Dead Girls Never Say No escrita por Hikari Ouji


Capítulo 12
Rei sem Coroa


Notas iniciais do capítulo

Finalmente Sharon dá a volta por cima e parte pra cima de seus agressores, aproveitando que ambos estavam preocupados confrontando seus próprios interesses. Com a briga entre os dois, Sharon aproveita e vinga de seu namorado, mas ainda não está livre de Rafael.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/593871/chapter/12

Rafael abriu os olhos sem saber quanto tempo ficou apagado depois que bateu com a cabeça no chão, e de cara viu algo prateado por debaixo dos pallets de madeira. Era sua arma. Ignorando a dor, arrastou a mão pelos vãos e conseguiu pegá-la. Furioso, levantou-se rápido a tempo de ver a cara de espanto de Sharon ao vê-lo, mas quem se assustou mesmo foi Rafael ao ver André degolado em meio ao sangue.

— Filha da puta!

Rafael apontou a arma para Sharon e atirou. O tiro acertou a cabeça, mas não de seu alvo. Sharon se esgueirou pela porta e agora fugia desesperada pisando no chão enlameado. Pensou em ir para a floresta, mas o som do helicóptero estava cada vez alto, assim como das sirenes. Rafael sentiu ânsia ao ver que havia atingido a cabeça de André que já estava morto e agora tinha mais um buraco no corpo do jovem expelia sangue e algo a mais que pingava e se misturava em sua camisa encharcada do líquido vermelho. Rafael saltou por cima dos equipamentos e escorregou no sangue. Assim que reequilibrou correu atrás de Sharon. Teria sido difícil se ela não tivesse deixado um rastro de sangue, mas mesmo assim correr atrás dela em meio a lama e a chuva que voltava aos poucos tornava tudo agonizante, e para piorar um maldito helicóptero sobrevoava não muito longe de onde estava.

Sharon corria gritando por socorro para qualquer um que a escutasse. Suas pernas doíam devido ao terreno ruim e aos machucados, mas o que a mantinha pensando positivo era o som das sirenes e do helicóptero que pareciam fazer buscas na região. A chuva estava aumentando e dificultava ainda mais a caminhada, e quando viu o helicóptero gritou e sacudiu os braços em desespero para que fosse vista, mas ele passou direto.

— Volta aqui sua vagabunda!!

André havia conseguido encontrá-la correndo pela estrada de lama que levava até a rodovia. Desesperada ela voltou a correr na lama e quando viu que tinha um carro parado no meio da estrada pensou estar indo para uma emboscada, mas quando viu que tinha um carro da polícia logo atrás viu que poderia ser sua salvação.

— Socorro!!! – gritou tentando ser mais alta que o som da chuva e do helicóptero, mas não o suficiente do que o som de um tiro que explodiu no ar e errou o alvo.

Aquilo só serviu de impulso para que ela corresse mais, assim como serviu de alerta para a polícia que agora corria na direção deles.

— Desgraçada!

Rafael teve um dejà-vú assim que viu aquela cena. Lembrou novamente daquele sequestro frustrado que acabou na fuga da refém, que havia sido por fim capturada pelo mandante do crime tempos atrás.

“Sabe o que deve fazer quando alguém foge, filho”- disse ele. Rafael podia jurar que estava revivendo a cena.

— Atira nas pernas... – respondeu para si próprio.

E assim fez. Mesmo estando ainda muito longe, correu o máximo que podia e disparou um tiro na coxa esquerda da garota que perdeu o equilíbrio e caiu de cara na lama. Sharon berrou de dor e mais ainda quando viu que ele estava se aproximando.

— Larga a arma! – anunciou um alto falante em algum lugar, porém Rafael continuou andando para o seu alvo final. Ignorava até o fato de que seria preso, pois sabia que iria conseguir fugir em pouco tempo, assim como tinha feito um ano atrás. Ele podia não ter a filmadora, que deixou em algum canto da cabana, mas tinha a câmera do celular para filmar o final perfeito. Filmou a polícia, o helicóptero – ia até cobrar mais por isso – e por fim Sharon que gritava ensanguentada.

 Mais um passo e ele estaria ao seu lado pisando sobre a ferida da bala. Sharon o ouve dizer coisas ininteligíveis quando por fim fala algo que possa entender.

— E quando isso não for o suficiente... Atira na cabeça – disse apontando o revólver para a cabeça de Sharon que tenta fugir mais era tarde de mais.

Pow!

Tudo ficou quieto por segundos que passaram como horas. Tudo se calou, o som das sirenes, da chuva, do helicóptero que voava sobre sua cabeça. Tudo havia chagado ao fim. Depois de tanta correria, de tantas batalhas para sobreviver e de tantas fugas da mão da morte para se manter em segurança, uma bala foi o suficiente para que tudo acabasse. Uma bala e uma garota haviam destruído o rei. Rafael estava morto.

O som voltou com um baque para Sharon. Rafael caiu sem vida sobre seu corpo enterrando-a ainda mais na lama. Por sorte sua gritaria havia sido ouvida pelos policiais, que a retiraram de debaixo do cadáver do rapaz. Em estado de choque ela abraçou o policial que a cobriu com um cobertor azulado e felpudo, e em seguida desmaiou.

Sharon acordou horas depois na manhã do dia seguinte após seu salvamento, quase uma semana depois de ser sequestrada no carnaval. A primeira pessoa que viu ao abrir os olhos foi uma enfermeira que ajeitava o soro em seu braço.

— Onde estou?

— Calma, continue deitada. Você está no hospital. Consegue se lembrar do que houve?

— Infelizmente sim.

Não tardou muito para que a porta se abrisse e um médico de meia idade invadiu o quarto trazendo consigo o cheiro tão comum em hospitais.

— Seja bem vinda Sharon. Vamos realizar um último check-up para que seja liberada para as visitas.

— Minha família, minha amiga... A Suellen? Como ela está?

— Calma. Descanse mais um pouco. Beba água, você está muito desidratada.

Sharon não sabia o que tinha tomado além da água, mas no minuto seguinte sentiu uma paz tão grande, uma tranquilidade que há muito tempo não sentia. Fechou os olhos devido à claridade da janela e adormeceu. Quando despertou já era meio da tarde e sentiu que sua mão estava sendo acariciada. Ao ver quem era uma felicidade sem tamanho lhe atingiu e lágrimas – agora de felicidade – lhe encheram os olhos ao ver seus pais ali. Palavras lhe faltaram em meio a abraços e soluços, e frases de saudade e graças a Deus. Não demorou muito para que a polícia chegasse e ela fosse bombardeada com perguntas e mais perguntas sobre o que houve durante o tempo em que foi raptada. Os pais foram contra, pois acreditavam que era muito recente, mas ao contrário deles, a polícia – que por sinal não parecia serem meros policiais de delegacias de bairros comuns – acreditava que o quanto antes melhor. E assim ela fez. Logo de cara, lembrou-se de alguém que sofreu tanto quanto ela;

— Suellen! Onde ela está?

— Ela está bem, querida – disse a mãe ainda agarrada a sua mão – Ela está se recuperando de uma cirurgia e ainda está internada.

— Cirurgia?

— Sim, ela foi atropelada e sofreu algumas escoriações nos membros e infelizmente... Ela sofreu um aborto – disse a mãe com lágrimas nos olhos e com a voz baixa.

— A criança era de algum deles? – perguntou o policial anotando tudo em um bloco de papel preto. Sharon se perguntou por que não usavam um celular para isso.

— Sim, era do namorado dela. Rafael, um dos sequestradores.

— Você viu quando Rafael matou André? – perguntou o outro policial. Um homem negro, forte, com cara de mau.

— Não foi ele – Ela respondeu depois de segundos em silêncio – Foi eu.

O único barulho audível no quarto era do ar condicionado e dos passos dos enfermeiros no corredor. Sharon olhava pela janela mirando o verde acinzentado do mar sem fim. Queria estar em um barco o mais longe possível dali e de todo o pesadelo que sofreu. Queria um momento de paz e sozinha tentar reencontrar com seu antigo eu, que agora estava despedaçado.

— Era ele ou eu – continuou dizendo evitando as caras de espanto das pessoas no quarto –,... e eu não me arrependo.

Passavam das seis da tarde quando por fim os policiais foram embora, porém como eles mesmos disseram, não seria a última vez que se veriam. Mesmo em choque os pais de Sharon a apoiaram de todas as formas, dizendo que foi em legitima defesa, que fariam o mesmo se tivessem na situação dela, ou que eram menos dois bandidos no mundo. Quando ficou por fim sozinha no quarto, depois que os médicos pedirem para que eles se retirassem, Sharon se levantou da cama com dificuldade e pôs a olhar para o mar novamente. O hospital ficava no alto de uma elevação da cidade com uma visão incrível para o oceano Atlântico. A água esverdeada brilhava contra o sol poente de uma tarde nublada. Pela janela aberta respirou fundo o ar que invadia o quarto e fazia seus cabelos balançarem levemente. Ainda com a atenção no oceano, chegou a se comparar a ele e sua faceta calma e imponente que no fundo era cheia de segredos e turbulências, assim como ela.

Mais tarde, mesmo cansada, resolveu ir ver sua amiga. Suellen estava deitada em um quarto no fim do corredor olhando para uma reportagem na TV fixada a parede. Se pudesse se levantar, Suellen correria direto para seus braços e desabaria no choro, mas estava tão dopada de remédios que o simples ato de apertar o botão de desligar o controle remoto doía lhe o corpo. Sharon pode ver por entre as ataduras no rosto da amiga que ela chorava e assim que se aproximou a abraçou com cuidado. Vê-la naquele estado era como ver uma irmã acamada. Ao olhar para a TV ainda conseguiu ver que estavam exibindo uma reportagem sobre o sequestro delas. Não demorou muito e a enfermeira chegou com mais uma medicação para a paciente. A mulher, a mesma que também estava cuidando de Sharon, não se surpreendeu por vê-la ali.

— Sabia que estava aqui – disse gentilmente – mas você precisa voltar para o seu quarto.

— Eu só quis vê-la. Ela está bem, né?

— Sim, mas ainda precisa de um tempo para se recuperar. Graças a Deus nada foi encontrado no exame de sangue de vocês duas...

Sharon se perguntou se suas feições mudaram quando a doutora falou “graças a Deus”. Ela não sabia o porquê, mas assim como uma música que seu pai costumava ouvir, ela estava começando a acreditar que estava perdendo sua religião. Seria difícil voltar a acreditar Nele depois de tudo o que passou.

—Logo você terá alta. Quanto a Suellen, vai ficar mais uns dias. Devido ao atropelamento, sua gravidez foi interrompida e também perdeu muito sangue e algumas fraturas foram feias. Foi um milagre ela não ter morrido.

Milagre? Deus? Sharon balançou a cabeça e foi salva quando a reportagem na TV voltou. Novamente uma repórter que fugia do padrão magreza da TV, voltou a dar ênfase posicionada na frente do hospital dando as últimas notícias. Sharon nunca imaginou que um dia seu nome seria pronunciado na televisão.

— Não é bom vocês assistirem isso – disse a enfermeira – Cadê o controle?

— Não tem problema – disse Sharon olhando para Suellen que pelo jeito havia escondido o controle embaixo das cobertas, já que antes estava do lado dela.

— Sim, temos novas informações – disse a repórter ajeitando os cabelos compridos que cismavam voar em seu rosto devido ao vento – As duas jovens que foram sequestradas, abusadas sexualmente e quase mortas continuam internadas aqui no hospital da cidade onde esse crime aconteceu. A polícia divulgou que elas foram sequestradas durante o carnaval e mantidas em cárcere privado durante todo esse tempo. Os criminosos possuíam contatos com outros criminosos de outros estados e mais estranho em toda essa história é que os três não possuíam ficha em nenhuma delegacia do Brasil, mas a polícia ainda está tentando solucionar esse quebra cabeça.

— Há quanto tempo eles cometiam esses crimes? – perguntou o apresentador do telejornal. Sharon encostou-se à beirada da cama tentando ignorar a agulha que estava sendo preparada pela enfermeira.

— Ainda não tem muitas notícias. Eles faziam parte de uma quadrilha muito bem orquestrada especializada em roubos, assassinatos e tráfico. Além disso, a polícia revelou que eles costumavam sequestrar pessoas e filmar os atos de crueldade para enviar para pessoas que pagavam pelo material – disse a repórter.

— Como assim? O que eles faziam? – insistiu o apresentador. Sharon já estava irritada com ele e esse jogo de perguntas e respostas – Ah temos reportagem? Então vamos ver. Roda o VT.

Logo uma reportagem entrou no ar, mostrando o cativeiro agora iluminado pela luz das câmeras. A repórter falava sem parar com um ar de mistério a lá Sherlock Holmes misturado com Scooby Doo - simplesmente irritante. Assim que ela adentrou na casa pela porta de vidro estilhaçado, Sharon foi atingida por um déjà vu que a deixou tonta. Continuava do mesmo jeito que ela se lembrava cheia de coisas quebradas, jogadas no chão e estilhaçadas. Por fim mostraram o quarto onde foram abusadas e trancadas. Ao ver que Sharon tinha lágrimas descendo pelas bochechas a enfermeira já ia puxando a tomada da televisão.

— Chega minha querida...

— NÃO! – gritou – Eu quero ver! – Ela olhou para Suellen, mas o remédio aplicado já estava fazendo efeito, seus olhos estavam quase se fechando.

As cenas continuaram mostrando não só a situação da casa, como também o local onde se localiza e o casebre onde matou André.

— E foi aqui que o dramático sequestro terminou – dizia a repórter calçando longas botas de borracha preta devido à lama que cismava em não endurecer – Naquele casebre de cinco metros quadrados, por fim um dos bandidos foi morto, possivelmente pelo próprio comparsa. Ele se chamava André de 23 anos e era namorado de uma das jovens sequestradas. Sharon conseguiu fugir correndo quando ouviu o barulho do helicóptero, enquanto o outro rapaz, que era namorado da outra sequestrada, a seguiu e foi morto, depois de ter atirado contra Sharon. Ele acertou a perna da jovem que ainda se encontra no hospital. A outra jovem, Suellen de 21 anos, foi atropelada horas antes quando estavam tentando fugir. Eles pensaram que ela estava morta, mas um casal que parou para trocar um pneu furado a viu jogada no barranco. Eles chamaram a polícia, e médicos conseguiram salvá-la ainda com vida. Ela há pouco tempo havia descoberto que estava grávida e a polícia também investiga se esse poderia ser um dos motivos para o crime.

Sharon tremia dos pés a cabeça enquanto tentava reorganizar as informações que ela sabia. Pelo que entendeu eles não sabiam de muita coisa e alguns fatos ainda não estavam claros, inclusive o que aconteceu dentro da cabana não foi explicado.

— Estamos aqui com o delegado Alexandre que está investigando o caso – disse a repórter dando espaço para que um homem alto e corpulento, cujos músculos podiam se ver sobre a camisa preta que usava, explicasse seu ponto de vista – Quais os próximos passos sobre esse caso, Alexandre?

— Bem, boa noite – disse ajeitando os óculos de aros quadrados - Ainda estamos investigando o caso. O que sabemos é que além dos roubos comuns, eles tinham um negócio à parte. Eles também eram contratados como assassinos profissionais cuja especialidade era o tráfico de mulheres, sequestro e extorsão. E o motivo pelo qual eles não tinham ficha, era que eles eliminavam quase todas as vítimas. Um fato curioso é que eles documentavam os atos m de acordo com o desejo de seus clientes. No caso das jovens Sharon e Suellen elas foram sequestradas para que fossem torturadas, abusadas e mortas sendo que tudo deveria ser gravado e enviado para um cliente que pediu tal ato.

— Que absurdo – disse o apresentador revoltado com a situação – E vocês já sabem quem era o crápula que pediu tal ato?

— Ainda não, mas ele não é brasileiro, o que indica que eles faziam isso internacionalmente através de vídeos que custavam um valor inimaginável. Foram encontrados no celular de Rafael três outros vídeos que comprovam esse fato. Em dois deles eles falam em inglês e espanhol.

— A polícia já está na busca desses prováveis contatos encontrados também? – perguntou a repórter.

— Sim. Não podemos divulgar muito, mas a polícia já está na busca deles.

— Todos os bandidos foram mortos, certo delegado Alexandre? Quais foram as circunstâncias? – perguntou a repórter.

— Até onde se sabe eram três marginais. Um foi encontrado morto dentro da cabana e suspeitamos que foi traído pelo Rafael, que foi morto momentos depois. Ainda estamos esperando os resultados da perícia já que o tiro que acertou Rafael não foi disparado por nenhum policial.

— Mas como assim? – perguntou o apresentador. Essa informação pareceu ter provocado a mesma surpresa que causou em Sharon e provavelmente na repórter.

— Pois é. Ao que tudo indica, Rafael pode ter sido morto por outra pessoa, possivelmente o terceiro bandido identificado como Robson, ou Robinho como era chamado.

— Poderia ser traição por dinheiro – perguntou a repórter.

— Ainda não sabemos.

— E ele já foi encontrado? – insistiu ela segurando o microfone.

Sharon franziu o cenho ao ouvir a pergunta. Pelo o que lembrava ela tinha arrancado lhe as mãos e havia desmaiado. Além do mais, como poderia ter atirado contra Rafael?

Ele tá morto— sussurrou para si mesma.

— Ele ainda não foi encontrado – disse o delegado.

 

...continua...

(^_^)/

By Hikari Ouji


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dead Girls Never Say No" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.