Fear of Love escrita por Raynara Marinho


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Super agradeço os comentários que recebi. Agradeço pelos elogios e críticas construtivas, muito obrigada a todos.
Este capítulo é dedicado totalmente a vocês.



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A medida que avançávamos nas investigações, questionava a mim mesmo o porquê de tal brutalidade. Debby Marley era uma bela jovem enfermeira com um enorme futuro pela frente. As imagens de quando encontrei seu corpo descansado no banheiro, pareciam estar soltas em minha cabeça; iam e vinham a todo o instante. A cada desvaneio, fazia uma comparação mental, eu não podia evitar. E se fosse Sara, o que eu faria? Eu era um completo imbecil.

Estava a ver alguns dos objetos que repousavam sobre o cômodo, uma borboleta de vidro azul me trouxe à lembrança da tatuagem no corpo da vítima e os detalhes espalhados pela casa; ao que parecia, ela realmente gostava de borboletas. Ao lado do enfeite de vidro, vi uma de suas fotos. Por Deus! Ela parecia tão feliz! Seu sorriso, seus cabelos... Pelo espelho fixado acima do cômodo, podia até mesmo ver refletido a imagem de Debby, de costas para mim, sentada sobre a cama com o desenho de uma borboleta pouco acima de sua peça íntima. Por um momento pensei ter visto Sara a me observar. O telefone tocou, era ela. Estava satisfeita com seu trabalho, havia encontrado um capilar em um dos canos. Perguntou se eu precisava de ajuda, disse que não, dei uma desculpa qualquer e desliguei.


Eu estava mesmo determinado a descobrir o assassino de Debby, estava pronto para trabalhar quantas horas fossem para que o miserável pudesse pagar pelo que fez, mas não queria envolve-la diretamente ao caso, seria demais para mim. Quando cheguei àquela cena de crime na madrugada anterior, não imaginava que pudesse tomar tudo para mim. A dor que eu sentia era a mesma de a ter perdido, era ela quem estava morta naquele box quando entrei, era ela naquelas fotos acima do cômodo, era ela quem eu vi partir naquela mesma manhã. Eu só queria protege-la, mas ao ver Debby, senti-me como um inútil que sempre permitiu que o trabalho fosse o sentido de sua vida, um imbecil que disse não para todas as investidas de alguém jovem e com um grande futuro pela frente, alguém que queria compartilhar comigo seus momentos felizes e surreais, seus momentos de tristeza e dor, sua vida.

Já era noite quando Catherine me encontrou ainda no local do crime a analisar todo o carpete em busca de sangue, fios de cabelo ou qualquer coisa que pudesse contribuir nas investigações, a qual ainda atirávamos às cegas. Meus joelhos estavam a me matar, meu estômago emitia sons que reclamavam a falta de alimento durante todo o dia. Vendo o estado em que me encontrava, não demorou para que Catherine procurasse algo na geladeira que pudesse me alimentar. Após expor seus cuidados maternos para comigo, me acompanhou em uma linha de raciocínio que nos levou diretamente ao quarto da vítima. Debby não era muito diferente das demais enfermeiras que carregam a reputação de sua profissão. Costumava sair com médicos e residentes e era mais que evidente que algum deles teria sido o responsável pelas mortes.


Catherine aplicava alguns de seus conhecimentos empíricos ao analisar o espelho da cama, atentando para os dois pares de faixas de tecido, presas as laterais do colchão, quando encontrou uma digital. "É, alguns homens devem mesmo gostar de controle", pensei comigo mesmo ao finalmente compreender o porquê das faixas. Meu auto diálogo foi interrompido por uma chamada de Warrick, informando que na análise do saco do aspirador de pó, descartado no lixo com as partes do doutor Clarck, ele havia encontrado um pequeno pingente que lhe parecia ser de uma pulseira ou colar. Ao desligar, atentei para uma estante repleta de borboletas de todas as formas e tamanhos.


Havia uma caixa coberta por adesivos também de borboletas. Quando a abri encontrei algumas pulseiras, todas com representações do inseto, provavelmente presentes dos caras com quem saía. No entanto, encontrei ali um pingente que deveria pertencer a mesma pulseira que o pingente encontrado por Warrick. Ainda a observar a estante, notei um fio de cabelo grisalho, bem próximo a caixa de pulseiras, possivelmente não estaria ali por acaso.

Toda investigação parecia nos levar a lugar algum. O capilar encontrado por Sara pertencia ao namorado, conclusivamente morto e esquartejado na banheira da vítima, o que explicaria parte de todo o sangue que identificamos e também o capilar encontrado no encanamento da banheira; a digital encontrada na cama era compatível com a de um dos médicos do hospital, o doutor Tripton, mas ele mesmo nos confessou seu relacionamento casual com Debby, ainda que casado e com filhos. A única coisa que poderia nos levar ao assassino seria o fio de cabelo que encontrei. Nele, Greg descobriu a presença de substâncias usadas para evitar a queda de cabelo, facilmente identificado sob a luz violeta. O deixei a examinar a cabeça de todos aqueles médicos e segui rapidamente a minha sala para a análise dos relatórios.


Estava exausto, mas não descansaria enquanto tudo não acabasse. Eu só queria ao menos uma vez mentir para mim mesmo e dizer que tudo terminaria bem e que Sara e eu seríamos felizes por todo o tempo em que estivéssemos juntos, até que ela pudesse encontrar alguém mais jovem e melhor do que eu. Sentado em minha sala, atento para os papéis que ocupavam a mesa, não percebi quando se aproximou. Encostada à porta me observava de braços cruzados, pensativa. Seja o que fosse, quando reconheci sua presença e olhei em sua direção, ela já havia ido. Permaneci imóvel, pouco boquiaberto, segurando os óculos, revendo seu último olhar sobre mim e a tristeza em seus olhos.
–Ei Grissom! - Exclamava Catherine entrando em minha sala. -O que houve? Parece que viu alguma coisa.
–Alguma novidade? Cortei.
–É, parece que você não está muito para conversa. Talvez devesse ter ido em casa e descansado um pouco, ajudaria com esse humor. Por entre seus olhos azuis, deixava clara a ordem para que eu descansasse.
–Assim que encerrarmos o caso, eu irei para casa. Eu prometo.
–Ótimo. Acho que você vai ficar feliz em saber que temos um suspeito, mas não vai ficar tão feliz quando eu disser que não temos nada que comprove que ele assassinou Debby Marley e seu namorado, embora saibamos a verdade. É o médico responsável pelo departamento onde o doutor Clarck e nossa enfermeira trabalhavam.
–Onde ele está?
–Está com Jim e seu advogado na sala de interrogatórios. Estão esperando por você.


Eu estava quieto, mudo, meus dedos brincavam com a caneta em minhas mãos enquanto minha mente reproduzia um filme. Nele, pude finalmente concluir todo o quebra-cabeças que estive a montar nas últimas horas; agora tudo fazia sentido. Ele era cínico e meticuloso, mas não frio o suficiente para não amar. Quarenta e oito anos e uma bela jovem com quem gostaria de passar toda a vida ao seu lado... "Santa ironia." pensei. Brass lançava as cartas à mesa, tentando inutilmente encurralar nosso suspeito em busca de uma confissão, era nossa única chance de fazermos justiça. Havendo fracassado com seus artifícios, Jim não pôde fazer outra coisa senão libera-los. O doutor a minha frente e seu advogado se levantavam e seguiam em direção à porta quando por fim falei:

–"É triste, não é doutor? Homens como nós. Dois homens de meia idade que permitiram que o seu trabalho consumisse suas vidas. A única altura em que nós tocamos outras pessoas é quando estamos usando nossas luvas de látex. Acordamos um dia e nos damos conta de que durante 50 anos não vivemos nada. Mas então, de repente temos uma segunda chance. Alguém jovem e linda aparece. Alguém... com que poderíamos nos importar. Ela nos ofereceu uma nova vida com ela. Mas nós temos uma certa decisão para fazer, certo? Porque nós temos que arriscar tudo para poder tê-la. Eu não podia fazer isso. Mas você fez, você arriscou tudo e ela te mostrou uma vida maravilhosa, não mostrou? Então ela lhe tirou isso e deu a outra pessoa. E você estava perdido, então você tirou a vida dela. Você matou os dois e agora você não tem nada."

–Eu ainda estou aqui. -Disse ele, fingindo alguma ironia em sua voz, porém com o olhar de culpa.
–Você está?


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de me enviar seu comentário, estou sempre aberta aos elogios, críticas e sugestões.