Dead Girls Never Say No escrita por Hikari Ouji


Capítulo 8
Perseguição


Notas iniciais do capítulo

A fuga não tinha dado certo e dessa vez Sharon está sozinha contra os três bandidos. Mesmo exausta a coragem não lhe falta e a vontade de dar a volta por cima começa a aumentar.



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O carro acelerou e voltou a correr na rodovia no meio da madrugada pelo mesmo caminho pelo qual veio. Sharon se mantinha sentada no meio do banco de trás amordaçada e amarrada para que não fizesse mais nada. Rafael dirigia enquanto André ria das cenas que via no visor da câmera.

— Para de ficar toda hora vendo essa porra! – reclamou Rafael – Vai acabar apagando alguma merda aí.

— Relaxa! Li no manual de instruções que quando você seleciona o modo de filmagem que quer, você pode pausar e rebobinar que quando voltar a gravar de novo o filme continua na mesma parte onde interrompeu antes – riu.

— Hm, por isso que essa merda custou tão caro – resmungou Rafael virando o volante para a direita em uma curva.

Mesmo ainda presa, seus pensamentos estavam na amiga que provavelmente estava morta na beirada da estrada, jogada num barranco entre as árvores e insetos enquanto o pai da criança que ela carregava – e ele nem sabia – estava prestes a cumprir o destino de sua prisioneira. Mais a diante, o carro virou a esquerda, saindo da rodovia principal e entrando por um caminho de terra em meio à escuridão fazendo Robinho fazer caretas a cada solavanco que o veículo dava na estrada esburacada que fazia sua perna ferida saltar alguns centímetros do chão do carro. Ninguém falava nada; um dirigia, outro mexia no celular e outro olhava para a escuridão em um clima pesado e insuportável. No painel do carro um revólver brilhava a luz da lua e se movia com o relevo acidentado em que passavam. Sharon sentia o corpo dolorido e o rosto ardendo. O vestido já havia se rasgado em vários pontos e seus joelhos exibiam arranhões vermelhos e ensanguentados. O lenço amarrado no braço onde fora atingido de raspão estava ensopado com seu próprio sangue e frouxo, embora não doesse e sangrasse mais quanto antes. Ao ver a atual situação em que estava, sentiu raiva, frustração e medo enquanto apertava inconscientemente a barra do vestido. Pensava em fazer algo. Tinha que fazer algo. Então, sem que pensasse duas vezes, acertou uma cotovelada no nariz de André e rapidamente tocou a maçaneta da porta do carro. Ela não soube como, mas acreditava que a estrada em péssimas condições a ajudou nessa parte: Com o balanço do carro, André perdeu o equilíbrio e acabou caindo do carro e antes que Robinho pudesse agarrá-la ela se jogou pela porta e caiu em meio a um matagal. Tudo aconteceu em duas piscadelas.

— Mas que merda! - urrou Rafael pisando fundo no freio do carro que deslizou no chão de terra – Atira na vagabunda.

— Mas e o filme? - Perguntou Robinho saindo mancando do carro.

— Que se dane! - disse Rafael atirando duas vezes com a pistola - Se ela conseguir escapar de novo vai ser difícil de encontrá-la. É melhor matar logo essa piranha!

Sharon correu por entre as árvores, sem rumo enquanto as balas atingiam troncos de árvores ao seu redor. Seu coração batia disparado a cada disparo que vinha de trás de suas costas e temia que uma delas a acertasse antes que se afastasse o suficiente. A escuridão escondia pedras pontiagudas, bichos peçonhentos e galhos baixos que atingiam o rosto de Sharon que só pensava em correr para o mais longe possível. Muito ao longe, pode ver pequenos pontos de luz de alguma casa da região logo imaginou que alguém finalmente a pudesse ajudar. Mesmo com os pés cansados, pôs-se a desatar os nós da amarra em seus punhos com os dentes e em seguida apressou ainda mais o passo, mas se decepcionou ao perceber que havia voltado para o cativeiro onde estivera nos últimos dias. Furiosa. Pensou em gritar de raiva, mas o silêncio da madrugada foi quebrado quando ao longe uma música abafada começou a tocar. Quem ouvisse nem perceberia que era o toque de um celular, mas para os ouvidos de Sharon que quase todo dia escutava o aparelho tocar, aquilo poderia ser um sinal de salvação. A música tocou por alguns segundos e parou. O coração voltou a acelerar quando a ideia de ir atrás do aparelho lhe passou pela cabeça. “Mas e se eles voltarem?” pensava enquanto se mantinha agachada próximo de uma árvore. Novamente o celular tocou em alguma parte do interior da casa. Sharon inconscientemente estava cantando a música dentro de sua cabeça e lembrou que como o celular estava bloqueado por uma senha, ninguém ia conseguir acessar as configurações internas. Uma vez apresentou o aplicativo á Suellen, mas a mesma rejeitou falando que não adiantava nada pagar caro em um antivírus, pois os bandidos tinham um jeito de desbloquear e invadir o celular. Mal ela sabia que o aplicativo valia a pena. O celular só podia ser desligado quando o aparelho estava desbloqueado, e como o aparelho era novo e sua bateria ainda não estava tão viciada igual drogado na cracolândia, deveria ainda ter restado um pouco de bateria, que com certeza estava próxima do fim depois de dois dias sem recarga.  Desesperada ela então resolve invadir o cativeiro pela porta quebrada de vidro e ir buscar o aparelho. Se conseguisse encontrá-lo poderia ligar para a polícia e ser encontrada viva.

Imaginando que os sequestradores estivessem longe, ela segue ao som do toque que soava pela terceira vez. Seja lá quem fosse que estava ligando sabia que tinha algo de errado, pois ela nunca ignorava uma chamada dos amigos. Mesmo os bêbados ou sentimentais que cismavam em procurá-la no meio da madrugada para contar os erros que fizeram. Correndo por entre os corredores escuros da casa, ela percebeu que o barulho vinha do andar de cima onde ela havia sido mantida presa. Sem pensar duas vezes, ignorou os cacos de porcelana do abajur antes quebrado por Suellen e correu escada a cima. O toque cessou assim que ela atingiu o último degrau.

— Vai! Toca de novo... - sussurrou.

E assim fez. O toque soou alto de dentro do quarto onde ela de fato havia passado a última noite. Mesmo a contra gosto, girou a maçaneta e entrou no quarto que ainda estava iluminado pela luz amarelada. Luz que ela havia visto enquanto corria dentro do matagal minutos atrás. O som vinha de dentro do armário de porta quebrada e para sua surpresa de dentro de sua bolsa que estava jogada num canto. Eles si quer haviam tirado o aparelho, ou se desfeito dele. Um suspiro de alívio escapou de sua boca enquanto suas mãos trêmulas abriam a bolsa e procurava o aparelho.

— Número desconhecido? – Sussurrou ao ver quem ligava, mas mesmo assim atendeu tropeçando as palavras nervosamente – Alô? Alô? Por favor, tem alguém na linha?

Ninguém respondeu.

— Alô! Socorro! Eu-eu fui sequestrada. Tem alguém ai?

— Shhaa...nn..onde...voccc...stá – disse uma voz feminina no outro lado da linha. Seguido de um bip.

Sharon olhou para o aparelho e o sinal de bateria indicava 5%. Mesmo sabendo que o celular iria desligar a qualquer momento, Sharon ignorou o bip de pedido de bateria e continuou falando para quem fosse que estivesse no outro lado pudesse entendê-la.

— Minha bateria tá acabando. Eu fui sequestrada e estão me caçando. São três. André, Robinho e Rafael namorado da Suellen que foi atropelada. Por favor, nos ajude. Alô? Alô?

O aparelho parou de emitir qualquer som e desligou por completo. A vontade de Sharon era jogar o aparelho o mais longe possível, mas ignorou ao ouvir o som de um carro se aproximar. Eles por algum motivo haviam voltado.

— Droga...

Pelo que sabia a casa estava toda trancada e a única saída era pela porta de vidro quebrada. Não tinha arma e nem como se defender, a não ser que usasse a vassoura velha que continuava encostada na parede. Talvez se continuasse parada ali eles nem desconfiariam de sua presença, e sem alternativa assim ficou. Abriu a porta do armário que rangeu baixo e entrou no interior abafado e com cheiro de mofo. A voz de Rafael ecoava pelo local enquanto discutia com Robinho. O barulho de coisas sendo arrastadas voltou-se a se ouvir no local e o som de alguém subindo as escadas fez o coração de Sharon pular dentro do peito. Se pudesse se ver no espelho provavelmente teria visto suas pupilas dilatarem ao lembrar que eles poderiam estar limpando o local para fugirem e se de fato estivessem, eles iriam entrar naquele quarto, abririam o armário e para a surpresa de ambos eles a encontraria sem esforço algum. Seria como entregar o ouro nas mãos do bandido. Pela fresta da porta do armário pôde ver a sombra passar direto pela porta do quarto e em seguida entrou em outro aposento. Não demorou muito para quem estivesse subido ter descido para o andar térreo. Assim que ouviu os passos pesados no andar de baixo, se apressou para sair do armário. Devolveu o celular à bolsa vazia e deixou onde encontrou. Nas pontas dos pés escapou pela porta entreaberta e correu para um quarto escuro, quase no fim do corredor. De fato, minutos depois, o quarto onde antes estivera foi invadido e ao sair Robinho desligou a luz.

Quanto tempo de passou Sharon não soube. Escondida debaixo daquela cama, aspirando poeira, seu ouvido estava encostado no assoalho sujo de madeira enquanto tentava ouvir o que se passava no andar de baixo. Se tudo desse certo, ela poderia escapar a qualquer minuto. A coragem para sair do quarto surgiu depois de muito tempo de silêncio. Pé ante pé escapou do quarto escuro e desceu as escadas de madeira. Já no andar de baixo a escuridão era quebrada pela luz do luar que entravam pelas frestas de madeira nas janelas. Mesmo achando tudo aquilo muito fácil, Sharon pensou positivo sobre sua liberdade. Mais a frente estava a cozinha e a saída para a estrada de terra.

 

“Preciso de algo pra me defender” pensou enquanto vasculhava as gavetas da cozinha atrás de algo que garantisse sua salvação, achando somente uma faca de pão quase enferrujada que guardou no que sobrou de um bolso que tinha na lateral do vestido imundo. Os cacos de vidro continuavam no chão embora agora estivessem um pouco mais esmagados, enquanto que pelo espaço aberto de onde costumava ficar a porta o vento frio invadia o cômodo. Mas e o medo de sair? Lá fora não tinha sinal algum de movimentação e nem sinal do carro provando que eles haviam abandonado o local. Sem escolha Sharon respirou fundo e andou em direção à porta, mas nem chegou a pôr o corpo para fora. No mesmo instante que seu pé direito tocou o assoalho sujo de terra do exterior, uma cotovelada vinda do lado de fora lhe acertou a testa fazendo-a cair sobre os cacos de vidros. Na porta a figura de Rafael apareceu e com um sorriso malicioso a pegou pelos cabelos e a arrastou para fora da casa ignorando seus gritos de reprovação que se perdiam na escuridão. Não muito longe Robinho filmava a cena com a câmera nas mãos enquanto André assistia ao seu lado. Sem a largar dos cabelos, Rafael voltou-a para a direção de Robinho para que os filmassem. A luz que saia da câmera mantinha suas faces ocultas por de trás do aparelho de última geração. Logo depois com seu inglês impecável, o rapaz voltou a falar em direção a quem filmava rindo e dizendo “now, let's kill the bitch”. Em seguida sacou um revólver do cós de sua calça e pôs na têmpora da garota que sentiu o cano morno tocar sua pele, mas no segundo seguinte, como se por conta própria, Sharon só teve tempo de segurar firme a faca enferrujada na mão direita e com toda a força enfiou na lateral da barriga de Rafael que urrou de dor e caiu apertando o ferimento que expelia sangue sobre o jeans. Palavrões foram xingados pelos comparsas enquanto corriam na direção dela. Sharon aproveitou para pegar a arma que Rafael deixou cair para em seguida atirar contra os dois que vinham na sua direção. Dois tiros foram disparados e fizeram seu braço vibrar. Nenhum atingiu os alvos que também abriram fogo contra ela obrigando-a a escapar de volta para o meio do mato.

— Filha da mãe desgraçada! - urrou Rafael ao retirar a faca e apertar o ferimento para evitar que o sangue saísse mais.

— Você está bem?

— Olha pra isso Robinho!? Você acha que estou bem seu imbecil!

O objeto o perfurou e o fez perder uma boa quantidade de sangue, claro sem contar a dor, mas isso não o mataria.

— Matem essa desgraçada! – ordenou enquanto tentava estancar o sangramento.

Mesmo com a dor latente, Rafael, André e Robinho correram atrás da garota que se esgueirava por entre as árvores. Pelo o que ela se lembrava dos filmes que tinha visto, era só apertar o gatilho e atirar, mas na prática aquilo era bem complicado. Sharon voltou a disparar contra os três, mas tinha certeza que nenhum tiro ia atingi-los. Cansada, seus pés saíram do mato pra encontrarem uma pequena estrada de terra que levava a outra casa que não tinha visto. Parecia uma cabana escondida entre árvores no meio do nada e não ficou surpresa em encontrar tudo trancado. O desespero aumentou quando percebeu que as balas de sua arma acabaram.

— Apareça filha da puta!

— Vamos te encontrar!

— Vou acabar com você desgraçada!

Àquela hora, Sharon já não sabia quem era quem na escuridão. Pensou em correr, mas assim que deu o primeiro passo tropeçou sobre um pedaço de madeira que quando focou bem os olhos percebeu que poderia ser usada como arma. Embora pesado, segurou o cabo do machado sobre o peito como se agarrasse sua última esperança. Encostada contra a parede fria de madeira da lateral da cabana, os dedos dos pés cada vez mais se afundavam na terra escura enquanto sentia seu corpo vibrar de nervosismo. Pelo canto do olho, viu uma sombra se aproximar e sem pensar duas vezes apertou ainda mais o cabo do machado. A sombra se aproximava e por ela era possível ver que empunhava uma arma. Mais um passo e ela seria descoberta. Um frio percorreu lhe a coluna de cima a baixo quando os dois braços apareceram na lateral da casa, seguida de uma perna. Uma gota de suor desceu pela têmpora direita quando a arma brilhou contra a luz da lua, assim como brilhou o machado quando Sharon o levantou sobre a cabeça e com toda a força mirou no alvo.

...continua...

(^_^)v

By Hikari Ouji


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