Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 49
A afronta.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Trailer

"Um, dois, três, quatro, diga que me ama mais.
Longas noites sem dormir,
Foi pra isso que minha juventude foi feita.
Velhas esperanças juvenis estão à sua porta,
Te deixaram sem nada, mas eles querem mais.
Doce coração, amargo coração,
Agora não posso lhe dizer a diferença.
Confortável e frio, pôs o cavalo antes da charrete.
Aquelas esperanças juvenis trouxeram lágrimas aos seus olhos,
Assustada demais para viver por uma mentira.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, nove, dez,
O dinheiro não pode lhe comprar de volta o amor que você teve.
Você está mudando seu coração,
Você sabe quem era antes dos garotos,
Eles estão partindo seu coração."

1, 2, 3, 4 – Feist

~*~

Era um filme com excessivas cenas de violência, particularmente não gostava nada desse gênero, mas tentei ver o lado positivo e procurei me focar na história fingindo que o enredo não era nada além de ridículo. Jacob estava claramente se divertindo, rindo com as cenas de ação forçada, porém depois do custoso início Michael não dissera mais nenhuma palavra, estava muito quieto e eu o olhei de esgoela percebendo que parecia mal.

– Você está bem?

Ele balançou vagarosamente a cabeça indicando que evitava fazer movimentos bruscos, ou seja, não se sentia bem, mas não queria demonstrar. Quando fiz menção de lhe tocar ele se levantou e pediu licença saindo às pressas da sala.

– Bem, já estava na hora – zombou Jacob.

– Está doente. Acho melhor ir atrás dele.

– Tem certeza?

Olhei-o com seriedade e ele respirou fundo.

– Está bem, vamos.

Seguimos pelo corredor até o banheiro masculino e me custou muito para convencê-lo a entrar e ver como o outro estava, depois de poucos segundos voltou fazendo uma careta.

– Está muito bem vomitando na privada.

Suspirei.

– Eu sabia.

– O que é que ele tem?

– Virose gástrica. É contagioso, um colega nosso estava se queixando disto mais cedo na escola e está claro que Mike pegou.

– E você me mandou ir atrás dele sem nem sequer me avisar do perigo?

Cruzei os braços e o fitei de cara feia. Diante de minha irritação ele riu e ergueu as mãos como quem se rendia.

– Me desculpe.

– Sabe, nem mesmo você com toda sua força conseguiria ficar imune a isto.

– Tudo bem, você está certa. Bem, já que não podemos voltar para ver o final do filme ao menos vamos nos sentar, venha.

Como a sessão ainda estava em andamento não havia ninguém no corredor além de nós e ocupamos o único banco próximo à parede oposta.

– É, foi legal.

– Foi não foi? – Espelhei seu tom sarcástico.

Deu uma risadinha e então se mostrou sério.

– Não, de verdade, gostei de vir, sempre é bom passar tempo com você.

– Obrigada – murmurei. Depois ergui a cabeça tentando deixar o acanhamento de lado. – Com você também.

– Está melhor depois de ontem?

– Eu estou bem – falei baixinho.

– Sabe que se pudesse dar um jeito de evitar que você sofresse o faria sem pestanejar. Eu fico tão... Bravo, tão fora de mim quando penso que aquele imbecil a deixou sem qualquer explicação, a deixou assim...

– Machucada? – Ri sem humor. Sim ele deixou.

– Vai melhorar, você sabe que vai.

– Gosto de acreditar que sim.

– Não se preocupe Liese, eu estou aqui. Prometo sempre estar com você, já lhe disse isso uma vez, não vou te abandonar.

Uma promessa. Era uma promessa, teve o som e o sentimento de uma e fui transportada para dentro da floresta, para uma noite de chuva em que eu saíra de casa e inconsequentemente correra entre as árvores; Edward viera até mim e me beijara. ‘Eu vou cuidar de você sempre Liese. Jamais deixarei você!’

Ele havia dito que ficaria comigo. Ele quebrara sua promessa.

Pisquei enquanto voltava à realidade e me levantei de súbito pedindo licença e anunciando que iria ao banheiro, quase corri para dentro do esconderijo e me apoiei sobre a pia de mármore, baixando o rosto enquanto hiperventilava.

Ele quebrou sua promessa. Ele quebrou sua promessa. Ele não me quer mais. Ele não me quer...

Apertei os olhos e me concentrei em estabilizar minha respiração, minha consciência em algumas ocasiões se mostrava uma grande vadia. Enquanto me preocupava em manter as lembranças longe ela me bombardeava com acusações e julgamentos, me fazendo sentir a pessoa menos importante da Terra.

Depois de alguns minutos levantei minha cabeça e fitei o rosto no espelho, há alguns meses quando fazia isso era uma atitude inconsciente e não me revelava muito, mas agora via o reflexo de uma menina completamente diferente, uma pessoa mais madura que tivera de aprender à força como lidar com a vida quando ela lhe pregava uma dolorosa peça.

Você não pode se deixar abater, Aneliese. Você está sendo forte, mas ainda está triste, muito triste. Você disfarça, mas não é o suficiente. Se não tomar uma atitude drástica chegará a um ponto em que ficará extremamente difícil esquecer. Então esqueça, esqueça já!

Eu tinha bons amigos e um ótimo ‘pai substituto’. Sabia que poderia contar com a ajuda deles e precisava seguir em frente.

Peguei um pedaço de papel e limpei o canto dos olhos retirando o excesso de maquiagem que ficara borrada. Eu não ensaiei um semblante sereno ou fingi um sorriso, saí do banheiro sendo apenas franca, tinha de me sentir bem de verdade, sem encenações.

Fiquei surpresa ao ver que Mike havia voltado, mas não tão surpresa ao observar a distância entre ele e Jacob constatando que sem dúvidas evitavam se falar.

– Como você está? – Perguntei ao me aproximar.

– Não sei direito. Se importa se formos para casa?

– Não, claro que não. Acho que não tem problema. Terminarmos a noite por aqui, não é Jake?

Quando me virei esperando resposta vi que ele encarava Mike com fúria, observei que suas mãos estavam juntas e se apertavam deixando os nós de seus dedos brancos. Num só movimento se levantou e veio para perto de nós.

– Você não podia ter escolhido um momento melhor para interferir, não é? – Esbravejou olhando de cima.

Mike se levantou e estava prestes a retrucar, mas eu me pus entre eles e segurei os braços de Jacob.

– Ei... Qual é o seu problema?

Ele era maior que eu e muito mais forte, mas Michael estava doente e não achei certa sua postura contra ele. Jacob olhou para o chão e passou a mão pelo cabelo.

– Eu... Eu não sei o que houve. Eu só...

– Se descontrolou sem motivos? – Caçoou o outro. Bufando saiu de perto de nós, indo em direção à saída.

Devagar voltei meu olhar para o garoto a minha frente, meu coração batia rápido enquanto meu cérebro trabalhava. Estava acontecendo exatamente como no livro, será que... Não podia ser.

– Você está bem? – Questionei sem olhá-lo nos olhos, mas vi de relance quando acenou. – Ótimo. Talvez seja melhor irmos, é drama demais para uma noite só – me queixei e comecei a andar para longe, refazendo os passos de Mike.

Eu não permitira que se arriscasse no volante, então me oferecera para dirigir por ele, enquanto Jacob trazia minha caminhonete. Não era certo o que fazíamos, mas causaria muita comoção e demora ter de esperar por um adulto, além disso, a cada minuto parecia que seu estado de saúde piorava e eu realmente queria logo trazê-lo para casa.

Fiquei verdadeiramente admirada com o desempenho de Jacob atrás do volante, temera que pudesse acontecer um acidente, mas ele pilotava a caminhonete muito bem e antes do esperado estávamos em Forks. Estacionei o Suburban rente à calçada e acompanhei o garoto até a porta, sua mãe nos recebeu e foi gentil me agradecendo por ter feito companhia a seu filho, depois de me despedir voltei para a rua onde Jacob me esperava com a caminhonete ainda ligada. Ele saiu para me ajudar a abrir a porta do carona e então me perguntou se eu preferia dirigir.

– Não, tudo bem, você fez por onde – sorri levemente.

Ele assentiu e me ajudou a entrar, voltando para seu lugar. Ainda tínhamos um longo percurso até La Push e o silêncio tomou conta da atmosfera até atingirmos nosso destino, Jacob estacionou longe de sua casa.

– Pode levar a caminhonete mais para perto, eu consigo fazer o retorno...

–Não. – Cortou-me. Então suspirou. – Não quero que Billy saiba que cheguei.

– Porque não?

– O que está acontecendo comigo Aneliese? Porque sinto tanta raiva todo o tempo?

Me lançou um olhar amargurado ao qual não tive como ignorar ou responder. Vi naqueles olhos o amigo que em tão pouco tempo eu conquistara, uma pessoa a quem eu me afeiçoara e de quem eu gostava imensamente. Não queria que sofresse, zelaria por sua felicidade sem nem pensar duas vezes.

Mas a estas suas perguntas infelizmente eu não podia fornecer a explicação.

– Eu não sei – menti. – Me perdoe. – Me perdoe por não poder lhe contar a verdade.

– Porque está se desculpando? Fui eu quem agiu feito idiota, juro que não fiz por mal, eu só... É mais forte que eu. E agora mesmo sinto como se não tivesse mais controle sobre mim. Eu estou com medo – sua voz se tornou quase um sussurro.

Cobri a boca com a mão tentando não chorar, fechando os olhos querendo que isso fosse mentira, ele era só um garoto! Não era justo! Porque não podia ser daqui a uns anos? Porque ele não podia ter o direito de escolher qual destino seguir?

– Jacob, eu... Sabe, isso tudo vai passar – procurei demonstrar firmeza.

– Eu tenho mesmo muita sorte. Por você ser minha amiga.

Nos olhamos por um instante.

– Eu sempre serei.

Aproximei-me um pouco e recostei a cabeça sobre seu ombro. Entendia que ele devia viver um conflito de sentimentos neste instante, mas isso não o fez ser rude comigo. Respirava rápido e com o passar dos minutos foi se acalmando, seu peito subindo e descendo num ritmo cadenciado. Tudo estava silencioso, muito silencioso. E nada parecia estar errado, ao menos por enquanto.

– Você vai ter que ir, não vai?

– Alguma hora eu vou - respondi.

– Eu me sinto incrivelmente bem quando você está aqui.

– Idem.

– E a gente se conhece há tão pouco tempo... Como será que se chama isso?

– Não sei... Amizade?

Suspirou.

– Não, é algo mais.

Ergui meu rosto e me afastei um pouco.

– Eu só acho que... É algo mais – repetiu.

Um movimento chamou nossa atenção e ao virar vimos que vinha de sua casa, Billy apareceu ao portal e olhava ansioso em nossa direção.

– Como ele descobriu que estamos aqui?

Soltei uma risadinha.

– Bem, está entregue – brinquei.

Silêncio por um instante.

– O que você vai fazer amanhã à tarde?

– Estudar – anunciei com simplicidade.

– Estava pensando que talvez você pudesse vir aqui.

– Por quê?

– Bem, eu meio que... Estou trabalhando numa moto antiga e, é bem chato ficar na oficina sozinho, então...

Eu tinha mesmo que estudar e também fazer faxina em meu quarto, meu dia seria cheio, só que eu sentia de alguma forma que o tempo com Jacob era limitado.

– Acho que pode ser.

Ele sorriu e era assim que eu gostava de vê-lo.

A voz de seu pai ecoou pela noite quando ele o chamou e Jacob revirou os olhos enquanto abria a porta e ia embora, acenando para mim antes de se afastar.

Charlie ficou surpreso pela hora em que cheguei, segundo ele não me esperava antes das dez, surpreendentemente eu estava com fome então preparei um enorme sanduíche de queijo e me muni de um copo de suco enquanto fazia companhia a ele, em frente à televisão.

Depois de passarmos horas assistindo ao canal de esportes estávamos suficientemente cansados para ir dormir, ele havia me dito que ainda tinha serviço acumulado na delegacia e que isto estava bagunçando seu psicológico. Mas estava bem, seu trabalho era uma das coisas de que mais gostava e fiquei satisfeita por poder ter voltado a exercê-lo.

Tomei banho, escovei os dentes e parti para meus aposentos. Chegando olhei ao redor; a bagunça a que me referira eram apenas livros fora do lugar e papéis da escola, só que eu me sentia incomodada com a desorganização. No domingo eu daria conta disto, mas hoje só queria deitar na cama e dormir, porque fora mesmo uma sexta-feira exaustiva.

Quase no mesmo instante que fechei os olhos eu já estava sonhando com salas de cinema e lobos correndo pela floresta.

– Então vai sair novamente?

– Vou a La Push pela tarde, mas não se preocupe, não pretendo demorar e também vou aproveitar a manhã para adiantar as tarefas.

– Ah, você vai à reserva?

Charlie sondava meus planos e logicamente quando descobriu meu destino seu temperamento mudou da água para o vinho.

– Bem, você pode ir. Faça o favor de avisar a Billy que a pescaria está marcada para amanhã e que irei buscá-lo bem cedo.

– Sim, bom trabalho.

– Obrigado.

Assim que ele saiu me sentei à mesa para fazer o desjejum. Não me demorei, logo estava de volta ao quarto onde fiquei até a hora do almoço, desci para comer, faminta por conta do esforço aplicado nos estudos e depois tomei banho. Quando estava pronta, o relógio me informava que eram quase duas horas da tarde, talvez fosse cedo, mas o céu estava escurecendo e em breve uma tempestade iria cair, então achei melhor sair de uma vez.

Consegui chegar à aldeia antes da chuva começar, parei a picape próxima a casa e corri para bater à porta, mas não obtive resposta. Chamei, mas ninguém atendeu. Será que eu havia vindo cedo demais? Estava prestes a ir embora quando me lembrei de que Jacob costumava ficar na oficina atrás da residência. Sem muito tempo, pois os trovões se tornavam cada vez mais pronunciados marchei para lá, quando cheguei vi que a grande porta estava entreaberta, mas não consegui avisar sobre minha presença, pois nesse exato momento os pingos começaram a cair.

Entrei e finalmente encontrei Jacob agachado a um canto, quieto. Me aproximei e pus a mão em seu ombro para indicar que chegara, ele se desvencilhou de meu toque como se tivesse lhe batido e ao me focalizar se levantou rapidamente, me olhando de cima.

– O que está fazendo aqui?

– Como assim? Você me chamou para vir, não se lembra? Desculpe se cheguei antes da hora, mas...

– Vá embora.

Me calei e o olhei perplexa. O que foi que ele disse?

– O quê?

Ficou de costas para mim e levou as mãos à cabeça pressionando as têmporas.

– Vai embora daqui Liese.

– Você não pode estar falando a sério. Mas que droga está acontecendo Jacob?

– Eu não sei... – Falou tão baixo que tive dúvidas de ter ouvido certo.

O que era isso? Ele me chamara para vir, não chamara? Porque estava tão alterado? Eu pensava que estivesse bem.

Você está se enganando.

Eu respirava rápido enquanto pensava. Será que era isso? Vinha mentindo para mim mesma, queria tanto que ele não se transformasse que comecei a me apegar à possibilidade de que talvez isso nem mesmo acontecesse. Não havia mais ameaça, o perigo já não morava mais aqui. Entretanto suas atitudes nos últimos dias, sua postura agressiva me indicava que eu estivera redondamente equivocada.

– Eu mandei você ir! – Rosnou.

Seu tom me assustou, ele estava muito bravo e mesmo que algo extraordinário estivesse por acontecer, mesmo tendo justificativa para sua frieza eu fiquei magoada. Trinquei o maxilar.

– Não precisa gritar, eu já entendi.

Era muito humilhante ser expulsa, era assim que eu me sentia, uma intrusa. Outra vez. Era a história de minha vida, ser inconveniente, ser injustiçada. E feito uma tola eu dava a estes homens que me magoavam segundas chances. Eles não faziam por merecer e eu estava cansada de ser ferida. Independente de quando Jacob se transformasse, ele não só se tornaria um lobo, ele mudaria psicologicamente, a mudança já começava: sua intolerância e grosseria já estavam bem claras.

E ele se afastaria de mim, certo como essa chuva que caía eu podia afirmar que ele me abandonaria.

Alcancei a porta e respirei fundo, antes de sair falei sobre os ombros:

– Lembra-se da promessa que me fez? Acho que está prestes a quebrá-la.

A chuva atingindo impiedosamente minhas costas foi a única coisa que senti.


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Notas finais do capítulo

Este é o último de hoje, mas já comecei a escrever o próximo e o postarei até amanhã. Se for postar depois aí escreverei mais, mas tô tentando voltar a rotina de um capítulo por dia. Não deixem de dizer o que estão achando, beijos! :}



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