Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 50
Missão de resgate.


Notas iniciais do capítulo

Oi, eu voltei pra postar mais um, desculpem, mas amanhã posto mais. Obrigada pelos comentários e por quem assistiu ao trailer e muito obrigada mesmo por você que está lendo essa história, só... Obrigada ♥



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Trailer

"Nós caímos e queimamos,
Uma lição a ser aprendida.
Tão estúpidos!
Nossas linhas ficaram turvas,
Andamos em direção ao fogo
Sabendo que iríamos queimar.
Mas agora meu amor virou ódio
E não vou passar mais um dia
Com você dentro de minha cabeça.
Você foi a coisa mais cara que já comprei
E ainda estou pagando essa dívida.
Quebrei minhas regras, o deixei me fazer de idiota,
Pensei que seria bom e me enganei,
Tão estúpida!
Como você pôde ser tão cruel?
Me fez passar por mentirosa,
Então obrigada por partir."

Thanks For Leaving – Alexandra Stan

~*~

Eu sempre procurava tomar cuidado, sempre, por Charlie, porque se importava comigo e ao menos ele se incomodaria se me machucasse, mas voltando da reserva não pude impedir meu pé de pisar fundo no acelerador ou minhas mãos de segurarem o volante com violência, fazendo curvas perigosas no asfalto molhado. Me sentia muito estúpida, muito tola.

Mas não fazia o trajeto que me levava de volta ao lar, sabia que não era lá que eu queria estar e me encontrando muito confusa me deixei levar pelos impulsos. Dirigi e dirigi, saí da rodovia e segui pela estrada de terra, respirava aos arquejos, a pulsação do sangue alta em meus ouvidos. Logo antes do que previra a avistei, a grande mansão que havia sido esconderijo de meu inferno particular.

Parei a picape com um solavanco em cima da grama que finalmente deixara de ser bem cuidada, isto marcava o tempo, já havia se passado vários dias. Saí e tranquei a porta com um baque, a chuva ainda caía, com menos intensidade, mas eu já estava ensopada. Olhei a grandiosa construção, atemporal, perfeitamente implantada no terreno irregular. Era como ele: um mistério no meio da floresta. Algo lindo, algo que não me pertencia.

Era óbvio que eu chorava, desde que estivera fora do campo de visão de Jacob me desfizera em estúpidas lágrimas e agora não me ocupava em contê-las. As lembranças vieram numa torrente, centenas delas em um envolto de cenas difusas, eram memórias doces e amargas, mas acima de tudo enlouquecedoras. Como ele pudera fazer isso comigo?

– Desgraçado. Seu mentiroso, EDWARD SEU MENTIROSO! MENTIROSO!

Eu soluçava e esfregava o rosto em desespero. Porque ainda estava em Forks? Porque não fora embora quando Bella me chamara? Porque viera para cá em primeiro lugar? O que havia para mim aqui? Qual o propósito dessa viagem? Quebrar meu coração? Destruí-lo?

Gritei a plenos pulmões, minha voz reverberando agonia, ódio, revolta e dor. Não costumava me entregar assim aos sentimentos, eu não costumava me deixar levar. Fora uma menina retraída, ao menos nas questões do coração e parecia de algum jeito que minha insegurança tivera fundamento. Eu não sabia lidar com essa realidade, estava falhando.

Eu acabaria morrendo.

Não quis aproveitar de minha vinda para explorar a casa abandonada, porque sabia que por trás destes muros não encontraria nada, eu conhecia a capacidade infalível de Edward de se fazer ausente, me surpreendera que não tivessem demolido a mansão antes de ir. Então ela permaneceria aqui, esquecida, mas presente, sempre presente. A casa não se fazia lembrar, fora eu quem insistira em vê-la; assim era com as memórias, elas não me afetariam se me dispusesse a deixá-las para trás. Já fora tempo demais vivendo desilusões, eu simplesmente não aguentava.

Não olhei para trás quando segui de volta para o carro.

Charlie era perspicaz então tive de ser mais que ele quando o encontrei pela noite, como voltara muito antes do esperado conseguira finalizar tudo que devia ter ficado pendente para o outro dia. Ele havia notado que eu estava excepcionalmente quieta, mas consegui me desvencilhar pondo a culpa no cansaço.

Quando não aguentara mais manter os olhos em cima dos livros me deslocara até a sala e compartilhara de sua companhia enquanto assistia televisão. A programação desinteressante me ajudou a me desligar dos problemas e só fui para o quarto quando estava consideravelmente sonolenta, ao deitar na cama adormeci de imediato.

No domingo liguei para a casa de Mike e sua mãe me informou que ele havia ido ao médico e ainda se sentia mal, por isso talvez não comparecesse à escola na segunda, mas logo iria melhorar.

Passara mais um dia sozinha, já que Charlie dera um jeito dele mesmo avisar a Billy sobre a pescaria.

Não tive quaisquer notícias de Jacob.

Me arrastei sonolenta e preguiçosa até a picape, o estacionamento estava cheio, movimentado pelos estudantes e até mesmo abrir caminho entre eles parecia exigir esforço, eu estava exausta.

Era quinta-feira, faltava apenas mais um dia para terminar a semana de provas e meu psicológico estava uma bagunça. Meus músculos doíam, pois eu havia feito serão todas as noites, indo dormir de madrugada, me entregando cem por cento às tarefas escolares enquanto minha única vontade era ter sucesso nas avaliações. Isso importava muito porque me mostraria se estava conseguindo voltar à rotina, a ser eu mesma.

Estava a poucos passos do carro quando ouvi Mike me chamando, virei e o avistei encostado à van de Tyler que estava movimentada com pessoas que entravam e saíam com folhetos em suas mãos. Não entendi o que acontecia, mas realmente não me importei e fingi não ter ouvido, mas ele tornou a gritar e não tive saída senão convergir para perto.

– O que foi?

Me entregou um dos papéis e dei uma olhadela, mas não compreendi muito bem e lendo facilmente a desordem em meu rosto ele explicou:

– Uma casa noturna em Hoquiam vai dar uma festa sem faixa etária hoje e Tyler está divulgando porque o primo dele é um dos organizadores.

– Sério? E alguém vai? – Perguntei descrente.

– Quase todo mundo – sorriu animadamente.

Parecia muito ansioso, mas sem dúvidas não era o único, eu podia ver muitos estudantes conversando sobre o assunto, todavia não acreditei que algum deles realmente conseguiria permissão para ir a uma coisa dessas.

– Você vai, não vai Liese?

– Olha...

Tyler veio até nós.

– Liese, nosso grupo está quase cheio, eu ainda tenho entradas preferenciais sobrando então se quiser uma delas pode ser sua.

Analisei sua expressão, depois meu olhar inevitavelmente passou a Lauren parada a poucos passos e apesar de manter seu rosto virado eu sabia que ela estava com raiva. Tinha alguma espécie de sentimento por ele e eu não estava disposta a entrar numa competição.

– Acho que não Tyler, mas obrigada.

Devolvi o folheto nas mãos de Mike e comecei a me afastar, pude ouvir quando ele soltou um ‘ahhh’ em desaprovação, mas o ignorei e subi na picape, indo para longe do alvoroço.

Charlie irrompeu pela porta com tanta urgência que tive de sair de meu lugar e correr ao seu encontro assustada que algo ruim pudesse ter acontecido.

– Liese? Liese!

– O que foi? Está tudo bem?

Ele soltou um suspiro breve.

– Está. Eu pensei que você não fosse estar em casa – explicou-se.

– Como assim? Onde estaria senão aqui?

Me olhou por um instante como quem ponderava e só então virou-se para fechar a porta e retirar as botas de chuva no pequeno hall.

– Fiquei sabendo de tal festa aos arredores e ao que parece muitos jovens fugiram dos pais para comparecer ao tal evento.

Cobri a boca com uma das mãos.

– Tem gente fugindo? Mesmo?

– O telefone da delegacia não parou de tocar – seu rosto demonstrava cansaço.

Eu sabia que não seria fácil conseguir permissão, porém não pensei que as pessoas fossem chegar a tanto.

– Bem, é verdade que fui convidada, mas eu não iria Charlie, ainda estou em semana de avaliações.

– Sim, eu sei disto. Desculpe. – Parecendo constrangido e sem jeito pelo exagero de sua atitude ele tratou de mudar de assunto. – E como estão as provas?

Fiz uma careta.

– Espero que bem.

– Qual matéria ainda falta?

– Inglês e educação física.

– Hmmm. Parecem fáceis.

– Relativamente são. Acho que posso afirmar que o pior já passou.

– Bom.

Assenti. Em seguida informei a ele que havia comida ainda quente esperando no forno, eu preparara nhoque de batatas ao molho e havia ficado delicioso. Charlie fez sua refeição enquanto eu terminava de revisar algumas questões, quando o telefone tocou fui até a cozinha atender para impedi-lo de ter de ser levantar.

Era Angela, ela ligara para me avisar que precisava que eu fosse até sua casa o mais rápido possível, falava apressadamente e logo desligou sem nem me dar chance de responder. Fiquei parada com o fone na mão enquanto tentava assimilar o que tinha acontecido.

– Liese, quem era?

Não precisava ser um gênio para saber que eu não devia dizer a verdade, no meio da repentina adrenalina tratei de elaborar uma resposta.

– Era Angela Weber. Ela está tendo dificuldade com algumas questões e perguntou se eu poderia ir até sua casa lhe dar uma mão.

Parou de mastigar e me fitou, depois seus olhos passaram ao relógio em seu pulso e de volta para o prato de comida.

– Ainda é cedo, pode ir, mas tome cuidado e não volte muito tarde.

Fiquei perplexa com o quanto fora fácil lhe enganar, mas minha consciência veementemente me repreendeu dizendo que eu só encontrara êxito porque ele agora confiava em mim.

Fui até a sala e guardei o material escolar de volta na mochila, depois subi até meu quarto e peguei as chaves do carro, então esperei. Depois de alguns minutos ouvi o distinto barulho da cadeira enquanto ele se levantava e ia para a sala, desci devagar, o ruído da televisão era alto, portanto ele não me ouviu, cheguei até a bancada onde ficava o telefone e abri a lista de endereços. Forks era pequena e só havia uma família Weber na cidade, com meu casaco enrolado no braço sai porta afora.

– Como é?

– Sim, é isso. Desculpe-me Liese, mas eu não sabia o que fazer.

– Não... Tudo bem.

Angela acabara de me contar a história mais absurda, ela recebera uma ligação de Lauren em desespero lhe dizendo que Jessica havia se envolvido com um garoto na tal festa e que tinha desaparecido. Como as duas haviam arranjado desculpas esfarrapadas para fugir de casa nossa missão era ajudar sem ter que envolver adultos na história. Charlie não ficaria orgulhoso se soubesse o que eu fazia agora.

– Eu devia ter tirado minha carta quando tive chance.

Soltei uma risadinha.

– Está tudo bem Ang, eu não estou brava com você. O importante agora é apenas chegarmos logo e darmos um jeito de achar Jessica.

– Sim, você está certa.

Eu não conhecia direito o caminho, mas segui pela cento-e-um, por sorte Hoquiam foi fácil de achar e estando lá só tivemos que pedir informações uma vez.

Próximo à danceteria encontrei o lugar mais inofensivo para estacionar a caminhonete e ao sairmos lancei um olhar apreensivo a ela, torcendo que estivesse aqui quando voltássemos. A segurança na porta não era nada reforçada, não havia filas e foi preciso apenas pagar nossa entrada para ter acesso ao lado de dentro.

No meio da escuridão povoada de flashes coloridos, o ruído e a bagunça tornavam tudo um caos.

– TEM IDEIA DE ONDE LAUREN POSSA ESTAR? – Berrei.

– ELA ME DISSE QUE FICARIA ESPERANDO PERTO DO BAR.

– ESTÁ BEM, VAMOS.

Era claro que ela estava apreensiva, eu por outro lado já frequentara inúmeras festas e sabia bem como me virar num ambiente desses, segurei seu o pulso o tempo todo com medo de que pudesse se perder. Era uma construção enorme, mas o bar se destacava pelas luzes estáticas e fortes, ao chegarmos encontramos Lauren que pareceu não se conter de alívio ao nos ver. Quase correu ao nosso encontro e abraçou Angela, depois se virou para mim e me olhou em silêncio; eu levei isso como um gesto de paz, tendo em vista que não havia me dirigido sequer uma palavra grosseira.

– LAUREN, AINDA NÃO A ACHOU?

Ela apenas sacudiu a cabeça, o rosto de quem estava prestes a chorar.

Suspirei. Agora estava começando a ficar preocupada, já ouvira falar de pessoas que haviam sido raptadas dessa forma, não tínhamos tempo a perder.

– ONDE VOCÊ A VIU PELA ÚLTIMA VEZ? – Perguntei.

Ela me olhou ainda em silêncio e fiz cara de impaciência.

– OLHE LAUREN, NÃO INTERESSA O QUE VOCÊ PENSA DE MIM, SE NÃO ACHARMOS JESSICA PODERÁ SER TARDE DEMAIS – Meu Deus, seria possível que até aqui ela queria usar de seus joguinhos? Quantos anos ela tinha, afinal? – ONDE A VIU PELA ÚLTIMA VEZ? – Questionei novamente.

Ela apontou para uma área ao fundo onde havia sofás e pufes disponíveis para uso. A maioria das pessoas ali estava em casal.

– ELA CONHECEU UM GAROTO E ELE A LEVOU PARA LÁ, FIQUEI DANÇANDO PERTO, MAS QUANDO OLHEI JÁ NÃO ESTAVAM MAIS À VISTA.

Assenti.

– ENTENDI. VENHAM.

Segui para onde ela havia indicado, ao chegarmos lhe perguntei se lembrava de mais alguém, se reconhecia algum rosto, ela olhou ao redor, demorou alguns minutos e enfim arfou.

– ELE – Apontou.

– SHHH, NÃO APONTE – Abaixei sua mão rapidamente, mas ninguém pareceu nos notar.

Observei o rapaz de quem ela falava, era jovem, bem vestido e bebia de um copo o que eu poderia jurar ser uísque. Estava próximo a uma mesinha improvisada, junto dele havia mais dois homens e eles conversavam entre si enquanto lançavam olhares para as garotas, ambos também bebendo. Notei a garrafa a sua frente e imediatamente reconheci o rótulo.

– VENHAM COMIGO.

Me virei às pressas e elas me seguiram, procurei pelos sanitários e marchei para eles. Já dentro andei até o fim, havia uma grande fileira de espelhos e muitas garotas, então escolhi o lugar mais afastado e comecei a cochichar:

– Aquele rapaz que você indicou estava com quem levou a Jessica?

Lauren assentiu freneticamente.

– Bem, eu tenho um plano, mas... Envolve ousadia e confiança. Na verdade, alguma de nós terá de flertar com ele, alguém se habilita?

Realmente não esperei que Angela se prontificasse, mas ao menos Lauren, pois fora ela quem nos fizera vir, contudo nenhuma das duas verbalizou uma só palavra e notei que a escolhida invariavelmente seria eu.

– Ótimo, então escutem bem: - falei às pressas - eu irei até ele e o chamarei para dançar, vou dar um jeito de fazer com que aquele imbecil me leve para onde eles estão, mas como também pode não ser seguro para mim, vocês duas vão ter de ficar de olho em nós todo o tempo. Mas, por favor, sem levantar suspeitas.

Eu não trocara de roupa antes de sair, pois não imaginara onde poderia vir parar, mas sabia que homens como aquele estavam atrás de apenas uma coisa e só o que eu tinha que fazer era fingir que poderia lhe dar o que procurava.

Usava legging azul marinho e tênis. Me desfiz de meu moletom e abri os botões da camisa até a metade do colo, peguei com Lauren um batom que ela trouxera em sua bolsa e soltei os cabelos, jogando-os para o lado. As duas me olhavam quietas e impressionadas, mas não havia como perder tempo com isso, minha vontade era de mandá-las em meu lugar, mas isso só me tomaria ainda mais minutos.

Antes de sair entrei em uma cabine livre, trouxera minha bolsa e dentro mantinha o spray de pimenta que Charlie me dera uma vez, dei um jeito de escondê-lo na parte da frente do cós e a blusa larga ajudou a mantê-lo fora de vista.

Saí a entreguei a bolsa para elas, indicando que não saíssem junto comigo para não levantar suspeitas. Depois suspirei, dei uma última olhada no espelho e parti.

De volta ao amontoado de gente tive que tomar cuidado ao abrir caminho, pois não podia arriscar perder o pequeno cilindro preso à minha cintura, os rapazes ainda estavam no mesmo lugar e respirei fundo antes de me aproximar. Meu alvo era o que estava sentado mais ao leste, então não fiz rodeios ao chegar até ele e chamá-lo para dançar, me observou por um segundo e notei quando seu olhar ficou preso em meu decote. Me esforcei para manter um sorriso safado em meu rosto, fingindo estar gostando de ser comida com os olhos.

Logo ele se decidiu e deixou o copo de lado, pegando a mão que eu lhe ofereci, me seguiu.

Enquanto abríamos caminho até a pista notei Lauren e Angela me observando nervosamente enquanto copiavam meus passos.

Depois de conduzir meu par até um canto pouco iluminado comecei a dançar devagar, podia sentir seu hálito forte de bebida e cigarro e isso só conseguiu me enojar. Ousou colocar as mãos sobre mim e imediatamente me lembrei do spray que escondia, querendo evitar ser descoberta me virei de costas, mas isso não pareceu incomodá-lo, quando pôs as mãos sobre minha cintura, porém, vi que tinha de agir logo.

Fiquei próxima a seu ouvido:

– Que tal sairmos daqui?

Ele sorriu, mas não saiu do lugar e contive um suspiro, teria de fazer melhor que isso. Me concentrei apenas em me mexer, dançando da forma mais sensual que podia, a resposta era fazer com que ele ficasse tão interessado que acabasse não tendo escolha a não ser deixar fazer minha vontade. Após alguns minutos ele pegou minha mão e começou a me puxar, às suas costas me virei num átimo, procurando... Quando avistei as garotas fiz sinal para que nos seguissem.

O rapaz me levou por uma porta diferente que dava acesso direto ao estacionamento, sem o barulho ensurdecedor da música se tornou mais fácil conversar.

– Qual é o seu nome?

– Bentley.

Revirei os olhos. Tinha de ser.

– Hmmm o meu é Luana. – Era óbvio que não revelaria minha identidade.

Não parecia nada a fim de conversar, colocou a mão no bolso e retirou as chaves do carro, tive que pensar numa maneira de evitar que chegássemos mais perto.

– Espere. – Parei.

Bentley se virou e me fitou apático, estava bêbado, era claro.

– O que é? – Lógico que ficara bravo, fora eu quem o procurara e seduzira. Em sua cabeça eu só podia estar a fim de algo imoral, não havia motivos para hesitar, por isso tratei de continuar encenando.

Me aproximei e passei a mão por seu braço.

– Eu só estou um pouco sem jeito. Aqui no estacionamento? – Lhe lancei um olhar sugestivo.

Ele riu.

– Fique tranquila gatinha, é a coisa mais comum – falou de forma arrastada enquanto me fazia um carinho no rosto.

Precisei de todo autocontrole para não afastar sua mão.

– Tem certeza? – Falei numa voz baixa.

Começou a acariciar minha mandíbula e então foi descendo. Contive a vontade de trincar o maxilar, enquanto isso meu cérebro funcionava como uma locomotiva, eu não podia de forma alguma entrar com ele naquele carro, mas também não podia por o plano a perder, se continuasse a evitar me dar a informação que queria talvez tivesse que pensar em uma alternativa.

– Está tudo bem – falou por fim, seus dedos alisando meu braço. – Meu amigo trouxe uma garota para cá faz um tempo, eles estão bem ali e você não viu nada, não é?

Meu olhar recaiu sobre o veículo que ele apontava, não reconheci a marca, mas soube que era um item caro. Então uma ideia me veio à cabeça e não perdi a chance de usá-la.

– Nossa, mas é um... Como se chama mesmo? Eu sempre quis ver um desses por dentro!

Me desvencilhei dele indo a passos rápidos até o outro lado, quando cheguei mais perto imediatamente reconheci Jessica, ela se debatia enquanto o garoto junto dela tentava lhe beijar, segurando seu rosto com violência. Eu prendi a respiração.

– Você está falando sério? – Perguntou o rapaz ao me alcançar.

Agora tinha de agir rápido e não podia falhar.

– Sim, eu queria tanto ver, será que posso? Por favor?

Ele não parecia nada feliz, na realidade estava prestes a responder e pressenti uma negativa, sem tempo para perder e querendo mais que tudo ajudar minha amiga me aproximei dele e o beijei, foi breve, porém quente, quando me afastei ele me olhava com desejo.

– Só uma olhadinha – pedi. – E depois faço o que você quiser.

Finalmente ele pareceu ceder, andou até o carro e deu uma batida no vidro do motorista, os dois dentro foram pegos de sobressalto e o garoto se afastou de Jessica, baixando o vidro. Eu tomei o cuidado de evitar mostrar meu rosto.

– O que foi?

– Dá pra destravar a porta?

– O quê?

– Só destrava a porta cara, vai logo.

Parecendo perdido, mas querendo logo conseguir privacidade o garoto obedeceu. Assim que foi possível abri a porta do passageiro.

– Jessica, vamos embora! – Falei num tom urgente.

A me ver imediatamente começou a chorar e vi que os dois rapazes nos olhavam tentando entender o que se passava. Como ela não se moveu a segurei pelo braço e comecei a puxar para fora com menos gentileza do que gostaria.

– O que tá acontecendo, Bentley?

Apesar de meu par estar sob o efeito do álcool o outro estava sóbrio e saiu num rompante de dentro do veículo, chegando até nós antes que pudéssemos dar sequer um passo.

– Onde vocês pensam que vão?

Angela e Lauren surgiram neste momento e nervosamente se colocaram próximas a nós.

Vendo que sua noite praticamente fora arruinada o rapaz me fitou com fúria.

– Acha que junto com suas amigas é páreo para mim, vadia?

Era demais para uma noite, eu deveria estar em casa, mas tive que vir em uma missão de resgate, colocando minha própria segurança em risco e sendo obrigada a beijar um completo estranho. Eu ainda sentia o gosto ruim e amargo do cigarro.

– Não – respondi enfim. – Mas isso é.

Peguei o spray e mirando-o diretamente nos olhos do ofensor apertei o gatilho. Um jato saiu do topo acertando-o em cheio, ele berrou e cambaleou, cobrindo o rosto com as mãos.

– CORRAM! – Gritei para as meninas, caso não tivessem se dado conta de que esta era nossa deixa.

Jessica e Angela dispararam, com certeza utilizando toda adrenalina acumulada para ganhar distância, como Jessica parecia alcoolizada segurei-a pela mão tentando evitar que ficasse para trás, mas ao menos se sentia bem o suficiente para entender que devia fugir.

– EI, ESPERE! LUANAAAAA!

– AHHHHHH...

Os gritos eram perfeitamente audíveis às nossas costas e nenhuma de nós desacelerou o passo, ainda correndo perguntei a Lauren onde havia deixado o carro e ela respondeu que fora em uma rua em frente à casa noturna.

– É... Longe? – Arfei.

–É.

Olhando para trás vi que apesar de ter coberto boa distância ainda podíamos estar em perigo.

– Vamos todas para a caminhonete... Eu levo vocês até seu carro... É... Mais... Seguro...

– Não... – Lauren discordou.

– Pelo amor de... Deus, Lauren! Vamos... Logo! – Bradou Angela.

Eu a fitei surpresa e Lauren não disse mais nada. Quando ao fim alcancei a Chevy abri a porta e as mandei entrar uma a uma pelo lado do motorista, pois perderia muito tempo se tentasse forçar a maçaneta do passageiro. Assim que me acomodei ao banco - apertada desconfortavelmente, pois éramos quatro num espaço onde só cabia três - tratei de ligar o motor e acelerar, disparando rua abaixo.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo era pra sair de um jeito e saiu de outro totalmente diferente, digam o que acharam, beijos!



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