Daphne escrita por Angie


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Hey, galera!
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Bjos e enjoy!



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Pov Daphne

O clima parecia espelhar meu mau humor.

A nuvens estavam escuras e pesadas e o sol se escondia em algum lugar por trás delas. O ar estava gélido e carregava um sutil cheiro de oxônio, parecia que poderia chover a qualquer momento.

Depois que Sarah e eu escolhemos um vestido entre dezenas de outros, descemos para tomar o café da manhã. Tentei participar das conversas à mesa o máximo possível, parecendo interessada e sorrindo o tempo todo, ou seja, interpretando o papel de princesa doce e delicada que todos esperavam de mim, mas não posso dizer que enganei a todos. Dimitri sussurrava discretamente com Sarah de vez em quando – talvez tentando descobrir o que ela queria tanto conversar comigo. – e papai me observava atentamente, como se esperasse que a qualquer momento eu fosse cair em prantos, mas isso não era possível, ele não tinha me visto chorar na festa de Maxon ontem. Talvez ele esteja apenas desconfiado por eu ter aceitado a ideia de ter encontros tão facilmente de uma hora para outra. Era de conhecimento geral da família que isso era tudo que eu menos queria.

Frederick havia chegado na propriedade de helicóptero duas horas depois, e após recepcioná-lo da maneira correta, deixei-o conversando com papai e Dimitri e subi ao quarto novamente para me trocar, dessa vez escolhendo uma roupa de montaria, que consistia em uma camisa branca, um colete de cor creme, calça creme por baixo de uma saia marrom e botas pretas.

Mas tudo isso foi há vinte minutos atrás, e aqui estávamos nós, passeando pelos jardins, a caminho dos estábulos.

Tinha que admitir, se arrependimento matasse, a França estaria agora de luto pela sua princesa.

Eu havia cometido o erro de perguntar a Frederick, como ele se sentia sabendo que dali a alguns meses assumiria o trono da Espanha, e foi então que ele começou a falar incessantemente sobre sua vida como príncipe e sua capacidade de liderança. Uma das minhas damas de companhia, Genevieve, estava nos seguindo, a meu pedido, de uma distância discreta e eu tinha certeza de que ela estava tão entediada quanto eu. Pobre coitada. Dei-lhe um pequeno aceno, dispensando-a e voltei a fingir que estava prestando atenção em tudo que o príncipe em questão dizia.

O lado bom de tudo isso, era que eu havia descoberto o que ele tinha que me causava tanta repulsa. Frederick era egocêntrico, acostumado a ter tudo que queria em sua mãos, no momento que pedia. Mas uma coisa eu estava disposta a negar-lhe: minha mão em casamento. Não havia descoberto ainda uma maneira de convencer papai de que ele não era o pretendente apropriado, mas logo acharia um jeito. O modo mais rápido de acabar com tudo isso seria fazer com que Frederick me rejeitasse, mas para conseguir tal proeza, eu teria que ir ao extremo, e envergonhar meu pai não seria uma opção.

– E o que vossa alteza faz em seu tempo livre? – perguntei tentando romper seu monólogo irritante.

– Não possuo muito tempo livre, como já deve estar ciente, – Claro, eu queria dizer. Você não parou de falar disso desde que chegou. – mas quando o tenho, geralmente cavalgo. Também sou muito bom em tiro com arco e foi esse fato que acabou me atraindo para a caça. A senhorita gosta de caçar?

Essa foi a primeira pergunta que ele me fez em um longo tempo e eu acho que deveria responder em um tom entre educação e animação, mas pelo amor de Deus, tudo que eu queria era encerrar essa conversa, e passar do tema 'herdeiro do trono' para 'caça' poderia trazer outro de seus monólogos chatos a tona, por isso o que eu fiz foi franzir um pouco a testa e dizer:

– Oh, não, eu jamais seria capaz de fazer algo do tipo. Parece-me ser tão cruel.

O brilho nos olhos de Frederick me diziam que ele pensava de uma maneira completamente diferente.

– Tente sentir a emoção de perseguir e abater uma presa e verá que não é tão ruim quanto parece.

Oh, claro, porque parece ser muito pior. Ao tentar formar a imagem em minha cabeça, a primeira palavra que me ocorreu foi sangue. Meu estômago embrulhou de imediato. Não sou hipócrita, sei que boa parte do que nos é servido a mesa teve o mesmo fim que os animais que Frederick diz caçar, até porque Dimitri também gosta de praticar a caça, mas o simples pensamento de matar um ser vivo, mesmo que seja um irracional, faz com que eu me sinta enjoada.

Uma gota de água caiu em minha bochecha e esse foi o único aviso que recebi antes de uma chuva fina começar a cair. Frederick segurou meu cotovelo e iniciamos uma quase corrida até os estábulos. A chuva parecia aumentar a intensidade a cada passo que dávamos e amaldiçoei mentalmente os pequenos saltos das minhas botas quando pisei em uma área do terreno particularmente irregular, quase torcendo meu tornozelo no processo. Frederick me segurou, no entanto, de um modo um tanto brusco.

Entramos nos estábulos e eu soltei meu braço de seu agarre, tentando parecer o mais altiva possível em meio a minha situação atual. A roupa, agora úmida, se agarrava a várias partes de meu corpo, me deixando extremamente desconfortável. Várias mechas de meu cabelo loiro haviam se soltado de minha trança e se colado ao meu rosto. Sim, eu devia estar muito bonita, no momento. Ao menos a maquiagem era a prova d'água.

Fui até a baia de Tenshi e acariciei sua cabeça enquanto esperava a chuva passar, ouvindo o tempo todo as exclamações de apreciação de Frederick, a visão de cada cavalo ali. A princípio pensei que eu deveria ser o centro das atenções em nosso encontro, como estava enganada.

Passaram-se alguns minutos, a chuva já estava cessando e eu estava tão absorta em meu mundo que já havia esquecido da presença de Frederick quase que completamente, até que ele parou atrás de mim e perguntou:

– Qual é o nome dele?

Tenshi se afastou um pouco, parecendo não gostar da presença dele ali.

– É ela na verdade. – corrigi. – Seu nome é Tenshi.

– Ela é muito bonita. – Quer convidá-la para jantar? Pensei. Porque até agora você já fez mais elogios a ela do que a mim. – O quanto ela corre?

– Numa velocidade que com certeza deixaria qualquer um de seus cavalos, envergonhado. – Ganhei Tenshi quando tinha quinze anos. Ela é uma égua completamente negra como a noite, puro-sangue e temperamental, que na minha opinião, sabe julgar o caráter dos outros, melhor do que qualquer pessoa que conheço. E aparentemente ela não gostou do príncipe. – Mas se não acredita em mim, Alteza, como infelizmente não tem nenhum dos seus aqui, pode pegar qualquer outro cavalo a sua escolha e ver com te deixo para trás.

Frederick me olhou avaliativamente, e pareceu aceitar o desafio pois logo foi conferir os cavalos novamente.

Você vai se sentir tão envergonhado por perder para uma mulher, devia ter pensado duas vezes antes de aceitar o desafio.

Tirei Tenshi da baia, selei-a e guiei-a para fora, já tinha parado de chover. Pouco depois Frederick parou ao meu lado, puxando pelas rédeas um belo garanhão de cor cinza.

Montei em Tenshi e esperei que ele fizesse o mesmo.

– O nome dele é Shadow. – falei quando minha égua começou a andar. Frederick trotou ao meu lado. – Ele é rápido, mas não é pário para Tenshi.

Guiei-o até uma estrada que nos levava floresta adentro, consciente de todos os guardas que nos observavam a pequenas distâncias.

– Um rio corta a floresta mais a frente, quem chegar até lá primeiro e voltar até aqui vencerá.

Ele assentiu concordando. Inclinei- me até o pescoço de Tenshi.

– Vamos lá, garota. Você já sabe o que fazer. – olhei para Frederick. – Três, dois, um.

Tenshi começou a correr.

Tudo a minha volta agora era o som ritmado dos cascos de ambos os cavalos batendo de encontro ao chão, o rugido do vento, o cheiro da floresta e a sensação conjunta de perda de controle e liberdade. Olhei para trás, – meus cabelos fluíam selvagemente ao redor de meu rosto. – Frederick ainda estava lá. Mais rápido do que eu esperava chegamos ao rio e circulei Tenshi em uma volta, incitando-a a aumentar ainda mais a velocidade.

Quando chegamos ao início da estrada novamente, tentei arrumar o cabelo o máximo possível, esperando pela chegada de Frederick. Algo como uns quinze segundos depois, ele chegou com cara de poucos amigos.

Desceu de seu cavalo e puxando-lhe pelas rédeas veio até mim. Tenshi bufou desgostosa e deu alguns passos para trás se afastando.

– Vocês são realmente ótimas juntas. – ele parecia fazer muito esforço para admitir isso.

Sim, nós somos e apenas não chegamos antes porque tivemos pena de você.

– Obrigado.

– Será que a senhorita aceitaria...

– Desculpe, mas está fora de questão. – eu já tinha ouvido aquela conversa milhares de vezes, não precisaria deixá-lo terminar para saber que proposta faria. – Tenshi não é apenas uma campeã premiada, ela é uma amiga. Nunca a venderia.

– Ora, vamos lá… – disse ele sorrindo. – Ela é apenas um animal.

Um pelo qual você parece estar bem interessado.

Frederick estendeu a mão para a cabeça de Tenshi, mas ela voltou a se afastar. Com um brilho de irritação no olhar ele se aproximou novamente e foram que as coisas perderam o controle.

Tenshi ergueu as patas dianteiras no ar em fúria e Frederick tropeçou para trás, caindo no chão assustado e perdendo a postura de príncipe orgulhoso pela primeira vez. Puxei as rédeas, tentando tirá-la do caminho dele para que ela não o machucasse. Meus braços doíam e meu coração batia desenfreado em meu peito. A última coisa que senti, foi a sensação de escorregar e cair com um baque seco, perdendo todo o ar, antes que o mundo perdesse suas cores.

~*~

Quando abri os olhos, a primeira coisa que vi foi o rosto preocupado de Sarah. Eu estava na enfermaria.

– Oh, Daphne, graças a deus! – ela disse aliviada.

Tentei me erguer, mas uma pontada de dor nas minhas costas me fez perceber instantaneamente que era uma má ideia.

– O que aconteceu?

– Você caiu do cavalo. Literalmente.

– Ah, lembrei. Frederick.

– Ele já foi embora.

O quê?!

– Como meu possível futuro marido é atencioso. – falei sarcástica.

– Bem, você já está aqui a cinco horas, ele tinha coisas importantes para fazer na Espanha e não podia ficar aqui esse tempo todo esperando você acordar. Desejou melhoras mais disse que infelizmente as coisas nunca dariam certo entre vocês.

E precisou que eu me machucasse para que ele percebesse isso?

– Presumo que o encontro não tenha sido bom?

– Foi um desastre. – falei. – Primeiro tive que ficar ouvindo ele falar sem parar sobre si mesmo, depois choveu e agora eu estou aqui. Nunca mais quero ter um encontro.

– Sinto muito, – Sarah disse dando de ombros. – mas, de acordo com Dimitri, lista já está em andamento. O próximo será Antoine.

Gemi enterrando meu rosto em um travesseiro.

– Deem-me apenas uma semana para me recuperar. Isso é tudo que eu peço.

POV Andrew

Fechei a porta dos aposentos reais, fazendo o mínimo de barulho possível, o que foi completamente desnecessário quando ouvi minha irmã dizer:

– Sabia que você estava aqui. De novo.

Soltei um suspiro me virando para ela.

– Olá, Elizabeth.

Minha irmã estava recostada a parede com os braços cruzados e os olhos estreitos. Eu podia até ouvir sua voz repetindo em minha cabeça: “Me chame de Liz, Elize, ou até mesmo Lizzy, Mas nunca, nunca, me chame de Elizabeth! Fui clara?” Nossos pais haviam achado que era uma boa ideia juntar o nome de duas antigas rainhas de nossa província para nomeá-la, Elizabeth e Vitória. Digamos que Liz não pense desse maneira.

– Pare de me olhar assim. – pedi.

– Assim como? – perguntou franzindo o cenho.

– Como se eu fosse um caso perdido.

– Bem, você é.

– Isso é tudo que um rei em treinamento precisa ouvir para se sentir confiante.

Endireitando sua postura, ela enlaçou seu braço no meu e começamos a andar.

– Não se faça de desentendido, sabe muito bem do que estou falando. Quero que pense no reino Andrew. Enquanto papai não puder voltar a ativa, você é o rei, mas tem que ter em mente o fato de que, um dia, talvez em breve, o pior poderá acontecer e você assumirá o trono em definitivo.

– Mamãe é uma boa rainha, o povo a ama, eles aceitariam se ela decidisse permanecer no trono.

– E você pretende deixar que ela carregue esse fardo sozinha?

Nosso pai não tinha um irmão, então a possibilidade de um novo casamento para mamãe estaria descartada. Sou o príncipe herdeiro e tenho idade o suficiente para assumir o trono, mas meus pais me impuseram a condição de que para assumi-lo, eu teria que me casar primeiro. E esse era exatamente o problema.

– Não, – falei – mas isso não significa que…

– Quem foi ela? – a pergunta súbita de Liz me pegou de surpresa.

Olhei de esguelha para minha irmã, procurando saber se ela se referia realmente ao que eu estava pensando.

– Ela quem?

– Aquela que te machucou.

– Desculpe, mas não sei do que está falando. – prossegui olhando apenas a minha frente. Se olhasse diretamente para Liz, ela teria a certeza de que estou mentindo.

– Você não era assim antes. Eu sei que os anos podem mudar as pessoas de maneiras drásticas, mas passar a desacreditar no amor não é um pouco demais?

– Eu nunca disse que não acreditava no amor. – Sei que ele existe, e doí, doí como o inferno. – Só não sou cheio de ideias românticas como você.

– Continue mentindo, talvez um dia consiga se convencer de que está falando a verdade. Agora esteja avisado, se um dia eu descobrir quem ela é, não farei a menor cerimônia em encontrá-la onde estiver e dar um belo tapa na cara dela.

Liz parou e soltou meu braço. Estávamos de frente a uma grande porta de carvalho.

– Seus deveres reais te esperam. – Liz disse dando-me um pequeno aceno.

Observei-a ir por um momento e logo depois abri a porta da sala de reuniões, onde o conselho me esperava, com apenas um pensamento martelando em minha cabeça: O que estaria Daphne fazendo agora?


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