Dead Girls Never Say No escrita por Hikari Ouji


Capítulo 6
Tentativa de Fuga


Notas iniciais do capítulo

Com a segunda fase do sequestro pronta para ser realizada pelo trio de bandidos, Sharon descobre que não é a única sequestrada. Suellen, sua amiga, também fora vítima e agora tem um plano quase impossível de fuga, mas é a única alternativa para salvar suas vidas.



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— Sharon! A gente tem que dar o fora daqui – sussurrava Suellen ajoelhada ao lado da cama. Do seu lábio inferior, um machucado ainda soltava um pouco de sangue e uma marca roxa no olho direito indicava que havia apanhado, além de diversas marcas no braço – Vamos, levanta.

— Suellen. Mas... Você foi sequestrada também?

— Sim. Aquele filho da puta do Rafael e seus amigos são um bando de psicopatas. A gente tem que dar um jeito de sair daqui.

— Mas como? Tá tudo trancado – disse Sharon se levantando e pondo sua roupa que estava jogada em um canto do quarto.

— A gente não tem muito tempo. Eles falaram que vão te matar. Temos que dar um jeito de cair fora daqui e procurar a polícia.

No mesmo instante era possível ouvir as gargalhadas de Rafael, André e Robinho em algum canto da casa, seguidos pelo tilintar de copos de vidro. Pareciam que comemoravam algo, provavelmente estavam pensando no valor que teriam em mãos assim que enviassem o vídeo para seu cliente.

— Sharon eu estava em um quarto lá em cima. Eles me prenderam, mas consegui me soltar. Eu vou tentar chamar a atenção deles, ai você foge pela porta dos fundos.

— Mas e se estiver trancada?

— Eles me arrastaram por ali. A porta é de vidro. Qualquer coisa é só arrebentar.

— Mas e você?

— Eu te encontro lá fora. Eles vão voltar daqui a pouco. Eu vou subir.

Suellen não tinha certeza se aquilo daria certo, mas estava tão furiosa que se pudesse daria fim aos três com suas próprias mãos. Por começar por Rafael que de santo não tinha nada. Na noite que se perdeu de Sharon ele apressou os passos de propósito e na primeira oportunidade a colocou dentro de um carro que Robinho estava dirigindo. A princípio pensou que iriam para a pousada, mas quando sentiu a ponta de uma arma nas costas percebeu que tinha algo errado. Robinho só ria enquanto filmava tudo com a câmera do celular. Os abusos começaram dentro do carro e terminaram na sala daquela casa onde estavam trancadas. Tudo era filmado por algum motivo que ela ainda não estava entendendo. Quando André apareceu para estuprá-la percebeu que Sharon também estava em perigo e quando ouviu a voz da amiga aos berros não pensou duas vezes que estavam no mesmo lugar. Suellen percebeu que eles, assim como qualquer outro bandido, não sentiam culpa ou remorso. Não sentiam o que ela e Sharon estavam sentindo, mas se tivesse uma chance iria ter uma vingança sobre eles.

No andar de baixo, Sharon estava sentada na cama, olhando para sua própria imagem refletida no espelho sujo e rachado que pendia na parede do quarto. Seu rosto estava vermelho e com arranhões, a maquiagem borrada pelas lágrimas formavam marcas escuras de rímel diluído sobre as maçãs do rosto. O cabelo bagunçado parecia pior a de quando acordava toda a manhã antes de entrar nesse pesadelo do qual não tinha certeza se sairia viva. Tentou dar um jeito nos fios, mas sentiu uma dor percorrer todo o corpo. Sua cabeça doía e algumas de suas unhas já tinham se quebrado. Olhou para suas pernas e viu o sangue que havia secado. A dor do estupro ainda insistia a aparecer e permanecer sentada era desconfortante. Olhou de volta para a imagem no espelho e sentiu o coração acelerar. Suas mãos se prenderam na lateral do colchão quando uma ideia lhe surgiu na cabeça. Iria fazer o possível para fugir dali e seria capaz até de matar por isso.

— Vamos logo – disse Rafael se aproximando do quarto junto de seus amigos.

Assim que abriram a porta encontraram Sharon sentada na beirada na cama e mesmo sem ter feito nada, eles não pouparam em puxá-la pelos cabelos e pelo braço direito.

— Me larga desgraçado! - gritou se agarrando ao lençol da cama que se desfez puxando para a direção dela.

— Cala a boca piranha – disse Robinho puxando-a.

Sharon conseguiu se soltar com um puxão e em um reflexo agarrou um dos pés do tripé que apoiava a câmera e girou-a lançando na direção dos três.

— Filha da puta! A câmera! - exclamou Rafael que já havia gastado uma grana com essa câmera  – Sossega!

Sharon sentiu o rosto arder com um tapa que fez seu rosto virar para a esquerda. Rafael estava furioso com ela e com essa situação que parecia não ter fim. Já estava agoniado com isso que não acabava.

Rafael começou no mundo do crime aos 17 anos. Desde o ensino fundamental não tinha boa reputação. Usava drogas escondido no andar fechado da biblioteca da escola e cometia pequenos furtos enquanto seus colegas estavam no recreio. Seus pais viviam reclamando que ele tinha que arrumar um emprego. Segundo seu pai ele “não iria criar nenhum homem barbado debaixo de seu teto”, pois ele mesmo não teve essa criação. Enquanto isso sua mãe era submissa ao pai, parecendo mais uma empregada do que sua esposa. Com o alistamento militar Rafael conseguiu certa independência: Abandonou os estudos para se dedicar ao exército, mas com segundas intenções. Seus primos tinham envolvimento com o tráfico de drogas e desde pequeno eles diziam que um dia ele iria entrar para o grupo, pois segundo eles era uma “tradição familiar”.

— Se você vai completar 18 anos, por favor, alistem-se no serviço militar – diziam as propagandas de TV.

— Porra nenhuma – gargalhava Luiz, tio de Rafael por parte de pai, enquanto segurava um cigarro de maconha entre os dedos – Serviço militar é meu ovo. Rafael falta quantos anos pra você chegar aos dezoito? Três anos? Falta muito. Você gosta dessa vida não é? A vida que seu titio aqui vive. Mulheres, bebidas e muita grana. Se você quer viver assim, se aliste. Aprenda e ponha em prática. Um dia você e meu filho vão estar em nosso grupo. Não vai ser igual seu pai que preferiu viver uma vidinha comum.

Rafael só foi entender o que o tio queria dizer quando estava em um treinamento com armas de fogo no meio do matagal num calor dos infernos. Do alto de um morro, ele observou seus parceiros em meio ao treinamento se escondendo entre arbustos e árvores. Sem contar as seções em que tinham que se arrastar em meio à lama e se esconder em buracos que mal cabiam um tatu. “Aprenda e ponha em prática” a voz do tio ecoava em sua cabeça. “Um dia você vai estar no nosso grupo” ele disse. O exército na verdade também servia para o tráfico. Ali você aprendia de tudo: atirar, esconder, técnicas de combate e outras coisas a mais. Não era de se surpreender que a maioria dos traficantes do país houvesse se alistado no exército. A propósito seu próprio tio ocupou um dos cargos da graduação. Outra coisa que Rafael não sabia era como seu primo havia conseguido entrar no exército. Acima do peso, sempre era um dos últimos a terminar os exercícios.

— Cara, isso é foda! - reclamou se levantando do chão cheio de lama.

— Cala boca Robinho. Levanta esse rabo gordo e pense no dinheiro que a gente vai ter.

André era filho do braço direito do tio de Rafael. Participava de pequenos assaltos e sequestros relâmpagos. Aproveitava o fato de ter um rosto bonito para facilitar os roubos. Ele foi o último a entrar para o trio, depois de ver que poderiam ter tudo o que o chefão da cidade tinha. Assim como o pai de Rafael, o pai de André forçou-o a se sustentar por si próprio. Sem paciência para trabalhar em trabalhos considerados normais, se aventurou no mundo do crime por perceber que aquilo era mais fácil. O dinheiro que ele demoraria um mês para receber trabalhando em uma lanchonete da vida conseguiria o dobro em dois dias de tráfico.

— A câmera tá funcionando André? - perguntou Rafael olhando furioso para Sharon.

— Aí Rafa. Dá uma olhada – riu.

Sharon não sabia como aquela câmera funcionava, mas de alguma parte do visor um feixe de luz colorido podia ser emitido contra a parede e formar imagens como em um projetor de cinema que exibia filmes para maiores de 18 anos. E esse filme era o seu filme.

— Ai gatinha – riu André – Esse é o seu filme. Os Príncipes e a Vagabunda.

Na parede oposta, as cenas de sexo explícito deveriam estar do jeito que o cliente estava esperando; zooms, gritos e muita humilhação. Sharon assistiu horrorizada um pequeno trecho que André exibia satisfeito.

— Tá salvo no cartão de memória? - perguntou Rafael ignorando os soluços de Sharon.

— Sim. Tem espaço suficiente pro final. Vamos?

— Vambora – confirmou Rafael – Levanta!

A cada minuto que se passava o desespero dentro de Sharon aumentava. Seu destino estava á poucos minutos adiante onde eles a matariam de alguma forma. Lembrou-se do que Suellen disse sobre tentar escapar pela porta de vidro, mas pensar era fácil o problema era como fazer aquilo com três marmanjos criminosos e perigosos embora nenhum deles até aquele momento parecia estar com posse de armas.

— “O que eu faço? Aceito meu destino ou luto para sobreviver?”.

A cabeça de Sharon girava enquanto Rafael a puxava pelo cabelo pra que ela se levantasse.

— “Eu não aguento mais isso. Tenho que dar um jeito. Além do mais não tenho nada a perder”.

Em um acesso de fúria mistura com dor, Sharon acerta um soco nas partes baixas de Rafael que se dobrou no chão segurando as partes atingidas enquanto berrava e xingava. André riu e tentou segurá-la após ter desligar a câmera filmadora, mas antes que pudesse agarrá-la pelo braço Sharon foi mais rápida e pegou o tripé que ainda estava jogado no chão. O objeto metálico brilhou contra a luz amarelada do quarto enquanto Sharon o segurava como um bastão de basebol. André usou seu reflexo para se abaixar a tempo de escapar de um golpe certeiro na cabeça. O objeto passou centímetros do topo de sua cabeça e atingiu o espelho na parede explodindo-o em pedaços. Os sons dos cacos de vidro trouxeram Sharon de volta a realidade, mas antes que pudesse escapar pela porta seu pé é pego pelas mãos fortes de Rafael que a puxou fazendo-a perder o equilíbrio e cair no chão batendo de rosto no assoalho de madeira.

— Mas que filha da puta! - xingou Rafael chutando a nas costelas fazendo-a soltar um grito – Desgraçada! Acha que vai fugir! Já tô de saco cheio dessa sua cara!

Sharon nunca tinha visto alguém tão furioso quanto ele. Seus olhos gentis de dias atrás haviam sumido dando espaço para olhos frios e cheios de fúria. A mão de Rafael levantou-se no ar e atingiu o rosto da garota em cheio fazendo o som do tapa ecoar no quarto enquanto André filmava a cena e continha o riso. Minutos depois Robinho chegou usando somente uma calça preta e uma toalha em volta do pescoço gordo.

— Mas que porra acont...

Robinho nem teve tempo para completar a frase, pois no segundo seguinte tudo escureceu. Sharon viu cacos de um abajur rosa rolar pelo corredor em um deles parou a centímetros da sua cabeça. Alarmados pelo barulho, André saiu para o corredor enquanto que Rafael amarrava as mãos de Sharon com o cinto de sua calça.

— Merda! Acertaram o Robinho!

— O que houve André?

— Robinho tá desmaiado cara. Acertaram ele com aquele abajur velho.

— Mas quem? - perguntou Rafael se levantando em direção ao corredor.

Sharon ainda sentia o rosto arder com o tapa que havia levado, quando ouviu o barulho de mais coisas se quebrando no final do corredor, seguidos de gritos de André e Rafael que berravam para alguém parar ou seria morto. Um grito de dor distante e passos apressados pelo corredor alarmaram que alguém se aproximava. Sharon conseguiu reunir forças para se levantar e assim que chegou ao corredor viu Suellen se aproximar correndo com uma faca de pão na mão.

— Vamos Sharon! Corre!

As duas correram de volta até o final do corredor passando pela sala escura sem antes perceber que muita coisa havia sido quebrada.

— Droga. Ele se levantou – sussurrou Suellen referindo-se a Robinho que havia se recuperado do desmaio – Escuta Sharon. Vamos correr pela cozinha e sair pela porta de vidro. Não importa o que aconteça. Corra escutou? Vamos pro mais longe possível.

— Certo. Mas e se eles irem atrás de nós?

— Amiga, vamos correr.

Antes que pudessem avançar pelo escuro, uma voz não muito distante as parou.

— Onde vocês pensam que vão? - era Rafael e pelo tom de voz estava furioso – Acham que vão fugir é?

Em seguida o som alto de tiro as fez tremer as pernas. Agora eles estavam armados. Suellen e Sharon andavam tateando no escuro enquanto caminhavam nas pontas dos pés até a cozinha. A voz não vinha de nenhum quarto por perto. A faca de cozinha que Suellen segurava na mão direita tremia assim como todo o corpo de Sharon. Encostadas contra a parede viram a saída a poucos passos. A porta de vidro sem grades era caminho para um espaço aberto cuja luz da lua iluminava fracamente.

— Está trancada?

— Não sei... Vamos quebrar aquilo e correr. No três, pega aquela panela de pressão ali e bate com toda a força no vidro, ok?

Suellen fez a contagem regressiva sussurrando, mas antes que pudessem chegar até a panela, Sharon ouve o grito de Suellen que havia sido agarrada pelos cabelos por Robinho.

— Onde pensa que vai vadia? - disse quase que torcendo o pescoço de Suellen, fazendo-a cair sobre seus pés enquanto gritava para largá-la.

Suellen berrava de dor enquanto sentia os fios de seu cabelo soltando em mechas do couro cabeludo. Sem escolha, sua mão apertou o cabo da faca e num berro desferiu um golpe contra a panturrilha de Robinho que caiu de joelhos enquanto tentava arrancar a faca da área atingida.

— Desgraçada filha da puta! - berrou.

Suellen correu de encontro a Sharon que ao ver que ele se levantaria lançou a panela em direção a Robinho, que mesmo ferido se esquivou e apontou o revólver na direção das garotas. Três tiros foram ouvidos em sequência. Nenhum atingiu o alvo. As balas perfuraram a porta de vidro que se quebrou em pedaços. No chão, Sharon e Suellen que protegiam suas cabeças, viram ali uma oportunidade para que pudessem fugir.

— Vamos!

As garotas se levantam apressadas, mas antes que pudessem passar pela porta de vidro quebrada mais um tiro foi ouvido. Sharon sentiu um ardor no braço e percebeu que havia sido atingida.

— É melhor ficarem paradas ai mesmo, ou o próximo será no meio da sua testa – alertou Rafael apontando o revolver na direção da testa de Suellen.

 

(^_^)v

...Continua...

by Hikari Ouji


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Notas finais do capítulo

Esse e o capítulo anterior foram editados, pois o próximo capítulo estará sendo publicado em breve. Pouca coisa mudou, mas em qualquer caso indico uma releitura ;)