Dead Girls Never Say No escrita por Hikari Ouji


Capítulo 11
Vingança


Notas iniciais do capítulo

A cada hora que se passa, mas a situação fica violenta e mostra as verdadeiras intenções de Rafael e André. No meio de toda a confusão, Sharon aproveita a oportunidade para por seu plano de vingança em prática.



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Sharon sentiu que ia desmaiar ali mesmo. Suas forças já estavam chegando ao limite e só estava de pé pela adrenalina e vontade de viver. A pancada na barriga pela cabeçada e nas costas pela queda a atrapalhou para se levantar de imediato. Arrastar um marmanjo de um metro e setenta e sete, morro acima na lama e fazê-lo se sentar numa cadeira, além de amarrá-lo consumiu uma boa parte de sua força. Isso sem contar com a surra que levou antes e do cadeado que teve que arrebentar com um machado que parecia ter ganhado 20 quilos nas últimas horas. Estava sedenta por água e o pouco que conseguiu havia bebido da chuva. As bananas que encontrou na bananeira morro abaixo lhe fez recuperar as energias, mas ainda não era o suficiente.

Na tentativa de alcançar a arma, acabou sendo derrotada por Rafael que pisou em sua mão e chutou a arma para longe de seu alcance. Se Rafael afirmava que ela estava incorporada, ele por sua vez era o demônio em pessoa. Seus olhos avermelhados pela falta de uma boa noite de sono misturado à dor e raiva, dava a impressão de que dessa vez ele a mataria. Ele por sua vez, já podia sentir até o cheiro do dinheiro e das praias de Miami Beach, pra onde ele fugiria. Robinho deveria morrer de tanto sangue que perdeu, André deve ter sido pego, morto em confronto ou fugido. Por mais que o considerasse como seu irmão, sempre tinha algo que lhe dizia que ele iria o trair de alguma forma. Ele poderia até fingir, mas Rafael se lembra muito bem, de que André recebeu uma boa quantia em dinheiro depois que mataram seu pai na invasão da favela. Naquele trio, só quem era bobo mesmo era Robinho que foi usado como escudo na madrugada anterior, pois ambos sabiam que Sharon poderia estar armada perto da cabana e que esperava uma oportunidade para atacar quem se aproximasse. E como esperado deu no que deu.

Rafael avançou e sentou-se sobre Sharon mantendo-a debaixo de seu corpo impedindo-a de fugir. Pegou a câmera e apontou para a garota e falando em inglês disse que esse era o final do filme. A luz por um momento a cegou, mas Rafael posicionou a câmera no chão de uma maneira que filmasse o que ele iria fazer. Sua mão boa alisou o seio de Sharon e percorreu o caminho até seu pescoço que começou a ser torturado com um enforcamento, impedindo qualquer ar de passar por sua garganta enquanto ignorava qualquer arranhão que ela desferisse contra seu rosto, mas algo o fez parar. Uma buzina de carro soou alta e fez com que sua mão soltasse o pescoço de sua vítima e em seguida ele se levantou. Enquanto Sharon inspirava todo o ar necessário para que a respiração voltasse ao normal, Rafael foi até a janela e pela cortina velha e esfiapada pode ver que André havia chegado. Depois de chutar Sharon para fora do caminho, Rafael abriu a porta com tanta raiva que ela cedeu de onde estava presa e caiu com um som abafado ao atingir a lama. André levou um susto e saiu da beirada do morro onde procurava por um caminho para que chegasse até onde Sharon havia caído e  onde Rafael poderia ter ido procurar.

— Onde você estava seu filho da puta! – gritou Rafael indo em sua direção.

— Calma! A polícia quase que me pegou.

— Você ia fugir né! – disse pegando-o pela camisa e ameaçando-o jogar morro abaixo.

— Não eu não ia – disse – Eu vim te ajudar viu! Larguei o Robinho lá e agora tô aqui. Vamos acabar logo com isso.

Rafael o soltou e socou-o no ombro.

— Seu imbecil, cadê o carro?

— Tá mais ali embaixo. Tem muita lama pra subir até aqui. E a câmera? Cadê?

— A vadia quase me matou! Você tem noção disso!?  A câmera tá lá dentro. Eu já ia mata-la.

— Ok, vamos lá. E como vocês subiram?

— Sei lá. Quando dei por mim já estava aqui dentro.

O casebre tinha cinco metros de largura por quatro de altura, mas tinha tanta coisa acumulada que impedia de ter um cálculo preciso de seu tamanho devido aos diversos materiais de construção empilhados que reduziam muito o espaço. Havia gaiolas vazias, sacos de areia, cordas, baldes, canos, rolos de arame e telas de alumínio. A arma antes em sua posse escorregou por debaixo dos pallets de madeira e havia ficado presa em algum canto fora de seu alcance. O mais irritante era que não havia nada que pudesse ser usado como arma opcional. Nada afiado, nenhuma estaca, facão, ancinho, ferro... Nada. Quando suas esperanças estavam se esvaindo lembrou-se da janela e tateou o chão em busca de cacos de vidro e encontrou um em forma triangular, e quando se esgueirou para um canto esbarrou em um cano que revelou ser na verdade uma pá de madeira branca. Rapidamente enfiou o caco de vidro no bolso esfiapado do vestido e armou-se da pá como um jogador de baseball.

Assim que pôs o pé na entrada do casebre, Rafael notou que Sharon havia sumido do lugar onde a deixou jogada, e sabendo que ela usava de táticas repetidas de surpresa contra o inimigo, deixou que André entrasse na frente, e como esperado gostou quando a pá surgiu de um ponto cego num canto a esquerda, e com velocidade atingiu o nariz e testa do rapaz que caiu no chão de madeira suja de barro. Rafael achou ridículo, mas para uma garota que deveria ter visto centenas de filmes que relatavam a luta contra o crime, foi um ato já imaginável. André levantou logo em seguida, xingando meia dúzia de palavrões, e com o nariz sangrando andou até Sharon e puxou com toda a força o objeto de suas mãos enquanto Rafael iluminava o local com a luz da câmera. Até agora ele se questionava como a bateria do equipamento ainda estava em 20%. O vendedor que indicou o objeto realmente estava certo. Depois de carregado por 24h ininterruptas, a bateria poderia durar até quatro dias sem ser carregada, caso houvesse intervalos durante uma gravação, pois entraria em estado de standby. Caso contrário durava dois dias sem ser carregada. Enfim, mistérios da tecnologia japonesa. O único fato era que o tempo estava esgotando em todos os sentidos.

Rafael voltou a apertar o play e deixou a câmera gravando de cima dos sacos de cimento, até que o som de celular voltou a tocar. Todos já sabiam quem era e atendê-lo era algo que ninguém queria fazer, porém era necessário uma vez que era o cliente. Mais uma vez a voz do gringo sobressaiu do aparelho como se estivesse em viva voz ou rádio. Dava pra sentir a tensão no ar e nas palavras de ordem e xingamento entre Rafael e seu cliente que em menos de dois minutos terminou a ligação e pegou a pá das mãos de André.

— E aí? – perguntou limpando as gotas de sangue que cismavam em cair das narinas.

— Temos duas horas pra entregar essa droga ou...

— Ou o quê? – insistiu.

— Os outros cinquenta por cento que restou será reduzido a dez.

— Como assim? Tá de sacanagem, né?

— Cala a boca André! Eu to tentando pensar aqui!

Sharon assistia a tudo de um canto feito um rato acuado em um beco por dois gatos famintos. Pelo que havia entendido não era só ela que estava em apuros.

— O filho da mãe tirou metade da quantia que ia nos pagar e ameaçou reduzir a um valor miserável.

Rafael ignorou a mão machucada que em conjunto com a boa apertavam o cabo da pá, enquanto tentava pensar em como iria resolver toda a situação. Matar não era o problema. O problema era correr o risco de dividir uma quantia ínfima com mais três pessoas e correr o risco de ficar com um valor que mal valia a pena. Mas para sua surpresa ele não era o único que pensava sobre isso.

— Desculpa mano, mas eu não vou dividir o valor.

Se estivesse no conforto de seu sofá, jantando e bebendo um refrigerante bem gelado, Sharon gritaria um “bem que suspeitava” com direito a gargalhada. Mas estava tão assustada que prendeu a respiração. André apontava o revólver para a cabeça de Rafael e com o dedo no gatilho insinuava que o dinheiro seria só dele. Fazendo o silêncio reinar por poucos minutos devido à surpresa. Mas se alguém pensasse que Rafael cederia tão fácil só porque uma arma estava apontada para sua cabeça, estava errado.

— Que merda você tá fazendo André?

— Cala a boca. Eu quero a garota morta e a câmera – disse André fungando o sangue que insistia em correr pelo nariz.

— E vai me matar?

— Se não cooperar, sim. Um tiro resolve tudo, além do mais, a polícia deve estar nos caçando a essa hora, já que o hospital mais próximo estava cheio de policiais. Se conseguirem fazer Robinho falar estará fudido.

— Estaremos, amigo – disse Rafael, ainda com a mão segurando a pá.

— Estaremos quem? Vou fugir antes que me peguem. Com o dinheiro, vou cair fora do país. Pra falar a verdade esse lugar já deu o que tinha que dar.

— Como se fosse sobreviver no estrangeiro – debochou Rafael abusando da sorte.

— Só por que você sabe falar inglês não significa que os outros sejam idiotas. Enquanto você pensava que eu tava na favela dando uma de braço direito do chefe, na verdade eu tava no asfalto, roubando e chantageando os gringos e gringas que vinham pra cidade.

— É mesmo? Chantageando? – debochou Rafael – E quem era o macho na hora H? Por que cara de passivo você tem.

Sharon pensou em pigarrear talvez assim eles percebessem que ainda está ali. Chegou até a pensar em simplesmente sair se esgueirando pela parede até a saída, mas a porta estava atrás dos dois que trocavam farpas, enquanto ela rezava para que não tivessem percebido um riso que escapuliu. Para ela, era Rafael quem tinha cara de michê barato que troca sexo com velhos ricos por ostentação. É como dizem; “Paga de fodão tirando foto na boate e roupa de luxo, mas não posta foto da cacura que paga as contas”. Mas enfim, cada um com a sua, mas alguém havia se irritado com isso. André acertou um soco no rosto de Rafael que não esperava tal reação, e deve ter sido dolorido, pois o fez perder o equilíbrio e cair no chão xingando enquanto cuspia sangue. Sharon podia jurar que ele havia cuspido um dente. No mesmo instante ele se rebelou contra André e ambos entraram em uma luta corporal típica de adolescentes de escolas rivais que cismavam em marcar brigas em algum lugar depois das aulas para acertar as contas. O fato era que o dinheiro era quem comandava naquele momento. Ambos se engalfinhavam em meio a xingamentos e gritos de dor mesclados a socos furiosos. Sharon assistia a tudo se quebrar encolhida em um canto tentando não ser atingida pelos materiais de construção. Caído no chão, André desvencilhou um chute no peito de Rafael que caiu por entre baldes e sacos de cimento que se rasgaram levantando uma poeira esbranquiçada à medida que se espalhava pelo chão. Quando o espaço ficou livre, Sharon deu o primeiro passo para fugir pela porta, mas seu tornozelo foi pego por André que a fez cair no chão, fazendo-a se arrastar até a saída. Suas unhas cravavam o chão imundo enquanto tentava fugir daquele que antes fez juras de amor e dizia ser seu namorado. Sharon gritava enquanto arranhava o rosto de André na tentativa de fazê-lo largá-la, mas ele estava furioso. Suas mãos fortes voltaram a dar atenção ao pescoço já arroxeado da jovem que sentiu o ar lhe fugir da garganta enquanto ele ria com seu sorriso diabólico. Ela por sua vez lhe acerta o olho com um soco e consegue fazer o ar poluído voltar a encher seus pulmões, mas a garganta pareceu não gostar e a forçou a tossir. Ignorando-a, Sharon pôs-se a engatinhar em direção a saída, mas por pouco não conseguiu. André a jogou contra a parede e ergueu-a centímetros no ar segurando-a pelo pescoço. Sharon acertou-lhe um chute nas partes baixas que fez pouco efeito, mas foi o suficiente para que evitasse o terceiro enforcamento. Ele não fez de rogado e socou-a nas costelas e no chão a chutou de volta. Sharon sentia o gosto do sangue na boca a cada grito de desespero e como não tinha mais nenhuma saída, e já que ninguém iria salvá-la, resolveu lutar por sua vida. Quando ele a pegou pelos cabelos, ela o socou a garganta fazendo-o perder o ar. Ela então saltou sobre seu corpo e com seu peso o jogou no chão. Com a pá de metal tentou acerta-lhe a cara, mas ele ainda era forte o suficiente para virar o jogo. Ao empurrada, Sharon sente algo afiado furar sua coxa e isso a fez gritar de dor. Agora por cima do corpo de Sharon ele se preparava para dar o golpe final com a pá. Sharon tateou a coxa e sentiu o caco de vidro que havia a perfurado. O mesmo que havia guardado no bolso e tinha rasgado o vestido já puído e agora a machucava. Era seu ás na manga – ou melhor, no bolso do vestido. Com um berro ela o retirou de sua pele e ferindo as próprias mãos acertou um golpe na barriga de André. Seguido de outro e mais outros seis se não tivesse perdido a conta. Ele sentiu a dor o invadir a cada perfuração e caiu de lado, para em seguida tentar fugir de Sharon que o ameaçava furiosamente.

— Por que fez isso, seu desgraçado! – berrava ignorando a dor nas cordas vocais e em todo o corpo – Eu confiei em você André!

Ele se arrastava em direção a saída. Por algum motivo aquilo o assustava.

— Amor... Eu...

— NÃO ME CHAME DE AMOR!! – berrou chutando-o os pés.

— Eu fui obrigado pelo Rafael!

— Ah coitadinho... Obrigado é? E o dinheiro? Ia fazer isso pelo Rafael, mas ia ganhar dinheiro? Não minta pra mim! Não sou imbecil!

— Sharon me perdoe! Eu posso dar um jeito nisso.

— CHEGA!!! Quantas André? Com quantas você já fez isso? Quantas você já matou André?

— Duas.

— Mentira!

Sharon podia jurar que estava ouvindo o seu próprio coração batendo. Ignorava as dores espalhadas pelo corpo a cada passo que dava. Ela não acreditava em uma só palavra, mas aquilo que fazia seria sua vingança por tudo o que passou. Sharon se aproximou de André que se encostava em uma parede enquanto suas mãos tentavam inutilmente estacar os diversos cortes na barriga. Chegou próximo o suficiente, para se abaixar e olhar nos olhos quase sem vida de André.

— Quantas foram?

— Sharon... Por favor...

— QUANTAS!!!

— Oito...

Sharon tremia tanto que o vidro já cortava sua mão.

— Eu... Não... Serei... Mais... Uma NA SUA LISTA!!!

Sem arrependimentos e seguido de um sonoro “Morra desgraçado” o caco de vidro acertou-lhe a jugular e atravessou a garganta de André que se afogava no próprio sangue. Não demorou para que seu corpo parasse de tremer, seu olhar ficasse estático e sua mão atingisse o chão. Estava morto. Seu namorado que revelou ser um bandido estava morto e foi ela quem fez isso. Sharon chorava por estar se livrando de algo que não machucaria nem a ela, nem sua amiga e nem nenhuma outra mulher. Chorou por estar cansada e humilhada por aquele pesadelo que não tinha fim, chorou por ter matado alguém, mas nesse caso específico não eram lágrimas de arrependimento. Só se deu por si, ajoelhada ensanguentada no meio de uma poça de sangue, quando ao longe pode ouvir o som de helicópteros e sirenes. O som era longínquo e diferente do que havia gerado por algo que se moveu por detrás dos sacos de cimento, de onde Rafael havia sido jogado.

Ele tinha acordado.

 

...Continua...

(^_^)v

By Hikari Ouji


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