Doce Fruto de um Passado Amargo escrita por XxLininhaxX


Capítulo 2
POV Milo


Notas iniciais do capítulo

Yooo pessoas XD
Aqui vai mais um cap XD
Essa fic realmente tá prometendo (non é pra me gabar, só pq tô ficando empolgada XD)
Espero q gostem de mais esse cap e postarei outro assim q tiver tempo XD

=**
Boa leitura



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Eu estava perplexo. Meu Camus tinha um filho? Como assim? Aquilo aconteceu tão de repente que tirou o nosso chão. Eu olhava para aquele garoto a nossa frente e pensava que realmente não tinha como não ser filho do Camus. O jeito de olhar, o jeito de andar, a expressão séria e frívola; tudo indicava que o garoto era mesmo filho do meu marido. Camus estava tão chocado quanto eu, talvez até mais. E pensar que depois de tudo, aquela história se reviraria daquela forma. Lembro-me que eu amaldiçoei a mulher que tinha feito aquela ferida em Camus. Foi extremamente difícil curá-la. Investi pesado para que ele voltasse a considerar a possibilidade de se apaixonar. Porém, diante daquela revelação, até me senti culpado. Aquela mulher realmente amara Camus de todo o coração. Ela sacrificou uma vida de felicidade para impedir que Camus sofresse qualquer conseqüência. Claro que ter omitido o fato de estar grávida não foi algo muito ético. Mas eu até entendo. Se ela contasse, Camus jamais permitiria que ela partisse. Mesmo que ele corresse risco de morte, ele ficaria ao lado dela. Eu conheço bem o meu Gelinho. Ele é muito correto e quando se entrega em um relacionamento, é capaz de qualquer coisa.

O silêncio se fez naquele lugar. O garoto olhava profundamente para Camus. Não conseguia sequer imaginar qual seria sua reação. Por um lado eu até me sentia feliz com isso, afinal, sempre quis ter um filho. O problema todo é que aquela situação era imensamente delicada. Depois de anos, o rapaz está conhecendo o pai pela primeira vez. O que será que está passando pela cabeça dele? O que a mãe dele falou sobre o pai? Será que o marido dela tinha criado o menino? Isso seria problemático, afinal pela descrição da figura, o cara devia ser barra pesada. Aquele garoto podia ser um problema em nossas vidas se fosse rebelde. Mas é claro que Camus não recusaria o garoto, por mais problemático que ele fosse. Porém, nossas vidas eram muito agitadas. Não teríamos condições de dar atenção a ele. O que faríamos?

Observei Camus e percebi que ele estava estático. Ele precisava se acalmar. Aquilo deve ter sido demais para ele.

– Acho que seria melhor se vocês entrassem. Assim poderemos conversar melhor. – disse.

– Não quero incomodar. – a senhora falou.

– Acho que esse assunto é um pouco delicado demais para tratarmos aqui. Talvez seria melhor nos sentar e a senhora poderá explicar tudo com mais calma. – insisti.

– Tudo bem. Acredito mesmo que será melhor para todos.

Ela concordou e eu dei espaço para que ela e o jovem passassem. Camus estava calado, apenas me deixando guiar a situação. Assim que eles adentraram a casa, Camus olhou para mim um tanto perturbado. Aquilo ia ser difícil para ele. Remexer em uma ferida que há muito já cicatrizara, realmente não era algo com o qual Camus lidaria muito bem. Apenas esperava que aquela situação pudesse seguir de maneira calma. Além do Gelinho, ainda tinha o garoto que sequer dera uma palavra.

Direcionamo-nos à sala e indicamos o sofá para que os dois se sentassem. Sentamos em duas pequenas poltronas, uma ao lado da outra, de frente para o sofá, separando-nos da senhora e do garoto por uma mesinha de centro. O garoto olhava para Camus de maneira impassível. E Camus parecia aflito com tudo. O que aconteceria dali para frente? Era isso que eu veria naquele momento.

– Perdoe-me a pergunta indiscreta, mas qual o relacionamento de vocês dois? – a senhora perguntou, curiosa.

– Somos casados. – respondi simplesmente.

A senhora nos olhou um tanto espantada, para então abrir um sorriso.

– Isso é ótimo, não é Hyoga? – ela segurou a mão do jovem que apenas lhe sorriu docemente.

Camus e eu nos entreolhamos sem entender o motivo daquela reação.

– Perdão por isso. É que Hyoga era muito apegado à mãe e não sei se ele se daria bem caso tivesse uma madrasta. Mas com você, senhor Milo, será diferente. É até bom porque Hyoga também é homossexual.

Aquela declaração nos deixou ainda mais confusos. Como assim? Aquela senhora estava passando informações demais em um curto espaço de tempo. O garoto parecia ser bem novo e já tinha uma opção sexual?! O que aconteceu afinal?

– Espera! Por favor, senhora...? – Camus esperou que ela dissesse o nome.

– Valéria.

– Senhora Valéria. Acho que está tudo rápido demais. Você poderia me explicar tudo desde o começo? – Camus perguntou.

– Bom, o senhor entendeu o porquê da Natássia ter fugido, certo? – ela tentou confirmar.

– Sim, apesar de que posso demorar um tempo para digerir essa história toda. Acredito que a senhora entenda.

– Sim, sim. Perfeitamente, senhor Camus. Imagino que tenha passado esses anos todos culpando ela por ter lhe abandonado sem nenhuma razão aparente. Depois de tantos anos, não o julgo por ter dificuldade em acreditar. Acredito até que você deveria fazer um exame de DNA para confirmar a história.

– Não acredito que será necessário. – disse Camus, olhando diretamente para o garoto.

– Bom, de qualquer forma, fica ao seu critério. A questão toda é que para que ela não tivesse problemas com o crápula, ela teve que dopá-lo e convencê-lo que eles tinham passado a noite juntos. Natássia fez com que ele acreditasse que o filho era dele para que não tivesse problemas depois. Se o crápula descobrisse que o filho não era dele, com certeza mandaria que ela abortasse.

– Ela sempre foi muito esperta. – disse Camus um pouco cabisbaixo.

– Não era apenas para proteger a criança, senhor Camus. Natássia realmente o amava. Ela tinha esperança de que um dia voltaria a lhe encontrar e vocês poderiam formar uma família, como ela sempre sonhou desde o dia que te conheceu.

– Por que ela não entrou em contato antes, então? – perguntei um tanto revoltado.

– Porque nós morávamos em um vilarejo completamente isolado na Sibéria. Ela não tinha condições de ir até a cidade mais próxima e por estar envolvida com o crápula, ela também não tinha com quem contar. Mesmo eu não poderia fazer nada por ela. – a senhora logo entristeceu. – Por favor, senhor Camus, entenda. Natássia fez o que podia para proteger o senhor e o filho. Quando ela me contava sobre você, eu podia ver um brilho diferente nos olhos dela. Ela realmente o amava. Amava tanto que fez o que fez. E tudo teria dado certo, se não fosse pelo trágico naufrágio.

A senhora Valéria deu uma pausa. Ela segurava firme a mão do garoto. Provavelmente eles tinham uma forte ligação, já que o garoto passou o braço ao redor da idosa. Camus, por sua vez, parecia bastante pensativo. Ele parecia querer encaixar as informações que recebia com o que ele conhecia de Natássia. Eu sentia-me um pouco enciumado daquela história. Eu sabia que Camus amou Natássia fervorosamente e com toda a sua alma no passado. Quando ele me contou sobre ela, foi a primeira vez que o vi chorar. Porém, o que me acalmava era saber que ela o abandonou e mesmo que retornasse, pedindo perdão, Camus não se entregaria novamente. Mas com aquela notícia, se ela estivesse viva, Camus não pensaria nem duas vezes. Por mais que ele estivesse apaixonado por mim, Natássia foi o primeiro amor e ela ainda lhe deu um filho. Eu não teria como competir com aquilo. Isso me entristecia um pouco. Chegava a me questionar qual era o tamanho da minha importância na vida do Gelinho.

Afastei um pouco aqueles pensamentos. Não era hora de me sentir inseguro. Camus precisava de mim naquele momento. Segurei mais firme em sua mão. Ele olhou para mim docemente, como se estivesse absorvendo meu carinho ao máximo.

– Tudo bem. Entendi o que aconteceu até aí. Agora gostaria de saber como ela conseguiu embarcar em um navio sem que o crápula descobrisse. – disse Camus.

– Bem, a verdade é que ele já não estava mais vivo quando ela embarcou. Quando Natássia estava grávida, o crápula mudou completamente o comportamento. Passou a cuidar dela como se fosse a jóia mais preciosa que possuía. Natássia nunca deu muita confiança para ele, mas ela sentia-se aliviada por não correr riscos de perder o filho ao lado dele. O problema começou depois que Hyoga nasceu. Natássia deu muita sorte pelo garoto ser extremamente parecido com ela. Caso contrário, o crápula suspeitaria que o filho não era dele. Mas, mesmo não suspeitando, ele voltou a agir de maneira escrota. Ele voltava bêbado de casa e agredia Natássia. Voltou a tratá-la como um objeto, uma conquista. Natássia suportava tudo muito bem, até o enfrentava às vezes. Mas um dia ele ameaçou a vida de Hyoga. Natássia protegeu o filho com todas as forças. Ela prometeu que aquilo não voltaria a acontecer. Então, na vez seguida, ele ficou bêbado e Natássia lutou, literalmente, contra ele. Quando ele veio para cima dela, ela sacou uma arma que escondia e atirou nele.

Camus ficou boquiaberto e eu também. Ela chegou a esse ponto para defender o filho e Camus! Era impressionante. Eu não a conhecia, mas pelo que Camus me contara, ela era uma mulher extremamente frágil, apesar da determinação. Eu realmente admirei a coragem dela. Isso também explicava porque Camus ficou tão machucado com o que aconteceu entre eles. Camus não era tão sentimental assim. Mesmo antes, ele mesmo me contara que sempre foi introvertido e considerado frívolo. Para que alguém o machucasse, realmente tinha que ser alguém muito especial e muito querido. Se ela tinha sido capaz de fazer aquilo por Camus, fico imaginando o quanto eles se amaram.

Olhei para o lado e vi Camus ainda mais sério. O que será que se passava em sua cabeça? Depois de tanto tempo acreditando que Natássia o abandonara sem motivo, tudo se esclarecia. Porém, do amor que eles tiveram, só restaram lembranças e um fruto, o jovem a nossa frente. Não conseguia sequer imaginar o que meu marido estava se sentindo naquele momento. Imagino que ele estava revivendo toda a história que passou e tentando engolir a atual notícia.

– Ela matou o ex-marido... – Camus apenas repetiu, como se estivesse digerindo a informação.

– Parece surreal. Quem conheceu Natássia, sabe que ela era um doce de pessoa. Ninguém jamais imaginaria que ela seria capaz de algo assim. Eu mesmo me assustei com a notícia. Mas aquilo foi uma das melhores coisas que poderiam ter acontecido. Nada aconteceu com ela, já que foi em legítima defesa. Ela tinha vários hematomas pelo corpo para provar os abusos que sofria. E a partir daquele dia, ela estava livre. Infelizmente não pôde ir atrás de você logo em seguida, pois Hyoga ainda era muito novo para que ela viajasse com ele. Eles ficaram aos meus cuidados até Hyoga completar quatro anos. Foi quando ela decidiu ir atrás de você. Porém, o navio naufragou e ela acabou morrendo. Hyoga teve sorte de escapar. Quando fiquei sabendo do ocorrido, fiquei com a guarda de Hyoga. Antes de partir, Natássia me fez prometer que se acontecesse qualquer coisa com ela, eu cuidaria de Hyoga e o traria para você assim que possível. Foi até um pouco estranho, parecia que ela sabia o que iria acontecer. Eu devia tê-la impedido naquele dia.

Era visível que aquele assunto ainda causava desconforto, tanto na senhora Valéria quanto no jovem. Os dois pareciam muito tensos com aquela situação. Porém, o garoto me chamou mais a atenção. Ele parecia esconder alguma coisa. Parecia saber algo da história que a senhora não havia comentado. Pelo que percebi, ela também não devia saber. Não foi algo simples de perceber. Eu observei bastante a reação dos dois assim que ela terminou o relato. Enquanto ela parecia se lamentar, Hyoga olhava de forma estranha para Camus. Eu não consegui decifrar aquele olhar, pois ele estava tenso com a situação e triste por ter que reviver aquele passado negro. Mas eu sabia que havia algum significado para aquilo. Até agora ele não tinha dito uma única palavra. Alguma coisa estava muito errada. Mesmo que ele fosse muito introvertido, ele teria dito algo quando viu Camus ou tido uma reação um pouco mais eufórica ou pelo menos tido alguma reação. Alguma coisa não se encaixava ali.

Acordei de meus devaneios ao ver Camus se levantando do sofá. Ele parecia muito inquieto. Fiquei apenas olhando-o andar de um lado para o outro, como se pensasse em mil coisas ao mesmo tempo.

– Gostaria de fazer uma pergunta um pouco inconveniente, se não se importar. – Camus começou, olhando diretamente para a senhora.

– Sinta-se à vontade. – ela disse dando um tenro sorriso.

– Algum motivo para que você não tenha vindo antes?

Aquela pergunta fez o sorriso da senhora desaparecer completamente. Ela apertou ainda mais as mãos de Hyoga e ficou com o olhar perdido.

– Eu não tenho uma saúde muito boa. Sou viúva e fiquei muito debilitada depois que meu marido faleceu. Além do que, sempre fui muito pobre. Sobrevivo apenas da pensão do meu marido. Foi muito difícil juntar o dinheiro para que eu pudesse viajar com Hyoga. Até lhe peço perdão, pois por conta disso você acabou perdendo anos da vida de seu filho sem nem sequer saber que tinha um filho.

– Pelo amor dos deuses, senhora Valéria. Não diga algo assim! Nós lhe devemos a vida por você ter passado esse tempo todo cuidado de Hyoga. Você não tinha obrigação nenhuma. – eu acabei tirando as palavras da boca de meu marido, que estava prestes a se manifestar.

– Meu marido está certo. Nós lhe devemos muito por tudo que você fez. E pode ter certeza que lhe recompensaremos. – Camus afirmou.

– Não! De forma nenhuma! Eu não fiz nada pensando em ser recompensada. Foi um prazer poder cuidar do filho de Natássia. E eu ainda ganhei uma companhia, um motivo para continuar vivendo. Sinto que agora posso morrer em paz. – ela disse amavelmente, como que aceitando o destino.

Hyoga abraçou Valéria imediatamente. Era nítido como ele se apegara a ela. E não era para menos, já que ela o criou. Camus e eu nos entreolhamos como se tivéssemos pensado a mesma coisa.

– O que acha de vir morar conosco? – Camus perguntou, surpreendendo aos dois sentados no sofá.

– O que? – ela perguntou.

– Pense conosco, senhora Valéria. Hyoga é meu filho e eu assumirei a guarda dele de agora em diante. Não vejo necessidade, mas terei que fazer o exame de DNA para assumi-lo legalmente. O problema é que precisaremos de alguém, pelo menos no início, até que consigamos adequar nossas vidas a essa nova etapa. Tanto eu quanto Milo trabalhamos fora e quase não ficamos em casa. Teremos que nos ajeitar e isso pode levar um tempo. E você é perfeita para isso. – Camus disse e eu me levantei para ficar ao lado dele.

– É perceptível que Hyoga tem grande afeição por você e vice-versa. Ninguém melhor que você para estar ao lado dele. – disse.

– Mas eu não quero incomodar. – ela parecia sem graça.

– De forma alguma será incômodo. Faço questão! Essa casa é grande e não teremos problemas em acomodá-la aqui. Além disso, eu sou médico e posso acompanhar seu caso de perto. Isso nem seria o suficiente para recompensá-la por todos esses anos. Por isso, apenas pense que é um presente que estamos lhe oferecendo. O presente de poder continuar ao lado daquele que lhe renovou o sentido da vida. – disse Camus.

Valéria olhou para Hyoga e esse, por sua vez, lhe sorriu docemente, como se pedisse para que ela ficasse. Vi que os olhos dela ficaram marejados.

– Obrigada. – ela disse antes de abraçar Hyoga e se derramar em lágrimas.

Camus e eu sorrimos. Nossas vidas estavam prestes a mudar completamente. Sorrimos um para o outro. Ainda tinham tantas coisas para pensarmos e analisarmos, mas parecia que tínhamos começado da maneira correta.

– Obrigado pelo que estão fazendo por ela. Significa muito para mim. – nos assustamos com uma voz desconhecida no recinto. Finalmente o jovem abriu a boca. – Mas isso não torna as coisas mais fáceis.

O jovem deixou a senhora por um instante e se levantou, encarando Camus profundamente.

– Você vai ter que fazer mais que isso para conquistar minha confiança. Afinal, do mesmo jeito que você passou esses anos culpando minha mãe pelo que ela fez, também passei todos esses anos lhe culpando pela morte dela.

Continua...


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