Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 31
Visitante indesejado.


Notas iniciais do capítulo

Oi, tudo bem? Sim, eu voltei, tardamente, mas voltei. Estou sem tempo por causa do trabalho e logo vou ficar com menos tempo ainda por causa do curso, porém voltarei sempre. Espero apenas que não esteja sozinha aqui, beijos a todos!



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Trailer

"Você me controla,
Me confunde,
Me faz avançar todos os sinais.
Fique em silêncio, fale comigo agora,
Deixe-me entrar em sua mente.
Me mostre sua alma,
Aposto que você é linda por dentro.
Eu não sei o que você está pensando, querida,
Mas estou com aquela sensação,
Não posso voltar atrás agora,
Então segure firme.
Não sei para onde as luzes estão nos levando,
Mas há algo perigoso na noite
E nada vai nos segurar.
Isto está ficando sério,
Detenham o perigo!"

Dangerous - David Guetta feat. Sam Martin

~*~

Fiz uso da desculpa de que Charlie estaria logo chegando em casa e que eu tinha inúmeras tarefas e consegui ficar sozinha, Edward não fez objeção e logo me deu o espaço que pedi. Me levou para dentro em segurança e o fez tão rápido que eu sequer tive como me molhar, mesmo no temporal que tomava conta da paisagem. Logo, porém tive de enfrentar minha mentira, ainda era absurdamente cedo e não havia de fato nada para ser feito do lado de dentro.

Eu estava perturbada, mas não saberia dizer ao certo com o quê. Fora toda aquela conversa sobre mulheres e toda a rejeição da irmã perfeita de meu então namorado. Qualquer mortal ficaria no mínimo incomodada com tais questões para lidar. Eu havia dito a Edward que deixaria para lá, mas estava sendo difícil. A parte não dita era que eu estava com medo, e não por Tanya, pois eu acreditava em Edward e sabia de toda a história e podia até ter certeza sobre sua indiferença a ela, a face que passava em minha mente era a da única mulher que eu já imaginara como oitavo membro do clã Cullen: Bella.

Eu ficara tão insegura à mínima menção do nome de Edward junto ao de outra pessoa, mas quando o fazia com o dela quase não conseguia respirar. Eles eram como um par perfeito, sem clichê. Eram feitos um para o outro, não havia dúvidas disso. Me senti novamente uma peça desencaixada do quebra-cabeça...

De repente as paredes da casa começaram a ficar mais próximas umas das outras, me senti claustrofóbica como nunca antes e me desesperei para sair. Para não soar inteira insanidade corri até meu quarto e busquei pelo exemplar de “Orgulho e Preconceito” que eu há algum tempo havia pegado emprestado da biblioteca; eu sairia para entregá-lo, vinha planejando fazer isso há cerca de dois dias, então cumpriria com meu dever e de bônus ganharia alguns minutos ao ar livre.

Encontrei as chaves da caminhonete onde ficavam de costume, peguei minha capa de chuva e mantive o livro seguro em meus braços enquanto corria da porta da frente para o jardim, consegui evitar me molhar demais graças ao capuz, mas não foi agradável me sentar no banco frio e ficar parada, mesmo já estando dentro da cabine. Girei a chave na ignição ansiosa pelo aquecedor, mas nada aconteceu, repeti o processo e o resultado foi o mesmo. Bufei contrafeita, batendo as mãos contra o volante, ótimo momento para a picape falhar, pensei de mau humor. Me afundei no banco e fiquei olhando para fora desanimada.

E se...?

Bem, eu já estava com calafrios e também fora de casa, eu tinha pernas e tempo de sobra, então porque não ir andando até meu destino? Sem pensar duas vezes pulei para a chuva ininterrupta.

A biblioteca não parecia ficar tão longe quando eu fazia o percurso de carro, mas na chuva e a pé tive a impressão de andar por milhas. Quando cheguei estava enregelada de cima a baixo, a recepcionista me olhou surpreendida quando passei pela porta, sem mais delongas devolvi o livro e estava prestes a ir embora quando ela me questionou se eu não levaria outro volume comigo; ponderei por meio segundo e decidi que seria bom fazer melhor proveito da viagem, subi correndo para o primeiro piso e fui à mesma direção que traçara da última vez que estivera aqui: nenhuma outra seção podia me interessar mais. Corri os dedos pelos títulos, lendo-os em silêncio e até mesmo chegando a reconhecer vários deles, mas não achei nada que pudesse de imediato me interessar. Com um breve suspiro deixei meus ombros caírem e ao me voltar um pouco para o lado meu olhar caiu sobre uma pequenina estante de ferro posicionada a um canto, nela havia vários DVD’s e uma placa no topo indicava que eles estavam disponíveis para empréstimo. Eu ficaria sozinha ainda pelo restante da tarde e apesar de preferir de forma gritante um livro a um filme com este último eu teria uma forma de me manter ocupada até que Charlie regressasse.

Cheguei mais perto e passei os olhos pelas capas, escolhi uma comédia qualquer para me distrair dos maus pensamentos e depois me curvei um pouco para ver o que mais havia disponível. No fundo havia uma capa empoeirada, não por ser velha, constatei quando a resgatei detrás das demais, mas por claramente não ter saído dali no mínimo há uns dois anos, não reconheci o título, nem os atores, mas algo na forma como a imagem deles estava disposta chamou muito minha atenção.

– Brilho de uma paixão – li baixinho.

Jamais ouvira falar daquele longa-metragem, mas não perderia nada se o assistisse.

Feliz por ter cumprido minha missão me virei e refiz o trajeto, tive com a recepcionista que me atendeu educadamente e me informou que eu teria de devolver os empréstimos até a terça-feira e constatei que Forks era bem flexível quando se tratava de aluguel.

Finalmente eu estava de volta à chuva, que havia diminuído, mas ainda persistia em marcar sua presença, escondi os objetos dentro da capa e recomecei a andar com pressa. À medida que avançava via que não parecia mais ser tão cedo assim, o dia estava escuro e as sombras menos proeminentes, um calafrio percorreu minha espinha e apertei o passo ansiosa por estar de volta a casa. Cerca de vinte minutos depois eu já havia coberto boa parte da distância e agora atravessava um trecho deserto, o único que era ladeado pela floresta e consideravelmente mais inquietante que os demais. Enquanto andava me senti apreensiva, tive a impressão de estar sendo seguida, mas quando de má vontade virei minha cabeça não pude ver nada. Eu só queria ser rápida. O suficiente para passar logo por este lugar.

Concentrei meu olhar em meus pés fingindo que já estava longe e ignorando o nervosismo, eu costumava fazer isto em situações que me perturbavam, era uma fuga ridícula da realidade, mas às vezes parecia ser o melhor. Dei mais alguns passos e então vindo de lugar nenhum um homem surgiu a minha frente me fazendo parar abruptamente e quase cair em meio à distração. Seu cabelo era ruivo e brilhoso e sua pele branca como alabastro, vestia-se como um garoto, com efeito, não aparentava passar dos vinte anos... Seriam todas informações comuns com exceção de uma coisa: seus olhos. Seus olhos eram negros e profundos e eu tive a impressão de já ter visto olhos assim antes, algo neles me causou uma vontade urgente e inexplicável de correr.

Ele sorriu ao reconhecer o temor em minha face.

– Olá, qual é o seu nome? – Sua voz soou brincalhona e petulante e eu quis lhe responder a altura, mas não pude emitir som algum, ele gargalhou. – Eu me chamo Charles. Você está sozinha?

Era uma pergunta retórica. Uma maldita e incontestável pergunta retórica. Era claro que eu estava sozinha e isto só me causou ainda mais arrepios, havia uma suspeita insana correndo por minha mente enquanto meu cérebro trabalhava como uma locomotiva, algo naquele rapaz estava errado, algo nele era perigoso, mas o motivo por trás da afirmação simplesmente não parecia fazer sentido. Novamente eu quis simplesmente correr, embora uma voz no fundo de minha cabeça me alertasse que isto seria inútil.

– É sempre assim tão calada? Bem, vamos fazer assim, vamos dar um passeio está bem? Venha comigo.

Ele estendeu a mão e me deu um sorriso sedutor, eu senti a imediata vontade de ceder como se houvesse mais que solicitação em seu pedido, como se fosse uma ordem, como se ele de alguma maneira pudesse me dominar, mas meu lado racional gritava para que eu me afastasse e para que o fizesse de uma vez.

– N-Não, obrigada – consegui dizer quase em um sussurro.

O olhar dele endureceu e seu queixo se pronunciou um pouco.

– Como preferir gatinha, mas antes que eu mate você lembre-se que teria sido muito mais fácil se você não tivesse resistido.

E então tudo se passou numa fração de segundo, talvez em ainda menos tempo que isto, foi tão rápido que tive certeza de ter perdido algo, mas três coisas eu pude assimilar: primeira, eu gritei de pavor ao senti-lo colocar suas mãos em mim, sobre meus braços na tentativa de me puxar para perto, segunda, ele se aproximou de meu pescoço quase tocando sua pele na minha e a terceira era que ele apenas não o fez porque foi repelido para longe, lançado de encontro a uma árvore frondosa que estremeceu violentamente, o barulho da madeira trincando ecoou de várias partes e as folhas sacudiram e despencaram aqui e ali.

A nova cena que se formou surgiu tão rápido que pareceu ter sido conjurada por mágica, parado à minha frente, os braços abertos me cercando e de costas para mim estava Edward. Sua posição era visivelmente protetora enquanto ele me mantinha a salvo do rapaz que há poucos minutos prometera me matar. Isto havia mesmo acontecido?

– Edward! – Exclamou o rapaz ruivo. A voz me trouxe novos arrepios, mas além da névoa de temor em minha cabeça eu pude captar genuína surpresa estampada em seu tom.

O ruído quase inexistente de passos me deixou novamente alerta e espiei por cima do ombro de Edward com temor ao ver que a terceira pessoa começava a se reaproximar de nós.

– Fique onde está Charles, ou não prometo manter-lhe vivo desta vez. – A voz era como um grunhido de ódio e ameaça, eu jamais o ouvira falando assim, mesmo as palavras não sendo direcionadas a mim eu fiquei temerosa.

– Mas do que está falando Edward? Por que diabos você me jogou contra aquela droga de árvore? Jasper não lhe avisou que viríamos? Pensei que Alice já soubesse a esta altura, Peter e Charlotte dizem que não costumam avisar sobre as visitas, porque jamais são surpresas... De qualquer modo, eles caçam por aqui quando vêm, não é? Não entendi porque você ficou tão nervoso apenas porque eu tentei fincar meus dentes nessa aí.

Houve um grunhido profundo, um som assustador saído do fundo do peito de Edward, de repente não se tratava mais do garoto educado e romântico que eu conhecia. Não. Aquele era o outro lado dele, aquele sobre o qual ele já me alertara, o que ele tinha tanta dificuldade em reprimir.

O animal. O vampiro. O monstro.

– Saia daqui Charles! – Cuspiu as palavras.

– Mas, por que...?

– SAIA!

Pareceu que o outro vampiro não estava disposto a obedecer e novamente houve confronto, desta vez ele foi empurrado de encontro a mesma árvore, seu pescoço preso entre os dedos fortes de Edward enquanto ele o limitava, o mantinha longe de mim. Havia um ruído esquisito e repetitivo e me dei conta tardamente de que se tratava de minha própria respiração, era alta em meio ao silêncio da floresta.

– Edward, solte-o.

Não estávamos mais sozinhos, Emmett, Jasper e Alice surgiram tão inesperadamente quanto os outros, ela se aproximou de mim devagar e passou um braço por meu ombro reconfortando-me e dizendo baixinho: ‘está tudo bem’.

– Edward, por favor, solte Charles – o tom de Jasper era casual como o usado em uma conversa entre amigos, mas havia certa autoridade implícita e atribuí isto a sua capacidade de contornar as pessoas com seu dom peculiar.

– Não – a resposta foi definitiva.

Alguém suspirou, pareceu ser Emmett.

– Vamos irmão, solte-o. Ele não fez por mal, você sabe disso.

Um tenso minuto se passou, ninguém ousou dizer nada e todos os olhos estavam concentrados nos dois rapazes, quando sondei as expressões pude relaxar um pouco, pois ninguém, com exceção de Edward parecia irritado, de fato Emmett até sustentava um pequeno sorriso. Depois de um momento que pareceu interminável o aperto foi afrouxado e Edward se afastou do outro com repulsa, como se este o tivesse repelido com um choque, apesar da demonstração de paz sua face ainda estava envolta em fúria e raiva.

– Uou! Obrigado Jasper, Emmett. Pensei que fosse ter de deixar de ser bonzinho e lhe dar uma boa surra para que ele me deixasse em paz.

Emmett fungou uma risada e Alice respirou fundo, parecia verdadeiramente aborrecida, ela olhava para Charles com impaciência como se ele não passasse de uma criança birrenta e por causa de seu jeito de falar e suas atitudes eu também pensei que o fosse.

– Mas o que foi tudo isto, afinal? Porque Edward ficou tão tocado por eu ter tentado dar fim à humana?

Escolha errada de palavras, ele teve de se afastar às pressas enquanto Jasper e Emmett seguravam o irmão, contendo-o em sua fúria.

– Edward, está tudo bem.

– Cale a boca Jasper! E não ouse usar seu dom sobre mim, não vai ser isto que vai me impedir de arrancar a cabeça dele fora!

Eu me encolhi. A fúria e a posição ameaçadora junto de seu olhar desvairado me deixaram muito assustada, eu pensava ter visto o suficiente da capacidade de seu ódio nas telas do cinema, mas estivera enganada.

– Edward, pare com isto – Alice interveio, seu braço nunca deixou meus ombros e com uma das mãos ela me afagava como uma irmã protegendo a outra. – Suas palavras estão surtindo efeito na pessoa errada.

Todos os olhos se voltaram para mim e com confusão revirei aquela frase em meu cérebro - depois do momento inicial ele invertera o processo e agora trabalhava com demasiada lentidão - por fim me dei conta de que era a mim que ela se referia.

Quase que de imediato seu conselho teve resposta: pude ver que Edward relaxou e isto acalmou os demais, eu sentia seus olhos presos em mim, mas não ousei encontrar os dele.

– Jasper. O que está havendo? – Pela primeira vez o garoto falou sem a ironia demarcada em sua voz.

– Esta garota, Charles, se chama Aneliese. Ela e Edward estão juntos.

Ele cravou seus olhos em mim por um interminável momento, depois começou a revezar de meu rosto para o de Edward, a expressão denotava pura confusão.

– Me desculpe, acho que não entendi bem.

Alguns suspiraram.

– Eles são namorados, cara – assinalou Emmett como quem explica algo óbvio.

Charles soltou um ‘oh’ e foi seu último momento de sobriedade, depois disso ele explodiu em uma gargalhada, sua expressão se tornando leve e descontraída.

– Eu não... Edward me desculpe, eu realmente não sabia e bem, convenhamos que isto seja bem difícil de cogitar. – Ninguém disse uma palavra, mas eu senti a diferença na atmosfera indicando que eles também concordavam com Charles. Era complicado me sentir parte de uma família que tinha tanta dificuldade em me aceitar.

Charles se aproximou de nós.

– Desculpem-me – reforçou olhando para ambos.

Edward não parecia nada disposto a ceder e eu logicamente ainda não havia me recomposto bem dos acontecimentos, então o silêncio prevaleceu.

De repente, ao meu lado Alice ficou tensa, me virei para olhá-la e a peguei com a expressão vazia, perdida ao longe, ela estava tendo uma visão, foi rápida e ela logo se voltou novamente para nós sorrindo.

– Peter e Charlotte chegaram à mansão, não seria conveniente nos juntarmos a eles?

– Bem, isto é uma boa notícia – falou Jasper, seu tom era calmo, mas eu acreditava que era esta sua maneira de demonstrar o quanto estava feliz com a vinda dos amigos.

– Sim, fiquei de encontrá-los lá, eles já haviam se alimentado longe daqui e eu... – A voz de Charles morreu sob o olhar mal humorado de Edward.

– Vamos, vamos embora ou Edward vai acabar perdendo a paciência e eu bem que gostaria que ele o fizesse, já faz um tempão que não temos um pouco de ação por aqui – grunhiu Emmett.

Alice soltou um muxoxo em discordância à idéia absurda do irmão, mas o ignorou e voltou-se para mim, ficando de frente comigo e me segurando pelos ombros, forçando-me a olhá-la.

– Liese, você vai ficar bem? Posso acompanhá-la até em casa se quiser.

– Não, tudo bem. Eu vou ficar bem – minha voz mal me convenceu, quanto menos aos demais.

Alice fez uma careta.

– Não, não vai. Foi uma pergunta estúpida. Eu tenho uma idéia, venha para a mansão conosco e converse com nossos convidados, isto vai lhe deixar mais calma... Ver que existem mais de nós que sabem se comportar – ela olhou de esgoela para Charles que ergueu as sobrancelhas.

– Não, eu vou para casa, vocês podem ir, todos vocês, vou ficar ótima!

Meu tom soou mais rude do que eu pretendia, mas eu falava a sério, de modo algum eu voltaria para a mansão dos Cullen quando estava óbvio que não havia absolutamente nada para mim lá. De maneira a fazer minha escolha ser respeitada recomecei a andar, a chuva que havia se transformado em um simples chuvisco já havia ensopado minhas roupas e eu ansiava por um banho. Não olhei sequer para os lados enquanto cobria distância e quando avancei quase um quilômetro tive certeza de que havia realmente ficado sozinha.


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Notas finais do capítulo

Bem, vou postar só um pra ver se recebo alguma review, se houver pelo menos uma durante a semana eu postarei mais, obrigada e até mais! :*