Hoje faz uma semana que quase me afoguei na cachoeira e fui salva pelo Felipe e estou fugindo dele de todas as formas. Simplesmente não posso imaginar na possibilidade de ficar sozinha com ele. Não posso deixar que ele pense que eu sinto algum tipo de sentimento por ele, principalmente porque ele irá casar com a minha irmã.

De lá pra cá eu não consegui parar do que aconteceu lá e porque tinha deixado ele se aproximar tanto. Estou muito confusa desde então. Não sinto mais raiva da Emma, até porque ela não tem culpa se gosta do Pedro, e decidi que vou voltar a ter aulas com ele, não vejo motivo pra continuar a fazer papel de criança. Então, me levantei, coloquei minha roupa de montaria e tentei colocar meu melhor sorriso na cara pra me desculpar com o Pedro por ter faltado algumas aulas.

Decidi sair pelos fundos do castelo para não encontrar com o Felipe. Mas acho que ele leu meus pensamentos porque quando estava saindo esbarrei com ele. Na hora fiquei sem saber o que fazer por uns cinco segundos, mas decidi não falar nada e continuar meu caminho, quando dei um passo seguindo em frente ele segurou meu pulso.

Felipe: Porque está fugindo de mim?

Eu: Eu não estou fugindo de você, — menti — só estou indo para o estábulo.

Felipe: E o resto da semana? Você não vai apagar o que aconteceu na cachoeira fazendo isso.

Eu: Não estamos em um lugar apropriado pra falar disso. — Falo, sabendo que não conseguiria fugir mais daquela conversa. — E não aconteceu nada na cachoeira.

Comecei a caminhar novamente sabendo que ele viria comigo. Ali não era o lugar certo para falar sobre aquilo, qualquer um poderia ouvir nossa conversa facilmente. Quando ele viu que já estávamos a uma distancia apropriada para conversarmos começou a falar novamente.

Felipe: Você não pode esquecer o que aconteceu lá.

Eu: Não aconteceu nada.

Felipe: como não? Não acho que quase beijá-la não seja nada.

Eu: Olha, quantas vezes vou te lembrar de que você é noivo da minha irmã? Ficar pensando no que aconteceu não nos levará a lugar nenhum.

Felipe: Então você ficou pensando também? — levanta uma sobrancelha.

Eu: Não. — menti.

Felipe: Sei que você ficou, porque fugiu de mim a semana toda. Não quero a sua irmã, quero...

Eu: Mas eu amo outra pessoa. — Falei interrompendo-o antes que ele falasse alguma besteira.

Felipe: Vai continuar negando que não aconteceu nada? Você e eu sabemos que algo aconteceu lá e não foi apenas atração física...

Eu: Foi carência, e só. — Falei interrompendo-o novamente.

Felipe: Não foi só isso, eu vi nos seus olhos.

Chegamos ao estábulo e não queria que ele continuasse falando, não queria que ninguém ouvisse aquela conversa.

Eu: Que preciso ir. — Foi apenas o que consegui falar.

Ele não falou nada, apenas abaixou a cabeça e saiu. Entrei no estábulo e não vi ninguém, nem sinal do Pedro. Fui em direção ao Zangado que já estava pronto para a aula. Estava com tanta saudade do meu Zangado, comecei a alisar ele e acabei sendo arrebata por pensamentos. Fechei os olhos e recordei do que aconteceu na cachoeira. Foi tudo tão rápido e ele ficou tão perto de mim a ponto de sua respiração bater no meu rosto, me fez sentir algo que quase nunca sentia, borboletas no estomago, um nervosismo estranho me percorreu pelo corpo.

Senti uma mão tocando no meu ombro e me virei assustada e tive um alívio ao ver que era Pedro e não Felipe.

Pedro: Você está bem? Parece que viu um fantasma.

Eu: Sim. Desculpe-me... Eu estava com a cabeça em outro lugar.

"O que está acontecendo comigo?" pensei. Precisava pensar um pouco, não conseguiria me concentrar na aula daquela forma, precisava ficar sozinha. Sabia exatamente onde deveria ir.

Eu: Pedro, você vai ter que me desculpar, mas não estou com cabeça para a aula hoje. Posso dar uma volta com o Zangado, quero passar mais um tempo com ele, eu estava com muita saudade.

Pedro: Claro. Mas, você está bem Eshley?

Eu: Não se preocupe. Só preciso organizar meus pensamentos.

Pedro: Tudo bem, mas tome cuidado, está bem?

Eu: Ok! — Falei, dando um leve sorriso para ele.

Montei o Zangado e o fiz correr mais rápido que o normal. Fui para a cachoeira, queria sentir a água fria tocar minha pele. Eu não entendi porque não fiquei nervosa ao ficar perto de Pedro e porque tinha ficado daquele jeito ao lembrar do que aconteceu na cachoeira.

Amarrei o Zangado em uma árvore e fui em direção ao meu esconderijo, ao entrar nele toquei a água fria com a ponta dos dedos e fechei os olhos. Talvez aquele não fosse o melhor lugar para clarear a mente, pois ao fechar os olhos o que tinha acontecido passou como um filme na minha cabeça. Senti mãos taparem meus olhos, primeiro imaginei que fosse Pedro, mas as mãos de Pedro tinham calos nas mãos e nos dedos e aquelas não.

Eu: Felipe. — Sussurrei. Foi apenas o que consegui falar diante do nervosismo que senti.

Felipe: Sabia que você ia desistir d aula e viria pra cá. Então vim pra cá e fiquei esperando você aparecer. — Falou ao tirar as mãos dos meus olhos.

Fiquei calada, não sabia o que dizer, minhas pernas estavam iguais a gelatina.

Eu: Eu... Eu vim...

Felipe: Eu sei que você veio pra cá pra pensar no que aconteceu. — Falou me interrompendo. — E quando vi você tocar a água e fechar os olhos tive certeza.

Ele se aproximou mais de mim e minha respiração ficou irregular. "Porque estou assim?" Foi a única coisa que pensei. Dei uns passos para trás para me afastar, mas ele imitou meus passos se aproximando de mim. Por fim acabei encostando na parede úmida da cachoeira.

Felipe: Você realmente acha que isso entre nós não é nada?

Não consegui responder, apenas fiquei presa pelo olhar dele. Quando ele colocou a mão no meu rosto não pude mais negar, queria beijá-lo.

Eu: Posso não ser boa nisso. — Falei quando senti a respiração dele no meu rosto.

Felipe: Acho que isso é impossível...

Fechei meus olhos e senti nossos lábios se tocando. Foi um beijo lento e carinhoso, no inicio fiquei um pouco perdida, mas depois coloquei meus braços em volta do pescoço dele e me entreguei ao nosso beijo.