As Duas Metades de um Coração Partido escrita por CathyCat


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Voltei amores! Os capítulos ainda estão meio curtos e sem muitas novidades porque ainda estou introduzindo os personagens. Espero que gostem ok?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/593676/chapter/2

Freddie folheava de maneira interessada as páginas de um caderno já bem desgastado pelo tempo e pelo uso. Uma ruga de preocupação se instalara em sua testa desde que o advogado chegara, e não saíra mais de lá.

O caderno continha informações detalhadas sobre a cunhada que há duas horas nem sabia que existia. A garota tivera uma vida de cão desde que saiu de casa, lhe admirava que Melanie nunca tivesse mencionado nada a respeito, e aparentemente também não intercedeu pela irmã em nenhum momento. Elas eram idênticas. Sangue do mesmo sangue, gêmeas univitelinas. O que será que aconteceu para que duas pessoas que deveriam ser unidas se afastassem dessa maneira?

O caderno continha informações antigas, e também bem recentes. Os detalhes o deixavam ainda mais surpreso.

– Melanie acompanhou Samantha de perto durante todos esses anos. Não sei se por afeto, ou por remorso. – Freddie sobressaltou-se com a voz do advogado, ficara tão absorto àquelas informações que se esquecera da presença do mesmo.

– Remorso? – Pela primeira vez na última meia hora, Freddie ergueu os olhos do Dossiê que a esposa fizera, e encarou o advogado.

– Quando a Sra. Benson foi ao meu escritório resolver os trâmites do testamento, me entregou esse Dossiê e pediu que eu te fizesse um pedido especial. Ela não queria colocar Samantha no testamento, mas deixou uma missão pra você.

Freddie arqueou a sobrancelha, e só conseguia pensar que as mulheres davam trabalho até depois da vida.

– Ah, ela ignorou a irmã a vida toda e agora eu devo limpar a bagunça? – Riu de maneira irônica. – Bem a cara dela mesmo.

O advogado riu, e estendeu a mão para a xícara de café que Freddie lhe dera pouco antes de iniciarem essa conversa.

– Sua esposa não me disse muito, mas havia um ressentimento entre elas, algo que as afastou. – Deu um gole grande no café. – O pedido que lhe foi feito é que devolva à Samantha algo que estava sob o poder de sua esposa, mas na verdade pertencia à irmã.

Ambos encaravam um ao outro, Freddie buscando algum sentido em tudo o que vinha acontecendo em sua vida, e o advogado buscando indícios de que o cliente estava entendendo a mensagem que devia passar.

– O problema... – O advogado resolveu prosseguir quando Freddie não se manifestou. – é que ela nunca chegou a dizer o que deveria devolver. Recebeu uma ligação e deixou meu escritório antes que discutíssemos esses detalhes. E nunca tivemos a chance de retomar a conversa.

– Ah, que bom! – Freddie ria, mas na verdade não parecia achar nada daquilo engraçado. – Então se uma não terminou a história, eu devo ir atrás da outra pra que termine. É isso?

– Basicamente sim.

– E se eu não quiser? – Levou a mão aos cabelos de maneira inquieta, em seguida levantou-se, encarando o advogado. – Eu não posso encarar essa garota agora, ela é igualzinha a Melanie! E minha filha? Não posso deixá-la sozinha nem colocá-la num carro enquanto atravesso a cidade!

– Se não quiser, não há nada que o obrigue, mas com certeza era algo que tinha muita importância pra Sra. Benson.

Freddie suspirou, derrotado. Não sabia o que fazer, nem o que pensar, queria dormir e acordar no dia seguinte com sua esposa ao seu lado e descobrir que tudo não passara de um pesadelo. Estava farto de conversas como essa, de ter de discutir burocracias enquanto sua filha chorava baixinho no quarto ao lado, e ele próprio estava com o coração partido.

Pra piorar as coisas, não poderia se ausentar da empresa por muito mais tempo.

Parte dele tinha raiva de Melanie por tê-lo abandonado com tantos problemas.

De qualquer maneira, não tinha opção. Estudaria esse Dossiê durante a noite, e na manhã seguinte pegaria a filha e a babá, colocaria ambas em um carro e sairia rumo ao mundo de jogatina e perdição onde encontraria Samantha.

♥♥♥♥

Sam sempre fizera questão de se manter forte e irredutível, procurava ter o mínimo de dignidade diante da vida que levava e mantinha o queixo sempre erguido. Ninguém nunca a vira se queixar, apesar de fazer corpo mole em algumas situações. A preguiça sempre encontrava o caminho da loira, mas a tristeza nunca. Só existia uma única ocasião em que permitia que a tristeza a atingisse: Quando tirava suas vestes de trabalho e a maquiagem pesada, descalçava os saltos absurdamente altos, encarava sua imagem no espelho e percebia que ela e Betty J eram a mesma pessoa. A hora em que se despia do personagem e era forçada a admitir que brincar de atriz era mais fácil, mas no fundo quem se submetera a toda a sujeira, quem se deixara usar daquela maneira, tinha sido ela mesma.

Ela chorava todas as manhãs. Chorava por todos os sonhos que estavam guardados numa gaveta, e que esperava realizar um dia. Chorava por querer desesperadamente sair dessa vida e não encontrar maneira de fazê-lo.

Quando todos levantavam, ela se deitava pra dormir, e acordava por volta do meio dia.

E então, quando botava o pé pra fora da cama estava totalmente recomposta, pronta pra levantar a poeira e dar a volta por cima, encarando a vida de frente.

Naquela manhã não havia sido diferente. Sam mal acordara e já se arrastava pra fora da quitinete exalando preguiça como lhe era habitual. Pegou o cesto de roupa suja ao lado da porta e trancou sua porta, em seguida atravessou o hall e bateu na porta da frente com violência. Conhecia o vizinho de porta bem o suficiente para saber que jamais a escutaria se batesse normalmente.

– Gibby! – Gritou, histérica e mal humorada. – Tem roupa suja? Vou até a lavanderia!

Não era muito dada a favores gratuitos, mas mal tinha dinheiro para pagar o aluguel da quitinete. Fizera amizade com a maior parte dos vizinhos, de modo que todos eles a ajudavam como podiam. O mínimo que podia fazer era lavar uma roupa de vez em quando.

Muito de vez em quando mesmo, tipo uma vez a cada 4 anos, como a copa do mundo ou o ano bissexto.

O garoto gordinho escancarou a porta e lhe estendeu o pequeno cesto de roupas. Estava sem camisa como lhe era habitual. Sam revirou os olhos.

– Ah, nada como a proximidade da cobrança do aluguel para deixar as pessoas mais prestativas! – Brincou ele. – Bom dia Sam.

– Já não falei pra botar a porcaria da camisa pra atender a porta? Não sou obrigada a encarar suas banhas não! – Colocou o cesto do garoto por cima do próprio, em seguida deu as costas a ele e seguiu rumo à lavanderia, mal tinha chegado ao fim do corredor quando o ouviu gritar um “Tchau, Sam!” e em seguida o click da porta.

♥♥♥♥

Freddie estava parado em um posto de gasolina, esperando a babá voltar da loja de conveniência com os lanches que pedira. Observava o sono tranqüilo da filha pelo retrovisor, e agradecia a Deus por estar tão cansada que mal tinha vontade de fazer perguntas. Não existia maneira de fazer uma menina de cinco anos entender porque raios tinham embarcado numa jornada louca como essa. Ele mesmo não entendia.

Quando levantou esta manhã, pensara seriamente em desistir dessa maluquice. Poderia facilmente se livrar daquele dossiê, eram apenas rabiscos feitos a mão em um caderno meio surrado. Não seria difícil esquecer aquela conversa com o advogado e seguir a vida...

... Mas não podia negar o último desejo de Melanie. E também não podia ignorar o pedido de socorro implícito no olhar daquela garota que nem conhecia. Os mesmos olhos azuis que lhe encantaram na esposa, mas ao invés de refletirem a alegria e espontaneidade tão próprias de Mel, apenas refletiam dureza e dor.

Pegou a pequena nos braços, não trocou-a, apenas a acomodou no colo da babá no banco de trás do carro tentando incomodá-la o mínimo possível. A pequena questionadora dormia desde então, espreguiçando-se hora ou outra.

Sabia que quando acordasse faria perguntas, e sua mente maquinava possíveis respostas para dar a ela. Talvez tivesse sido melhor deixá-la em casa, acomodada em sua cama sob os cuidados da babá, mas a pequena acabara de perder a mãe, precisava que o pai estivesse por perto.

– Senhor, seu lanche. – Phoebe estendeu-lhe o lanche pela janela do motorista, Freddie estava tão distraído que se assustou. – Devo acordar a menina para comer?

– Ah, obrigado! – Pegou a sacola de cor marrom das mãos da jovem garota. – Não se preocupe, pode comer tranqüila. Quando ela acordar eu cuido disso.

A moça acenou afirmativamente e acomodou-se no banco traseiro do carro. Cerca de meia hora depois estavam de volta à estrada.

A hora das tão temidas perguntas chegou pouco tempo depois. A menina despertou por completo quando deixaram o carro aos cuidados do manobrista do hotel e adentraram a recepção para fazer o check-in.

– Vamos passear, papai? – Perguntou, sorridente. Esther tinha os cachos loiros de Melanie, e os olhos escuros e brilhantes de Freddie. Era uma bela criança de cinco anos, apesar das travessuras que sempre aprontava. Freddie era apenas um velho babão quando se tratava da menina, a garota o tinha na palma da mão, conseguia o que quisesse dele num piscar de olhos.

– Vamos sim, princesa, mas antes você vai tirar uma soneca com a tia Phoebe no quarto enquanto eu resolvo umas coisas, ok?

Não surpreendia a ele que a garota associasse o ambiente a passeios, sempre viajara com a família nas poucas ocasiões em que tirara férias.

– A mamãe vai saber que estamos aqui? E se ela não vier me dar o beijinho de boa noite? – A voz meio chorosa da menina denunciava sua preocupação. Freddie suspirou e se ajoelhou diante da filha, fitando-a nos olhos.

Lembrou-se imediatamente da noite em que contou à Esther sobre a morte de Melanie. A menina o fitara com os olhos de jabuticaba confusos e meio chorosos. Não entendia direito o que acontecera, mas entendia que nunca mais veria a mãe novamente. Freddie então lhe contou a velha história de que os mortos viram estrelinhas, e então a levou até a varanda e apontou-lhe a estrela mais brilhante que podia ver. Disse a ela que durante a noite, a mãe vinha lhe visitar através das estrelas.

Era natural que a menina se preocupasse com a mudança súbita de endereço.

– A mamãe sempre vai saber onde você está, mesmo que seja muito longe. – Sussurrou, e encaixou a menina entre seus braços, beijando-lhe a cabeleira loura. – Posso te contar um segredo?

Esther acenou afirmativamente, os olhos brilhando em curiosidade.

– As estrelas tem super poderes, e a mamãe é uma estrela agora. – Sussurrou ao ouvido da criança. Ela ergueu os olhos pra ele, surpresa e maravilhada.

– Então mesmo que eu me esconda, ela vai me achar?

– Vai sim meu amor. – Beijou-lhe novamente. – Agora dorme um pouquinho com a tia Phoebe, eu já volto pra irmos passear.

A menina beijou-lhe o rosto demoradamente e seguiu a babá corredor adentro, deixando-o sozinho com seus próprios problemas.

Abriu o velho caderno e folheou suas páginas em busca daquele endereço que vira na noite anterior. Precisava encontrar essa tal irmã gêmea antes que os últimos vestígios de sua sanidade se perdessem por aí.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vish, no próximo capítulo o encontro esperado vai rolar! E aí, o que esperam dele?

Beeeijos!