Dead Girls Never Say No escrita por Hikari Ouji


Capítulo 13
Paranóia


Notas iniciais do capítulo

Finalmente Sharon e Suellen conseguem escapar do pesadelo pelo qual passaram. Agora no hospital, recebem os tratamentos necessários e se recuperam. Porém quando finalmente pensavam estar livres, Sharon descobre que o pesadelo não tinha chegado ao fim. Alguém estava atrás dos sobreviventes para terminar o trabalho mal feito de Rafael.



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Por fim a enfermeira conseguiu encontrar o controle remoto e desligou a televisão. Isso não impediu de Sharon continuar olhando para a tela escura do aparelho, perdida em seus pensamentos tentando digerir as informações apresentadas, nem escutou a enfermeira chamando-a para que voltasse para o quarto. Muita coisa não fazia sentido. Por que não falaram nada sobre a câmera? Como não encontraram perto do corpo de André que pensavam que tinha sido morto por Rafael? E essa história de que Robinho havia matado Rafael por traição? Como um homem sem mãos iria atirar a longa distância contra a cabeça de Rafael? E cadê Robinho no meio dessa confusão toda? Se não foi a polícia que atirou em Rafael, quem foi então?  Sharon se sentiu tonta em meio aos pensamentos e se sentou de volta na cadeira de rodas. Antes de ser empurrada para fora do quarto, fez questão de pelo menos se despedir de sua amiga.

— Depois eu volto – disse pensando que ela estava dormindo, mas ainda não tinha apagado por completo.

— Sharon... Toma cuidado – sussurrou – O Robinho... Ele está aqui – disse para que em seguida caísse em sono profundo.

Sharon foi empurrada de volta para o quarto e só percebeu quando a luz do lugar se acendeu num flash, puxando-a de volta para a realidade.

— Certo querida – disse a enfermeira ajudando-a a se deitar na cama – Assim que o jantar estiver pronto eu volto e poderá tomar o remédio para as dores na perna – disse saindo no quarto.

Assim que ela saiu do quarto a primeira coisa que fez foi voltar a ligar a televisão. A reportagem continuava com as mesmas coisas que haviam sido dito minutos atrás. Nenhuma informação nova, somente dúvidas e suposições que só pioravam a situação. E para piorar um dos policiais ainda dizia: “Segue um alerta para as pessoas da região. O assassino ainda está à solta. Por favor, não fiquem até tarde na rua”. Sharon sentiu o medo lhe cercar, mas não por causa de Robinho, mas sim por causa da pessoa que matou Rafael. Ela sabia que tinha mais alguém envolvido nisso, e esse alerta lhe transmitiu outra mensagem. Será que ela e Suellen tinham que se preocupar com esse desconhecido? Teria ele matado Rafael para que ele não revelasse algum segredo? Ele poderia também matá-las?

Não demorou muito para que a enfermeira voltasse com uma bandeja branca com um prato, um copo e uma sobremesa amarela dentro de um copinho. Sharon deitada na cama sentiu quando uma parte do móvel vibrou e começou a incliná-la para frente. A enfermeira levantou duas barras nas laterais da cama e pôs um suporte para que pudesse servir de mesa, e assim a paciente pudesse comer. A comida não era lá essas coisas. Era uma refeição básica, quase vegetariana consistida de arroz, feijão, frango grelhado e diversos legumes. Para beber, água. E de sobremesa mousse de chocolate. Sharon disfarçou a cara de “Tá. agora traz a comida de verdade” e experimentou a comida. A cada mordida se sentia uma jurada do Masterchef julgando a falta de sal, tempero e sentido naquela comida que não tinha graça. Mas mesmo assim comeu já que foi feito de bom grado pelas pessoas responsáveis, além de não querer jogar fora algo que muitas pessoas se quer tinham. Por incrível que parecesse a mousse estava uma delícia. Quase satisfeita, continuou a ver a televisão que agora passava a novela, e por alguns momentos esqueceu-se de toda a confusão na qual havia se metido. Para ajudar, dois remédios lhe foram dados para que se recuperasse logo, e não demorou muito para que caísse no sono.

Horas depois, no meio da madrugada, no meio de um pesadelo, Sharon acorda assustada e arfando depois de escutar um estrondo. O problema era; o estrondo era real ou fora no sonho. Pelas cortinas brancas com o logo do hospital impresso flashes de relâmpago podiam ser vistos e um trovão soou alto. Talvez esse fosse a razão do estrondo. Com o pescoço dolorido e ainda de olhos fechados, trocou de posição e voltou a dormir. O problema era que um feixe de luz cismava em brilhar justamente nos seus olhos. Ao abri-los percebeu que não era de nenhum equipamento e sim do corredor, já que a porta não estava totalmente fechada. Nada indicava que alguém havia entrado no quarto, mas foi o suficiente para a paranoia de que alguém havia a visitado tomasse conta de sua cabeça. Tentou acreditar que a enfermeira tivesse esquecido aberta ao ser chamada para alguma emergência, mas nada tirava de sua cabeça que estava em perigo. Com certeza não havia sido Robinho, já que era impossível ele ter conseguido girar a maçaneta, logo pensou que pudesse ser coisa do assassino de Rafael. Mas se fosse ele, por que não a matou logo? Sharon se cobriu com o lençol até a cabeça e de repente um vulto passou pelo corredor, mas era só um médico correndo para algum lugar. Teria ele visto alguém suspeito? Teria o assassino visto o médico e desistido de matá-la? E por que ia matá-la se ela nem sabia quem ele era? Seria um tipo de queima de arquivo? Sharon tentou dormir novamente, mas a cada trovoada ela levava um susto. Logo se lembrou de Robinho de novo. Teria ele sobrevivido? Mas como a polícia ainda não o encontrou?

— Mas se o assassino planeja uma queima de arquivos... Será que ele também está atrás de Robinho? Afinal ele não foi encontrado nem morto nem vivo... – pensou se levantando da cama e indo com todo o cuidado para a cadeira de rodas, posicionada ao lado da cama com cuidado para que sua perna lesionada não voltasse a doer.

Ela sabia que o único jeito de por um fim as suas perguntas era checar ela mesma se Robinho estava ou não dentro daquele hospital. Sharon pensou em ligar para a polícia, mas lembrou-se de que não tinha nenhum celular ou telefone por perto. Também não tinha como dizer isso aos enfermeiros, já que lhe diriam que era efeito pós-traumático, ou algo parecido. Mas quais as chances de Robinho estar mesmo ali? Mesmo com sua consciência dizendo para se manter salva dentro do quarto, aquela mesma pessoa que matou André e quis matar Rafael, agora desejava matar Robinho, afinal antes ele do que ela. Por alguns minutos pensou o que faria, e antes que morresse na dúvida, resolveu checar se ele estaria mesmo ali. O relógio marcava quinze para as três da madrugada quando Sharon saiu de cadeira de rodas pelo corredor deserto. Pensou em que lugar uma pessoa quase morta e sem mãos poderia estar, logo imaginou que poderia estar em alguma parte de recuperação pós-cirúrgica, e guiando pelas placas e mapas internos exibidos nas paredes brancas e verdes claro, descobriu que ao setor ficava no segundo andar.

Mais a frente no corredor, encontrou o elevador que mantinha suas portas fechadas. Quando ela apertou o botão, a seta em cima da porta se acendeu verde indicando que estava subindo. Não demorou muito para que a porta do quarto andar se abrisse e ela pudesse entrar, apertando o botão de número dois. Segundos depois, a porta se abriu novamente para um corredor com dois enfermeiros que passaram por ela sem que perguntassem nada. Sharon pensou que estivessem ocupados e seguindo o mapa que viu minutos antes conseguiu chegar ao setor. Como ela conseguiu passar e não ter sido vista ou impedida a surpreendeu. Se isso aconteceu com ela, significava que o tal desconhecido poderia muito bem invadir ali e executar seu provável plano. Mais a frente, o corredor se dividia em dois, Sharon foi surpreendida quando um médico saiu de um quarto no fim do corredor e seguiu em sua direção. Por sorte parecia estar tão atento ao papel que lia que ela teve tempo de entrar em um quarto ao mesmo tempo em que ouviu as portas por onde passou segundos atrás se abrirem. Dentro do quarto escuro e vazio ela ouviu os médicos se cumprimentarem e para sua sorte disseram a frase que ela se preocupava em descobrir.

— Já encontraram os documentos daquele rapaz que perdeu as mãos? – disse um homem de voz grossa.

— Estamos procurando, mas está difícil. Nenhum parente apareceu, mas um homem ligou mais cedo e perguntou por um paciente que tinha as mesmas características dele. Ele disse que estava a caminho.

— Certo. Já avisaram a polícia? – perguntou o médico.

— Sim, mas como não é algo de alto risco, disseram que viriam amanhã à tarde, já que a prioridade é sobre o caso do sequestro. E você sabe né, essa região tem poucos policiais.

— Então tá. O paciente foi medicado e mais tarde eu volto para vê-lo. Qualquer coisa é só me chamarem.

Não demorou muito para que os passos se distanciarem de ambos os lados do corredor. Sharon respirou fundo antes de abrir a porta e novamente pensou se era necessário saciar sua curiosidade. Pouco a pouco abriu a porta e ao checar os dois lados do corredor e ver que não tinha realmente ninguém, decidiu sair do quarto. Pelo que havia visto, o médico saiu do último quarto no corredor e era para lá que deveria ir. A cada metro que se aproximava, mas o coração ficava acelerado. Quando por fim alcançou a maçaneta da porta, respirou fundo e sentiu a porta abrir. Agora não tinha mais volta. Quando ia entrar o som de uma sirene de ambulância soou alta e a alertou fazendo seu coração subir a boca e tudo mudou em um segundo; um segundo atrás ela olhou na direção das portas que levavam para o saguão com medo de ser descoberta, e no segundo seguinte a porta do quarto de Robinho se escancarou e por ela foi atingida com um chute que por sorte atingiu a cadeira que com a força foi arremessada contra a parede no outro lado do corredor.

— Vagabunda! – xingou ele – Olha o que você fez comigo!

Sharon viu o estrago que fez com as mãos de Robinho e imaginou que não foi possível recuperá-las, já que estavam com ataduras onde deveriam existir os membros. Ele se mantinha de pé mostrando os braços sem mãos à medida que se aproximava da garota que movida pelo medo começou a girar com força as rodas da cadeira enquanto gritava por socorro. Mais não durou muito, pois as luzes de repente piscaram e se apagaram em todo o andar. Desesperada e já chorando pensou em correr, mas as pernas ainda não conseguiriam mantê-la de pé. Por sorte as luzes de emergência dos corredores se acenderam segundos depois. Sharon consegue encontrar uma porta destrancada e tenta abrí-la o mais rápido possível para fugir de Robinho que se aproximava, mas para seu desespero acaba se deparando com a saída de emergência. Robinho ri da cara de desespero de Sharon e sem pensar duas vezes começa a empurra-la para as escadas. De repente as portas do corredor batem com força e quando Robinho estica o pescoço para ver quem era, por pouco não é atingido por dois tiros que perfuram a parede e espalhou uma camada de poeira em seus olhos

— Merda! – xingou

— Socorro! – pediu Sharon, mas sua voz sumiu quando a cadeira atingiu o limite do degrau e despencou degrau a baixo lançando-a contra o chão e a parede do andar de baixo. A porta de emergência do andar de cima se escancarou com uma pancada e um homem entrou com arma em punho. Por um segundo olhou em direção a Sharon e no segundo seguinte correu escadas acima para onde Robinho escapou. Sharon ficou imóvel até o som dos passos se distanciarem. Caída, esperava que o pior acontecesse, mas a queda não foi tão grave quanto imaginou, tirando uma ou outra escoriação nas pernas e braços, nada que se comparasse ao drama que já viveu. Mesmo na penumbra, também reconheceu que ainda estava em perigo e aquele homem que a viu agora a pouco com certeza não foi para ajudá-la e sequer era policial.

Robinho correu escada acima bufando com dores enquanto tentava manter o equilíbrio. Estranhamente perder duas mãos o fez ficar cambaleando. Isso era o menor dos problemas, já que o maior estava justamente atrás dele e ele sabia que aquele homem estava ali para terminar o serviço que eles não terminaram. Quase perdendo o fôlego, ele entra no terceiro andar e se esconde dentro de uma pequena sala. Pelos curativos conseguia ver uma mancha vermelha surgir.

Sharon não sabia o que fazer, se descia ou se subia de volta para seu quarto. Minutos depois, um enfermeiro surgiu e a ajudou a pô-la em uma cadeira de rodas deixada no saguão do andar, já que a sua havia quebrado uma roda. A polícia já estava lá e logo dois deles perguntaram-na se ela tinha visto alguém.

— Sim, mas estava escuro e não pude ver direito. Eu fui jogada pelo Robinho...

— Robinho? Um dos que te sequestraram? – perguntou um deles.

— Sim. Ele estava internado aqui. Eu...Ele está sem as mãos, mas conseguiu me jogar das escadas e depois um homem atirou e correu atrás dele – disse nervosa se perguntando por que não havia contado sobre Robinho horas atrás enquanto contava sobre André.

— Certo. Vamos te levar para o quarto. Dois policiais já estão lá para protegê-las.

Mesmo a contra gosto, Sharon foi levada de volta para o quarto por dois policiais que guiaram sua cadeira de rodas até o elevador. Enquanto um pressionava o botão de número quatro, ela não pode deixar de perceber a arma que ambos portavam e isso a causou arrepios. O elevador rapidamente chega ao quarto andar com um sacolejo e um frio na barriga. Em seguida a porta se abriu e a cadeira de rodas continuou sendo arrastada até o quarto de Suellen. Lá dentro, ela continuava dormindo. A enfermeira dosava medicamentos enquanto um policial dentro e outro no corredor faziam a segurança. Tudo parecia que ia ficar em paz, mas segundos depois tiros puderam ser ouvidos no corredor. Ao mesmo tempo o radio do policial tocou e nela a mensagem soou alta e clara.

— Suspeito matou civil no quarto andar, tenham cuidado.

 

...continua...

(^_^)v

By Hikari Ouji


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