado? Deixaria as perguntas para quando ele estivesse recuperado, ela tinha fé de que ele se recuperaria...

—Meu destino é fazê-la feliz, feiticeira. —ele respondeu apertando Elina em seus braços.

—Você me faz feliz. Cada dia que passei contigo foi infinitamente mais feliz do que todos os dias que passei no castelo após a morte de meu pai... Não ligo pro seu passado, ou para os seus segredos. Eu amo você. E minha felicidade seria plenamente feliz somente se pudesse viver ao teu lado. Se pudesse dormir e acordar nos teus braços todos os dias de nossas vidas. E se nada pudesse descruzar nossos destinos.

—Não posso prometer uma vida feliz, nem que nossos destinos não serão descruzados. Mas se desejar, todas as noites da minha vida serão suas. Não importa se forem duas, ou uma infinidade...

Elina sentiu as lágrimas rolarem por seu rosto, todas as lágrimas que vinha segurando desde a noite em que havia discutido com sua tia Séfora.

—Eu aceito. —ela disse afastando-se o suficiente para olhar nos olhos do lobisomem.

—Tem certeza? —ele perguntou, seus olhos continham uma expressão indecifrável.

—Eu te amo... Não tenho certeza de nada, além disso.

Não precisou dizer mais, Petros desamarrou os cordões de sua camisa lentamente, nunca deixando de olhar em seus olhos. Algo martelava na cabeça de Elina, sabia que era errado, mas seu coração sempre foi seu guia, ela não poderia negá-lo.

—Prometa que não se arrependerá disso pela manhã... —o sussurro do lobisomem causou arrepios contra a pele da feiticeira.

— Como poderia me sentir culpada se apenas estou permitindo que meu corpo demonstre fisicamente o que meu coração afirma com todas as forças? —Petros não respondeu apenas á envolveu em seus braços e a conduziu até a cama. Sua boca desceu sobre a dela, Elina só conseguia pensar no contato quente dos lábios do lobisomem deslizando sobre os seus. Ele á abraçou, puxando seu corpo contra o dele, passando a língua por seu lábio inferior antes de penetrar-lhe a boca. Ela arranhou de leve as costas musculosas, gemendo baixinho quando ele chupou sua língua com força e depois trilhou a curva de pescoço com beijos e mordidas suaves, aquela boca era mágica...

Quando ele a deitou sobre a cama e estendeu-se á seu lado, ela sentiu seu coração acelerar. Não teve medo, apenas expectativa, não sabia exatamente o que iria acontecer, mas sabia que mudaria sua vida para sempre. Não, ela não se arrependeria disso pela manhã...

O sol ainda não havia despontado quando Elina acordou, Petros estava imerso em um sono profundo á seu lado. Ela fechou os olhos, buscando adiar as consequências do que havia feito, mas o sono não veio em seu favor, e os pensamentos teimavam em passear por sua mente...

Aquela havia sido uma noite que jamais esqueceria. Cada beijo, cada carícia, cada jura de amor trocada na calada da noite parecia a primeira e também a ultima. Não acreditava que pudesse sentir a mesma coisa pelo futuro marido, ela nem o conhecia e já sentia asco ante a ideia de dividir com ele as mesmas experiências que havia dividido com Petros...

Ele estava deitado de lado, de costas para ela, a feiticeira enfiou seu braço esquerdo por baixo do braço dele e acariciou seu peito. Precisava se sentir segura, e estar perto do lobisomem á fazia sentir-se assim... Algo molhou seus dedos, era quente e viscoso. Ela recolheu o braço rapidamente, sentindo seu coração acelerar de modo errático.

—Ogof! —recitou apontando para as velas sobre a mesa, acendendo-as. Soltou um gemido angustiado ao constatar que aquilo realmente era sangue. Elina virou Petros e notou o sangue empoçado sobre os lençóis, ela o sacudiu e chamou, mas o lobisomem não reagiu. Pressionou o ferimento, tentando estancar o sangue. —Nós não deveríamos... Você estava tão fraco... —sussurrou abraçando-o com força contra seu peito, o sangue dele manchando a camisa, que era a única peça de roupa que ela vestia.

Recitou todos os feitiços de cura que conhecia, sujou as páginas de seu livro com o sangue de Petros enquanto procurava um novo feitiço. Uma nova poção, qualquer coisa, mas não tinha ingredientes nem tempo. Ele havia gasto suas forças com ela quando deveria ter repousado...

Encontrou um ritual, não era o que procurava, mas serviria. Desceu da cama apressadamente, levando o livro consigo. Pegou uma bacia que encontrou encostada á parede e á colocou sobre a mesa, jogando para o chão todas as garrafas sobre ela, fazendo o barulho de vidro quebrando se espalhar pelo ambiente. Teve o cuidado de manter intacto apenas o jarro com agua, iria precisar dele.

Sentou-se na cadeira em frente á mesa e respirou fundo, tentando concentrar-se no que iria fazer. Seus dedos tremiam enquanto ela vertia a água na bacia, não conseguia tirar os olhos de Petros, inerte sobre a cama. Mas sabia que ele não era prioridade naquele momento. Largou o jarro quando a água terminou, fechando os olhos e recitando um pequeno encantamento, enquanto fazia movimentos circulares com os dedos da mão direita sobre a água, que dobrou de volume, preenchendo o recipiente quase até a borda.

—Ondinas, poderosos elementares da água, rogo agora sua permissão, para vislumbrar do meu problema a solução. Euq missa ajes e missa es açaf... —assim que recitou as palavras, Elina sentiu um arrepio percorrer seu corpo, era sutil, mas o sinal do qual precisava. Respirou fundo e mergulhou sua cabeça na água da bacia. Os olhos abertos, cabelos flutuando na água, respiração suspensa...

Não viu nada além do fundo da bacia, havia pedido permissão, recebeu o sinal, deveria ter sua resposta antes de retirar sua cabeça da água, mas ela não conseguiria ficar sem respirar por muito tempo á mais. Dez, vinte, trinta segundos á mais... E então ela se deu por vencida, tentou tirar sua cabeça da água, mas não conseguiu se mover, bateu com os punhos na pequena mesa de madeira e tentou empurrar a bacia para longe, sua boca se abriu e um grito foi abafado pela água. Fechou os olhos e impulsionou-se para frente, libertando-se finalmente.

Respirou fundo e olhou para os lados, estava parada em meio á agua de um lago, conhecia aquele local, aquelas montanhas estavam ao sul de Gaterion, á menos de um dia de viagem... Estremeceu quando uma rajada de vento atingiu-a em cheio, estava frio demais e a luz tênue da lua crescente era tudo o que iluminava o local. Ela viu que logo á diante estava um acampamento e nele havia um grande número de guerreiros, mas nenhum deles percebeu sua aparição, deveriam estar concentrados em aquecer-se em torno das fogueiras.

Nadou até a margem e circulou um arbusto, sua camisa não oferecia nenhuma proteção contra o vento gelado que penetrava como agulhas sob sua pele. Esperou que alguns homens passassem, estavam todos uniformizados, um deles carregava um estandarte.

—Vermelho e preto... É o estandarte da Licânia! —era no mínimo irônico que a salvação para seu amante estivesse nas mãos do povo de seu futuro marido...

Quando notou que o caminho estava livre ela se dirigiu para as tendas, pensando em qual delas poderia estar alojado um suprimento de antídoto para envenenamento por prata, se é que havia algum por ali...

—Levem-no para o curandeiro. —disse uma voz masculina seguida por passos de mais de uma pessoa. Elina escondeu-se dentro da primeira tenda que encontrou, que para sua sorte estava vazia, então espiou enquanto dois soldados carregavam um terceiro praticamente arrastado, eles não foram longe, perto de uma fogueira um homem de cabeços grisalhos e pele pálida os ajudou á deitar o ferido no solo.

—Ele foi envenenado por uma lâmina feita de prata, senhor Mednamas. —explicou um dos guardas. Elina viu quando o velho retirou um pequeno frasco de uma bolsa de couro pendurada em suas calças, ele despejou algumas gotas na boca do homem e então mandou que o levassem para uma tenda, dizendo que ele deveria descansar até que seus poderes regenerativos houvessem curado o corte.

Então era aquilo o antídoto... Elina tinha que pegá-lo, mas como iria fazer isso ainda era uma incógnita.

De repente o velho curandeiro levantou-se e andou em direção á tenda, Elina não teria como esconder-se se ele entrasse, então apenas preparou-se para ataca-lo com um de seus feitiços assim que ele estivesse próximo, talvez ela tivesse sorte e ele não fosse um lobisomem...

O velho adentrou a tenda e ela recitou o feitiço, mas isso não o afetou, não ficou surpresa realmente, seus feitiços haviam falhado várias vezes desde que fugira de Antera. Mas o curandeiro pareceu não nota-la e isso era algo novo.

—Senhor Mednamas? —ela chamou, apesar de sua mente gritar para que não fizesse aquilo.

Ele não respondeu, apenas tirou o pesado casaco e as botas, pegando um odre que estava jogado sobre a cama improvisada com várias camadas de peles e bebendo seu conteúdo, deitando-se em seguida. Ele pareceu adormecer instantaneamente, então a feiticeira aproximou-se e retirou o frasco de sua bolsa, ele não se moveu.

Seu coração acelerou, mas não poderia comemorar ainda, haviam dúzias de guardas imunes á magia lá fora. Espiou novamente, o lugar estava silencioso, não havia ninguém próximo á tenda e o caminho até o lago estava limpo. Aquilo parecia fácil demais...

—Não reclame da sorte, feiticeira. —ela disse á si mesma antes de sair da tenda e correr até o lago. Mergulhou novamente na agua fria e obscura, nadando em direção ao fundo, o frasco do antídoto firmemente seguro em sua mão direita.

Quando emergiu novamente estava sentada em sua cadeira em frente á bacia. Seu corpo estava seco, embora frio como mármore, apenas os cabelos e o rosto respingavam água. O antidoto não estava mais lá, olhou em torno da mesa e no chão, não havia nada.

Bateu com os punhos sobre a mesa e praguejou. Não tinha o antídoto, mas havia recebido sua resposta. Agora sabia o que tinha que fazer.

Se realmente queria salvar a vida de Petros, então deveria ir ao encontro dos lycans nas montanhas. Ela entendia que pedir ajuda àquele povo significava render-se, ir de vontade própria para o casamento que sua tia havia lhe arranjado.

Olhou para Petros, ele ainda dormia, sua respiração fraca e a palidez conferiam um ar ainda mais debilitado á sua aparência. Ele não tinha muito tempo, e se ela não tomasse sua decisão naquele momento o lobisomem não veria o amanhecer do próximo dia.

Não tinha escolha, salvaria Petros, mesmo que isso significasse nunca mais vê-lo em sua vida...

Foi até a cama e procurou a mancha de seu sangue sobre os lençóis, recitou um pequeno encantamento e a mancha sumiu. Era melhor prevenir-se.

Cobriu Petros que tremia violentamente e o beijou com carinho, sussurrando palavras de amor antes de afastar-se. Ela vestiu sua roupa de baixo e então as calças, permanecendo com a camisa suja de sangue e molhada, e calçou as botas, pegou seu livro e o athame, colocando-o novamente no cano da bota. Ela espiou pela porta, não havia barulho, nem pessoas circulando. Saiu do quarto, medindo passos, fechou a porta e recitou um novo feitiço, reforçando o primeiro feitiço de proteção que lançou sobre o quarto durante a noite passada.

Olhou para baixo e não reconheceu ninguém no salão, Dorian e a meretriz grisalha não estavam lá, os guerreiros berserk eram notáveis por seu tamanho e compleição física, ela teria percebido se um deles estivesse em meio aos bêbados caídos sobre as mesas e pelo chão...

Esgueirou-se para fora do lupanar por uma porta lateral, apanhando uma capa marrom escura jogada sobre uma cadeira pelo caminho. Proteger-se do frio, ocultar seu rastro com o cheiro de outra pessoa e esconder seu rosto pareciam atitudes sensatas.

Não precisou procurar muito para encontrar um cavalo, havia uma fileira deles amarrada em um estrado na lateral do bordel. Ela pegou o primeiro e montou rapidamente, cavalgando para a direção em que os lobisomens deveriam estar.

A chuva á atingiu antes que saísse da cidade, a água penetrou a capa em pouco tempo e o vento cortou contra sua pele. O sol não surgiu nas horas que se seguiram, e ela sentiu o corpo rígido sobre a sela, mas continuou cavalgando.

Quando o sol estava se pondo ela avistou as montanhas e então o acampamento. Galopou em direção ás tendas, pretendia apear quando estivesse próxima ao lago, mas então ouviu o som de cascos aproximando-se pela lateral. Olhou para o lado e avistou um guerreiro vindo em sua direção, ele não ostentava as cores do exército licantropo.

Elina incitou o cavalo á galopar com mais força, mas o animal estava extenuado, como ela mesma. O guerreiro logo á alcançou, derrubando-a do cavalo sem dar-lhe tempo de lançar um feitiço contra o oponente. Seu corpo chocou-se contra a grama dolorosamente, ela puxou o athame do cano da bota e investiu contra o guerreiro quando ele saltou do próprio cavalo indo em sua direção. Mas ele segurou seus punhos com aperto de ferro contra a relva, acima da cabeça da feiticeira, fazendo-a soltar o punhal.

—Solte-me ou seu infortúnio será desmedido! —Ela gritou debatendo-se sob o corpo do guerreiro, o movimento fez com que o capuz em sua capa descobrisse seu rosto. —Sou Elina Sadnu, filha do falecido rei Tálamus, sobrinha de Séfora Labelle, a nova soberana de Antera. Os soldados naquele acampamento...

—Pertencem ao meu regimento. —interrompeu-a o guerreiro. Quando parou de debater-se ela pode notar seu rosto, ficou lívida, ele era muito parecido com Petros.

—Você não ostenta as cores da Licânia... —ela sussurrou acusatoriamente. —Pensei que fosse inimigo.

—Sou Rafael Sanan, o Príncipe da Licânia, seu futuro marido, Elina de Antera. O que me torna o inimigo de quem tem fugido nos últimos meses...


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Notas finais do capítulo

Até a próxima, beijos!