Dead Girls Never Say No escrita por Hikari Ouji


Capítulo 9
Olho por Olho


Notas iniciais do capítulo

Sozinha, Sharon continua sua fuga pela vida enquanto que seus sequestradores continuam a atormentá-la. Só que dessa vez ela sente que o jogo está virando.



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Um urro preencheu a noite fazendo até Sharon se assustar com o que foi capaz de fazer. Deixou até o machado escapar por suas mãos e cair com um som abafado no chão de terra batida. Robinho gritava ajoelhado enquanto dividia o olhar entre a região onde costumava ficarem suas mãos e para as próprias mãos que agora se encontravam no chão. Uma delas ainda segurava a arma e seus telespectadores, vítima e agressor, podiam jurar que a viu tremer levemente. Sharon sentiu o estomago embrulhar com a quantidade de sangue que escapava dos punhos que espirrava feito fonte, mas pôs-se a ignorar para em seguida desgrudar os dedos da mão agora imóvel de Robinho e pegar a arma para si própria. Robinho por sua vez parecia uma criança que crescera de mais e esperneava para que sua mãe comprasse um brinquedo do qual gostava; rolava de um lado para outro xingando e chorando tudo ao mesmo tempo. Por um segundo, ou dois, Sharon sentiu pena, mas logo sacudiu a cabeça pensando se ele sentira pena horas antes enquanto a estuprava.

— Isso nem chega perto do que você merece – disse Sharon entre dentes enquanto apontava a arma em direção a Robinho, mas se segurou quando ouviu que alguém se aproximava, e esse alguém com certeza não estava ali para salvá-la.

Rafael seguiu o berro de Robinho e o encontrou prestes a desmaiar. Estava deitado de lado e para seu espanto estava sem as mãos que jaziam jogados de qualquer forma a alguns passos de distância envoltos a uma poça de sangue.

— Mas que porra! Como você foi... Mas... – Rafael tentava juntar as palavras diante de tal acontecimento. Se fosse medir sua pressão com certeza estaria nas alturas. O ferimento em sua barriga doía e o sangue ainda escapava pelo pano que circundava sua cintura. Ele nunca quis admitir, mas seu primo sempre foi um fardo e só o suportava por causa de seu tio – Seu imbecil! Como você pode ser capaz de deixar te ferir duas vezes, seu gordo! Ainda mais por uma garota!

— Rafa, mano me ajuda – suplicou o rapaz que sussurrava. Estava mais branco de que de costume e os lábios pareciam ter mudado de cor. Desesperado se ajoelhou com dificuldade e tentou inutilmente pegar as mãos e inutilmente tentou unir uma parte a outra como se isso fosse uni-las de volta.

— Você quer que eu faça o quê seu imbecil. Você se fudeu! Não tem como! - disse dando-lhe as costas e se agachando quando o som de farfalhar na mata pode ser ouvido, mas era só André que se aproximava também com a arma em punho.

Caralhou! Que merda aconteceu contigo! - exclamou levando as mãos a cabeça ao ver Robinho que já estava perdendo a consciência. Mesmo com pouca luminosidade dava pra ver os ossos ao ar livre – O que vamos fazer Rafa?

— Leva ele pro carro, e carrega pra um hospital – disse prestando atenção na escuridão que os cercava. Algo lhe incomodava, como se do nada Sharon pudesse atacá-los.

— Mas e aí? O que eu falo?

— Sei lá! Fala que foi atropelado. Inventa algo!

— E você acha que vão acreditar?

— Dá pra calar a porra da boca e sumir da minha frente com esse gordo imbecil, seu filho da puta!

André até se calou. Dava pra ver que Rafael estava mais do que furioso. Estava a ponto de matar qualquer um, até mesmo Robinho se ele não parasse de gritar. Coisa que não durou muito, pois assim que se sentou no banco do carona desmaiou.

Enquanto isso, a alguns quilômetros dali, Suellen acordou e sentiu seu corpo se mover no espaço. Lembrou-se das histórias onde diziam que quando morre a alma saia do corpo e vagava até ser levada para o além. Se não fosse isso, era algo parecido. Sempre teve um pé atrás com essas histórias de novela e filmes á lá Ghost – No outro lado da vida. À medida que a consciência e as dores retornavam, reparou que estava sendo, na verdade, carregada encosta a cima por dois homens. E do topo de onde lembrava passar a rodovia, viu luzes de ambulâncias iluminarem o local. Percebeu que tinha algo envolvendo seu pescoço e que também estava amarrada e envolta em uma manta térmica que parecia papel laminado, fazendo-a lembrar de como um frango de natal se sentia.

— Ela está consciente – disse uma mulher de uniforme médico mirando nos olhos um feixe de luz branca.

— Minha amiga... Ela...

— Calma mocinha. Meu nome é Martha, sou paramédica e vamos levá-la pra o hospital. Você sofreu um acidente. Por favor, não se mexa. Vamos cuidar de você.

Assim que foi carregada para dentro da ambulância, um rapaz com roupa de policial entrou junto com Martha enquanto falava em um rádio comunicador da polícia com outra pessoa. Sua visão foi parcialmente bloqueada pela máscara de oxigênio que lhe foi posta, dificultando ver o nome do rapaz na lapela, mas ainda podia ouvir algo.

— Positivo. Encontramos uma jovem de aproximadamente vinte anos que foi atropelada. Ela está muito machucada, mas consciente. Estaremos levando para o hospital da cidade... Sim, corresponde com uma das meninas que sumiram.

Sharon se perguntava se em algum momento a situação estaria a seu favor. Nem a arma que ela pegou tinha munição. Sentia-se um rato escondido no meio do mato para não ser devorada por um gato e um cachorro e ao seu redor não tinha nada que facilitasse sua fuga. O casebre ficava no meio de um monte e cercada de desfiladeiros. O caminho para cima era impossível, para baixo poderia até morrer, logo o único caminho era se esgueirar pela encosta e escapar assim que André e Rafael desistissem e levassem Robinho, que parecia ter entrado em choque ou então desmaiado no banco da frente do carro, para o hospital. Os faróis do carro, a lua e uma fraca luz amarelada da cabana eram as únicas fontes de luz do local, mas até o satélite natural estava começando a se esconder por detrás de espessas nuvens avermelhadas anunciadoras de chuva. No horizonte já era possível ver lampejos de relâmpagos aqui e ali disputando espaço com a luz do amanhecer. Não demorou muito para que os primeiros pingos d’água começassem a cair. Se quisesse escapar, a chance seria quando saíssem de carro e aproveitar o barulho para correr o mais rápido possível pelo bosque. Como o revólver estava sem balas, se esgueirou por detrás do casebre e como uma cobra pegou de volta o único objeto que serviria de arma, o machado.  Ainda escondida ficou atenta para a hora que eles fossem embora, coisa que não durou muito:

— Tem certeza? – perguntou André dando a volta no carro para que pudesse entrar – Vai começar a chover mais forte.

— Tenho. Ela não deve estar muito longe daqui.

André deu de ombros e entrou no carro dando partida e em seguida o carro se moveu ao mesmo tempo em que Sharon aproveitou e começou a se esgueirar por dentro do matagal para fugir. Passaria por trás de Rafael que olhava para o carro mover devagar na lama que começava a se formar. Um trovão soou alto e ela apressou para apertar o passo, mas o imprevisto aconteceu. Quando começou a correr o carro parou e André saiu do carro com algo na mão.

— Aí, isso vai te ajudar no escuro. Aproveita pra filmar a... – Ele nem chegou a completar a frase, pois quando ligou à luz da filmadora o feixe acertou em cheio a figura feminina que corria pelo mato e numa fração de segundos, André por reflexo sacou a arma na parte de trás da bermuda e atirou por cima do teto do carro. A bala atravessou as gotas de chuva e atingiu o alvo que nem teve tempo de revidar e sumiu na escuridão.

— Acertei a desgraçada! – comemorou André correndo em direção para onde avistou Sharon correndo. Em meio segundo Rafael chegou ao seu lado.

— Mas cadê a vadia!

— Deve ter caído morro abaixo – riu André voltando a filmagem para ver se tinha filmado algo, e encontrou – Aqui viu. Atingiu sim ela! Há! Sou foda nisso!

Os dois só não foram atrás de Sharon por que Robinho deu sinais de vida e começou a gritar. André apontou a câmera para a escuridão, mas só viu o rastro de lama barranco abaixo. Ambos deram meia volta, mas o estalo de galhos no barranco fez Rafael parar.

— Ela ainda não tá morta.

O carro partiu noite adentro enquanto a chuva aumentava. André no volante não sabia o que fazer com Robinho. Só de ver os ossos saindo dos punhos dele causava arrepios. Se ele estivesse morto seria menos pior , a não ser que tivesse levado um tiro na cabeça – tinha pavor. Isso o fez lembrar-se de quando seu pai levou um tiro durante um confronto com a polícia. O tiro acertou a testa e explodiu a nuca levando consigo o cérebro que pintou a parede de tijolos de sua casa. Nojento e traumatizante. Os gemidos de Robinho o trouxe de volta a realidade e mesmo derrapando na lama conseguiu chegar à rodovia e acelerar até o hospital indicado no GPS. Robinho já estava ficando branco de mais e seus lábios estavam levemente roxos, mesmo assim André pensava como ia explicar isso ao médico; “‘Ah doutor, ele foi atropelado’. ‘Mas como? ’ O doutor perguntaria. ‘Ah ele saiu pra mexer no motor, aí um carro bateu e o capô do carro desceu na mão dele’” André riu com sua imaginação fértil. Até parece que o médico cairia numa dessas.

— Merda! – Exclamou alto ao lembrar-se do mais importante. As mãos decepadas. Elas haviam sido deixadas onde caíram.

Rafael sentia a camisa encharcar cada vez mais. Sorte que a câmera era á prova d’água. Algo lhe dizia que tinha algo lá embaixo, e num segundo estalido alto resolveu desligar a câmera e dar um jeito de descer o barranco.

Sharon sentia a dor percorrer todo o corpo numa sessão de tortura. Por muita sorte não havia torcido algum membro, mas sentia diversos arranhões e quando passou a mão pelos cabelos sentiu algo mais denso que a chuva e de cheiro diferente de lama. Era férreo e ardia. Lembrou-se do tiro. Passou a mão pelo corpo e não encontrou nenhuma perfuração, logo deduziu que fora baleada de raspão. Então se lembrou do machado. Procurou desesperada pelo chão ao redor, tateado no escuro, mas quando um raio iluminou o céu ela viu o brilho refletir no metal do objeto. Como ele havia parado lá, ela não sabia. Talvez tenha sido na hora em que ela rolou morro abaixo e ele escapara de sua mão. O fato é que ele cravou no tronco de uma bananeira e no fio da lâmina estava algo que era para estar em sua cabeça. Fios de seu cabelo em um pedaço de sua pele que haviam sido arrancadas quando fora atingida na queda. Ficou se perguntando como não perdeu a cabeça. Sharon respirou fundo e engoliu o choro quando ouviu que alguém ousara descer o barranco. Já havia perdido as contas de quantas vezes quase havia morrido nas últimas 48 horas. A vontade de retribuir toda a dor lhe consumia a cada passo que dava em direção a salvação que nunca vinha. Tomada pela fúria, ignorou a dor e arrancou o machado de onde estava preso. No mesmo momento um brilho iluminou metros atrás onde ela havia caído. Pensou ter sido um relâmpago, mas como não houve trovão deduziu outra coisa. Alguém havia descido para conferir se ela de fato estava morta.

Rafael afundou o pé na lama e iluminou o local.

— Filha da puta!

Com a filmadora iluminou ao redor em busca de Sharon, mas só encontrou rastros na lama e pingos de sangue aqui e ali. Pensou na probabilidade de encontrá-la ainda viva e lembrou que só tinha três balas restantes, logo pensou em ajuda e ligou para André.

— André! Larga esse gordo aí e volta agora prá cá – disse rapidamente assim que foi atendido, mas não recebeu resposta – Responda imbecil!

— Rafa! Fudeu! O hospital tá cercado de policia.

André tentou manter a calma e fingir que nada acontecia. De fato havia quatro carros de polícia nas proximidades. Provavelmente deve ter sido algum assalto ou morte devido ao carnaval. De repente numa barreira, um policial apontou para André e pediu para estacionar.

— Merda!

Sem pensar duas vezes, André acelerou, passou por entre os carros da policia e atropelou um guarda que voou por cima do veículo e caiu no asfalto depois que ele apontou a arma na sua direção. Robinho agora tremia e Rafael gritava no celular.

— Anda logo seu filho da puta! – chiava no outro lado da linha.

André pensou quatro vezes antes de fazer isso. Entrou buzinando por onde as ambulâncias entravam e abriu a porta do lado do passageiro.

— Robinho desce! Já tá no hospital! – disse vendo a multidão se formar e os médicos e seguranças virem correndo. Nervoso sacudiu o ombro de Robinho, mas ele não se mexia. O som da sirene da policia preencheu o ar e alertou os transeuntes. André sentia as mãos tremerem e numa tentativa de salvar sua pele chutou com muito esforço Robinho pra fora do carro. Em seguida pisou fundo no acelerador que com a velocidade fechou a porta e saiu em disparada pela saída lançando cones de transito no ar e destruindo um portão de ferro.

— Rafa! Rafa! Tô indo. Vou demorar um pouco por que a polícia tá atrás de mim, mas vou despistá-los.

— Anda logo merda! Ela tá viva! – disse apontando a câmera de um lado para outro a cada som desconhecido que estalava na escuridão e pingos grossos d’água atingiam a copa das árvores. Quando apontou para um lado percebeu pelo canto do olho que algo o observava, e num piscar de olhos a luz da filmadora foi refletida e um zumbido no ar cortou o silencio da noite.

...continua...

(^_^)v

By Hikari Ouji


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