Menina Veneno escrita por DreamsOfASummerNight


Capítulo 8
Capítulo 7




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Tinker não me decepcionou. Na primeira hora da manhã (às 10h, no caso), eu tinha um relatório completo em mãos e a testa perfeitamente lisa e sem marcas. Analisei as informações enquanto tomava chá verde puro e mordiscava meia torrada integral light.

David Nolan era o guitarrista de uma banda pouco conhecida, os Charmings, tinha 21 anos, gostava de discos de vinil, videogame e batata frita. Malhava todos os dias numa academia no centro, sempre às 6:30.

Eu teria que ir à academia logo depois de acordar, se quisesse simular um encontro casual. Esplêndido. O sonho de todo ser humano...

–Muito bom, Tinker! - elogiei. - Agende a mesma hora para mim nessa academia. E, por favor, avise que estou apenas trocando de academia. Não vou passar pela avaliação.

–Mas você não frequenta academia nenhuma. Tem uma incrível aqui na cobertura, e você nunca usa.

–E ninguém precisa saber disso, precisa? - Estreitei os olhos.

Tinker engoliu a seco.

–Não. Hã... vou avisar ao Robin para se aprontar mas cedo.

–Faça isso. - Terminei a meia torrada no exato instante que Mary acordou.

Como de costume, ela não se deu ao trabalho de se olhar no espelho; seus cabelos negros mais pareciam um shitzu que tomou banho e não foi escovado.

A coisinha esdrúxula se largou na cadeira com estardalhaço, os fones já no ouvido. Esticou o braço e encheu o prato com pãezinhos doces, geleia, amanteigados e Nutella. Sério a quantidade de calorias naquele prato era o suficiente para me manter respirando por uma semana. Era tão injusto. Ninguém come o dia todo e continua magra. Simplesmente não acontece. Só podia ser metabolismo adolescente.

–Interrompi alguma coisa? - perguntou ela com a boca cheia, e uma chuva de farelos caiu no meu chá.

–Nada - empurrei a xícara para longe.

–É não era nada - falou Tinker, correndo para pegar uma xícara limpa no aparador. - Regina decidiu que vai começar a frequentar uma academia.

–Por quê? - questionou a menina com desinteresse.

–Porque me deixará saudável.

–Sem querer ofender, fofadrasta, acho que o que te deixaria mais saudável seria comer de vez em quando. - E abocanhou um pão coberto de creme amarelo. - Mas acho que vou com você. Também preciso fazer uns exercícios.

Olhei feio para Tinker enquanto ela me servia o chá. A loira se encolheu, sibilando um pedido de desculpas apavorado.

Respirei fundo e apoiei os antebraços na mesa, fitando Mary.

–Você não precisa me seguir o tempo todo, Mary. Você tem sua vida, não precisa de mim para nada.

–Sua vida é mais emocionante que a minha. E, legalmente, sou sua responsabilidade até completar 18 anos.

–Como se eu pudesse me esquecer disso - resmunguei.

–Além do mais, to meio sem nada para fazer. A agência reagendou o ensaio do Menina Veneno para o fim da semana que vem. Vamos para a Suíça, aí você vai poder ficar sozinha.

–Suíça.

–É - Ela ergueu os ombros - Querem me fotografar na neve. Acham que o contraste com o meu cabelo vai ser interessante. Ou sei lá. Não prestei muita atenção.

Agora pense comigo por um instante: se você mora com alguém e por acaso roubou o trabalho dessa pessoa, o mínimo que se deve fazer é tocar no assunto, dizer que sente muito, que a decisão não foi sua e blá-blá-blá, certo? Isso se você for uma boa pessoa. Nunca disse que eu sou, mas aposto que você pensou que a Mary Margaret fosse desse tipo, não pensou?

–Que horas a gente vai para a academia? - perguntou, de boca cheia. Tinker se apressou em cobrir minha xícara com o iPad. Farelos nojentos grudaram na tela.

–Seis e meia - informou Tinker.

–Legal.

Ela engoliu todo o conteúdo do prato em meio minuto, virou mais um copo de iogurte e finalizou com uma caneca de achocolatado antes de se levantar, levando uma rosquinha. Talvez não fosse o metabolismo adolescente. Talvez o estômago da Mary fosse diferente e tivesse um buraco negro que mandava todas aquelas calorias e gorduras para um universo paralelo.

–Eu estava pensando em aumentar seu salário - contei a Tinker, logo que voltamos a ficar sozinhas.

–Mesmo? - Seus olhos brilharam, um sorriso surgiu na boca. - Ai, Regina, você é o máximo!

Fiz um gesto desdenhoso com a mão.

–Eu sei disso, mas , sabe, como você fez o favor de contar a Mary sobre a academia, estou pensando em cancelar seu bônus de natal.

–Bom dia - cumprimentou Robin, vindo da cozinha, parando sob o arco no teto da sala de jantar.

–Bom dia, Robin - Sorri para ele. - Vamos sair em quinze minutos.

Ele concordou com a cabeça.

–Oi Robin - disse Tinker, apressada, e se virou para mim. - Regina, escapou sem querer! Você sabe como eu sou. Quando vi já tinha falado. - Ela segurou o iPad junto ao peito. Então se lembrou dos farelos e o afastou com uma careta.

–Se eu diminuir seu salário tenho certeza de que a falta de dinheiro servirá de incentivo para o uso de algum filtro, no futuro.

Robin engasgou, tentando conter o riso.

–Não! - Tinker se apressou. - Quero dizer, não vai adiantar, você sabe que eu sou a rainha das mancadas. Vou me esforçar mais. Juro!

Balancei a cabeça uma vez.

–Então... - começou ela, hesitante, - Por que você quer se encontrar com esse tal de David de novo?

–Porque sim.

–Assim, sem qualquer outra razão? O que você quer com ele?

Eu dei risada e a encarei.

–Não posso querer ver alguém Tinker?

–Até pode - cedeu ela, hesitante - mas, é que você nunca quer ver ninguém. Não desde que a gente se conhece, e olha que isso faz tempo pra caramba e... e... - Algo mudou em sua expressão. Os olhos se arregalaram tanto que eu pude ver o branco ao redor das íris azuis. - Ai, me Deus! Você tá caidinha por ele?

–Ele quem? - perguntou Robin com a voz grave.

–Ninguém - falei sem olhar para nenhum dos dois - Eu só quero agradecer por ele ter sido gentil comigo depois do incidente.

–Que incidente? - indagou, Robin.

Tinker se virou para ele, animada, esfregando um guardanapo na tela do iPad.

–Um cara muito gato deu uma portada na Regina. Aí ela ficou louca por ele. Que nem naquelas história das cavernas. Bastou um pou! para surgiram coraçõezinhos por toda parte.

–Não seja ridícula, Tinker - retruquei, me levantando e evitando contato visual com Robin.

–Qual é, Regina? Você acha que eu não te conheço? - Ela riu. - Nunca ti vi correr atrás de ninguém. Estou esperando que isso aconteça a séculos!

–Isso é verdade? - insistiu Robin, mas seu tom era baixo e frio.

Girei a cabeça em sua direção.

E se for? - desafiei.

Ele sustentou meu olhar, mas não disse nada. Apenas trincou a mandíbula, cerrando os punhos antes de me dar as costas pisando duro.

–Você não devia fazer isso com o Brad - murmurou Tinker.

Reprimi um suspiro exasperado. Tinker foi a última de nós a chegar no abrigo, e desde que colocou os olhos em Robin, pensou que fosse um ator hollywoodiano. Foi difícil convence-lá que ele era só o Robin.

– Robin me conhece há mais tempo que você, Tinker. Ele sabe que não dever perguntar se tem medo de ouvir a resposta.

Apertei os lábios até se tornarem uma linha fina e pálida. Odiava magoar Robin, mas ela não desistia Nunca desistiu de mim, nem quando eu mesma joguei a toalha. Acho que ele nunca desistiria, e isso era um consolo de certa forma.

–Você se apaixonou pelo David? - questionou ela.

–Sabe muito bem que essa bobagem de amor não funciona comigo, Tinker. Mas eu quero o David. - Me aproximei da janela de braços cruzados. _ Farei tudo o que for preciso para ter aquele homem.

–Pobre coitado. - Ela estalou a língua. - Ele nem vai ver o que o atingiu.


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