As Duas Metades de um Coração Partido escrita por CathyCat


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Amorees! Ta aí capítulo novinho pra vocês.

Povo, meu computador tem word do tempo da vó e não faz contagem de palavras, aí eu fico sem noção nenhuma do tamanho do capítulo, então vou fazendo de acordo com o que eu planejo pra cada capítulo. Acho que estão ficando curtos, mas a opinião de vocês é que conta, opinem!

Espero que gostem!

beeijos



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Sam gostava de ir à lavanderia às quartas-feiras pois sabia que o lugar era mais vazio que o habitual. Sempre escolhia a mesma lava roupas, e começava seu ritual semanal. Lavava todas as roupas de uma vez, pois ter de separá-las por cor significaria ter de ligar a máquina duas vezes, o que certamente sairia mais caro. Nas poucas ocasiões em que comprava roupas, comprava algo que pudesse ser lavado juntamente com todo o resto que já tinha.

Saíra de lá algum tempo depois, e no caminho de volta à quitinete, passou no mini-mercado da esquina e comprou algumas coisas para abastecer a geladeira, já que ontem não tinha nem mesmo um pé de alface lá dentro.

Se entristeceu ao ver que a maior parte do que faturou na noite anterior já tinha ido embora. Precisava urgentemente distribuir mais currículos por aí, mas já tinha perdido as esperanças de conseguir outro emprego. Ninguém nunca a chamava, até comprara um celular daqueles baratinhos e um chip pré-pago para que pudessem entrar em contato.

Nunca esqueceriam aquela maldita história. Um erro, um único momento de distração destruíra sua vida para sempre.

Sentiu vontade de chorar, mas não de tristeza. Uma raiva sobre humana invadiu seu peito, e uma vontade louca de socar a primeira coisa que aparecesse na sua frente tomou conta de todo o seu ser.

Aquele maldito dia era uma sombra que nunca deixaria de pairar sobre sua cabeça. Mesmo que tudo tenha “passado”, mesmo que ninguém se lembre da sua imagem, existe uma nota em sua ficha criminal.

Agarrou a primeira coisa macia que viu (no caso uma embalagem de papel higiênico), e golpeou o objeto, o jogou no chão, pisou em cima, chutou, e quando se deu conta, a pequena embalagem estava totalmente destruída. O que claro, só serviu para irritá-la ainda mais, já que agora teria que pagar por ela também.

Bufou como um touro raivoso e recolheu a embalagem do chão, seguindo para o caixa logo em seguida.

Aquele definitivamente não era o seu dia.

O mau humor que lhe atingira logo que levantara agora caminhava para níveis extremos, ultimamente suas emoções eram assim, uma montanha russa.

Voltou pra casa quase sem dinheiro, e com a cabeça fervendo. Subiu os três lances de escada que a levariam até sua quitinete, e antes de entrar, bateu à porta de Gibby novamente, e praticamente jogou o cesto de roupas limpas pra dentro do apartamento do amigo.

– Da próxima vez que me der cuecas borradas pra lavar, eu parto sua cara em 20! – Esbravejou, dando as costas ao garoto antes mesmo que pudesse responder.

Nem mesmo sabia porque ficara tão irritada de repente. Os problemas que habitavam sua mente eram os mesmos de sempre, o dinheiro se esvaindo tão rapidamente também não era novidade. Bom, desde quando Samantha Puckett precisa de razões para se irritar?

Talvez fosse um presságio, ou o que a garota gostava de chamar de “santo forte”. Nunca soubera rezar, honestamente não tinha o menor interesse nesse assunto, mas sua intuição nunca a abandonara. E embora nem imaginasse o que estava por vir, sentia que hoje seria o “Dia mundial de irritar a Sam”.

Adentrou a quitinete desejando ardentemente mandar tudo pro espaço e voltar a dormir. A casa estava uma bagunça, e nem se lembrava quando fora a última vez que varrera e passara pano naquele piso. Pouco importava pra ela, tendo comida na geladeira, ainda que pouca, já lhe bastava para viver.

Guardou os poucos produtos que trouxera do mercado na dispensa e tratou de preparar um belo sanduíche daqueles de três camadas. Se não estivesse tão cansada de se preocupar com o amanhã, certamente economizaria o pão de forma e os frios e faria um lanche simples, mas hoje se permitiu um pouco de exagero. Precisava acalmar os ânimos, e nada a deixava mais calma que comida.

A hora de voltar à boate se aproximava, e Sam encarava o relógio com desprezo. Desejara tantas vezes fazê-lo parar! Mesmo sem saber rezar, rogara a Deus por ajuda, apesar de todo o orgulho que sempre sentiu e da mania de querer convencer a todos de que sabia se cuidar sozinha.

Precisara de ajuda, e conversara com Deus à sua maneira por diversas vezes.

– Se é que você existe mesmo... – Murmurou, encarando o relógio entre uma mordida e outra no sanduíche. – Não quero seguir, ou idolatrar você. Não quero acreditar em um Deus que abandona suas crias quando mais precisam.

Mastigava lentamente, buscando o gosto de cada um dos ingredientes que colocara no lanche. Tudo o que ali estava, saíra do seu bolso. Se tinha um teto, ainda que modesto, era graças a ela. Não podia contar com mais ninguém além de si mesma, e claro, Gibby, por mais que detestasse admitir.

Já eram cerca de cinco horas da tarde quando batidas hesitantes na porta a tiraram de seus devaneios. Quase hora de se arrumar para trabalhar.

Caminhou até a porta. Estava bastante surpresa, não costuma receber visitas. Pensou em se esconder, de certo era alguém querendo cobrar alguma dívida. Mas e se fosse o aluguel? Estava dois meses atrasada, não podia vacilar, estava prestes a ser colocada na rua. Merda, precisaria pedir dinheiro emprestado a Gibby outra vez.

Estufou o peito e ergueu o queixo, preparando-se para a batalha, seja ela qual for. Batidas na porta de Sam nunca eram boa coisa.

Girou a maçaneta de uma vez, e a figura que a esperava do lado de fora sorria meio timidamente.

Dentre todas as pessoas que imaginava que um dia a visitariam, aquela era a menos provável de todas.

Quem esse cara pensava que era? Com que direito achava que deveria bater na porta de Sam assim, com tamanha cara de pau depois de tudo o que acontecera, e do abismo que se estendera entre ela e a irmã? O coitado não tinha culpa de nada, mas a garota não queria ter de conviver com nada que lhe a lembrasse de Melanie.

– Olha só, não é todo dia que um Nerd famoso da indústria telefônica aparece na minha porta. – Arqueou uma das sobrancelhas, as palavras saíam de sua boca mais ácidas do que água em contato com lava de um vulcão. – Não estou interessada em comprar microchips, mas agradeço a visita.

Freddie abriu a boca e deu um passo a frente, mas a porta se fechou antes que tivesse a chance de falar. E bem no seu nariz.

Sam era boa em fechar portas na cara das pessoas.

– Ai. – Ele soltou um muxoxo dolorido. – Olha, me deixe entrar por favor! Tenho um assunto importante. Sou Freddward Benson.

– Sei quem você é. – A loira revirou os olhos e soltou uma risada sarcástica. – Assisto TV, panaca. Eu vejo você e Melanie desfilarem cheios de pompa pelos tapetes vermelhos das festas enormes de lançamento de smartphones da sua empresa. – Ela fez uma pausa pra encarar os próprios pés. – Não pensei que ela fosse mencionar minha existência.

– Na verdade, não mencionou. Será que podemos conversar cara a cara? Nada contra a sua porta, mas sabe como é, não é muito educado falar com visitas com uma porta no meio.

– Não sou uma pessoa muito educada. Se eu abrir a porta, vai ser pra acertar sua cara com um pau de macarrão.

– Qual seu problema? O que foi que eu te fiz, garota? – A voz dele era engraçada, meio cantada. – Não estaria aqui se não precisasse falar com você.

– Olha só, eu não quero saber de nada que tenha a ver com Melanie ok? Vá procurar sua turma.

– Melanie morreu. – Ele deixou as palavras escaparem de sua boca rapidamente, sem pausas, ou rodeios. Era a primeira vez que dizia isso em voz alta, e o som dessas palavras cortou seu peito tanto quanto cortou o da garota marrenta encostada á porta do lado de dentro. Por mais que ela jamais admitisse. – Ela tinha um aneurisma, e ele estourou. Foi repentino, chocante, e devastador, então acho que até uma pessoa estúpida como você consegue entender que não é fácil pra mim estar aqui e te encarar. Fazem menos de duas semanas.

Sam demorou pra responder. Sua mente girava, perdida entre lembranças boas, ruins, e muito ruins. Vivera com Melanie todo o tipo de experiência: Primeiro eram inseparáveis, depois as diferenças falaram mais alto do que as semelhanças, e elas se distanciaram. E então naquela maldita noite elas viveram a maior contradição da vida de ambas. Naquele noite, elas nunca estiveram tão próximas, e acabaram mais distantes do que nunca.

– Eu não acredito em você. – Sua voz era um pouco mais alta que um sussurro. – A vida de vocês parece um reality show, tudo o que acontece acaba na televisão. Eu saberia, ela teria me contado se estivesse doente.

Depois daquela noite, a ligação entre elas que sempre fora estranha, piorara. Sam amava Melanie, e ao mesmo tempo guardava um rancor tão grande que mal lhe cabia no peito. Não quisera mais saber da irmã, mas queria acreditar que ela a procuraria se algo sério acontecesse.

As gêmeas Puckett sempre seguraram a barra uma da outra.

No entanto, ela vivera um perrengue atrás do outro desde aquela noite, e nunca se atreveu a procurar Melanie. Talvez tivessem perdido até mesmo a velha camaradagem que tinham desde sempre, apesar das brigas constantes.

– Sem ofensas, Puckett, ela nem mesmo me contou que você existia. – O tom do visitante inesperado mudara drasticamente. Agora falava com cautela, media as palavras pra falar com Sam, e isso a irritava. Não precisava que ninguém tivesse pena dela, o que quer que tivesse que dizer, que dissesse sem rodeios. – E quanto à televisão, eu estou fazendo o possível e o impossível pra que isso não chegue à imprensa. Ao menos não agora. Tenho uma filha de 5 anos que não merece ver todas as reportagens sensacionalistas sobre a mãe morta na TV.

– Bom saber que seus neurônios não funcionam somente pra tecnologia, já que casou com Mel, eu tinha sérias dúvidas sobre isso. – A garota se tornara ainda mais dura. Era o único jeito se sobreviver a uma notícia como aquela. Por dentro, o peito doía e lhe faltava o ar, mas por fora ela continuava tão indiferente quanto sempre fora.

– O que aconteceu com vocês?

– Vá embora. Não sei como chegou até aqui se ela nunca mencionou meu nome, nem me interessa. Melanie morreu pra mim muito antes desse aneurisma idiota. – Não era verdade.

– Não posso ir... Eu...

– SOME DAQUI, CARA! – Abriu a porta numa agilidade que espantou Freddie. Antes que sequer notasse, Sam já tinha dado uma chave de braço em seu visitante, puxando seus braços cada vez mais. Ele gemeu de dor. – Eu vou te soltar, e quando soltar, você vai descer essas escadas e sumir da minha frente. Se eu tiver que colocar minhas mãos em você, vai ser bem pior que uma chave de braço básica. Entendeu?

– Você é maluca! – Exclamou Freddie. – Me solta, sua lunática!

– Seu cérebro enorme não te ajuda muito agora, não é nerd? – Ela se vangloriou, soltando-o num empurrão que o fez parar encostado a parede do lado oposto do corredor. – Não quero saber da minha irmã morta, não apareça aqui de novo se quiser manter intacto o que tem no meio das pernas.

E então, tão ágil e repentina como quando saiu, Sam entrou e bateu a porta na cara de Freddie, deixando-o completamente estupefato.

Mal tinha entrado na vida de Samantha Puckett e já estava cansado dela.

– Caramba Mel, isso tá mais pra um castigo do que pra uma missão. – Murmurou, e então deu as costas à porta fechada e seguiu pela mesma escadaria por onde subira.

Ia dar um jeito de arrancar a verdade desse furacão que as vezes se disfarçava de mulher, ainda não sabia como, mas com certeza ia.


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