Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 47
A fogueira.


Notas iniciais do capítulo

Olá. Agradecendo antes de tudo pelos comentários e pelas recomendações, por quem está acompanhando a fanfic, mesmo aqueles que são leitores fantasmas, muito obrigada a vocês, eu leio coisas lindas sempre que venho aqui que me ajudam de verdade a ir em frente. Me mantive todo esse tempo distante, pois estava desenvolvendo um trailer para a fanfic, já que em todos esses anos ela nunca teve um, ele já está no youtube e vou deixar o link junto com o capítulo para quem quiser assistir.
Obrigada e boa leitura!



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Trailer

"Eu te dei a chave quando a porta não estava aberta, admita.
Veja, eu te dei fé, transformei sua dúvida em esperança,
Você não pode negar.
Agora estou completamente sozinho
E a alegria se transformou em lamentação.
Me diz onde você está agora que preciso de você,
Pois não consigo lhe encontrar em lugar nenhum.
Quando você desmoronou, eu não fui embora,
Fiquei do seu lado.
Eu te dei atenção, te dei a roupa de meu próprio corpo,
Mostrei a você o jogo que todo mundo estava jogando
E fiquei de joelhos quando ninguém mais estava rezando.
Onde você está agora que preciso?
Eu preciso de você mais que tudo!"

Where Are Ü Now – Justin Bieber

~*~

No domingo a rotina já havia se tornado trivial. Eu estava acostumada a acordar sozinha e a passar o dia lidando com tarefas simples, sem grandes dificuldades, na realidade eu nunca tivera tantos exercícios escolares como agora, faltava pouco mais de uma semana para o início das provas e as revisões que os professores faziam eram insanamente complexas. Eu tinha tarefa de matemática e biologia e gramática e espanhol... Eram coisas demais em minha cabeça, mas eu estava perfeitamente acostumada a lidar com estudos pesados, em minha antiga escola o ensino sempre fora reforçado. A parte que as pessoas deixavam passar era que se concentrar nas responsabilidades escolares podia ser muito recompensador e no meu caso até prazeroso. Eu tinha motivos suficientes para manter minha mente ocupada e distante de distrações.

Tinha planos de tirar o dia para continuar pondo em prática o cronograma de estudos que iniciara no sábado, não tinha outros afazeres que reivindicassem meus cuidados, pois mantinha a casa sempre muito limpa e bem arrumada e sendo somente eu a pilha de roupas sujas não era tão grande.

Acordara bem cedo, cerca de sete horas da manhã, por não ter mais o costume de assistir televisão até tarde ia para cama todo dia por volta das nove e descansava o suficiente para não me sentir sonolenta. Depois do banho e de tomar um café reforçado ia subindo de volta para o quarto quando o telefone tocou, atendi na metade do segundo toque e era do hospital. Imediatamente fiquei apreensiva, será que havia acontecido algo com Charlie? Na véspera quando o visitara na parte da noite ele parecia muito bem. A mulher do outro lado da linha logo me acalmou me dizendo que não se tratava de nada grave.

– Na realidade é o contrário – continuou com o tom agradável. – Ele recebeu alta hoje e já pode ir para casa, mas o doutor não o deixou ir andando como ele pretendia, por isto estou ligando. Se importa em vir buscá-lo?

Revirei os olhos frente à teimosia sem fim de Charlie, mas já sorria largamente quando respondi que iria. Não podia acreditar, ele estava voltando! Isso era ótimo, sua recuperação havia se dado num período bem menor do que eu prevera, estava orgulhosa dele e incrivelmente aliviada.

Bastou apenas que eu colocasse um moletom e as botas de chuva e logo estava do lado de fora caminhando até a picape. Era interessante ver que além de todas as mudanças o clima também estava modificado; desde o meio da semana se tornara previsível, pela manhã quase não chovia, às vezes um fraco chuvisco e então ao cair da tarde uma tempestade se formava.

Do lado de dentro do carro me livrei de meu capuz e coloquei a chave na ignição, logo que liguei a picape ela rugiu para a vida e dei ré devagar, manobrando para descer a rua. Era bom que não houvesse mais estranheza em dirigir, talvez se chegasse a pegar outro veículo encontrasse alguma dificuldade, mas com a caminhonete era fácil e natural, eu me afeiçoara a ela e a sensação de liberdade, de não depender de outra pessoa era muito gratificante.

Apesar de tudo, viver em Forks não deixava de ser algo estranho, quando eu parava pra pensar que estava dentro de um livro dificilmente conseguia voltar ao estado anterior de conformismo. Eu devia estar apavorada, devia estar mortificada e afoita por partir, mas a verdade era que em toda minha vida nunca houvera um lugar com o qual me identificara tanto quanto este.

Aos finais de semana a cidade ficava mais movimentada, havia muitas atividades de pesca e trilha e Forks vivia também do turismo local, era um lugar bonito e interessante e talvez até misterioso, só que para mim os mistérios já não faziam parte das qualidades.

Finalmente alcancei o hospital e estacionei na primeira vaga disponível, ansiosa por ir logo ao encontro do xerife.

– Não acho que isto seja necessário.

Já em casa Charlie fora direto para frente da televisão se queixando de que no hospital seu canal favorito de esportes não estava disponível e tentava dialogar comigo para me dissuadir de ligar para os Black.

– Eu prometi ao Billy que avisaria se tivesse boas notícias e acredito que esta seja a melhor de todas. Vamos lá, não seja tão rabugento, ele é seu amigo e vai ficar muito contente de saber que está de volta.

Ele apenas bufou, mas não fez mais objeções. Com um sorriso refiz o caminho até a cozinha, procurei o número na pequena agenda telefônica e logo estava discando. Depois de três toques alguém atendeu.

– Jacob? Sou eu, Aneliese.

– Ah, olá Liese, tudo bem?

– Sim, estou muito bem e você?

– Também.

Eu não falara com ele desde o dia na praia, mas mesmo assim de algum modo minha afeição só parecera crescer, me pegava de vez em quando pensando nele e imaginando como estaria.

Sem delongas contei a ele a boa nova e enquanto falava comigo podia ouvir claramente a voz rouca de Billy ao fundo interessado em saber o que se passava. Eu ri ao ouvi-lo ralhar com o pai ao passo que Billy retrucou de mau-humor.

– Deixe de ser intrometido – falou longe do fone e então sua voz se tornou mais clara. – Me desculpe Liese, meu pai parece uma velha fofoqueira. Ele está me dizendo para lhes avisar que hoje é a festa de aniversário do filho do Harry e que ele quer que você e Charlie compareçam.

– Oh é mesmo? Bem, obrigada Jake, mas eu tenho muita tarefa escolar para fazer, não sei se será possível, mas Charlie com certeza irá.

– Irei aonde? – A voz ecoou do outro cômodo. Pedi licença a Jacob e expliquei rapidamente o que se passava. – Não, de jeito nenhum, vou ficar em casa, hoje tem jogo!

Soltei um muxoxo.

Ele não quer vir, não é? ­Espere um momento Liese... O que foi pai? – Uma pausa enquanto os ouvia conversar ao fundo. Logo pude ouvir Jacob suspirando. – Liese, será que você pode colocar Charlie na linha? Billy quer falar com ele.

– Oh claro. Só um minuto.

Deixei o fone sobre a bancada e fui até a sala.

– Billy quer falar com você. – Ele me olhou de soslaio, sabia que seria relutante e achei melhor vir tratar com ele longe dos ouvidos alheios. – Vamos, é seu amigo Charlie, vá falar com ele. É sua obrigação – cruzei os braços.

Continuou me olhando e então se levantou vencido.

– Porque sinto que você virou o adulto da casa?

Ri. Se ele falava isso era porque claramente eu estava certa, era uma sensação boa, ele em geral era bem cabeça-dura. Conversou com o amigo por alguns minutos e por fim pareceu ceder à pressão, pois o ouvi combinar de encontrá-lo mais tarde na reserva. Quando voltou para a sala eu estava sentada sobre o braço do sofá assistindo distraidamente aos comerciais.

– Bem, parece que tenho um compromisso – resmungou.

– Ouso dizer que achará bem agradável, não sei por que complica tanto, você bem que precisa se distrair, e o médico deixou ordens explícitas de que você poderia retomar seus antigos afazeres, mas com calma, uma coisa de cada vez.

– Não havia qualquer jeito de me convencer a não ir à delegacia amanhã.

– Sim, sei disto. Pobre doutor Munch, fica difícil para ele fazer seu trabalho quando você insiste em ser teimoso.

– Ficou muito difícil para eu fazer meu trabalho enquanto ele me manteve naquele quarto de hospital – retrucou de cara feia.

Eu contive a vontade de rir, no geral estava animada por Charlie estar de volta, era bom não ter mais que ficar sozinha e eu sentira falta de algumas coisas, como cozinhar para alguém além de mim e voltar a assistir os jogos da temporada.

– Como me disse que não está com fome vou voltar para o quarto, tenho uma porção de deveres, mas desço para fazer o almoço. Você pode ficar bem quietinho assistindo sua televisão, nada de fazer esforço ou hoje mesmo ligo para o doutor e o mando vir te ver.

– Você sabe que vai comigo a La Push, não sabe?

Eu parei no meio de uma passada e me virei.

– Não, eu não vou não.

– Foi você quem me obrigou a isso, então você vai Aneliese, já lhe disse para não passar todo o seu tempo ocupada com responsabilidades, você é jovem, não é saudável se manter enfurnada dentro de casa. Além disso, Jacob está querendo te ver.

Minha boca se abriu em descrença.

– Está me dizendo que tenho que estudar menos?

– Estou lhe dizendo que tudo o que é demais faz mal.

– E como sabe sobre Jacob? Acaso vocês se falaram? Eu duvido.

– Jake é um bom menino e eu... Bem, eu acho que não há nada de errado em vocês serem amigos, vou voltar a assistir o jogo e você pode ir fazer suas coisas, mas hoje quando for a reserva você irá também.

O que mais surpreendia em Charlie era sua capacidade de se fazer respeitar sem sequer precisar usar da força ou de um tom severo, eu soube a partir dali que não tinha escolhas, hoje à noite eu estaria em La Push.

Durante o dia procurara uma maneira de fazê-lo mudar de ideia, lembrara-o que eu ainda tinha um castigo a cumprir, mas ele me liberou do dever e quando tentei expressar minha timidez, explicando que nem todos na reserva gostavam de mim ele fez pouco caso e me disse que era tudo coisa de minha cabeça. Por fim ao cair da noite fora obrigada a deixar os estudos de lado e me arrumar para um passeio. De qualquer modo isto não implicava em um pesadelo, de fato estava muito agradecida por ter chance de sair de casa e La Push se tornara um de meus lugares preferidos.

Ao menos não houve discussão quanto a que veículo usar, Charlie sabia que não tinha permissão para dirigir e como eu me identificava muito mais com a caminhonete resolvemos que o mais adequado seria usá-la. Antes de tudo, porém, dirigi até o centro, havia uma loja grande de variedades e foi nossa melhor escolha para comprarmos o presente do aniversariante. Era por volta das sete horas quando descemos a estrada a caminho da reserva, havia chovido bastante durante a tarde e agora tornara a cair apenas o chuvisco leve. Nenhum de nós abriu mão de seu casaco, pois ventava e o tempo estava frio.

Como eu só dirigira até o povoado uma vez precisei da ajuda de Charlie para acertar o caminho, ao chegarmos ao lugar onde ficavam as pequenas casas de madeira tive que avançar um pouco até que avistamos o aglomerado de gente ao redor de uma pequena residência. Tivemos de andar um pouco até alcançar nosso objetivo, mas mesmo ainda longe fomos recebidos por gritos de boas vindas e risadas. Parecia que todos se conheciam e fiquei sem jeito ao acompanhar Charlie até o lado de dentro.

Harry e a esposa vieram nos receber e me cumprimentaram com educação, em Sue ao menos ao acreditava ao ouvi-la dizer que estava contente com minha presença, já o outro ainda me olhava com certa suspeita e percebi que não importava o que fizesse eu ainda seria tratada como ‘a garota dos vampiros’.

Desviei o olhar procurando não deixar meus pensamentos vagarem livremente naquela direção, eu agora me tornara perita em evitar as lembranças, quase fugia delas, pois sabia da capacidade infalível que tinham de me entristecer.

Um rapaz alto e magro veio até nós e nos cumprimentou, reconheci Seth e ele sorriu quando lhe entreguei seu presente.

– Parabéns!

– Obrigado.

– Foi Aneliese quem escolheu, deixei nas mãos dela já que não tenho muito conhecimento no gosto da juventude – explicou-se Charlie.

– Bem, disso ninguém duvida.

A voz de Billy soou às nossas costas e nos viramos dando de encontro com ele e o filho. Ao me ver Jacob sorriu e retribuí sua gentileza. Depois dos mais velhos trocarem algumas palavras ganhamos o direito de nos afastar e o segui até o quintal sem cerca nos fundos, lá havia bancos de madeira, grandes toras de árvores improvisadas em assentos, Leah acenou para mim perto da churrasqueira onde ela e a mãe preparavam a comida, mas o mais impressionante era uma grande fogueira, gigantesca e imponente tornava extremamente agradável ficar do lado de fora.

Escolhemos um lugar próximo ao fogo e nos sentamos lado a lado.

– Você está bonita.

– Obrigada.Você também.

Ele usava jeans escuros e uma camisa clara de mangas longas, a cor ressaltava sua pele e os cabelos soltos o haviam deixado com um ar muito... Bem, ele realmente estava bonito. Ao observá-lo meu olhar recaiu sobre seus sapatos.

– Veja só, é exatamente isto que compramos para Seth, só que os dele são pretos. Acha que vai gostar?

– Ah... Vai, com certeza. Sei que pensa que sou o único garoto com bom gosto por aqui, mas dou uma chance para os outros.

Gargalhei.

– Meu Deus Jacob Black, sua presunção está fora dos limites!

Ele riu.

– Mesmo assim eu não sou a pessoa mais linda da festa – seu olhar intenso prendeu o meu e então desviei o rosto sentindo minhas bochechas quentes. Não era somente timidez por não saber lidar com cantadas, eu ainda achava difícil lidar com a afeição que ele criara por mim, pois nossos sentimentos eram diferentes. Eu sequer tinha perspectiva de voltar a pensar em relacionamentos amorosos, eu queria me manter distante disso, pois meu coração havia sido muito maltratado.

Seth juntou-se a nós agradecendo-me pelo presente e pareceu verdadeiro ao dizer que gostara muito do que ganhara. Sendo ainda mais jovem que Jake sua conversa era leve e os dois amigos juntos conseguiram retirar boas risadas de mim.

Com o avançar da noite o grupo foi se tornando cada vez maior, Jacob me apresentou a seu primo Quil Ateara que muito confiante ocupou o lugar vazio ao meu lado. Reconheci algumas meninas que conhecera na praia e minha timidez por fim se tornou quase nula. Seth causou comoção ao tentar conseguir uma lata de cerveja com o argumento de que já havia se tornado grande o bastante para beber e todos explodiram em gargalhadas quando sua mãe ralhou com ele o mandando tomar seu copo de refrigerante sem fazer cena.

O ponto alto se deu quando Leah trouxe seu jogo de mímica e todos se comprometeram em jogar. No começo houve certo receio, mas logo havia o som de urros e palmas invadindo o ar, o clima descontraído contagiando os convidados.

Era a vez de Jacob que sorriu e se levantou indo para o meio da roda, pegou uma carta e a leu rapidamente, assentindo para si mesmo.

– Estão prontos?

– SIM! – As vozes se tornaram uníssono.

Começou a gesticular, ouviu-se todo o tipo de coisa e eu ria com os absurdos. Conforme as alternativas foram acabando, no entanto, aos poucos descobri qual era a resposta.

– Um bicho?

– Não, um monstro?

– O chupa-cabra?

– HAHAHA.

– É o Michael Jackson?

– Cala a boca, Quil.

– Mas que diabos é isso, Jacob?

– É branco, usa capa, mas o que é essa outra coisa que você está fazendo?

– Uma caixa?

– Uma cama?

– UM CAIXÃO!

– Um cadáver? Uma múmia?

– Não...

– Um vampiro.

Houve silêncio quando falei, o olhar de Jacob encontrou o meu e ele assentiu sorrindo, logo os demais tornaram a rir e a conversar, mas não deixei de notar que nem todos haviam voltado a ficar em clima de festa. Nitidamente vi Billy e Harry ao fundo se entreolhando e cochichando algo, em seguida olharam para mim e de repente eu já não estava mais à vontade. Me levantei e comecei a andar pelo lado da casa, onde o caminho também levava a parte da frente, não havia ninguém aqui, todos estavam longe, perto da fogueira, mas me senti melhor mesmo enfrentando o frio. Na sacada havia um grande banco e resolvi me acomodar nele de forma que não ficasse tão exposta ao sereno.

Respirei fundo enquanto cruzava os braços sobre o peito e fiquei encarando o chão realmente sem nada ver. Mesmo tendo se passado apenas uma semana eu me encarregara, eu me esforçara demais para deixar as recordações no passado, para apagar de minha mente quaisquer ligações que me levassem a reviver as cenas horríveis do último sábado. Não fora fácil convencer a mim mesma que eu estava bem, que eu ficaria bem, que meu coração machucado um dia voltaria a bater intacto. A jornada de cura que enfrentava incluía apenas um mandamento: não pensar neles. Nunca mais. Mas havia momentos em que era difícil fingir, se eu tivesse continuado onde estava talvez houvesse me desfeito em lágrimas.

O ruído de passos se tornou audível e Jacob surgiu do lado da varanda, parando ao me ver.

– Liese, está tudo bem?

– Está. – Também me tornara boa em mentir sobre meu verdadeiro estado de espírito, era mais fácil quando mantinha a mágoa encerrada dentro de meu peito.

Ele veio até meu encontro, subindo vagarosamente os degraus de madeira que rangeram sob seus pés.

– Sabe que não precisa mentir. Foi algo que eu fiz?

– Não, você não fez nada. – Você não tem culpa por não saber em que mundo perturbador estamos vivendo. – Diga-me Jacob, como consegue me ler tão bem?

Deu de ombros.

– Não sei. Não a acho difícil de desvendar, está claro em seus olhos, em seu rosto. Você está triste.

Me perguntou se havia problemas em sentar junto a mim e mesmo preferindo estar sozinha, mesmo desejando poder sumir e ficar em algum lugar em que pudesse prantear minha perda em silêncio eu disse que tudo bem, porque ele mesmo me ensinara a não se manter distante dos problemas, pois não era a resposta.

Mesmo sentado era centímetros mais alto do que eu e também se tornara forte, precocemente desenvolvido para a idade. Detestava admitir o quanto gostava de tê-lo próximo, me senti mais quente e acolhida junto a ele, quase podia fingir convincentemente que estava bem.

– Você parecia estar se divertindo.

– Eu estava. Me desculpe.

– Não se desculpe, eu... Eu não sei bem o que está sentindo, mas imagino que não seja nada bom. Sabe que ele não vale a pena, não sabe?

– Eu sei. Não posso dizer se um dia ele valeu – mordi o lábio contendo a vontade de chorar. Falar sobre Edward era extremamente difícil, ele representava uma parte importante de minha vida, uma grande parte. Me sentia tola todas as vezes que pensava no quanto abrira mão por causa dele, mesmo antes de ter a chance de lhe conhecer eu já o amava. Estava fascinada por tudo o que o envolvia e o via com olhos cegos. Sentia que agora meus olhos podiam chorar lágrimas de sangue, sentia que seria capaz até mesmo disso. Não havia uma parte de mim que não estivesse afetada por sua ausência, pela forma cruel com que ele se distanciara de mim. Ele realmente conseguira me destruir.

– Sou uma peça com defeito neste quebra-cabeça que é o amor, Jake. Sinto que jamais irei me encaixar novamente.

– Tudo bem. Eu não me importo de ficar fora do jogo junto com você.

O olhei e ele sorriu de leve, senti as lágrimas caindo por minha face e me apressei em limpá-las.

– Obrigada – murmurei. De verdade, obrigada por isso, eu não vou me esquecer.

Ficamos apenas em silêncio, observando a floresta barulhenta, povoada de vida, vagalumes e sapos, grilos e alguns pássaros perdidos. Logo me pareceu uma estupidez ter me afastado da diversão, eu ouvia o ecoar das vozes e quis poder ser uma delas, qualquer uma que não tivesse que lidar com perdas esmagadoras.

– Seth ficará feliz se voltarmos.

– Sim, ficará. Me perdoe por ter lhe tirado de lá, ele parece admirá-lo muito, talvez até se espelhe em você, tem de ser um bom exemplo Jacob.

Sorriu.

– Sou o melhor.

Rimos aos sussurros.

– Ele é um bom garoto – falou simplesmente.

– Você também é – empurrei-o de leve com o ombro.

– Billy nem sempre pensa assim.

– Billy é seu pai e pais têm como dever primordial ser crítico com os filhos.

– Talvez você esteja certa.

– Eu estou certa.

Ele fez uma cara de espanto.

– Meu Deus Aneliese Rodrigues, sua presunção está fora dos limites!

Não pude evitar rir, com ele era sempre fácil conversar, eu gostava demais de passar o tempo ao seu lado. Não havia dúvida de que se tornara meu mais novo melhor amigo e quis poder tê-lo para sempre. Nos levantamos decididos a voltar e ele me ofereceu seu braço, ponderei por um instante e então aceitei a oferta, ficando muito próxima a seu corpo. Estremeci quando começamos a andar e ficamos de novo sob o céu de inverno.

Naquele minuto tudo estava bem.

Ao longe na floresta um uivo alto soou como um lamento cortando o ar e Jacob não pareceu sequer dar importância, continuei andando, me aninhando ainda mais perto, desejando que nossos passos fossem suficientes para que ele se mantivesse para sempre longe desse amontoado de magia que nos cercava.


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