Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 33
Destruída.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, voltei! Estou muito contente por ter podido escrever dois capítulos em um só dia, espero que vocês leiam e que gostem. Acho que este pegará alguns de vocês de surpresa, por isso lembrem-se: prometi uma história de amor, mas não sem obstáculos :)



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Trailer

"Seus pequenos sussurros:
Me ame, me ame,
É tudo o que eu peço, me ame.
Ele machucou seus pulsos para sentir algo,
Queria saber como era tocar e sentir alguma coisa.
Monstro.
Como eu deveria me sentir?
Criaturas vivem aqui, olhando através da janela.
Aquela noite ele a enjaulou,
Machucou e destruiu,

Hematomas ao redor de seus pulsos,
Dor silenciosa.
Ele vagarosamente percebeu que seus pesadelos
Eram, na realidade, seus sonhos.
Monstro."

Monster - Meg & Dia

~*~

– Acho que... – Peter interveio acima das demais vozes quando a discussão se tornou sem sentido. Alguns se calaram e outros continuaram murmurando incoerências. Falavam rápido demais para que eu compreendesse e ao todo não achei isto uma coisa tão ruim. – Estamos todos nos esquecendo que também já fomos humanos.

Suas palavras silenciaram o restante das vozes.

– Peter está certo. Todos já fomos humanos – Carlisle aquiesceu. – E, no entanto agora agimos como animais fazendo parecer que o somos por causa de nossos atos, não de nossa verdadeira identidade.

Um segundo de silêncio.

– O que eu me lembro de ser humano é sentir medo. Sabe, não é uma sensação muito boa – recordou-se Emmett. Ele olhou para mim como quem pede desculpas – não gostaria de estar em seu lugar – completou num riso amargurado.

Alguns trocaram olhares entre si. Como havia sido dito, todos já haviam passado por aquela experiência e não me parecia haver boas coisas para se dizer daquele tempo.

– Minha avó foi confinada em um convento contra a vontade, naquela época esta era uma grande honra para uma mulher: seguir sua vocação religiosa.

Franzi o cenho. Ela dissera sua avó? Mas então como...?

Charlotte continuou de imediato, lendo a dúvida em mais de um semblante, fiquei satisfeita por não ser a única que não conhecia sua história.

– Ela e meu avô se conheceram em um domingo quando ela e outras freiras haviam ido fazer compras. Mormor dizia ter sido amor à primeira vista – riu-se, recostando-se ao marido que lhe beijou levemente a testa.

– Mormor? – Indaguei Edward à meia-voz.

– Significa “avó” em sueco.

– Ah.

– Foi bem difícil depois. Descobriram o relacionamento escondido e a expulsaram do convento, o prédio antigo ficava em uma colina afastada e mormor teve que viajar dois dias a pé até poder chegar ao vilarejo e encontrar meu avô. Foram muito recriminados, era um lugar pequeno e as notícias se espalharam, mas não quiseram se mudar, tudo o que tinham estava lá e foi onde viveram e criaram seus filhos e netos. A censura jamais abandonou minha família, vi minha irmã mais nova morrer de fome quando o desprezo atingiu proporções tão esmagadoras que nem mesmo emprego nos era dado. Fugi para tentar salvar minha vida na mesma noite em que meus pais foram assassinados em um crime de ódio. De certo modo refiz os passos de minha avó quando ela também teve de escapar, mas a diferença é que eu encontrei uma criatura obscura perdida na estrada aquela madrugada. É a última coisa de que me lembro antes de acordar desse jeito... Ainda não entendo como ninguém ouviu meus gritos, mas, pensando bem talvez tenham ouvido e ao ver de quem se tratava simplesmente deram as costas.

Não era a primeira vez que eu via um deles chorando lágrimas que não podiam existir. Aquela história tocou fundo em meu peito, eu jamais parara pra pensar em coisas assim, eu conhecia um pouco o passado dos Cullen e já sabia que não havia sido fácil.

– Ela sofreu tanto quanto vocês – refleti baixinho para mim mesma.

Pareceu-me que alguém conteve a respiração e levantei o olhar constatando que estava sendo observada.

– O que foi?

– O que você disse?

Encarei Alice. Pensei rapidamente sobre o que ela havia me perguntado.

– Acho que esta moça, Charlotte sofreu tanto quanto o restante de vocês. Não foi uma jornada fácil – expliquei.

Diversas reações se formaram por causa de minha frase, Rosalie teve a pior, parecia que eu a atingira com um soco.

– Já tiveram tempo de contar a ela seu passado? – Questionou Charles genuinamente curioso.

– Não. – Foi Alice mesma quem respondeu e notei surpresa que ela estava aborrecida. Um V se formou entre suas sobrancelhas franzidas.

Eu falara demais?

– Liese, como pode saber tanto sobre nós? Edward, você contou a ela?

– Não, não contei.

Seu tom não foi acusatório, porém inflamado de interesse. A velha história sobre mim e minhas informações privilegiadas, claro que ninguém conseguia deixar isto passar.

– O que sabe? – Interveio Jasper.

Eu engoli em seco, mesmo sem demonstrar hostilidade ele sempre me acuou, tentei reunir um pouco de coragem para lhe responder e por conseqüência aos demais que estavam conosco.

– Sei bastante – confessei.

Será que poderia me aprofundar nisso? Seria aconselhável? Mas o que eu faria então? Mentir estava fora de questão, eu prometera a mim mesma ser sincera e mesmo que quisesse ser desonesta tinha certeza de que não conseguiria, pois percebi imediatamente a razão do interesse de Jasper em mim: ele estava sondando minhas reações.

– Somente sobre Edward? – Emendou.

Com medo do que dizer, apenas neguei com a cabeça.

– Sobre mais algum de nós?

Assenti.

– Quem? – A pergunta de Rosalie quase foi uma acusação.

Por sempre ter me tratado com desprezo ao menos a ela eu pude responder com o queixo um tantinho pronunciado.

– Todos.

Imediatamente me arrependi do atrevimento, de diversas maneiras eles demonstraram o que sentiam: havia raiva e preocupação, curiosidade e censura. Eu não identifiquei nenhum julgamento a meu favor.

– Está mentindo – Rosalie não acreditava realmente naquilo, o medo a fazia entrar em negação. Quis lhe dizer que não havia o que temer, mas será que não havia mesmo? Quando foi que pensara em minha estranha vinda a Forks e não ficara apreensiva por isso?

– Eu não estou mentindo – defendi-me. Gostaria de estar.

– Mas será que não estão em apressada preocupação? Diga Aneliese, o que Jasper era antes de ser transformado em vampiro? – Peter sondou e com certeza usou o amigo por ter mais intimidade com ele e porque devia pensar que nossa distância significasse que eu pouco o conhecesse.

Refleti por um momento e decidi que estava na hora de surpreender alguns vampiros.

Então lhes contei sobre Jasper, sua vida antes e também depois de Maria encontrá-lo e transformá-lo em seguidor. Dei todos os detalhes que conhecia e aos poucos me pareceu que falava com manequins esculpidos em pedra. Nenhum deles se movia e eu não vi como voltar atrás com minhas revelações. Mas enquanto falava um sentimento desconhecido aos poucos foi se apoderando de mim e notei enfim que era o alívio; eu estava tão feliz por revelar o que sabia, mesmo sendo uma pequena e quase irrelevante parte da história. Não me dera conta de que era como se vivesse sob a sombra de uma escura nuvem, com a confissão de hoje a claridade pôde ao menos um pouco se infiltrar.

Quando terminei fiquei quieta fitando o chão. Eu esperei, mas ninguém disse nada. Então esperei mais um pouco, e então um pouco mais até que se tornou uma espera ridícula. Nem mesmo ele ousou falar comigo.

– Por favor – pedi reunindo um pouco de bravura. – Digam alguma coisa.

– Perdoe-nos, Aneliese. É apenas que... Bem, não é exatamente o que se espera ouvir quando conhece alguém tão pouco.

Sei que a intenção de Carlisle era tranqüilizar, mas o efeito foi oposto: novamente me senti intrusa. Eu não lidava bem com aquela sensação.

A chuva lá fora estava mais pronunciada e ao ver que o anoitecer aos poucos se aproximava achei ser esta minha deixa para partir, mas não sem me perguntar se alguma vez teria chance de ir aquela casa sem ser submetida a tantas complicações. Não houve objeção com minha vontade de ir embora, de fato não esperei que houvesse. Também não me permiti ficar mal por causa disso, preferi pensar que no lugar deles eu agiria do mesmo jeito, o tempo talvez fosse favorável para que cada um tirasse suas novas conclusões sobre mim.

Agradeci a Esme e Carlisle por sua hospitalidade e procurei conter a vontade tão grande que tinha em ser aceita por eles. Significava muito para mim. Quem sabe um dia.

Levantei-me e saí, contornando o grande sofá e voltando para onde viera, não foi preciso pedir a Edward que me acompanhasse, antes de alcançar a porta ele já estava em meus calcanhares, andando junto a mim, envolto em silêncio.

Não foi preciso que me explicasse muito suas razões quando parou a certa altura da estrada de terra: longe o suficiente de sua casa. Longe o suficiente de minha casa. Longe de interferências, pois estava óbvio que ele queria conversar comigo.

Não contive meu suspiro, eu estava apreensiva com o que ele poderia querer me dizer. Com o motor do carro desligado apenas o ruído fraco da chuva caindo sobre o teto do Volvo era audível. Eu agora gostava da chuva. Era minha maior testemunha de que tudo isto era real.

– Acho que me deve alguma explicação, Aneliese.

Ele estava bravo comigo, jamais me chamava assim quando tudo estava bem.

– Talvez deva, mas isto não quer dizer que possa.

Pareceu imediatamente exasperado com minha resposta.

– Minha família está com medo de você – revelou num jorro.

Não era como se eu não tivesse cogitado essa possibilidade.

– Mas a que se deve este medo? Precisa me explicar.

– Jamais alguém chegou tão perto da verdade em tão pouco tempo – eu já ouvira aquela sentença. – Creio que já tenha lhe dito isto – ele confirmou minha suspeita.

– Eu entendo Edward, mas o que posso fazer? O que devia fazer? Ficar quieta? Não dizer nada? Acha que isto de alguma forma eclipsaria a verdade? Não, ela continuaria existindo.

– Sim, continuaria – concordou num gesto simples.

Sondei sua expressão.

– Você preferia que eu tivesse omitido. Preferia viver no conto de fadas! – Novamente eu estava pensando sobre isto. Crepúsculo não era desse jeito...

Ele refletiu sobre o que eu disse.

– Eu gostaria de poder pensar que temos chances a nosso favor.

– E não temos? – Questionei pasmada.

– Não pode me julgar, Aneliese. O que você faria?

– Se estivesse em seu lugar? Bem, não sei.

Soltou uma risadinha de desdém.

– Claro que não sabe. Qual o maior perigo que já enfrentou? Alguma vez já sofreu perseguição, ameaça de morte, preconceito? Acho pouco provável. Nada é seguro para nós, imagino que pense em minha vida como a mais sedutora das histórias, mas está enganada. É uma maldição. Eu amaldiçôo esta existência, amaldiçôo este coração que há mais de um século não estremece em um batimento, eu preferia que Carlisle tivesse me deixado morrer.

Cobri a boca com a mão, ele olhava para a escuridão pelo pára-brisa embaçado, respirava rapidamente, os lábios em uma linha fina e os olhos com uma fúria selvagem que mal era contida.

Eu podia dizer que suas palavras para mim significavam o fim.

Só que não significavam.

– Sei que você não quis verdadeiramente dizer isto.

– Sabe? – Desafiou-me.

– Se odeia cada dia tanto assim, então porque continua aqui? Vá até os Volturi! Peça a eles que lhe destruam, eu sei que você é perfeitamente capaz de elaborar uma boa desculpa para que o façam. Se não há nada, nada em sua existência que você seja capaz de amar ou se apegar, que o faça esquecer e superar todo esse rancor guardado em seu coração então eu verdadeiramente não sei o que estamos fazendo.

– O que quer dizer com isto?

– Acho que sabe perfeitamente o que. É muito inteligente, muito mais do que eu, não sabe o que daria para ter ao menos um pouco do que você tem.

– Se refere à riqueza? Posso lhe dar tudo amanhã.

– Não me refiro à riqueza.

Edward suspirou.

– Imaginei que não. Então o que quer Aneliese? – Era um tom acusatório e irônico, me deixou muito triste, mas eu não deixei isto transparecer. – Beleza? Velocidade? Invencibilidade? Está disposta a abrir mão de sua alma para ter tudo? Esta disposta a arriscar?

– Não quando você fala assim.

– Nem quando falo de qualquer outra forma. Você não está disposta a isto, porque não sabe em que está se metendo. Você não sabe de nada!

– Pensei que eu soubesse tudo – intervim com mágoa.

– Pois não sabe.

Quietude enquanto a chuva continuava a cair.

– De onde você veio, Aneliese?

– Como assim? Eu já lhe disse que sou brasileira.

– Tem certeza de que não é italiana?

– O quê?

Italiana? Mas porque justamente aquela nacionalidade? O que afinal havia na Itália que... O espanto se estampou em meu rosto e escapou de meus lábios em uma respiração assustada quando compreendi sua frase.

– Edward você acha que sou uma Volturi?

Uma de suas sobrancelhas se ergueu em resposta. Tornei a arfar.

– Não posso acreditar – a última palavra mal passou de um sussurro.

– Veja bem Aneliese – falou meu nome com claro desprezo – você apareceu de um dia para o outro e sem aviso se infiltrou em minha família. Em pouquíssimo tempo adquiriu nossa confiança, algo jamais conquistado por um humano antes. Então de repente vem com todas estas histórias, você sabe demais e é amiga de alguns de nossos maiores inimigos: os lobisomens. Tudo que vê, ouve ou vivencia não parece ter o efeito correto sobre você: nada a impressiona. É como se já conhecesse esse universo tão bem quanto nós, mas como poderia? Os Volturi fazem negócios com humanos quando isto se mostra conveniente, com efeito, não poderia você estar compactuada com eles? Não é uma idéia tão absurda como tenta fazer parecer e me pergunto se esta sua cara de ultraje não passa de uma máscara.

Eu não estava ouvindo isso. Não tinha capacidade para assimilar tantas recriminações falsas, não quando elas vinham dele. Eu não acreditava que Edward me dissera estas coisas.

– Você tem de estar brincando.

– Mas não estou.

Seu rosto era esculpido em pedra e pela primeira vez o vi como o monstro que era. O vi claramente. Nada do que fizera até agora me fizera ter tal impressão, nenhuma demonstração física me conduzira tão longe, mas sua indiferença, sua crueldade e sua aversão foram suficientes para que eu reconhecesse não haver mais um coração naquele peito. Ele estava certo. Não havia nada.

– Agora vejo a criatura maldita que você é – acusei.

Ele sacudiu a cabeça de leve.

– É somente a mim que vê desta forma? Como acha que os Volturi vão recompensá-la quando entregar a eles seu relatório de espionagem? Com a vida eterna? Oh, minha doce Liese, não se engane.

– Eu não sou uma Volturi! – Berrei gesticulando freneticamente.

– Não, você não é! – Gritou ele de volta, aproximando-se ameaçadoramente de mim. – Não é uma de nós, você não é nada! É apenas humana. É descartável e será assim que receberá a gratidão pelos serviços prestados: ELES VÃO MATAR VOCÊ SEM NEM MESMO HESITAR! PARA ELES VOCÊ NÃO É NADA!

Me encolhi no banco com a intensidade de seu ódio queimando sobre minha pele e então senti a familiar umidade escorrendo por minhas bochechas, antes que me desse conta eu estava chorando e isto foi mais que humilhante. Minhas mãos tremiam e minha respiração saía entrecortada, eu estava tendo uma crise. Estava muito nervosa. Quis muito sair dali, então sem pensar duas vezes abri a porta e escapei para a chuva interminável, estremeci violentamente, pois além de tudo ventava muito e a brisa furiosa lançava impiedosas pancadas de água sobre mim.

– Para onde você vai Aneliese? Para casa? Realmente mora lá?

Me assustei com a voz acusadora que vinha de todo lugar, eu sabia que ele estava me rondando, eu sabia que ele acompanhava meu passo sem qualquer dificuldade, eu não podia crer que aquele fora o mesmo homem que eu pensara amar. Ele era um monstro! O Edward de meus livros e de meus sonhos não passava de uma ilusão.

– Pensa que pode fugir de mim? Pensa que é páreo para qualquer um de nós? Você é apenas humana!

Levei as mãos à cabeça tapando os ouvidos com tanta força que chegou a doer. Eu não queria escutar mais nada e apenas andava rápido e mais rápido na esperança de que isto fosse me levar de volta para casa, na esperança de que isto fosse me levar de volta a meu país, de volta à minha antiga vida. Porque eu pensara que ela era tão ruim?

Num movimento inesperado Edward apareceu à minha frente, eu mal podia vê-lo em meio às sombras da noite que chegaram sorrateiras, mas eu senti seu reconhecível perfume quando ele se aproximou.

– Vá embora!

Colocou as mãos em volta de meus braços e me apertou. Eu mordi a língua para não berrar.

– Como pôde mentir para mim, Aneliese? Como pôde fazer isto? EU CONFIEI EM VOCÊ!

Havia mágoa e rancor em cada linha, ele estava muito bravo, muito decepcionado e muito equivocado. Eu não era nada disso que ele dizia, apenas uma garota sem sorte perdida em um país que não era o dela, em uma história que por engano pensava conhecer.

– Me fez de tolo este tempo todo. QUEM É ALEX? Outro espião como você? Agora vejo porque ficou tão transtornada aquele dia quando o acusou de tê-la trocado por outra, você precisa de seu parceiro, não é mesmo? Precisaria dele agora para lhe defender, eu aposto. Mas ele nada poderia fazer, porque não é mais forte que eu! NENHUM DOS DOIS É!

Ele segurou meus pulsos e os apertou com revolta e só então gritei de dor.

– Como pôde fazer isto comigo Liese? – Lamentou num murmúrio. – COMO PÔDE?

Gemi.

– Edward, p-por favor, eu não fiz nada! Quem colocou estas idéias em sua cabeça? O que houve com você? Porque não acredita em m-mim? – Minha voz falhava ridiculamente. – Ouça, por favor: eu amei você e foi real.

– MENTIROSA! – Urrou com visível fúria.

Eu fechei meus olhos e fingi que nada disto estava acontecendo. Fui para meu refúgio, longe das críticas, longe da dor, longe das decepções. Era assim que eu me escondia da realidade quando ela se mostrava cruel demais para lidar.

– Eu devia matar você aqui mesmo, assim impediria que nos arruinasse – sibilou em uma ameaça mortal.

Prendi entre meus lábios um novo grito que ousava escapar. Eu iria morrer, ele iria me matar, não entendia como não pudera ter feito isso antes, mas notei que verdadeiramente jamais havia tido medo, pois eu não pensava que ele fosse capaz. Nem mesmo aquela vez em que estivemos sozinhos na sala de biologia. Naquele dia eu acreditara no lado bondoso de Edward, inconscientemente, mas acreditara.

Hoje eu não acreditava mais em nada.

E então o ar se agitou em chicoteadas contra a chuva e já não estávamos mais a sós.

– Solte-a Edward!

Alice não ficou apenas nas palavras, seus dedos finos e frios tocaram de leve minha pele quando ela forçou contra o aperto do irmão enquanto ele hesitava em seguir sua ordem.

– Edward eu mandei você soltar Aneliese. AGORA!

Ele finalmente obedeceu e eu já não mais podia respirar seu cheiro limpo e fresco. Ele se afastara consideravelmente, mas mesmo o alívio que senti em minha pele lesionada não me fez ficar satisfeita. Aquela distância entre nós me machucou mais que a dor física.

A chuva piorara muito nos últimos minutos e os relâmpagos se tornaram faíscas reluzentes na noite obscura. Eu pude ver flashes da cena que presenciava. Alice e Emmett eram os únicos ali além de nós. Nenhum deles parecia contente em me encarar de volta. Intrusa! Minha mente tornou a me censurar.

– Vá para casa, Aneliese. Vá para junto de Charlie, ele deve estar preocupado com você.

Eu mal conseguia me mover. Será que alguma vez já passara por situação mais desesperadora? Pensei que não.

Alice leu o medo em meus olhos e isto por um instante pareceu consterná-la. Ela se aproximou um passo, apenas isto, entretanto ainda assim estava incrivelmente distante.

– Nós não lhe faremos mal. Eu prometo a você. Nós... – Ela olhou para os irmãos quando estava prestes a dizer algo e pelo jeito mudou de idéia. – Você ficará bem – foi só o que disse.

Vá para casa Aneliese.

Volte para Charlie.

Não queremos você aqui.

De repente eu parecia ter reassumido toda a força que me faltara no confronto, sem resignação reconheci que a valentia surgira da humilhação e da vergonha. Eu só queria sair dali. Antes que pudesse dar um passo sequer outro relâmpago acendeu o céu e Alice e Emmett já não estavam mais lá. Encarei somente a Edward enquanto a luz me permitia ver sua face sem defeitos e ele devolveu meu olhar com o semblante indecifrável.

Você quebrou meu coração, quis dizer a ele.

Não disse.

Desconfiei que pelo tanto que chegara a me conhecer aquela afirmação não tivesse ficado de todo oculta. Eu sabia que ele podia ver a dor em meus olhos agora. Eu quis que ele visse. Quis que jamais esquecesse o que me fez passar. Eu quis que ele sofresse.

A estrada tornou a ficar escura. Segundos se passaram e então se transformaram em minutos. Quando enfim - após o que pareceu ser uma eternidade - outro relâmpago se formou vi que já não havia mais ninguém ali além de mim.

Eu estava sozinha. A afirmação pareceu cinqüenta vezes mais aterradora do que deveria.

Devagar reencontrei a força para fazer minhas pernas se movimentarem e comecei a andar para longe, sem querer realmente chegar a algum lugar. Eu só queria ir embora.


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Notas finais do capítulo

Bom, por hoje é só, eu deveria estar domindo, mas aqui estou eu postando. Sabem, essa é uma das melhores sensações, assim, quando a inspiração vem sem hora marcada... Obrigada a quem continua acompanhando, dois beijos!