Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 48
No meio do fogo cruzado.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura para você! (:



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Trailer

"Se algum dia você me vir cair,
Nunca pense que estou aos seus pés.
Se algum dia você me vir chorar
Não se engane achando que vou me humilhar.
Ainda que tenha em seu bolso o feitiço do esquecimento,
Ainda que não esteja mais comigo,
Você vai se lembrar de mim!
Se te dizem que continuo mal,
Juro a você que vai passar.
E se você pensa que não sou feliz,
Eu vou sobreviver.
De repente, a partir de minhas cinzas
Você me verá voar.
Porque amar é algo celestial e você não tem mais asas.
Amar é algo celestial e você não tem mais alma."

Celestial – RBD

~*~

Era sexta-feira, eu estava sentada no refeitório, Mike, Angela e Ben eram os únicos que me acompanhavam, pois eu desistira de frequentar nossa antiga mesa e isto meio que acabara por dividir nossa turma. Na segunda-feira depois da festa de Seth eu me tornara ainda mais decidida a não sofrer pelos outros e ao lidar com as provocações de Jessica e Lauren simplesmente abri mão de sua companhia e o fiz com muita satisfação.

A mudança em minha atitude apesar de sutil foi eficaz. Não tinha sequer uma queixa para fazer quanto a Angela e seu atual namorado, Ben, de fato ficara muito tocada ao tê-los torcendo por mim, apenas Mike sobrara em minha lista negra, mas ele nunca mais me importunou com investidas desagradáveis, pelo contrário mostrava um lado seu que eu passei a gostar muito e sua presença não mais representava um incômodo.

Hoje parecera que todos haviam tido a mesma ideia: se alimentar ferozmente. Os estudos dobrados estavam tomando nossa energia e o horário de pausa para o almoço era quase um júbilo. Havia terminado de comer meu lanche e beber meu suco e já abria a embalagem de torta de maçã, me sentindo ainda faminta.

– Poxa vida, tem mais alguém exausto ou sou somente eu? – Queixou-se Mike com a boca cheia de comida.

Soltei uma risadinha.

– Não é somente você, acredite.

– A semana de provas sempre foi difícil, mas essa vai entrar para a história!

– Verdade Angela. Parece que todos os professores resolveram nos bombardear com lições sem fim.

– Eles estão insatisfeitos com a falta de atenção que o governo dá a queixas recorrentes, como a falta de aumento de salário, por exemplo. Mas em breve isso se resolve.

Ben era muito inteligente, foi fácil notar Angela babando enquanto ele falava e contive a vontade de sorrir, estava feliz por minha amiga, ela era uma das pessoas mais gentis que eu conhecia e vivia a melhor fase de um namoro: o começo. Flores e contos de fadas faziam parte do pacote.

O celular de Mike vibrou sobre a mesa e ele o puxou para olhar algo na tela, em seguida sorriu e nos olhou.

– Ei pessoal, minha mãe não vai abrir a loja hoje, vou ter o dia de folga e estava pensando em ir ao cinema, o que acham?

Fiz biquinho enquanto pensava, nos últimos dias não tivera tempo sequer para respirar e em minha cabeça já não tinha espaço para mais uma equação sequer.

– Bem, terei de consultar Charlie, mas se ele não fizer objeção talvez irei.

– O que você acha amor? – Questionou Angela.

– Eu não sei. O que você acha? – Ben indagou de volta.

Mike e eu nos entreolhamos e os dois prendiam o riso, ao perceber nossa reação o casal corou de forma igual e então foi difícil não sorrir.

– Ah gente, me desculpa, mas vocês são tão lindinhos!

– É Ben, chega a dar dor de barriga.

Por sorte eles riram e não pareceram ficar aborrecidos.

– Por falar em dor de barriga acho que essa torta não está muito boa, mais algum de vocês pediu isso?

Eu havia comprado outra coisa, mas Mike que havia escolhido o mesmo que o amigo assegurou não ter notado nada de anormal em sua porção.

– Talvez seja meu estômago, eu não estava me sentindo bem pela manhã, mas pensei que tivesse melhorado.

– Quer que eu vá com você até a enfermaria?

– Não, tudo bem, não é grave e de jeito nenhum eu perderia aula de trigonometria antes das provas.

– Cara você é muito nerd – zombou Mike.

Ben lhe jogou uma bolinha de papel que fez com o guardanapo e nós rimos.

Logo que o intervalo finalizou Mike e eu partimos para nossa aula de biologia seguindo na direção oposta que os outros dois.

Eu demonstrava um comportamento superprotetor com relação a Charlie, havia decorado os horários que ele tinha de tomar seus remédios, preparava refeições leves e saudáveis e ralhava com ele toda vez que percebia que se excedia no trabalho. Sabia que isso o tirava do sério, mas não podia evitar meu excesso de atenção, pois me sentia culpada pelo incidente, mesmo estando fora do hospital ele tinha de se cuidar para que pudesse se recuperar completamente.

Ligara para ele assim que chegara a casa e de início ele não vira problema em me deixar sair, mas ao avisá-lo que iria de carona com Mike Newton sua bondade minguou.

– Lembro-me da última vez em que saiu com o menino dos Newton, chegou tão tarde que achei que fosse ter de chamar a polícia e olhe que eu sou a polícia!

Prendi os lábios, me lembrava bem deste dia, Mike me deixara na mão e eu talvez não tivesse ficado segura se...

Suspirei.

– Você está certo, ficarei em casa. – Na realidade jamais deveria ter aceitado o convite, onde eu estava com a cabeça? Concluí que devia ter sido a fome.

– Não se importa com isso?

­– Não, está tudo bem, eu tenho mais tarefa para fazer, então vai ser bem conveniente.

Ouvi nitidamente quando bufou.

– Você pode ir Aneliese, mesmo sendo com Newton, sei que você sabe se cuidar.

­­– Não tem problema, eu não ligo, estou falando a sério.

– E eu também. Está se comportando muito bem ultimamente, apesar de não me deixar em paz. Tem minha permissão para sair.

– Mas eu concordo com você, não devia ter topado o convite de Mike, eu não confio muito nele.

– Então porque não convida outra pessoa para ir junto? Digo talvez Jacob esteja disponível.

Semicerrei os olhos, Charlie definitivamente não sabia soar desinteressado, mas sua sugestão acabou por se mostrar satisfatória.

– É uma boa ideia. Vou ligar para ele, se concordar em me acompanhar eu irei então talvez não esteja aqui quando você chegar porque a sessão é por volta das seis e meia.

– Ótimo. Então se divirta e tome cuidado!

– Está bem, obrigada.

A estrada para a casa de Jacob era um tanto escura, a iluminação pública não cobria alguns trechos então eu tinha que confiar nos faróis e em minha intuição, foi bom ter saído com tempo de folga, porque não conseguia dirigir com pressa em um terreno que pouco conhecia. Ainda era o final da tarde, mas por estarmos em uma região completamente coberta por nuvens a pouca luz fornecida pelo crepúsculo não era suficiente para me manter tranquila.

Crepúsculo... Estranho pensar nesse nome com uma conotação diferente da que eu conhecia.

Por fim fiz a curva na estrada acidentada e lamacenta, dirigi por mais alguns metros e logo cheguei à frente da casa vermelha. Não precisou que eu soasse a buzina ou sequer chamasse, pois o barulho do motor da caminhonete já era suficientemente audível, Jacob logo apareceu à porta e sorriu. Chegando ao lado do carro deu uma batidinha no vidro do passageiro como quem pedia permissão para entrar e fiz um gesto para ele ficar à vontade, abriu a porta com facilidade me fazendo recordar de que eu sempre encontrava complicações para lidar com a maçaneta, que por causa do pouco uso sempre ficava emperrada.

– A maçaneta não estava incrivelmente rígida? – Sondei.

Ele piscou.

– Hmmm não. Devia estar?

– Ela está Jacob. Muito. Praticamente não consigo abri-la sozinha, então como conseguiu com tanta facilidade?

Deu de ombros.

– Eu não sei – riu-se. – Não pareceu ter problemas para mim. Liese, você está se alimentando bem ultimamente? – Fez piada.

Lhe fiz uma careta e ralhei com ele de brincadeira mandando-o colocar o cinto, ao manobrar o carro e refazer o trajeto nós já estávamos rindo como se estivéssemos ali há tempos.

O percurso até Port Angeles era em suma uma grande rodovia que ligava as duas cidades, eu não tinha nenhuma confiança dirigindo por aqui então mais uma vez usei da precaução como melhor saída. Enquanto isso discutia com Jacob que insistia em dizer que sabia pilotar e que fazia isso muito bem – como sempre pensando ser melhor do que eu.

– Eu não posso acreditar que você já teve chance de pegar um carro sem que Billy soubesse.

Ele me olhou com a cara conspiradora.

– Essa é a meta de nossas vidas, não é? Sermos rebeldes.

– Mas Jake...

– Sim eu sei, estou brincando. Já faz um tempo que fiz isso, Embry apareceu lá em casa com um Voyage antigo que pegara sem sua tia perceber, Quil e eu estávamos à toa, então... – Deu um sorriso travesso.

– Meninos e seus brinquedos – soltei um muxoxo. – E vocês nunca foram descobertos?

– Por sorte, não, Billy estaria falando até hoje se tivesse percebido – revirou os olhos. Depois pareceu se lembrar de algo e tornou a sorrir. – Aquele foi um dia bom.

Analisei sua expressão, parecia saudosista, não achei que a tivesse lido bem.

– O que foi?

Ele desviou o olhar para fora e ficou em silêncio, me senti confusa, o que havia acontecido?

– Jake, você está bem?

– Estou. Só... Essas lembranças estúpidas agora me trazem muito ódio.

Ergui as sobrancelhas surpresa com sua sentença.

– Ódio? Por quê?

– Estou falando a você sobre um amigo meu de quem não quero mesmo saber.

Não foi preciso muito esforço de minha parte para descobrir quem era.

– Mas o que Embry fez? Vocês eram mesmo grandes amigos.

– Sim, éramos até ele desaparecer por uns dias e voltar na companhia da ‘trupe do Sam’.

Eu olhava pelo pára-brisa prestando atenção no caminho enquanto refletia. Embry já estava junto de Sam? O que isso significava? Eu sabia bem o que significava e não podia crer que já havíamos chegado a essa parte. Fitei Jacob que ainda não olhava para mim e foi fácil notar que não estava nada feliz, gostava do amigo, não queria odiá-lo, mas em sua cabeça o que ele fizera tratava-se de uma traição, estava em comunhão com o inimigo... Se Jacob soubesse que todos os seus pensamentos estavam equivocados. Ele logo saberá. Mordi o lábio tentando não pensar outra vez nessa perspectiva.

Também fiquei em silêncio, simplesmente não sabia o que falar, era horrível ter informações privilegiadas quando queria compartilhá-las e não podia. Mais uma vez estava presa pelas amarras da confidência e elas me limitavam de uma maneira que me incomodava muito.

Avancei vários quilômetros até que ele finalmente falou outra vez, comentando algo aleatório sobre a paisagem, dava para ver que se esforçava para retomar ao clima anterior e logicamente nenhum de nós queria passar o restante da noite mergulhados em desânimo então não demonstrei a menor relutância em lhe acompanhar para assuntos mais leves.

Depois de deixar o carro no estacionamento seguimos preguiçosamente até a frente do grande complexo, Mike surgiu à vista e acenou enquanto vinha ao nosso encontro, observou Jacob com claro desapontamento antes de nos cumprimentar com um rápido ‘oi’.

– Onde estão os outros? A sessão começa em alguns minutos.

– Eles não vêm. – Encolheu os ombros. – Jessica e Lauren não acharam o passeio muito convidativo, Tyler está sem dinheiro e Angela ficou cuidando de Ben que aparentemente está muito mal, com virose gástrica.

– Então era isso que ele tinha? Coitadinho... E ele achou que pudesse ser a comida.

– Pois é.

O silêncio prevaleceu por um minuto. Se fosse igual à cena de ‘Lua Nova’ eu não previa coisas boas, já que estava óbvio que os dois não simpatizavam um com o outro; era interessante ver que mesmo com minha interferência a história sempre dava um jeito de seguir seu rumo.

Querendo a todo custo propiciar um passeio agradável tratei de apresentar os rapazes um ao outro, mas ao ver que nenhum deles se incomodou sequer em dar um aperto de mãos logo declarei fracasso.

O filme que veríamos ao menos seria de ação e em geral era algo que interessava aos homens, portanto esperei que até o final da sessão os nervos estivessem mais calmos. Por mais que preferisse a companhia de Jacob à de Mike não pude ser rude com ele quando me chamou para sentar ao seu lado, entretanto Jacob que era extremamente confiante apenas riu e ocupou o outro lugar vazio lançando ao rapaz um rápido sorriso irônico. Como ainda tínhamos tempo me ofereci para comprar algo para comer, esperando que em minha ausência eles não tivessem escolha além de se falar.

– Mas é claro que não Liese. Diga o que quer e eu trarei para você. Já fez o favor de me dar a carona.

Olhei Jacob um tanto surpresa e logo um sorriso surgiu em meu rosto, ele estava sendo um cavalheiro, mesmo à sua maneira e achei muito atencioso de sua parte.

Do outro lado Mike deu um pigarro.

– Eu já estava indo ao snack bar, escolha o que quiser.

– Ah...

– Acho que você não ouviu quando me ofereci para o serviço – interveio Jacob.

– E acho que você não notou quando disse que eu estava pensando nisso primeiro.

– Quer saber, você está certo. Pode ir, eu fico e faço companhia a ela – se recostou ao banco enquanto seu sorriso reluzia à fraca luz.

Dei uma olhadela em Mike e parecia perdido, procurando algo para falar. Eu não gostava nada de estar no meio do fogo cruzado então intervim:

– Não temos muito tempo então porque os dois não saem e me trazem coisas deliciosas para comer? Que tal? Ótima ideia, não é? Então vamos!

Os empurrei e sem escolha ambos se levantaram e começaram a se retirar, observei até que saíssem de meu campo de visão e suspirei cobrindo o rosto com as mãos. Não imaginava que Mike fosse reagir dessa forma esquiva, me senti agradecida por ter trazido Jacob, já que em sua ausência eu teria acabado outra vez nas garras de meu atrevido amigo. Ao menos agora fizera questão de vir com meu próprio veículo.

Quando eles voltaram com cachorros-quentes e latas de refrigerante os trailers haviam acabado de começar. Olhei a embalagem que Jacob me entregou e fiz uma careta.

– Eu...

– Está tudo bem, é vegetariano.

– Hmmm, então obrigada.

Mike reivindicou minha atenção de imediato informando que havia trazido bebida diet e que depois da sessão nós poderíamos tomar sorvete. Agradeci e fiz questão de começar a comer para evitar ter de responder a qualquer outra investida embaraçosa vinda dos dois.


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