A Fronteira Final escrita por Queen B


Capítulo 2
Capítulo 2 – Lea


Notas iniciais do capítulo

Olá! Quanto tempo, não??? Bem, eu estava preparando um grande texto pedindo desculpas e dando explicações, mas achei ele muito enfadonho e decidi encurtar as coisas. Bem, a culpa é inteiramente minha e da vida corrida que eu levo. Eu já tinha 75% desse capítulo pronto e o tempo não me permitia finalizá-lo, até que veio feriado e minha vida voltou ao ritmo calmo de antes e aqui estou eu!
Obrigada as três pessoas maravilhosas que deixaram seus reviews! Amei cada um deles, sem contar o quanto me motivar a continuar com essa história.
Sem mais delongas, boa leitura! Nos vemos nas notas finais, têm diversas explicações nela.



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Recolho meus materiais após o toque do sinal. Não fico aliviada com os demais – não que eu soubesse exatamente como é sentir alivio –, escola para mim é muito mais que uma obrigação, é uma fonte de conhecimento. Por isso, nunca conseguirei compreender meus companheiros de classe sobre esse assunto, como eles conseguem desgostar desse lugar?

– Meus parabéns senhorita Uhura! Seu trabalho juntamente com sua apresentação foram impecáveis, como sempre – A professora Baker diz batendo palmas entusiasmadas. Como na maioria das vezes, não consigo compreender suas feições, pois o seu tom de voz juntamente com o sorriso no canto dos lábios parece contradizer suas felicitações, tornando-as um tanto perversas.

– Obrigada – Sei o conceito de gratidão e acredito que nunca chegarei a sentir algo parecido por minha professora. Os olhos da Senhora Baker me transmitem maldade, porém eu posso estar equivocada, uma vez que tudo que sei sobre emoções é meramente teórico e sou capaz de contar nos dedos quantas sensações já senti na vida.

– Fiquei impressionada com seu desempenho durante todo o ano letivo, foram as maiores notas possíveis! Nem sei o porquê de estar tão impressionada! – ela prossegue segurando meu queixo e levantando para que meus olhos encontrem os dela. – Afinal, eu não poderia esperar menos de uma vulcana.

– Na realidade senhora, eu tenho apenas um quarto do meu DNA composto pelo gene vulcano. Uma vez que meu pai...

–Aonde quer chegar com isso mocinha? Acha que não conheço sua história, quem não a conhece hoje em dia? Por acaso está me respondendo?

– Lamento senhora, não quis passar essa impressão.

– Está bem, agora vá! Creio que deve estar com saudade de seus pais, você praticamente madruga nessa escola.

– Alguns sentimentos são alheios a mim e posso lhe garantir que saudade é um deles.

– Como assim? Quer dizer que você é capaz de sentir? – ela pergunta, mas também me pareceu uma exclamação. Ergo minha sobrancelha claramente em dúvida com seu questionamento. Parece-me uma situação um tanto cômica como ela me trata, sempre me levanto ao limite para tentar extrair uma mísera expressão emotiva de minha face. Isso é completamente ilógico, o que ela iria ganhar com isso? Não consigo encontrar o porquê para as ações de minha professora, mas simplesmente não deixo me abater e nem deixo que ela consiga o que quer.

– É complicado – respondo por fim, com a face voltada para o piso. – Se me der licença eu gostaria de me retirar.

– Está dispensada senhorita Uhura, aproveite suas férias.

Saio sem agradecer ou olhar no rosto dela. Simplesmente não consigo olhá-la nos olhos e tudo por culpa minha. Toda vez que tento ser uma garota normal apenas consigo ser mais vulcana e quanto tento ser vulcana viro uma humana cheia de emoções.

Tudo é muito difícil para mim, por mais que eu não fosse necessariamente uma pessoa de dois mundos, vivo entre duas culturas distintas com um abantesma transitando pelo espaço. A única pessoa que realmente pode me compreender – não que minha mãe não tente e por diversas vezes obtenha êxito – é meu pai, ele também é assim. Porém, por mais DNA humano que ele possua ele é um nativo de Vulcano, ele é praticamente um deles. Meu pai fez sua escolha, eu não.

Prefiro para com meus devaneios e seguir em frente. É o último dia letivo e o corredor com os escaninhos está quase na capacidade máxima. Alunos andam apressados – alguns chegam a correr – para todos os lados sem destino certo, algo totalmente ilógico. Mesmo não entendo a situação me esforço para descobrir o porquê daquelas ações – algumas um tanto irresponsáveis –, talvez fosse um jeito de transmitir euforia. Esta é uma resposta que tentar unir um pouco de sentimentalismo com lógica e confesso que não é o suficiente para mim, mais uma vez, estou em um impasse.

De repente uma pessoa se choca seu ombro do meu, me impulsionando contra a parede. Consigo evitar um estrago maior me recompondo rapidamente já que meu corpo trombaria com outras pessoas acarretando algo que alguns chamam de “efeito dominó”.

– Ei, vulcana! Olha por onde anda! – a professora Baker nunca mentiu quando disse que todos conheciam a minha história, minha vida é acompanhada desde o nascimento, um marco para história da Federação. – Vai fazer alguma coisa lógica e não fique ai parado no meio do corredor!

Eu não estava parada – afirmo entre dentes quase como um praguejo em vulcano e não fico admirada quando nenhum deles compreende o que eu digo.

– O que você disse?

– Eu estava te agradecendo. Você me ajudou a evitar um acidente de proporções muito maiores, a probabilidade de alguém se machucar nesse corredor é de sessenta e sete por cento.

– Ok, ok. Esqueça isso – fala ele se retirando com um grupo de pessoa que devem ser seus amigos.

Assim que saio com minha bolsa nos ombros dou um leve suspiro recuperando o fôlego ao sair da construção. Quero e necessito colocar meus pensamentos em ordem e para isso preciso ir para a casa. Não é um caminho muito longe e eu sempre o percorro a pé, é totalmente agradável. Sinto-me bastante confortável com a brisa de verão em meu rosto, é uma sensação parecida com o conceito de tranquilidade que minha mãe descreveu uma vez, até mesmo os gritos das crianças que brincam sem preocupação é agradável. Esse caminho me cativa por conta das diversas espécies que se encontram convivendo juntas.

Já faz algum tempo que permitiram a estadia permanente de seres oriundos dos mais diversos planetas na Terra, mas as colônias aumentaram significativamente nos últimos anos. Graças aos tratados de paz que estão sendo fechados entres os outros planetas, as galáxias experimentam um momento de prosperidade nunca obtida antes e todos esses avanços vem com décadas de trabalho dos tripulantes da Enterprise.

Eu gosto de ver a convivência entre as várias culturas, como apesar de todas as diferenças compartilhamos várias ideias comuns e no final todos desejam a paz e a igualdade. Também gosto de observar como humanos interagem nesse meio se mostrando excelentes anfitriões, não nego também que gosto de avaliá-los para saber o que deveria fazer ou como agir. E, claro, como expressar emoções. Afinal, talvez eu opte por me tornar um deles.

Por mais que eu tenha feito grandes avanços estudando relacionamentos e emoções – o que inclui não só a terráquea – ainda não consigo depreender com sentir algo. É tudo muito complicado, principalmente quando sei o que é determinada emoções, mas não sei expressá-la.

Tenho ciência de algumas emoções que sinto ou já consegui sentir durante minha existência e posso confirmar três. Sinto-me insegurança quando vou me expressar, sobretudo verbalmente, pois quando escolho um lado para me portar – ou humano ou vulcano – meu cérebro adora reagir ao contrário. Confusa por não saber o que eu realmente sou, para meu pai foi muito mais fácil – a meu ver –, ele possui metade de dois mundos, já eu tenho apenas vinte cinco por cento de um e mais da metade do outro o que poderia tornar tudo mais fácil e menos complicado, porém meu lado vulcano fala mais alto em diversos momentos assim como o humano. E por último – e talvez o sentimento que me parece o melhor – orgulho. Não chega a ser vaidade, contudo me sinto muito bem ao receber um elogio sincero, que enaltece e reconhece meu esforço e dedicação.

Continuo meu caminho subindo as ladeiras de São Francisco. Os projetos de urbanização da cidade previam acabar com esses declives, porém boa parte da população local preferiu que as ruas permanecessem como estão assim a cidade não perderia seu “charme”. Moro com meus pais em um apartamento, praticamente não existem mais casas em tempos como esse, apenas prédios que podem abrigar confortavelmente mais de cinco famílias. É um bom lugar, com boa localização, com bom espaço. É apenas bom, não há outra palavra em qualquer outra língua que melhore esse adjetivo. Apesar de que muitas das vezes o espaço até parece grande demais quando meus pais estão a serviço da Federação e me deixando por muitos momentos sem a presença deles – não foram números deveras expressivos, mas notáveis –, porém conheço os deveres que ambos possuem e me sinto orgulhosa da labuta e dos resultados que ela tem trago para todas as galáxias.

Antes mesmo de chegar perto do portão consigo ver o alto prédio, de cor clara para refletir a luz solar e deixar o ambiente mais fresco – pelo menos para os demais moradores, pois na minha casa a temperatura é aproximadamente a mesma do planeta natal de meu pai – e era uma ótima maneira, mesmo que arcaica de evitar o calor da cidade californiana. Logo que chego, já percebo que nenhum dos dois se encontra em casa, os horários de chegada de ambos mudaram recentemente e com as horas extras, o tempo que meus pais passam em casa é uma verdadeira incógnita para mim.

Depois de deixar meus materiais na sala de estudos vou em direção ao meu quarto no final do corredor enquanto revejo mentalmente minha lista de afazeres diários. Boa metade deles já haviam sido feitos, faltavam apenas mais alguns itens. O principal deles não havia sido cumprido, comparecer ao aniversário de Ellie McCoy.

Ellie e eu estudamos no mesmo ano e possuíamos algumas aulas em comum, como a Física de nível médio. Não somos amigas – eu praticamente não consigo considerar ninguém do meu ambiente escolar como amigo o que me torna uma pessoa sem amigos, já que não frequento muitos lugares –, acredito que no máximo tenha tido mais de cinquenta diálogos com ela sobre assuntos escolares. O mesmo ocorre com todos os outros, ninguém parece se aproximar de mim, todos são muito evasivos comigo. Ao menos dessa vez ela tento se aproximar, por mais que possa ser apenas em consideração a amizade de nossos pais.

O fato de não sermos amigos nem termos qualquer tipo de laço maior do que colegas de turma chega a ser no mínimo “engraçado”, uma vez que meus pais possuem uma grande estima por Leonard e possuíam pela falecida mãe de Ellie. Mesmo com a amizade que nossos pais possuem só cheguei a conhecer a garota quando entrei para a Academia de Formação da Frota Estelar, assim como há pouco tempo conheci a filha do também falecido Capitão Pike, fora o filho de Kirk que nunca cheguei a ver pessoalmente.

O que mais deixa apreensiva com a celebração é a localização: um bar. Nunca estive em um antes, porém tudo que sei sobre esse estabelecimento me faz pensar que talvez não seja o local mais apropriado para uma confraternização de jovens. Contudo, o mais insólito nisso tudo é fato de meu pai ter permitido que eu compareça a festa.

Tenho uma lista de tarefas para completar e opto por me concentrar nelas. Não é exatamente uma tarefa escolar – já que mais um ano letivo se foi – ou imposta por minha por meus pais e sim algo que criei para descansar a mente, como uma meditação. Uma espécie de desafio para testar minha capacidade cerebral utilizando e explorando meus conhecimentos e o do dia é: traduzir um trecho de algum livro clássico terráqueo para outra língua que não seja da Terra.

Claro, eu não tenho livros aqui, eles são extremamente raros e não são mais impressos, mas com apenas alguns toques em meu pad posso encontrar o que procuro. O livro em questão é Romeu e Julieta, um dos livros mais famosos do planeta e um dos favoritos de minha mãe que poderia ser facilmente rotulada como “romântica incorrigível”. Graças a ela fui apresentada a diversas culturas e não era algo mais teórico, como as informações que meu pai passava, era mais como lado “sentimental” de cada cultura. Como se nesse aspecto – e em vários outros – meu pai passasse a lógica e ela o amor.

Após meia-hora e praticamente meio capítulo transcrito – acabei me empolgando com a linguagem desafiadora do texto – para vulcano gólico tradicional decido fazer uma pausa. Tenho começar a me aprontar, não deve demorar muito para que meus pais chegarem e, além disso, quero chegar pontualmente às sete horas, uma vez que diversos imprevistos podem ocorrem no caminho.

Não demoro muito para ficar pronta, só necessito de tomar banho, escolher a roupa mais apropriada para a ocasião e escovar meus cabelos. Não sou vaidosa e mesmo se fosse meu conceito de beleza é muito diferente do que costumo observar, ele é natural e não envolve joias e maquiagem. Por mais bonita que minha mãe fique com seus brincos e outros adornos que enfeitam seu rosto.

– Filha, você já chegou? – minha mãe pergunta quando coloca os pés no quarto.

– Essa é uma pergunta bastante retórica, mamãe – respondo com seriedade ainda de frente para o espelho. Mamãe da uma pequena risada e eu não consigo reprimir um leve e verdadeiro sorriso, por que ela sente tanta graça na minha fala?

– Como foi seu último dia de aula?

– Satisfatório.

– Tem certeza? – ergo a sobrancelha e minha face fica estampada pela dúvida, como ela não pode ter certeza de um fato se eu estou afirmando ele? Contudo, por mais clara e precisa que eu tenha sido acredito que algo em meu rosto ou no meu tom de voz diga que meu último dia de aula não foi tão satisfatório assim.

– Na realidade foi razoável – respondo mais uma vez após dar um suspiro que simboliza algo semelhante a um dar de ombros para ela.

– Está animada para a festa?

– Mamãe, a senhora sabe que eu não posso ficar animada.

– Claro que não – ela diz sorridente o que aponta justamente o contrário. Minha mãe entra no interior do quarto vindo até mim e me avaliando de cima a baixo, como um brilho indescritível nos olhos. Uma cena tão comum em minha infância que ainda não perdeu a beleza após tanto tempo. – Você está linda, Lea!

– Obrigada.

– Não precisa agradecer querida. Como seu pai gosta de dizer é um fato e eu estou apenas ressaltando ele, mas – ela diz envolvendo meu rosto em suas mãos, enquanto isso eu apenas a observo tentando transmitir o mesmo olhar amoroso que ela me passa. São nesses momentos que eu tenho certeza que consigo sentir, pois sei que amo ela tanto quanto amo meu pai. – Você tem que parar de esconder suas orelhas. Elas são tão lindas!

– Eu só estava tentando ser normal – respondo desviando o olhar e abaixando a cabeça. Já sei que caminho a conversa irá seguir e não me agrada nem um pouco.

– Você não precisa fingir ser uma coisa que não é – ela pega duas mechas laterais do meu cabelo e as joga para trás revelando minhas orelhas pontos. Por mais que boa parte do meu DNA seja terráqueo, vulcano é um gene dominante.

– E o que eu sou?

– Você é você. Uma garota especial e única, uma das pessoas mais maravilhosas que conheço e que tenho muito orgulho de te ter como filha. E quando você ficar confusa com está agora não se esqueça quem são seus pais e de quem você também: uma garota de dois mundos que não precisa escolher um deles, porque você é o dois.

– Obrigada mamãe.

Em seguida ela me envolve em seus braços. Nosso abraço é demorado, mas quando nos soltamos sinto a necessidade de mais. Meu pai chega precisamente dez minutos depois e sua chega simboliza que está na hora de sair se quisermos chegar pontualmente ao estabelecimento.

O percurso é mediano e o trafego é bastante tranquilo. Pelos meus cálculos chegaríamos a sete e as nove e meia meu pai voltaria para me buscar, conforme o combinado já que Leonard havia estimado que a está hora a festa teria terminado. Duas horas e meia. Duas horas e meia em um local distinto com pessoas desconhecidas... Serão apenas duas horas e meia.

– Você é bem?

– Perdoe-me, o que disse?

– Perguntei se está tudo bem com você, me parece alterada.

– Está certo pai. Estou apreensiva. – respondo. Claro que seria difícil para ele interpretar uma frase como esta, mas de certa forma ele me entendia. Fico me perguntando quantas vezes ele pode ter passado por situações de apreensão, se é que ele já passou. – Nunca estive em um local com aquele.

– É abafado e escuro – diz demonstrando algum conhecimento sobre o assunto. Ele já estivera em um local como o que irei visitar, mamãe havia me dito que isso já fazia algo tempo. – O risco de acidentes é um muito alto.

– Posso imaginar. Além desse fator não possuo intimidade com nenhum dos convidados e nem com a aniversariante, de modo que ficarei sozinha o tempo inteiro.

– Sua mãe gostaria que você fizesse amigos – posso vê-la claramente dizendo isso. Querendo que eu socialize, para que eu não fique tão solitária.

– Diga a ela que eu tentarei.


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Notas finais do capítulo

Antes de mais nada, se houver algum erro ortográfico por favor me avisem.
Tenho que dar algumas explicações sobre a Lea. Sua concepção não foi, digamos, natural. Para que viu a série clássica sabe como funciona a reprodução dos vulcanos e isso vale para o Spock também. A concepção da Lea foi feita artificialmente pela Federação que estava estudando sobre a possível fertilidade de um hibrido (no caso o Spock). Mais informações irão surgir ao longo da história já que uma das partes mais importantes do enredo inicial da garota. O que eu posso adiantar é que a Lea não foi a primeira tentativa (porém, foi a única que deu certo) e que ela não tem total conhecimento sobre esses "experimentos", tem muito mais coisa por trás disso.
É isso, espero vocês nos comentários!