Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 35
Sobrevivendo.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Trailer


"Foi em um sábado que recebi aquela ligação,
Longe de me sentir bem, eu sei qual é a verdade.
Tentei ignorar o que você fez,
A mágoa se tornou minha amiga.
Você se afastou de mim, querido,
Eu jamais faria o mesmo.
Me fez sentir que nosso amor não era real,
Você jogou tudo fora!
Foi tão fácil confiar em você,
Acho que fui estúpida,
Pois jamais pensei que chegaríamos a este momento.
Eu não quero esperar que você vá entender,
Pois você é tão frio,

Mas não consigo parar de pensar em você,
Continuo vendo sua imagem
E eu não quero ver mais!"

See No More - Joe Jonas

~*~

Eu via vultos e ouvia vozes, parecia que quem quer que fosse estava com muita raiva de mim e queria me machucar. Era um borrão verde e azul escuro, uma mistura de cores e pessoas e eu estava assustada. Onde eu estava? Além dos seres malignos, porém eu podia distinguir meu nome sendo chamado repetidas vezes e o som beirava o desespero, eu sentia dor e pontadas agudas em minha cabeça e só queria que tudo aquilo parasse.

Uma mudança repentina me fez sentir leve e indefesa e no pouco de lucidez que me restava pensei estar sendo carregada com certa dificuldade, o balanço fraco e desagradável se repetiu por alguns metros e então eu fui colocada sobre uma superfície macia, o banco de um carro que logo foi posto em movimento, me levando para longe. No chacoalhar do veículo eu acabei adormecendo.

Acordei num pulo, olhando para todos os lados, assustada e dolorida. Eu estava num lugar desconhecido, mas pouco me custou para reconhecer ser o quarto de um hospital. O cheiro limpo e forte dos objetos ao redor invadia minhas narinas e me fazia enjoar, eu não gostava de hospitais, jamais vivi uma única memória boa estando em um lugar assim. Com um pouco de dificuldade me ergui da cama até ficar sentada com a coluna ereta, isto me deu chance de visualizar algo que eu ignorara: em meu braço direito havia um pequeno tubo por onde o soro passava, isso queria dizer que em minha veia havia uma...

Me senti tonta com a idéia de uma agulha enfiada dentro de mim, eu não era muito corajosa quando o assunto eram lacerações em meu corpo, ainda mais aquelas causadas deliberadamente.

Virei novamente a cabeça procurando por alguém, mas eu estava sozinha no aposento mal iluminado, tentei procurar por algo como uma campainha, mas não havia nada. Quis eu mesma retirar aquilo, mas tive medo de puxar errado e acabar me machucando.

– Oi. – Chamei num tom de voz casual, afinal estávamos em um local onde o silêncio era essencial. Esperei um pouco, mas não obtive resposta. – Olá! Tem alguém me ouvindo? – Chamei mais alto. – ENFERMEIRA! – Gritei, sem agüentar esperar muito mais tempo.

Imediatamente ouvi o ruído da porta sendo destrancada e as luzes se acenderam, eu me encontrava atrás de uma cortina verde e tive que esperar até que os passos apressados me alcançassem. Uma mulher surgiu, os olhos grandes de preocupação logo se aquietaram ao constatar que eu estava bem e ao falar ela soou aborrecida.

– Aconteceu alguma coisa? Porque você gritou?

– Porque quero sair daqui.

– Mas não pode. Trata-se de uma internação, não pode ir embora até que o médico lhe dê alta.

Minha boca se abriu em espanto.

– Como é?

Como quem falava com uma criança ela apontou para meu braço e ao focalizá-lo vi que em torno do pulso havia uma pequena faixa de papel branco onde se liam meu nome completo e a data da internação.

– Sete e meia da manhã? – Olhei pelas janelas e vi que estava muito escuro, não se parecia em nada com o amanhecer. – Me desculpe, mas acho que vocês registraram a hora errada, não deveria ser após o meio-dia?

Ela ergueu as sobrancelhas e andou até mim de má vontade, olhou meu braço por um instante e então soltou uma risadinha.

– Não prestou atenção à data, não foi? Isto foi ontem.

Eu prendi o ar no meio de uma respiração e continuei fitando-a esperando que começasse a rir e me dissesse que se tratava de uma brincadeira, mas ela nada fez além de esperar que eu me recompusesse.

– O que houve? – Fiz a pergunta óbvia.

Com um pouco mais de paciência ela se afastou e começou a checar meus aparelhos com eficiência.

– O xerife a trouxe para cá às pressas, você estava febril e delirava, ele disse que não havia se cuidado bem, pois pegara muita chuva e se molhara até a alma – lançou-me um olhar severo.

– Eu não tive escolha – defendi-me.

– E porque não? – A curiosidade de repente modificou seu semblante.

Porque o desgraçado do meu ex-namorado me largou no meio de lugar nenhum!

Eu desviei os olhos e fitei as árvores, chovia fracamente.

– Ei Aneliese. É Aneliese, não é? – Ela se reaproximou de mim. – O que são estes machucados em seus pulsos? – Tentou soar gentil.

– Em que isto lhe diz respeito? – Retruquei.

Ela não se deixou abalar.

– O xerife acha que alguém a acorrentou e, de fato não penso que a teoria dele seja tão absurda, veja isso! Está muito ruim, como pôde simplesmente aparecer assim de um dia para outro?

Eu não estava gostando nada daquela mulher, o que ela queria com aquela conversinha afinal?

– Escute aqui, enfermeira... Debbie – li seu nome no crachá, tratando-a de igual para igual, já que ela também me chamara pelo meu nome de batismo – você não tem nenhum outro paciente para tomar conta, não?

Ela riu.

– Sim, tenho, mas certa mocinha me tirou de meus afazeres aos berros – desdenhou.

Eu respirei fundo, estava sendo muita coisa somada para que eu apreendesse.

– Quero falar com o médico responsável, por favor.

– O doutor Munch não está, terminou seu turno e só deve voltar pela manhã.

– Então chame o substituto.

– Ele é o substituto.

Não foi difícil ler a decepção em seus olhos, logo assimilei o que ela queria dizer, o médico principal, o excepcional plantonista do hospital não se encontrava mais e ele deixara toda a responsabilidade nas mãos de um humano que precisava descansar para reaver suas energias. Fiquei tão desapontada com Carlisle por ele ter concordado com esse plano idiota de fuga, qual era o intuito disto afinal? Em lua nova eles agiam dessa forma pensando estar deixando Bella segura, mas estava mais que claro que os Cullen pouco se importavam com minha saúde ou sanidade, o que isto queria dizer?

A não ser...

– A ameaça sou eu – sussurrei.

Debbie que havia se afastado e escrevia algo em meu prontuário me olhou confusa.

– Falou comigo?

– Não.

– Bem, está quase na hora do jantar, você pode comer e depois virei aplicar sua medicação e então se quiser pode tomar banho, é bom que esteja melhor, significa que logo poderá voltar para casa – informou com o esboço de um sorriso. – Tente ficar mais calma agora – acrescentou enquanto se virara para sair.

– Espere. Você disse que delirei, não é? Eu disse alguma coisa compreensível?

Ela me olhou com dó ou repreensão, eu não soube dizer.

– Você só ficava repetindo a mesma coisa, um nome de garoto. O nome do filho do doutor Cullen, ele era seu namorado, não era? Edward. É um nome bonito – acenou brevemente e se afastou.

Eu continuei parada na mesma posição, só o que se ouvia no quarto era o som de minha respiração entrecortada. O nome dele agora se repetia sozinho em minha cabeça, mas eu me apeguei com todas as forças ao momento real, a dor, aos hematomas visíveis e horrorosos em minha pele, a humilhação que sentia por perceber que nosso término não se passava mais de um segredo... Eu não quis me lembrar das coisas boas, eu não quis que minha mente tornasse a me pregar peças, parecia que aquele pesadelo meramente não passava.

Ele fora embora por causa de mim! Acreditava que eu seria capaz de lhe trair, de fazer mal a ele ou a sua família, me acusara de ser uma Volturi! Ainda parecia incrivelmente difícil de acreditar... E tudo porque eu não tinha olhos vermelhos e uma pele quase indestrutível; tudo porque eu não era um deles. Por ser humana eu deveria significar uma farsa, era isso?

– Ridículo – julguei baixinho.

Agora eu estava em um hospital completamente contra a vontade porque acabara doente graças à tempestade que enfrentara aquele dia. Comecei a achar que desde que o conheci minha vida virou de cabeça para baixo em todos os sentidos, e desde aquele dia eu fiquei muito mais exposta aos perigos, ele jamais errara em dizer que fazia mal a mim. Ele fazia mesmo. O que era difícil de assimilar, porém era pensar que eu poderia lhe causar o mesmo efeito.

Eu sempre fora uma garota forte. Sempre fora decidida. Gostara verdadeiramente apenas de dois meninos em minha vida, porque queria evitar sofrimentos, porque sabia a dor de cabeça que relacionamentos podiam trazer e, no entanto, eu errara nas duas escolhas. Talvez minha mãe estivesse certa e eu devesse deixar estes assuntos amorosos para depois que estivesse formada, os estudos eram mais promissores e menos decepcionantes.

Suspirei. Eu ainda estava em negação, sabia disso. Não raciocinava muito bem, mas é que fora tudo tão rápido. Quando eu poderia imaginar o que minha semana me reservava? Será que eu já passara por situações inesperadas assim?

Claro que sim, Aneliese.

Sim, era verdade, era óbvio que aquela não era a primeira vez que eu me encontrava em um caminho que não mostrava saída, como eu disse era uma garota forte, eu sabia como sair disto sozinha. A questão era: eu queria mesmo sair?

– Qual o significado disto tudo?

Porque eu viera para Forks? Porque eu estava aqui? Eu pensei que fosse para finalmente encontrar o amor, mas isto na verdade representou minha morte. Eu morri por dentro, mesmo que parecesse bem eu estava completamente perdida.

Então agora o que eu faria?

O que eu faria?

Eu viveria.

Aquela fora mesmo a última noite que eu passara no hospital, pela manhã o doutor veio me ver e muito simpático me deu a ótima notícia de que poderia voltar para casa. Agora eu estava em frente ao grande prédio com minha pequena mala improvisada por Charlie enquanto o esperava vir me buscar. Não chovia, mas ventava muito e foi o que me deu a impressão de que a tempestade estava prestes a chegar, fiz questão de aproveitar a chance para ficar do lado de fora em um banco afastado, pois do lado de dentro podia jurar que todos os olhares estavam pregados em mim.

O que é que eles achavam? Que eu de alguma forma tinha culpa por seu tão amado médico ter ido embora? Mas, me colocando no lugar deles eu tinha que admitir que ficaria ao menos com a pulga atrás da orelha: veja bem, a menina namora um rapaz, de repente ela aparece com marcas pelo corpo como se tivesse sido agredida e depois os suspeitos somem. Daria um bom episódio de ‘investigação criminal’...

O que eu esperava, ao menos era que eles tivessem a mínima consideração de me dar o devido crédito, sabia que os Cullen nesta cidade eram assemelhados a anjos graças a seu comportamento impecável, mas eu estava machucada, eu era a vítima. Só pensava desta forma porque queria acreditar que evitaria perguntas desagradáveis mais tarde.

O barulho da sirene da radiopatrulha me tirou de minhas considerações preocupantes e eu sorri ao ver o xerife se aproximando, ele estacionou próximo a mim e saiu para me ajudar com a bagagem.

– Oi Charlie.

– Aneliese. Está melhor? – Seu rosto demonstrava cansaço, ele dormira as últimas noites?

– Sim, eu estou bem.

– O doutor lhe passou alguma medicação?

– Alguma.

– Ótimo, vamos à farmácia.

Assim que estávamos os dois acomodados ele religou o motor e deu ré, logo alcançou a estrada principal e dirigiu para longe da construção agourenta. Olhando-o eu tive saudade de também dirigir, perguntei a ele sobre minha picape, pois me lembrava vagamente que ela não havia funcionado na última vez que a testara e Charlie me deu uma boa notícia dizendo que havia sido apenas a bateria, mas que ele já se encarregara de solucionar o problema junto a um mecânico.

Depois de comprarmos o que precisávamos na farmácia ele me perguntou se eu estaria disposta a aproveitar a viagem e ir ao supermercado, me disse que já fazia algum tempo que precisava abastecer a despensa e eu não fiz objeção alguma.

– Chamei Billy e o filho para virem nos ver hoje, o garoto não parou de ligar, está ansioso para vê-la.

Jacob! Seria ótimo revê-lo, eu fiquei genuinamente feliz.

– Que bom Charlie, então hoje eu fico encarregada do jantar.

Olhou-me de soslaio e então riu curtamente, além de tudo eu estava contribuindo para a melhoria de seu estado de espírito, Charlie ficara claramente abalado com o que acontecera, tive muita pena de tê-lo posto naquela situação, ele se encontrava no lugar de meu pai e se afligira tanto quanto ele. Merecia um pouco de sossego aquela noite.

Eu escolhi fazer macarronada, sabia que os homens em particular gostavam muito daquele prato e o melhor é que não envolvia carne então eu também poderia aproveitar. Ainda estava cedo quando chegamos a casa, ainda nem eram onze horas e nossos convidados só chegariam bem depois, o xerife teve de voltar para o trabalho – não sem antes verificar que eu estava perfeitamente bem – e isto me deu chance de fazer uma faxina rápida no lugar.

Eram duas e meia quando terminei e resolvi comer alguma coisa, liguei a televisão apenas para me distrair, ela me dava a impressão de que não estava tão sozinha. Nunca me preocupara com isto, mas agora era melhor me sentir acolhida e familiarizada com algo, suspeitava que a vida que conhecia a qualquer momento pudesse se desfazer e desaparecer em frente aos meus olhos.

Andei até a janela do fundo e fiquei observando o quintal quieto, as árvores balançavam, algumas folhas caíam aqui e ali. Eu definiria isto como paz, era a paz que eu conhecia em Forks, aquela que vinha principalmente quando a chuva dava uma pausa, e eu quis ser como a brisa que simplesmente existia e seguia seu curso, que não tinha necessidade de explicar nada a ninguém. Eu quis apenas ser livre.

O amor que sentira por ele me aprisionara.

Mas será que realmente ficara no passado? Me virei e mirei a cozinha, aqui há alguns dias ele me beijara, entretanto agora eu só conseguia olhar para o momento com repulsa, como um ato carnal. Era nisso que os vampiros se baseavam, não era? Prazer carnal em todos os sentidos. Será que alguma coisa nisso tudo havia sido real para ele? Eu me entregara feito uma tola tantas vezes! Eu dissera que o amava e ele...

– Ele nunca disse – refleti.

Tentei me recordar de algum momento em que ouvi o ‘eu te amo’ saindo de seus lábios, mas falhei. Ele nunca me dissera isto.

Lágrimas começaram a cair revoltosamente de meus olhos e eu me senti tão, mas tão estúpida. O que eu fizera? Eu me afeiçoara a ele tão rápido. Eu assumira um compromisso e o assumira sozinha. Tive novamente ódio dele e de sua falta de consideração, de sua crueldade. Eu amara um monstro, para mim a destruição que sentia em meu coração era muito pior do que se ele tivesse me machucado mais fisicamente, para mim aquilo era o fim. Ele acabara comigo da forma mais eficaz, eu agora teria dificuldades pelo resto da vida para confiar ou me entregar a alguém.

Então ele simplesmente não merecia que eu chorasse, porque onde quer que esteja eu sabia que ele estava bem. Rico, absurdamente lindo e inumano. Esperava que mais ninguém caísse nesta sua armadilha tão bem composta.

Voltei para meus afazeres e deixei a desolação sozinha.


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Notas finais do capítulo

Alguém aqui é Team Jacob? Preparem suas bandeiras! Team Edward, mantenha-se firme :)

Beijinhos.