– Quem é essa louca? – Calipso gritou. Thalia olhou para Nico como se perguntasse “sério isso?”, mas ele não conseguia formular uma frase.

– Eu sou a namorada do garoto que você acabou de beijar. – Thalia disse numa calma falsa. – Sabe, você deveria perguntar se os garotos têm namorada antes de beijá-los, geralmente é o que as pessoas fazem.

– Eu sou a namorada dele! – Calipso disse, então olhou para Nico procurando ajuda.

– Não. – Ele disse firme, fazendo os olhos dela se arregalarem. – Você era minha namorada, nós terminamos no momento em que você decidiu me deixar.

– Mas... – Calipso choramingou. – Pensei que você gostasse de mim!

– E eu gostava. – Ele disse. – Há um ano. Você não achou, realmente, que eu iria te esperar por um ano, não é?

Calipso começou a chorar. Reyna pegou a bolsa de Calipso, que tinha caído no chão, entregou para a garota e se virou para Nico.

– Eu deveria ter avisado que você estava namorando, me desculpe. – Disse.

– Está tudo bem, Rey. – O garoto sorriu. – Já esclarecemos tudo, não é?

– Não está tudo bem. – Thalia disse. – Se você tivesse avisado essa vaca que eu era namorada de Nico ela não teria beijado ele.

– Thalia, por favor, não faça um show! – Nico pediu, mas se arrependeu assim que terminou de pronunciar a última palavra. O rosto dela se contorceu em uma careta.

– Você não quer que eu faça um show? – Ela gritou. – Então peça para essa garota – Apontou para Calipso. – Não beijar meu namorado!

Nico estava prestes a falar algo quando foi interrompido por Thalia, que gritava histericamente.

– E acho bom você lavar sua boca antes de me beijar! – Ela gritou. – Não sabemos se ela é vacinada!

– Você está me chamando de cadela? – Calipso se levantou e foi para cima de Thalia, que sorriu de canto e levantou as mãos.

– É você quem está dizendo, não eu! – Disse. Calipso bufou de raiva.

Nico teria rido se a situação fosse outra. Ele dissera aquela mesma frase da mesma maneira inúmeras vezes para Thalia, e isso a deixava incrivelmente irritada.

E, antes que percebessem, Calipso tinha dado um tapa na bochecha de Thalia. Nico e Reyna se entreolharam e logo depois olharam para Thalia. Ela estava vermelha de raiva e Calipso nem parecia ter noção do perigo que estava correndo.

Thalia segurou o pescoço de Calipso e a prensou contra a parede, fazendo força o suficiente para que a outra garota tossisse. A morena ofegava de raiva e parecia apertar o pescoço da outra cada vez mais. Nico nunca vira a namorada tão brava, nem mesmo com ele.

– Thalia, solte ela. – Nico pediu calmo. Calipso estava ficando vermelha e sem ar. – Thalia, você não quer parar na cadeia por assassinato, quer?

Thalia soltou Calipso, que escorregou até o chão procurando ar. A morena olhou para Nico e bufou.

– Vamos embora daqui, okay? – Nico perguntou, segurando um braço de Thalia e a puxando delicadamente. A garota se debateu e se soltou dele, começando a andar na frente.

Já tinham se distanciado de onde tudo ocorrera e Thalia ainda bufava de raiva.

– Por que está tão brava? – Nico perguntou. Thalia olhou para ele como se quisesse mata-lo. – Quero dizer, ela te deu um tapa, nossa, que coisa, como se você não tivesse saído na porrada muitas vezes com garotas que te bateram, ou tentaram.

– Ela estragou nosso passeio. – Thalia disse.

– Nosso passeio foi estragado pelo Leo, não por Calipso. – Nico disse. Thalia olhou muito irritada para ele.

– Está defendendo ela? – Perguntou. Nico suspirou.

– Não, eu não estou defendendo ela. – Disse. – E não mude de assunto, Thalia. Você ainda não me respondeu!

A garota ignorou ele e continuou andando. Nico olhou para ela.

– Thalia, você está com ciúmes? – Ele perguntou. Thalia parou de andar e olhou para ele com um sorriso de canto.

– Você só pode estar brincando, não é? – Ela perguntou. – Por que eu teria ciúmes de você? Não somos namorados de verdade, não somos nem ao menos amigos!

Nico ficou bravo com o que ela disse, e magoado também.

– Então você não me considera seu amigo? – Ele perguntou um pouco baixo, só o suficiente para que ela ouvisse. – Você acha que uma pessoa qualquer faria o que eu fiz por você, Thalia? Eu te considero minha amiga, mas pelo jeito você me vê apenas como parte de um acordo chato que você tem que aturar, não é? Pois bem, foi você que inventou ele!

Dito isso saiu irritado andando sem uma direção. Ouviu Thalia chamando ele, e sentiu vontade de se virar, mas estava irritado e confuso demais para fazer isso, então continuou andando.

Sem perceber, acabou parando na livraria. Ele gostava dali, era calmo e silencioso. Um maravilhoso lugar para pensar. Entrou e se sentou na primeira mesa vazia que encontrou, fazendo mais barulho do que pretendia.

– Nico? – Ouviu uma voz chamando-o. Levantou a cabeça se deparou com Annabeth, que tinha um livro na mão e puxava uma cadeira para se sentar.

Ao ver um rosto amigo, Nico não se segurou. Deixou que as lágrimas caíssem.

– Ai meus deuses, Nico! – Annabeth disse enquanto corria até ele e o abraça do melhor jeito que podia. Nico retribuiu o abraço e deixou que mais lágrimas ainda caíssem. – O que aconteceu, Nico?

– Eu estou tão confuso, loira! – Ele disse entre soluços. – Esse sentimento, ele está me destruindo por dentro!

– Se acalme! – Ela pediu, então tirou de dentro de sua mochila uma garrafa de água e entrou ao garoto, que bebeu um pouco e se acalmou bem pouco. Ela se sentou na cadeira ao lado da dele e segurou sua mão. – Me conte o que aconteceu, com calma.

Nico pensou por alguns instantes, então suspirou.

– Tudo começou quando eu vi Luke prensando Thalia na parede, naquele dia. – Ele disse. – Eu não sei o que aconteceu, eu simplesmente precisava ajuda-la, pensei que fosse minha mania de ajudar os outros, mas eu sei que não era.

“Então teve essa aposta. No começo eu queria apenas tirar vantagem de tudo. Mas quando descobri que ela não tinha onde morar, nem dinheiro, eu tive que ajuda-la.”

“E eu achei que éramos amigos, Annabeth, eu juro que achei. Ela parecia tão feliz comigo, com tudo o que estava acontecendo, eu pensei que não éramos mais apenas inimigos. Mas ela não me vê assim. Ela só acha que tudo isso faz parte do acordo idiota”

Ele parou de falar para secar as lágrimas na manga da camisa. Annabeth tirou o cabelo dele do olho e aproveitou para fazer um breve cafuné no garoto.

– E eu gosto dela, Annabeth. – Ele disse soluçando. – Eu gosto muito dela.

Annabeth o abraçou forte e fez carinho na cabeça dele. Ela não sabia o que falar, nunca fora boa com conselhos, ainda mais sobre sentimentos. Mas ela queria ajuda-lo.

– Eu tenho certeza que a Thalia gosta de você também, Nico. – Disse. – Ela só esconde isso, porque ela tem medo de sentir. Apenas isso.

Ele olhou para ela e secou os olhos mais uma vez.

– Nico, quando você diz que gosta de Thalia, o que você quer dizer com isso? – Annabeth perguntou. Nico pensou um pouco.

– Quer dizer que eu gosto quando ela ri, principalmente quando sou eu o motivo da risada, gosto quando ela está com vergonha, gosto quando ela fica irritada comigo, gosto quando ela segura minha mão, ou me abraça sem que eu esteja esperando. – Ele disse. – Gosto quando ela me olha e dá aquele sorrisinho de canto. E gosto dos beijos dela. Sei que estamos namorando apenas de mentira, mas eu adoro quando ela me beija.

Annabeth sorriu para o garoto e queria que Thalia visse o quanto ele ficava fofo daquele jeito, com as bochechas coradas, os olhos negros parecendo maiores por causa das lágrimas e o olhar sonhador que eles carregavam quando falava da morena.

Desejou internamente que a amiga fosse menos cabeça dura. Provavelmente ela falara algo sem pensar e isso magoou muito ele. Se Thalia não fosse tão desligada, talvez ela percebesse o que o garoto sente, talvez percebesse quanto ela estava perdendo.

– Você quer dizer que você gostaria de namorar com ela? – Annabeth perguntou. – Digo, de verdade? Sem toda essa farsa?

Nico ficou ainda mais corado do que estava antes e levou a mão ao cabelo, bagunçando-o, então mexeu a cabeça positivamente. Ela abriu um sorriso enorme.

– Se você quiser, eu posso te ajudar com isso. – Ela disse. – Mas eu não vou conseguir sozinha, vou precisar de ajuda profissional.

– Do que você está falando? – Ele perguntou. Annabeth olhou séria para ele.

– Estou falando de falar seu segredo para mais alguém. – Ela disse, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa senão uma careta, acrescentou: - Mas elas são de confiança, você sabe. Estou falando da Piper e da Silena. Elas são melhores que eu nisso.

Nico pareceu pensar por um momento, então olhou para ela.

– Pode até ser. – Ele disse. – Contanto que Thalia não saiba que mais alguém sabe disso.

– Elas não vão contar. – Annabeth disse séria. – Eu sei disso.

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