Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 40
Feridas sob a chuva.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Trailer

Especial: Edward PDV - Parte 3

"Você deveria saber que a amo
Mesmo que eu não diga isto muitas vezes.
Talvez jamais saiba o que fiz,
Pois estou perdido na distância,
Você me olha como a um estranho
E para mim é como se estivesse com medo do perigo.
Poderia ter te mostrado a América,
Todas as luzes brilhantes do universo,
Poderíamos ter alcançado os pontos mais altos,
Um lugar diferente, uma vida diferente.
Tudo o que você tinha de fazer era me mostrar amor.
É verdade que não somos perfeitos,
Há um fogo dentro de mim
Que significa que irei lutar pelas coisas que valem à pena
Se fizerem com que me sinta completo.
Estou preparado para perder tudo o que tenho
Porque para mim parece que nada poderá nos salvar."

Show Me Love – The Wanted

~*~

Ela terminou de falar e baixou a cabeça, esperando que algum de nós se manifestasse. Ninguém ousou dizer nada, eu muito menos, estava assustado demais, preocupado demais para conseguir soar casual. Como eu devia agir agora? Seria tarde demais para voltar atrás? Sim, talvez sim, mas eu ainda podia usar a vantagem de ter descoberto seu plano antes do esperado, Aneliese não demonstrava nervosismo, estava perfeitamente à vontade, com certeza se achando muito esperta, se vangloriando por seu excelente desempenho. Qual seria sua recompensa quando ela entregasse a eles nossas cabeças? Bem, eu sabia exatamente qual seria. Os Volturi repeliam humanos com uma facilidade absurda, os tratavam como criaturas inferiores, sem importância. Eram presas, nada mais que isso, portanto não mereciam respeito, mas por vezes quando se mostrava conveniente compactuavam com eles, os usavam sem pudor e ela era apenas mais uma em sua longa lista de manipulados. Sim, eu conhecia seu fim, seria a morte, ela serviria de alimento para qual deles estivesse mais faminto e então deixaria de existir.

O que será que achava que ganharia por seu pequeno serviço sujo? Gostaria de saber qual havia sido a promessa utópica que a convencera a se juntar a eles, o que no mundo ela poderia querer tanto? Se tornar uma vampira? A danação eterna? Era isso? Aneliese consideraria uma boa troca dar a vida do homem que amava para viver alguns anos a mais nesta terra de seres egoístas e mesquinhos? Seria capaz disto?

Mas a quem eu queria enganar, não havia amor! Nunca houve, não passou de uma mentira muito bem construída e interpretada. Ela era uma ótima atriz, tinha de admitir, talvez planejasse seguir essa profissão e acreditei que obteria sucesso, uma vez que conseguira me enganar: alguém que poderia desvendar as intenções e pensamentos dos outros. Ela devia saber que era imune a meu dom, talvez Aro tivesse procurado por anos alguém como ela, alguém que pudesse passar despercebido e que não tivesse compaixão.

Ela era a peça perfeita.

Todos nossos momentos juntos agora nada mais eram que parte do pacote, todos eles. Os beijos, os abraços, as promessas de amor. E eu lhe daria muito mais se ela tivesse me deixado, aprendi a acreditar novamente em coisas boas e em trivialidades e clichês como casamento, uma vida longa e feliz juntos. Seria passível de encontrar a verdadeira felicidade, tudo o que sempre quis ao lado dela. Ela me trouxera o que nenhuma outra fora capaz de trazer: esperança. Eu mataria e morreria por essa mulher e ela seria capaz de fazer o mesmo, sem se dar conta. Sacrificaria-me e a si mesma antes que pudesse sequer notar. Destruíra tudo o que tínhamos, o coração morto em meu peito tornou a ser apenas um órgão dispensável, eu não o queria mais para nada, antes pensava que poderia entregá-lo junto de todo meu ser. Antes acreditara em ilusões e contos com finais felizes, antes eu fora um parvo feliz, mas ainda assim um parvo. Eu não podia acreditar que ela fora capaz de agir tão calculadamente.

Agora só o que eu queria era me afastar disto tudo o mais rápido que pudesse.

Por um lado sua missão não falhara por completo, pois ela conseguira mesmo me matar, eu tornaria a me render às trevas, à existência de escuridão que fora a única que conhecera por mais de um século. Ela teria tudo, com exceção de mim e talvez isto lhe fosse mais que suficiente.

Muito tempo parecia ter se passado, mas a realidade era que meu raciocínio veloz me levou longe em poucos minutos, Aneliese ainda aguardava uma resposta, sua silhueta pequena e perfeita não demonstrava sinais de que estivesse sofrendo. Tive inveja dela por isto.

– Por favor – sua voz baixa enfim se manifestou – digam alguma coisa.

Vi que alguns estavam prestes a se levantar e confrontá-la, havia muito rancor e raiva direcionados não somente a ela, mas também a mim e não lhes culpei, porém fora eu quem trouxera este problema para dentro de nossa casa e seria eu quem o levaria para longe. Olhei significativamente para cada um dos rostos enquanto lhes dava uma negativa tão imperceptível que Aneliese não pôde notar.

Meu pai entendeu o sinal, mas vendo que ninguém diria nada tomou a palavra:

– Perdoe-nos, Aneliese. É apenas que... Bem, não é exatamente o que se espera ouvir quando conhece alguém tão pouco.

Sim, não era. De fato não a conhecíamos, estava claro, torci para que a frase de meu pai demonstrasse o tanto de desprezo que ela merecia ouvir, já que não fazia parte desta família, era uma intrusa e a queríamos fora daqui.

Pareceu que o anúncio obteve o efeito desejado, pois de imediato Aneliese se levantou e anunciou que estava indo embora, como obviamente não haveria objeção começou a andar, parou apenas para agradecer meus pais por recebê-la então retomou o passo refazendo o caminho que levava para a garagem. Não foi preciso convite, eu já estava em seus calcanhares antes que cruzasse a saída.

Observei enquanto alcançava o carro e abria a porta sem cerimônia, deslizando para dentro com uma propriedade indevida, parecia ansiosa em partir, talvez tivesse se dado conta de que era perigoso continuar onde estava. Talvez tivesse pressa em ir e relatar que talvez o plano falhasse. Tudo indicava que eu tinha que decidir o que fazer, estava claro que não podia deixá-la ir embora sem ao menos conversarmos, queria lhe dar uma chance de se explicar, de dizer que voltaria atrás e que isto nos manteria a salvo, mas ela não parecia verdadeiramente disposta a ceder.

E devia estar, refleti enquanto manobrava rapidamente e saía da mansão, logo alcançando a estrada acidentada e disparando por ela. Porque não muda de idéia? Porque não voltou atrás antes? Nunca lhe tocou o sentimento de piedade, nada que fizemos pôde ser capaz de mudar sua resolução?

Como ela podia ser tão fria?

Quis que falasse. Que dissesse qualquer coisa, estava lhe dando tempo para anunciar que se arrependera, mas nada aconteceu. Enquanto avançávamos ela apenas fitava a chuva que viera junto com a noite, fitava a paisagem através da janela, respirando com calma, com indiferença. Isto me enraiveceu, perturbou-me sua impassibilidade e quando estávamos consideravelmente distantes dos outros desacelerei o carro e parei no meio da estrada.

Ela suspirou profundamente e continuou olhando para fora, parecia peculiarmente interessada na chuva ou talvez só estivesse evitando que eu visse seu rosto e assim pudesse desmascará-la com eficiência.

Quando ficou óbvio que não diria nada, de má vontade iniciei a conversa.

– Acho que me deve alguma explicação, Aneliese – falei seriamente.

Não havia por que chamá-la por seu apelido, era visível que isto não se encaixava mais, no entanto pareceu aborrecê-la e quando respondeu soou quase um atrevimento:

– Talvez deva, mas isto não quer dizer que possa.

Como desconfiei, ela não iria se render. Claro que não, Aro é extremamente faceiro, achou mesmo que ele escolheria qualquer um para representá-lo? Esta garota sabe perfeitamente o que deve fazer.

– Minha família está com medo de você – falei sem pensar. Podia ter me segurado, mas meu lado emocional quis apelar de sua misericórdia.

Sua réplica deu um pequeno sinal de que talvez pudesse reconsiderar:

– Mas a que se deve este medo? Precisa me explicar.

Tive o cuidado de escolher as palavras certas, fiz uso de algo que já lhe dissera antes demonstrando que nosso temor não era infundado.

– Eu entendo Edward, mas o que posso fazer? O que devia fazer? Ficar quieta? Não dizer nada? Acha que isto de alguma forma eclipsaria a verdade? Não, ela continuaria existindo.

Ela me olhava casualmente, mas como sempre me pareceu que podia ver através de mim, seus olhos haviam sido capazes de me controlar, subjugar em um segundo e ao passo que a encarava notei que eles ainda eram. Por mais que quisesse com todas as minhas forças odiá-la só o que conseguia era querê-la ainda mais, ainda mais que antes, porque sabia que agora não poderia tê-la novamente.

Em um fugaz instante me apeguei à insana possibilidade de que tudo poderia ser mentira, toda esta descoberta perturbadora que viera à tona lançando uma sombra sobre o sentimento que existia entre nós, eu queria que se tratasse de uma mentira. Próximo aquela garota no pequeno espaço que o veículo nos permitia seu cheiro era tudo o que conseguia sentir e ele era enlouquecedor. Tive vontade de tomá-la em meus braços e beijá-la sem controle, como se isto de alguma forma pudesse espantar os fantasmas que agora povoavam minhas lembranças, mas estava me entregando a possibilidades impossíveis, o ser maligno e sedento que vivia em mim riu de minha fraqueza absurda, ele ansiava por vingança e morte. Ele a queria de uma forma completamente diferente, não lhe importava espírito ou coração, apenas sangue, o doce sangue de Aneliese.

Então como ela mesma havia dito não adiantava fingir que tudo estava bem.

– Sim, continuaria – respondi balançando levemente a cabeça. A verdade continuaria existindo, infelizmente.

Aneliese me analisou e então disse:

– Você preferia que eu tivesse omitido. Preferia viver no conto de fadas!

Exatamente como pensava era como se ela estivesse dentro de minha cabeça, como se fosse minha própria consciência e me julgou sem pudor. Mas quanto ao conto de fadas eu não era ingênuo de pensar que aquilo existisse.

– Eu gostaria de poder pensar que temos chances a nosso favor – revelei amarguradamente.

– E não temos? – Não, não temos mais.

O que ela queria com essa expressão de revolta?

– Não pode me julgar, Aneliese. O que você faria? – Eu estava chegando a meu limite, me esforçava muito para manter um diálogo coerente.

– Se estivesse em seu lugar? Bem, não sei.

Ri de seu comentário, se ela estivesse em meu lugar... Se fosse sua existência e as pessoas que ela amava que estivessem em perigo, como reagiria? Era fácil mostrar desprezo quando o problema não lhe dizia respeito.

– Claro que não sabe. Qual o maior perigo que já enfrentou? Alguma vez já sofreu perseguição, ameaça de morte, preconceito? Acho pouco provável. Nada é seguro para nós, imagino que pense em minha vida como a mais sedutora das histórias, mas está enganada. – Numa última tentativa procurei lhe alertar sobre o tenebroso caminho que escolhera - é uma maldição. Eu amaldiçôo esta existência, amaldiçôo este coração que há mais de um século não estremece em um batimento, eu preferia que Carlisle tivesse me deixado morrer – a mágoa impregnou minha voz, e não me importei com isso.

Eu já não a olhava mais, mantinha meu rosto distante do seu, me sentia como uma granada prestes a explodir e levar consigo todo e qualquer sinal de vida que encontrasse por perto.

– Sei que você não quis verdadeiramente dizer isto.

Estava me recriminando, repreendendo.

– Sabe? – Questionei em tom de desafio, estava me enchendo dessa sua prepotência, onde estava seu medo?

– Se odeia cada dia tanto assim, então porque continua aqui? Vá até os Volturi! Peça a eles que lhe destruam, eu sei que você é perfeitamente capaz de elaborar uma boa desculpa para que o façam. Se não há nada, nada em sua existência que você seja capaz de amar ou se apegar, que o faça esquecer e superar todo esse rancor guardado em seu coração então eu verdadeiramente não sei o que estamos fazendo.

Contive uma respiração, finalmente ela soara eloqüente, minha suspeita se confirmou, queria que eu me sacrificasse, sugeriu que eu fosse ao encontro deles onde com certeza encontraria a morte ou a prisão, eu não sabia qual poderia ser pior. Mas então ela também falou sobre não haver nada em minha existência capaz de me modificar, bem, até a pouco havia.

– O que quer dizer com isto?

– Acho que sabe perfeitamente o que. É muito inteligente, muito mais do que eu, não sabe o que daria para ter ao menos um pouco do que você tem.

Oh sim, eu sei. Pergunto-me o que não seria capaz de abrir mão, pois parece que tudo para você é moeda de troca.

– Se refere à riqueza? Posso lhe dar tudo amanhã. – Provoquei.

– Não me refiro à riqueza.

Não, claro que não. Você quer mais, quer a eternidade, a recompensa de executar um trabalho perfeito, quer se juntar a seres malignos, se tornar um deles. Você é desprezível.

Suspirei.

– Imaginei que não. Então o que quer Aneliese? Beleza? Velocidade? Invencibilidade? Está disposta a abrir mão de sua alma para ter tudo? Está disposta a arriscar? – Era verdade que eu jamais teria capacidade de transformá-la em um monstro, passaria toda sua vida humana com ela, se me permitisse e depois morreria, pois pensava que não haveria motivos para que ficasse. Só que ela teria outras pessoas para completar a tarefa de lhe proporcionar aquela maldita transformação.

– Não quando você fala assim – tive a impressão de que sua voz soou embargada, como de alguém que quer muito segurar as emoções.

Que emoções eram essas? Por quê? Porque ela ainda fingia? Pensava que eu era assim tão alheio aos seus truques? Bem, talvez tivesse sido antes, mas agora tudo estava mudado. Então ela queria esta existência sem sentido, queria o pesadelo sem fim.

Minha resposta saiu extremamente ríspida.

– Nem quando falo de qualquer outra forma. Você não está disposta a isto, porque não sabe em que está se metendo. Você não sabe de nada!

– Pensei que eu soubesse tudo – ironizou.

– Pois não sabe.

Calou-se, tornou a olhar para fora e eu não lhe daria mais tempo para fingir, queria pôr este assunto a limpo de uma vez por todas.

– De onde você veio, Aneliese?

Ela me olhou, o semblante em conflito.

– Como assim? Eu já lhe disse que sou brasileira.

– Tem certeza de que não é italiana?

– O quê? – Se mostrou ainda mais embaralhada, pareceu até mesmo ter ficado ofendida. - Edward você acha que sou uma Volturi?

Uma de minhas sobrancelhas se ergueu quando a fitei com maldade. A máscara enfim caiu.

– Não posso acreditar – arfou.

Não pode acreditar que foi descoberta? Não pode acreditar que seu plano brilhante falhou? Não pode acreditar que as coisas não saíram como o planejado? Já estava na hora dela perceber que não havia mais como voltar atrás, então lhe expliquei em detalhes no que havia pecado, ela ouviu toda minha explicação e ao fim pareceu incrivelmente exasperada.

– Você tem de estar brincando.

– Mas não estou. – Já chega meu amor. É o fim da linha para você.

Aneliese fitou meus olhos fixamente e devolvi sua ação, entretanto minha feição devia estar muito mais carregada de emoções que a dela, eu não podia mais manter o ultraje, o ódio distantes de meu rosto, sabia que devia demonstrar apenas frieza agora. Sim, sou apenas isto. Veja em que você me transformou, eu poderia ser muito mais que trevas, mas você não permitiu...

– Agora vejo a criatura maldita que você é – ela ecoou meus pensamentos.

Hipócrita!

– É somente a mim que vê desta forma? Como acha que os Volturi vão recompensá-la quando entregar a eles seu relatório de espionagem? Com a vida eterna? Oh, minha doce Liese, não se engane.

Eles vão matá-la meu amor, só que sentirei pena de não estar por perto para vê-la cair, mas quem sabe eu mesmo não faça isto, quem sabe eu mesmo não a destrua, seu sangue traidor será a coisa mais doce que irei provar.

Ficou claro que eu não era o único dominado pela histeria quando ela berrou:

– Eu não sou uma Volturi!

Pensava que era ameaçadora? Que podia me sobrepujar?

– Não, você não é! – Grunhi aproximando-me de seu corpo e ficando satisfeito ao vê-lo se encolher sob a força de minha raiva. - Não é uma de nós, você não é nada! É apenas humana. É descartável e será assim que receberá a gratidão pelos serviços prestados: ELES VÃO MATAR VOCÊ SEM NEM MESMO HESITAR! PARA ELES VOCÊ NÃO É NADA!

Tive de admitir que não esperasse vê-la chorar, pois não condizia com o que suas palavras e atitudes significavam, porém talvez fossem lágrimas de derrota e isto me impediu de sentir piedade. Não fugiu de minha visão que ela tremia e respirava com dificuldade, ainda impressionada com o impacto do que eu dissera, jamais havia agido assim com ela e jamais pensei que pudesse agir, todavia a pessoa a minha frente não era mais a que eu conhecia e minhas reações não mais podiam ser previstas.

Fui pego de surpresa quando Aneliese abriu a porta e saiu para a chuva torrencial, ventava muito e em segundos sua roupa ficaria completamente molhada, mas ela não se importou. Vi que era por minha causa, queria se manter distante de mim, queria fugir da destruição que causara, mas eu não deixaria que fizesse, ela sentiria tanta dor quanto eu sentia agora.

Em um segundo estava próximo a ela que andava rapidamente, os braços ao redor do corpo na falha tentativa de se aquecer.

– Para onde você vai Aneliese? Para casa? Realmente mora lá?

Olhou para os lados assustada, procurando, mas estava escuro demais para que me visse, então tudo o que pôde fazer foi continuar andando, fugindo como uma covarde. Egoísta!

– Pensa que pode fugir de mim? Pensa que é páreo para qualquer um de nós? Você é apenas humana!

Minhas ofensas saíam aos montes, o lado obscuro que eu repudiava e escondia conseguira tomar o controle, porque eu estava perdido, eu estava arruinado, ainda mais morto por dentro. Eu não me importei mais com nada, havia perdido tudo! Como ela pôde fazer isto comigo? Tudo o que fiz foi amá-la, amá-la mais que a mim mesmo, amá-la mais do que ela merecia, mais do que eu pensara ser capaz...

Vi quando colocou as mãos sobre os ouvidos, não queria ouvir acusações. Ela ainda não havia sofrido o suficiente, então me aproximei surgindo à sua frente num só movimento, pegando-a de surpresa.

– Vá embora!

Ainda não.

Segurei-a pelos braços sem me ocupar em checar a quantidade de força que dispensava, a parte sombria de mim queria que a apertasse mais, machucasse muito mais. O que eu não queria admitir de forma alguma era que acima de todo o rancor e mágoa o que mais queria ainda era seu coração, eu queria que ela me amasse, assim estaria certo de que padeceria tanto quanto eu. Mas não era assim. Pensei que esta pessoa talvez não fosse incapaz de ter sentimentos, mas que eles não eram direcionados a mim.

Alex. Seu ex-namorado, de quem ela me falara uma vez; meu ciúme me impediu de esquecer seu nome e a influência que ele teve sobre sua vida. E se ainda existisse? Considerar esta possibilidade me transtornou.

– Como pôde mentir para mim, Aneliese? Como pôde fazer isto? EU CONFIEI EM VOCÊ! Me fez de tolo este tempo todo. QUEM É ALEX? Outro espião como você? Agora vejo porque ficou tão transtornada aquele dia quando o acusou de tê-la trocado por outra, você precisa de seu parceiro, não é mesmo? Precisaria dele agora para lhe defender, eu aposto. Mas ele nada poderia fazer, porque não é mais forte que eu! NENHUM DOS DOIS É!

Coloquei as mãos em torno de seus pulsos, pois assim podia sentir o frágil palpitar do sangue em suas veias, sabia que o batimento de seu coração estava acelerado e a apertei ainda mais, quis que fosse o suficiente para parar o fluxo debaixo de sua pele. Eu sabia que deveria estar doendo e, com efeito, ela gritou de dor.

Aproximei-me e questionei num sussurro amargurado:

– Como pôde fazer isto comigo Liese? – Seu nome em meus lábios era como uma tortura, eu não voltaria a ter posse sobre ele. - COMO PÔDE?

Num gemido ela se aproveitou da proximidade para falar comigo em um tom razoável, adulador.

– Edward, p-por favor, eu não fiz nada! Quem colocou estas idéias em sua cabeça? O que houve com você? Porque não acredita em m-mim? Ouça, por favor: eu amei você e foi real.

Tive nojo de sua tentativa ridícula de me coagir, como podia ser capaz? Do sentimento que uma vez eu pensara existir entre nós não havia sobrado nada. Nem de meu coração, ela terminara de massacrá-lo com suas últimas palavras, era muito falsa!

– MENTIROSA! – Julguei em um grito ensurdecedor, furioso.

Aneliese fechou os olhos e ficou muito quieta, aparentava estar completamente distante, aérea. Enquanto estava assim pude contemplar os belos traços de seu rosto e contive o impulso de passar meus dedos sobre eles, de lhe fazer um carinho. Eu era um imbecil, eu ainda a amava, como era fraco...

Eu não sabia qual seria o rumo de meus dias sem ela, mas estava claro que teria de me afastar o quanto antes, pois estar por perto representava enorme perigo para minha família. Havia visto no pensamento de Esme que ela era a que mais temia e que cogitava sair de Forks, a esta altura eles sem dúvidas já haviam decidido o que fazer e torci para que a resposta fosse positiva. Mais do que para minha própria salvação, para manter minha sanidade eu precisava ir embora ou definharia. Não havia nada mais em mim a que pudesse me apegar. Junto de Aneliese eu deixaria minha alma, minha vida. Deixaria meu coração.

Comecei a imaginar como seria sua vida, como reagiria quando se desse conta de que havia sido deixada para trás, como ela seguiria? Provavelmente não encontraria qualquer dificuldade em superar as memórias, mas fiquei curioso para saber como lidaria com o implacável clã da Itália e quanto tempo levaria para que descobrissem seu fracasso. Ela morreria, eu não tinha dúvidas, não era da natureza dos Volturi perdoar. Como eles a executariam? Quem deles? Pensar em outro vampiro bebendo seu sangue conseguiu fazer com que me rebelasse. Meu monstro particular implorou por alívio, ele queria fazer isto, ele queria massacrá-la.

As palavras que falei eram mais dele que minhas.

– Eu devia matar você aqui mesmo, assim impediria que nos arruinasse.

Sim!

Aneliese me encarou e pude ver que se segurou para não gritar, ela sabia do perigo, podia sentir, seu corpo teve a reação automática de se retesar para longe do meu, mas isto não seria suficiente para lhe salvar e suspeitei que ela estivesse ciente disto também. Eu seria mesmo capaz de fazê-lo? Ela mentira para mim, me enganara, manipulara... Ela merecia! Um movimento apenas seria suficiente, um movimento e então seu sangue estaria em meus lábios me alimentando, completando-me, tornando-me mais forte.

SIM!

Mas então eu nunca mais a veria.

A aparente separação entre nós já não significava o fim de qualquer modo? Porque eu simplesmente não agia, porque não a matava?

Fitei seus olhos e depois seu rosto, conhecia cada detalhe em sua pele macia, cada característica de seu corpo. Eu o tivera junto ao meu inúmeras vezes, podia sentir o leve aroma de seu perfume e ouvir os repetidos batimentos de seu coração. Imaginei o mundo sem tudo aquilo e não pude lidar com o sentimento perturbador que seria sua ausência.

Eu jamais seria capaz de machucá-la assim. Mas ela fora.

“Edward, não faça isto!”

Nós não estávamos mais sozinhos, ouvi o apelo de Alice há quilômetros de distância e logo ela e Emmett juntaram-se a nós.

– Solte-a Edward!

Minha irmã se precipitou para perto de Aneliese e colocou a mão sobre a minha tentando fazer com que soltasse. Eu não queria continuar ferindo-a, mas não pude deixar de tocá-la, desconfiava que esta fosse a última vez que estaríamos tão perto, a última vez que sentiria o calor de sua pele contra a minha. Eu precisava odiar esta garota, ela merecia, porque eu não podia simplesmente odiá-la?

– Edward eu mandei você soltar Aneliese. AGORA!

“Ou prefere que eu peça a ajuda de Emmett? Porque está fazendo isto? Não há necessidade para tanto, já foi tudo resolvido.”

Eu obedeci e senti meus dedos protestando de imediato, novamente tornando-se frios e inertes, distantes da única coisa que queriam tocar.

Alice se voltou para a garota.

– Vá para casa, Aneliese. Vá para junto de Charlie, ele deve estar preocupado com você.

Estava sendo racional, estava prezando pela vida da amiga, será que ainda a considerava assim? Gostaria de ser tão sensato quanto ela, mas a capacidade para tanto me faltava.

Olhei-a e fiquei surpreso ao constatar que parecia muito triste, arrasada, mas seus olhos não estavam em mim e sim em Alice, ela também fingira sua afeição pela outra? Sim, claro que sim. Mas era como se tivesse ficado profundamente magoada com a indiferença.

Os pensamentos de Alice eram amenos, não porque não recriminasse as atitudes de Aneliese e sim porque havia ficado muito desapontada com a possibilidade de ter se equivocado. Sempre a defendera, ficara ao seu lado desde o início e esta não parecia uma boa forma de retribuir.

Contudo minha irmã não pôde se despedir desta forma tão fria, aproximou-se minimamente e era como se a consolasse enquanto prometia que nada de mal lhe aconteceria. Pensava em revelar nosso plano de fuga, mas um olhar breve lançado a mim e a Emmett lhe fez voltar atrás e apenas assegurou a amiga que ela ficaria bem.

Por fim foi demais para ela, Alice era um tanto sentimental e se separar de alguém que aprendera a amar estava sendo uma árdua missão, sem dizer mais uma palavra ela partiu levando consigo nosso irmão.

A chuva não cessara, estava mais pronunciada e vinha acompanhada de relâmpagos e trovões que fizeram Aneliese se encolher, quando o céu se iluminou outra vez ela também pôde me ver, seus olhos imediatamente encontrando os meus, me perscrutando.

Eu ainda a amava. E só o que ela fez foi me destruir.

Custariam-me dias, meses, talvez anos para esquecê-la, mas valeria à pena a chance de recomeçar. Quem sabe eu pudesse encontrar outra mulher, quem sabe pudesse deixar de sair dos padrões me unindo a alguém de minha própria espécie, seria bom não ter de lutar a todo minuto com o desejo de matar minha parceira.

Tive vontade de rir, a quem estava enganando? Eu jamais a esqueceria, jamais conseguiria superar... Eu estava acabado.

E nos últimos segundos em que a admirei tive vontade de dizer-lhe algo, qualquer coisa, somente para poder ouvir o som de sua voz me respondendo, mesmo que fossem mentiras ou ofensas, era Aneliese e ela era tudo para mim. Como um covarde eu esperei até que o clarão do céu me deu um intervalo e assim como os outros me virei para partir, olhei para ela rapidamente constatando que não havia se movido de sua posição e imaginei se estaria esperando por mim. Provavelmente não.

Adeus, meu amor. Este é o fim.

E eu já não estava mais em lugar algum próximo a ela.


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