19

O tempo é algo engraçado. Há dias que parece que ele não passa, outros, você não vê o relógio fazer o famoso tic-tac. Nosso foco diário é em nossas tarefas, o que acontece a sua volta não importa, é apenas a música de fundo, a cena em segundo plano. Quando Kurt corria naquele dia, meses atrás, seu foco era caminhar o mais rápido possível, o carro estava em segundo plano.

Se ele tivesse prestado atenção nas buzinas, no sinal verde.

Mas outra coisa engraçada é o destino, se Kurt não tivesse posto o carro em segundo plano, talvez Blaine nunca se tornaria o seu primeiro plano. A vida é cheia de mistérios e segredos. Talvez o estranho que passa por você hoje, que esbarra em seu ombro, não seja ninguém, mas talvez amanhã, ele venha a ser o amor da sua vida.

Também posso lhe contar algo não engraçado, o estado de Kurt durante seu tratamento.

– Isso é muito nojento. – James disse com a mão sobre o nariz. – Kurt está bem?

– Sim, querido, ele apenas pegou uma intoxicação alimentar. – Blaine não conseguia explicar para James toda a situação, e o motivo de Kurt estar trancado no banheiro, há mais de vinte minutos.

– Blaine, querido, pode me trazer um pouco de água? – Kurt abriu a porta, ainda mais branco do que o comum. – Estúpido médico, ele disse que eu não teria enjoos.

– Na verdade, ele disse que você poderia não ter. – Rachel guiou o amigo até o sofá.

– Nunca acredite nos médicos, Kurt. Eles são os maiores mentirosos do mundo. – James sentou ao lado do castanho, o abraçando.

Eles estavam na casa de Kurt, pois todos seus medicamentos estavam lá, e porque o castanho se recusava a ir para qualquer outro lugar, já que ele poderia vomitar a qualquer momento. Ele estava apenas tomando algumas pílulas, que ele sequer sabia para o que serviam. O médico não havia especificado os danos que esta lesão traria.

– Kurt, sei que você não está afim de sair, mas acho que ir a um parque lhe faria bem, pegar um Sol. – Blaine ajoelhou-se na frente do namorado.

– Parque! – James gritou animado.

– Se eu precisar vomitar novamente, vou vomitar em você. – Kurt encarou Blaine.

– Sempre tão amável, um romântico incorrigível. – Blaine gargalhou.

B

No caminho do parque, Blaine ligou para Wes. Os quatro caminharam até o Central Park, Kurt levava a mão sob o estômago. James corria na frente. Rachel abraçava Kurt de lado. Blaine tentava manter sua atenção em James e Kurt ao mesmo tempo.

O dia estava maravilhoso. Um Sol confortante, o céu estava sem nuvens, apenas o azul vívido. O parque estava cheio de crianças, James logo se achou brincando com um grupo de meninos. Kurt sentou ao chão, sobre uma toalha que Rachel havia trazido. Blaine foi até um quiosque e comprou água, pois Kurt precisava se manter hidratado.

– Estou odiando isso. – Ele resmungou. – Por que isso tinha que acontecer? Nós estávamos tão felizes. – Kurt encarou Blaine.

– São desafios, para provar o quão forte somos. Logo tudo isso vai passar. – Blaine o abraçou.

Rachel resolveu dar um pouco de privacidade ao casal, e foi atrás de James, encontrando Wes no caminho e o levando consigo. Kurt não tinha conseguido conversar com Blaine sobre toda a situação, se o moreno queria mesmo ficar com ele, mesmo com todos os enjoos e idas frequentas ao banheiro.

– Você não precisa fazer isso, sabia? – Kurt disse, e viu o espanto de Blaine.

– Fazer o que? – O moreno encarou os olhos azuis de Kurt.

– Continuar comigo. Olha o quão nojento isso está. – Kurt fez uma careta.

– Você está maluco, não está? – Blaine riu falso. – Eu nunca vou te deixar, por nada. Isso é só uma fase, como falamos antes. O médico mesmo disse que é algo pequeno, que o tratamento está começando cedo.

– James disse que não devemos confiar em médicos. – Kurt resmungou. – Obrigado por ficar e não surtar. – Ele abraçou Blaine, e sorriu.

– Não tenha tanta certeza sobre o não surtar. Mas não vou a lugar nenhum. – Os dois se mantinham abraçados.

– Na verdade, você vai. – Blaine arqueou uma sobrancelha. – Temos de ir ao hospital, tenho consulta, lembra?

– Droga! Tinha esquecido completamente. – Blaine olhou James correndo pelo parque com Rachel e Wes. – Vou avisar Rachel, pedir para ela tomar conta de James enquanto vamos ao hospital.

B

Kurt e Blaine nem aproveitaram o Sol e o ar puro do parque, logo estavam de volta ao prédio de paredes brancas que cheirava a álcool. Subiram direto para o consultório, onde o médico já os esperava. Em torno de trinta minutos, Kurt já tinha receitas para novos remédios, incluindo um para enjoos.

– Seu corpo não devia estar rejeitando tanto a medicação. – Dr. Roger estava pensativo. – Vamos ter de tentar outro, algo mais leve.

– Mas isso não vai afetar no tratamento? – Kurt perguntou preocupado.

– Se mantiver este, não haverá tratamento algum, pois seu corpo está rejeitando tudo. Não existe nem um 1% de medicação no seu organismo nesse momento. – O médico escrevia a receita, enquanto Kurt respirava fundo.

– Você já sabe dizer quais são as sequelas? – Kurt perguntou, impaciente.

– Não, isso não se pode ver com exames, sabemos a área, mas o que exatamente irá resultar, só iremos descobrir no seu dia a dia. – Dr. Roger encarou ambos. – Por isso é de suma importância que você conte tudo o que acontece no seu dia a dia.

– Não tive um diário quando adolescente porque achava ridículo, agora terei de fazer por obrigação? – Kurt revirou os olhos.

– Os efeitos colaterais desta medicação, por um acaso, seria deixar a pessoa ranzinza? – Blaine perguntou ao médico, recebendo um olhar torto de Kurt.

– Infelizmente, a irritação será algo comum no Sr. Hummel por hora, Blaine. – O médico sorriu torto.

Mais dez minutos e o Dr. Roger liberou os dois, eles planejavam ir direto ao parque, para encontrar os outros e planejar o que seria feito à noite. Porém, foram interrompidos por um velho conhecido.

– Sebastian! – Blaine disse, surpreso.

– Olá rapazes. – Sebastian sorriu para os dois. Kurt o encarou sem jeito. – Então vocês estão levando isso a sério? – Ele apontou para as mãos unidas do casal.

– Sim, estamos. – Blaine abraçou Kurt de lado.

– Bem, felicidades ao casal. – Sebastian disse seco, e deixou os dois.

Os dois voltaram a caminhar em direção a saída, Kurt permaneceu calado enquanto Blaine reclamava de Sebastian. Quando estavam próximos do parque novamente, Kurt interrompeu Blaine.

– Realmente, não acredito que ele se atreveu a isso... – Kurt parou de caminhar.

– Blaine, posso lhe fazer uma pergunta e você promete não se assustar? – Blaine encarou o namorado.

– Claro. – Kurt pegou a mão de Blaine e a apertou firme.

– Quem é Sebastian? – Os olhos de Blaine dobraram de tamanho e pela expressão de Kurt, seu coração pulou. Não era um alívio Kurt ter se esquecido de Sebastian, era um sinal.