Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 32
Nós.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Não tenho muito espaço pra falar, então vou resumir: me perdoem pelo desaparecimento, mas tive um bloqueio de escritor fenomenal que me manteve muito longe de PC. Eu vivo dizendo que quero finalizar esta história e vou fazer isto de um jeito ou de outro, só que ela é muito grande, a primeira versão tinha 3 temporadas, então me perdoem pelos erros. Bem, de um jeito ou de outro aqui vai mais um pouco de Edward e Liese para vocês!



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Trailer

"Estamos sob pressão.
Sete bilhões de pessoas no mundo tentando se encaixar.
Mantenha-se firme.
Nós dois sabemos que é um mundo cruel,
mas eu arriscarei.
Serei seu soldado,
Lutando a cada segundo do dia pelos seus sonhos,
Então, não chore,
Não precisamos de asas para voar,
Apenas pegue minha mão.
Contanto que você me ame,
serei sua platina, sua prata e seu ouro.
Contanto que você me ame."

As Long As You Love Me - Justin Bieber

~*~

Talvez fosse a adrenalina, talvez a raiva ou a emoção, tudo isto somado me fez caminhar furiosamente, mesmo tremendo, mesmo com as botas encharcadas e o nariz frio, cheguei a minha casa como um furacão e me precipitei pela porta, decidida. Tirei a capa e a pendurei no gancho da entrada, os empréstimos da biblioteca deixei em cima da bancada, ainda estava sozinha e fui retirando as peças de roupa pelo caminho, minhas botas ficaram ao pé da escada, minha calça e blusa nos degraus, cheguei ao banheiro usando apenas as peças íntimas e logo me livrei delas também, ligando a torneira e enchendo a banheira de água muito quente e sabão.

As bolhas se formaram imediatamente, espuma branca e cheirosa invadiu o pequeno cômodo... Me agachei e fiquei passando a mão pela água, distraída. Eu estava tão desapontada comigo mesma por ser humana! Por ser apenas humana e nada mais que isto. Nada de extraordinário, nada de surpreendente. Apenas uma humana fraca e sem capacidade para enfrentar vampiros sanguinários. Eu era vítima aonde quer que fosse. Sentia o perigo duplicado em minha vida, não havia mais somente o comum: assaltantes, homicidas, agressores. Não! Havia também criaturas quase indestrutíveis e malvadas que por infeliz coincidência do destino conseguiam invariavelmente chegar até mim. Era incrível a minha sorte.

Como este relacionamento daria certo? Eu voltara a ser cética, voltara a ser pessimista e isto não era bom. Toda a fé que eu conquistara até agora em minha relação com Edward foi testada por esse momento ínfimo. Hoje estava sendo um dia de grandes emoções.

Quando a banheira ficou cheia eu desliguei a torneira e me levantei, mergulhando primeiro os pés e depois me sentando. Era tão bom estar em casa, era tão bom estar em um lugar que eu conhecia e no qual eu não me sentia uma invasora. Por mais que nada disso realmente me pertencesse, era aqui que eu estava segura. Me deitei e fechei os olhos querendo apenas esquecer.

Eu nunca demorava no banho. Não mais. Mas agora era diferente e me aproveitei da solidão para quebrar as regras, quando finalmente saí da banheira podia sentir minha pele quente, as pontas dos dedos enrugadas. Estremeci no ar parado e só então percebi que não havia me lembrado de trazer minha toalha, caminhei até a porta na ponta dos pés e a entreabri, tudo estava silencioso, o único ruído audível vinha do tique-taque do relógio da cozinha.

– Charlie?

Nada. Ainda havia só eu, então me sentindo muito ousada fui para meu quarto, encontrei toalhas limpas em uma gaveta e me enrolei, estremecendo violentamente. Me enxuguei às pressas, pois já havia tido o suficiente de frio por um dia, coloquei roupas quentes e reforçadas e desci os degraus enquanto secava os cabelos para me livrar do máximo de umidade, estava na metade do caminho quando a campainha tocou, me pegando de surpresa.

Fui até a porta com genuína curiosidade e a abri para uma Alice Cullen muito sorridente.

– Alice? - Verbalizei o óbvio, meu tom espelhando minha surpresa. - O que você está fazendo aqui?

– Vim lhe buscar, oras!

– Quê? Para onde?

– Para minha casa - ela deu de ombros como se aquilo fosse algo muito simples e muito fácil, como se há pouco mais de uma hora não estivéssemos as duas em um confronto nada agradável com um vampiro que agora se encontrava exatamente no lugar ao qual ela queria me levar.

– Alice. Do que você está falando?

Ela suspirou pesadamente e perdeu o sorriso.

– Me convide para entrar - falou, mas não esperou resposta, entrou e fechou a porta atrás de si, fitando-me com seriedade.

Eu retribuí seu olhar esperando que ela se explicasse.

– Liese, querida, quantas vezes preciso te lembrar que você não consegue esconder nada de mim?

– Como assim? - O que eu estava escondendo? Eu não sabia.

Alice cruzou os braços e pareceu repentinamente muito aborrecida.

– Eu vi. Vi o que você está cogitando fazer.

Um minuto inteiro se passou enquanto eu refletia, quando a resposta me veio à mente senti minhas feições ficando lívidas. Não houve como disfarçar, a pessoa à minha frente era astuta demais para deixar passar qualquer detalhe.

– Alice...

– Não. Nem me venha com 'Alice'. Você está pensando em deixar meu irmão, Aneliese! De novo! Por causa de uma coisa idiota como essa história de virem de universos diferentes e não terem praticamente nada a ver com o outro.

Ergui uma sobrancelha, a olhando com cara de poucos amigos.

– Sim, tudo bem, vocês são diferentes, isto é verdade, mas Liese, isto não é argumento suficiente! Você sabe disto, meu Deus, quantas vezes terei que assumir o papel de conselheira amorosa com vocês?

– Você está aqui porque quer - respondi ríspida.

Seu rosto caiu um pouquinho e me senti imediatamente arrependida pelo que disse.

– Não é justo.

– Sim, não é, desculpe-me.

– Tudo bem.

Houve silêncio e isso só piorou meu estado, silêncio com Alice jamais era um bom sinal.

– Olhe, eu não estava realmente pensando em levar a sério minhas idéias, só estava analisando os fatos. E os fatos nunca são favoráveis a mim.

– Pobrezinha - o sarcasmo impregnou a palavra.

Tornei a olhá-la para ter certeza de que havia ouvido certo e sua expressão confirmava a suspeita.

– Pobre Aneliese. O que fazer com este problema tão grande? O que fazer com um homem fantástico que a ama incondicionalmente e está disposto a morrer por ela? Pobre, Liese.

Minha boca se abriu em descrença, eu não acreditava que ela estava falando assim comigo! Nós já estávamos assim tão próximas para ela ter o direito de me dar sermão? Cai na real Liese, se existe alguém próximo a qualquer um dos Cullen, este alguém é você!

A verdade dói, não é mesmo? É difícil de lidar para você? Pois me diga se vale mesmo à pena. Você vai jogar fora todo esse amor que existe entre vocês apenas por um momento ruim? Desculpe-me Aneliese, mas eu achava que minha amiga era mais forte que isso.

Eu sempre respondia à altura. Sempre. Achava incrivelmente difícil ficar calada, mas quando não tinha razão como iria argumentar? Ainda assim simplesmente não disse nada, fiquei olhando para fora de cara emburrada e notei tardamente que chovia fracamente.

– Acho que já está na hora de parar com a birra e vir comigo, não concorda?

– Alice. Por favor, de que você está falando agora?

Ignorou completamente minha tentativa de parecer razoável, bufando e dando uma risadinha.

– Temos visitas – deu de ombros. – Não quer conhecer nossos amigos?

– Em que isto compete a mim?

– Ora, vamos Liese! Você agora é parte da família, sabe, é sua obrigação ser cordial – fungou.

Eu a fitei, incrédula. As palavras saíram sem que eu pudesse formulá-las do jeito certo: - Mas que família de quem eu sou... Eu... De que você está falando? – Gaguejei. Ela ergueu as sobrancelhas e eu respirei fundo, soltando o ar pesadamente. – O que eu quis dizer é: eu não vou.

Mal terminei de falar e ela já estava resmungando.

– Não Liese, por favor, pare de ser tão difícil, vamos, eu te ajudo a se aprontar, esta sua roupa não está das melhores, quer que eu a maquie? – Sorriu enquanto remexia em meu cabelo e segurava-me pelas bochechas, me apertando e virando-me de vários ângulos para olhar-me.

– Não Alice, eu não vou! – Reafirmei ao me livrar de seu aperto.

Ela se afastou e finalmente ficou séria.

– Ótimo. Se é assim que quer, eu respeitarei sua decisão.

Respirei com mais calma.

– Obrigada.

Ela apenas assentiu. Pude ver que ficara chateada. Eu me detestei por estar sentindo remorso disso.

– Alice, não vai ficar aborrecida comigo para sempre, vai?

– Não se preocupe Liese, oitenta anos são suficientes para se perdoar alguém.

Franzi o cenho.

– Oitenta anos?

– Sim. Oitenta anos. Levando em conta sua idade e a forma como vive e se alimenta acredito que vá ter uma vida longa, deve morrer por volta dos noventa e nove anos de idade. Parece muito não é? Mas se passa como um sopro.

Eu definitivamente não estava entendendo a nova essência de nossa conversa, que diabos ela queria dizer com aquilo?

– Não entendi – falei o que pensava.

– Não, claro que não. E com certeza ficará sem entender muitas coisas, ficará sem aprender muitas coisas, uma vida toda, sabe, não é como dizem, quase não dá para se fazer nada em cem anos, é bom ter um prazo maior... Eu só aprendi a desenhar roupas depois da transformação, antes disso nunca tive chance. Sem falar nas invenções, o computador sem dúvidas foi uma das melhores! Imagine o que teremos daqui a mais um século.

– O fim do mundo talvez – retruquei em meia-voz depois de ter percebido sua clara intenção em me aborrecer e chantagear.

– Talvez – concordou fazendo cara de quem pouco ligava. – Se é isto o que deseja para nós. Porque você claramente sabe que estaremos aqui, minha família e eu. Edward estará aqui. Provavelmente sozinho e amargurado e sem você, mas estará.

Meu coração apertou com a visão de Edward sofrendo, Alice estava conseguindo o que queria, eu tinha de ser mais esperta que ela.

– Não acho que vá ficar. Sabe, se Edward me ama tanto como diz creio que ele logo se mataria assim que me perdesse.

– É convicta – assinalou com uma sobrancelha erguida.

– Sou conhecedora. Conhecedora dos fatos – esclareci sem rodeios.

Ela suspirou profundamente.

– É não é? Você sabe tanto sobre tudo Liese, porque se apega às coisas ruins? Ele ama você – disse com simplicidade, era a primeira vez que falava comigo sem o tom de provocação.

Por reflexo levei uma mão ao pescoço procurando pelo presente recém ganhado, mas o colar não estava lá, eu o havia deixado no banheiro, pois o tirara para tomar banho e depois me esqueci de colocá-lo. De certa forma assemelhei esta minha atitude a forma como eu tratava Edward agora: eu estivera por perto, o usara como um adorno quando fora conveniente e então simplesmente o deixara de lado.

Eu me sentia uma pessoa horrível.

Eu não acreditava que daria a Alice o que ela queria.

Deveria haver uma resposta, eu devia dizer algo, mas o que seria? Mesmo não tivesse o dom da visão eu acreditaria nela, pois era sua irmã e eu imaginava que gostasse de mim.

– Estou esperando que argumente com isto também – falou depois de um minuto e sorriu em seguida.

Aos poucos meu rosto espelhou o seu, abrindo-se em um sorriso sincero e nós duas rimos.

– E então, vamos? – Pulou à minha frente juntando as mãos com energia ao bater uma única palma como se quisesse me acordar de um transe.

Meus ombros despencaram um pouquinho em face à clara derrota e estendi uma de minhas mãos deixando que ela me rebocasse de volta para o quarto, a fim de me ajudar a me aprontar.

Alguém me dissera uma vez que não era sábio desafiar aquela vampira. Ela sempre ganhava.

– Alice, por favor, por favor, me entenda ao menos uma vez. Não é birra como você mesma disse, não é covardia. – Baixei ainda mais o tom de minha voz até mal passar de um sussurro. - Eu sou tímida! – Enfatizei desesperadamente.

Era a segunda vez que eu fazia aquele percurso, porém somente quando constatei que logo chegaríamos à mansão foi que me dei conta de que teria de entrar em uma reunião estritamente particular, cheia de criaturas diferentes de mim e que por sinal ainda tinham grande dificuldade em me aceitar. Me senti tola por ter sido convencida a tal loucura, eu estava muito nervosa e começara a repensar minha escolha. Agora tentava convencer Alice a fazer o retorno, entretanto obviamente eu não estava tendo sucesso.

– Ah, não acredito nisto Liese. Timidez? Este é seu grande problema? Pensei que vivendo conosco você pudesse ter preocupações relevantes, por exemplo, o perigo de estar em uma casa onde você é a única vítima, já se deu conta de que será a única humana em meio a um bando de vampiros?

Eu a olhei sem me deixar abalar.

– Não teria me trazido aqui se realmente acreditasse que algum de vocês representa ameaça.

– Sim, você está certa, não teria. Mesmo assim isto não devia ser suficiente para lhe deixar tão confiante a ponto de se preocupar com uma coisa tão banal quanto a vergonha.

Uma última curva e então estávamos de volta ao gramado verde vivo, ela dirigiu um pouco mais para o leste em direção à garagem e deslizou para dentro sem dificuldade, desligando o motor com agilidade e abrindo a porta do motorista ao mesmo tempo. Eu não me movi, estava me achando muito intrusa e pensando que a toda a confiança de Alice ao menos uma vez estava sendo baseada em nada. Eles não deviam me querer aqui... Estes amigos de Jasper, eu não os conhecia bem, as informações a que tive acesso sobre eles nos livros eram escassas e eu não encontrava um motivo para acreditar que deveriam simpatizar com humanos.

Você não devia ter vindo. Você não devia ter vindo. Você não deveria ter vindo, Aneliese!

Percebendo que eu não mexeria um músculo Alice veio a mim a passos rápidos soltando muxoxos de impaciência, abriu a porta e ficou me olhando, batendo um dos pés no chão apressadamente. Eu tentei ignorá-la, mas minha tentativa não durou mais que alguns segundos, eu não conseguia lidar com sua feição resoluta e de má vontade e muito vagarosamente saí do Volvo, um pé de cada vez, dei um passo para o lado para lhe permitir fechar a porta, mas não me movi nem mais um centímetro, os braços cruzados e a cara fechada.

– Eu não vou entrar – reafirmei.

Ela olhou para o lado por um instante na direção da porta que levava ainda mais para o interior da casa e em seguida se voltou para mim surpreendentemente sorrindo. Estava prestes a lhe perguntar o que se passava, mas minhas palavras ficaram presas em minha garganta quando em um piscar de olhos Edward apareceu entre nós.

– O que... – Comecei a perguntar, mas ele me cortou, dizendo meu nome com alegria se aproximou de mim e me puxou em um beijo, ali mesmo com sua irmã a poucos centímetros de nós, eu tive que me esforçar muito para não me esquecer de onde estava.

Foi rápido, mas quando se afastou eu já não lembrava mais o que queria lhe perguntar. Eu não lembrava mais que estava irritada e nem do por que.

O riso gracioso de Alice cortou o silêncio.

– Leve-a para dentro Edward, Esme quer muito vê-la.

E ela sumiu de imediato, quase como se não tivesse estado ali. Eu levei um minuto para me centrar, por mais que já fizesse alguns dias era sempre difícil acompanhar seu ritmo acelerado, para mim era como se estivesse sempre dois passos á minha frente.

Com cuidado levantei meu rosto, Edward mantinha as duas mãos sobre meus braços quase como se quisesse se assegurar que eu não fugiria para lugar algum e quando nossos olhares se cruzaram ele sorriu suavemente.

– Bem vinda de volta.

– Obrigada – respondi meio reprimidamente. Mas então não quis mais viver de enigmas, verbalizei de uma vez minha dúvida: - Porque está tão feliz por eu estar aqui?

Pensei que isto fosse deixá-lo bravo ou triste, mas para minha surpresa ele riu. Colocou a mão fria de leve em meu rosto fazendo-me um carinho.

– E não deveria estar? – Indagou, divertido.

Eu podia sentir minhas sobrancelhas franzidas com a confusão.

– Eu não sei. Eu pensei que... Bem, eu estou verdadeiramente muito sem graça, sei que não sou bem-vinda e...

– Sabe que não é bem-vinda? Aneliese, de onde tirou tal idéia absurda?

Minha boca se abriu e fechou enquanto eu tentava formular a resposta. Por fim percebi que eu não tinha o que dizer, aquela havia sido uma conclusão que eu tirara sozinha e pelo olhar que me era lançado agora parecia que eu havia me equivocado; fiquei desconcertada por estar sendo censurada por ninguém menos que ele!

Edward riu e eu nada fiz além de ficar olhando, parecia que eu estivera separada dele por séculos, eu já sentia uma saudade imensa de cada pequena coisa que o envolvia, novamente estava me deixando levar pelo deslumbramento. Talvez eu não tivesse mesmo muitas chances, ainda mais quando ele parecia sempre estar tão lindo e descontraído. Era irrevogavelmente impossível resistir a isto.

– Estou feliz que esteja aqui – murmurou de forma doce, a mão sob meu rosto segurando-o de forma que ficasse completamente de frente com o seu. – Eu pensei que não fosse falar comigo nunca mais. Desculpe-me pelo que houve com Charles – pediu fervorosamente numa necessidade incapaz de não ser levada a sério.

Ele pensara que eu não iria querer mais saber dele? Mas como eu sequer poderia conseguir tal feito? Porém ao refletir melhor vi que seus temores não eram ao todo infundados, eu dera a impressão de que era isto o que queria ao me afastar sem dizer nada e sem dúvidas Edward compartilhara da visão que Alice havia tido depois sobre mim. De repente me senti muito embaraçada e ingrata. Apesar disso, apesar de tudo ele ainda me queria! Estava feliz em me ver... Eu era mesmo uma tola imbecil!

– Não é você quem te de pedir desculpas – suspirei. Ergui uma mão e a aproximei devagar de seu peito, coloquei-a sobre seu coração, mas não houve nada. Batimento, vibração ou sequer respiração. Nada. Era como estar tocando uma parede fria e dura. Eu não pude disfarçar a surpresa em meu rosto e vi que isto o entristeceu.

– Não há nada – encolheu os ombros como quem se desculpa, a boca numa linha contida, tristeza em seus olhos. Eu havia me esquecido de que o coração de Edward não batia. Como eu havia me esquecido disto?

Ele desviara o olhar para a floresta, o queixo tenso, a feição impenetrável. Ele não gostava de ser assim. Me perdi por mais alguns segundos em seu perfil incomum: havia beleza em cada um de seus traços, do nariz fino aos olhos profundos. Mas havia algo mais, eu olhava para o rosto do homem que eu amava. Porque diabos eu estava tornando nossa convivência tão difícil? Porque o afastava? Tive ódio de mim mesma por tê-lo feito sofrer ao menos uma vez que fosse, ele já havia passado por tanta coisa... Merecia ser feliz.

– Eu gosto daqui.

Ele se voltou devagar para mim.

– Quero dizer, de Forks. Eu realmente gosto daqui. De tudo. Desde as lindas paisagens às pequenas poças de lama, é tão diferente de onde venho, é... Não sei. Eu simplesmente gosto.

A insinuação de um sorriso apareceu em seus lábios.

– Parece que está de bom humor, está faladeira, ao menos. Isto significa que me perdoou?

Meu rosto foi da serenidade à amargura num só instante.

– Edward. Você me salvou. Você vive fazendo isso, não sei como não fui perceber. Você me salvou de uma vida vazia e sem sentido, eu detestava o rumo que as coisas estavam tomando, me sentia sufocada, mas aqui eu sou... Feliz. – Sorri. – Eu gosto de Forks – reafirmei. – E eu amo, amo você!

Estiquei meu braço até que a palma de minha mão tocou seu rosto e o puxei para mim em um beijo.

Peter e Charlotte eram e não eram como eu os imaginava. Primeiramente ficaram muito impressionados que uma humana estivesse ali em uma posição diferente do que uma mera presa. Ficaram chocados eu podia afirmar sem problemas. Mas então após o momento inicial se recompuseram e mesmo com alguma dificuldade agiram como se nada tivesse acontecido, me cumprimentaram educadamente, mas não se levantaram de seus lugares nem apertaram minha mão e logo notei a semelhança entre eles e Jasper. Por sorte todas as íris dos vampiros ali presentes estavam suficientemente claras para que eu pudesse ficar tranqüila, mesmo que à primeira vista eu tenha ficado bem perturbada com o vermelho característico nos olhos de três deles: os amigos de Jasper e...

– Charles. – Edward disse seu nome monotonamente, demonstrando que podia não querer iniciar uma nova briga com ele, ainda mais dentro da casa de Esme, mas que ela para ele ter cuidado com suas atitudes.

O ruivo sorriu largamente.

– Já estou devidamente alimentado, vê? – Fez piada. Depois de voltou para mim – Está fora de perigo – seu sorriso ficou irônico.

Eu não deixei passar que para que eu pudesse estar aqui agora outra pessoa teve de ser sacrificada, isto me deu arrepios, mas apenas Edward pôde sentir o leve tremor de meu corpo, uma vez que permanecia agarrado junto a mim. Aos demais mostrei uma fachada composta, os olhos frios, o rosto impassível. Não somente porque censurava o modo de vida deles, mas porque eu, na verdade, não tinha o direito de lhes julgar, por mais errado que pensasse ser. Esta era a parte obscura e atemorizante de Crepúsculo. Stephenie Meyer criara um conto romântico, mas não era um conto de fadas, eu sabia bem disso.

Eu tivera tempo para deixar meus pensamentos vagarem em direção a tudo isto, sentada ao grande sofá junto de Carlisle, Esme e Edward eu meramente não ouvia uma palavra do que conversavam. Achava minhas considerações muito mais prementes.

– Liese?

Acordei do transe ao ouvir meu nome sendo chamado e pisquei várias vezes focalizando os rostos no cômodo.

– Me desculpe.

– Em que estava pensando? – Edward falhou ao tentar parecer casual, eu não tinha dúvidas que ele mais do que ninguém devia estar agoniado por não saber.

– Está preocupada com algo.

A afirmação veio de uma voz grave do outro lado da sala e todos os rostos se viraram para Jasper que era o único que permanecera em pé – o mais longe que o largo cômodo o permitia ficar de mim.

Eu não disse uma só palavra, desde que os conhecera ele só se dirigira a mim quando era a hora de dar ‘oi’ ou ‘tchau’, então era a primeira vez que o ouvia formular uma frase que me dizia respeito.

– Algum problema, querida? – Sondou Esme, a voz doce e os olhos levemente inquietos.

– Eu estou bem – murmurei constrangida que fosse o tópico principal da conversa.

– Não, não está. - Edward não olhou para mim ao falar, sua face estava voltada para o irmão e eu não tive dúvidas de que Jasper lhe confiava alguma informação em segredo.

– Por favor, não fale de mim como se eu não estivesse aqui – sibilei. – Eu disse que estou bem.

Apesar do baixo tom de minha voz era óbvio que todos haviam ouvido minhas palavras, não havia como esconder algo naquela casa, de fato desconfiava que não houvesse como esconder algo mesmo estando consideráveis metros distante dali.

– Outra vez essa palhaçada! – Trovejou Emmett pegando-me de surpresa. – Vamos, digam o que está acontecendo!

Ele podia ter sido o único a verbalizar sua curiosidade, mas eu podia ver que os demais concordavam com a imposição, era bem chato ficar de fora dessas conversas secretas.

Edward, todavia, falou como se estivéssemos apenas nós dois na sala:

– Liese, quer que eu a leve para longe daqui?

Meus olhos se arregalaram com a pergunta indevida, ele não mostrou muita consideração pelos convidados, foi até grosseiro, eu achei. Eu não fiquei brava, sabia que quando se tratava de minha segurança e bem-estar não media esforços. Era uma pena que tivesse me esquecido o quão bom Jasper era em desvendar sentimentos, eu não teria me entregado a uma linha de raciocínio tão perturbadora se tivesse me recordado disto.

Por fim respondi a pergunta.

– Não. Eu quero ficar. – O que ganharia se fugisse de toda situação problemática que encontrasse? Se quisesse ter chance de um relacionamento durável teria de passar por cima destes obstáculos.

– O que está havendo, Jasper? – A voz de Charlotte era sensata e razoável, me senti um tanto intimidade pela suave seriedade que emanava de cada uma de suas palavras.

– Aneliese não se sente muito à vontade com a presença de vocês.

Eu corei furiosamente, como ele pudera ler-me com tanta facilidade? Acaso era comum entre os Cullen a facilidade em desvendar meus pensamentos? Me senti muito invadida.

Uma gargalhada rouca cortou o silêncio que havia se formado.

– Mas é ela quem não deveria estar aqui – defendeu-se Charles, porém ao notar que sua revelação não havia sido bem-vinda completou - quero dizer, quem de nós é diferente dos demais?

Eu não ousei levantar meu olhar, Rosalie sentava-se a poucos metros e tive certeza de que concordava plenamente com o ponto-de-vista do visitante. O pior era que eu não poderia dizer se era ou não a única.

– Aneliese faz parte da família – interpôs Alice com ar grave.

– E acaso Peter e Charlotte também não fazem? Ao menos os conhecemos há muito mais tempo que a ela! – Apontou a outra irmã de forma ríspida. Como eu disse, ela me detestava.

– Não foi isto que eu quis dizer, Rosalie – ralhou Alice.

– Mesmo? Mas não foi o que pareceu.

– Porque toda essa aversão a ela? Eu sou perfeitamente capaz de amar todos os nossos amigos, acaso seu amor tem limite de uso?

– Eu não sou capaz de sair por aí me apegando a qualquer um que mal conheço, se é isto a que se refere então me perdoe por não ser a santa Alice!

Fechei os olhos. Mais uma vez eles brigavam e a causa era eu, eu tentava ver minha situação de forma positiva, mas parecia que o confronto era infinito, eu só queria ficar ao lado de Edward, só queria ter chance de fazê-lo feliz e mostrá-lo toda a capacidade de meu amor, mas como seguir por este caminho quando isto colocava sua família em desentendimentos constantes?

Quando reabri meus olhos vi que ele olhava para mim e que estava calado apenas me fitando, assumi que nossa forma de pensar e se sentir em relação a este assunto era similar: nenhum dos dois queria estar no meio do fogo cruzado, mas se a resposta fosse nosso afastamento...

– Nunca – mal moveu os lábios ao mencionar a palavra. Eu sorri aliviada e emocionada que ele pudesse me entender tão bem.

Próxima a ele me aninhei sob seu pescoço, abraçando seu peito, ele beijou o alto de meus cabelos, as vozes da discussão ainda ecoavam, agora todos exceto nós estavam envolvidos, mas eu não liguei porque o que eu precisava estava ao meu alcance.

E ele me queria de volta num tempo que eu suspeitava ser o sempre.


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Notas finais do capítulo

Este capítulo acabou vazando antes que eu tivesse terminado-o, peço desculpas por isto, mas agora ele está devidamente escrito. Obrigada e até mais :*



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