Sozinha no meio do escuro, as estrelas eram as únicas luzes que eu podia avistar, além de sentir um vento fresco batendo no meu cabelo, essa varanda é incrível. Daryl se aproxima e se senta a poucos metros.

— Nunca mais vou beber isso — digo sentindo o vento

— Se sente mal? — ele pergunta

— Não — respondo — para falar a verdade eu queria me sentir assim sempre — digo sorrindo

— Você parece uma bêbada feliz — ele diz

— Que bom — digo — porque tem pessoas que quando bebem.. Viram umas cretinas.

— É, eu fico chato, quando bebo — ele diz

Sorrio e ficamos em silêncio.

— Quer saber o que eu era antes disso tudo? — ele diz me olhando

Eu o encaro e o deixo continuar.

— Só ficava andando com o meu irmão, fazendo o que ele mandava a gente fazer — ele diz — eu era um zé ninguém, um nada. Só um caipira imbecil, com um imbecil maior ainda como irmão.

Eu o ouço em silêncio, o que mais eu poderia dizer?

— Eu tinha um irmão — digo — mais novo, eu odiava ele. A maioria das vezes estávamos brigando. Acho que depois que tudo aconteceu, as pequenas coisas é o que mais importa agora. As pessoas jogavam fora, coisas que se matariam pra ter hoje. Eu não as culpo. — paro quando sinto meus olhos se encherem de novo — sente falta dele?

Ele assenti e eu olho para cima. Nunca tenho as respostas que preciso.

— Eu queria poder.. mudar — digo o encarando de novo

— Você mudou — ele responde

— Todos mudamos, mas não porque queremos, foi uma questão de sobrevivência — respondo — Não mudei como você. Parece que você foi feito para o que aconteceu.

— É que eu tô acostumado com isso, com coisas ficando feias, cresci num lugar como este — ele diz olhando para dentro

— Mas você saiu.. disso — respondo olhando para dentro

— Não saí — ele responde

Eu o encaro em silêncio.

— Sabe Daryl, um dia.. eu vou morrer.

— Para — ele diz

— Vou sim.. E você será o ultimo sobrevivente. — digo — Então você precisa ser quem você é, não quem você era. Lugares como este, você precisa esquecer.

— E se não der? — ele responde

— Mas você precisa — digo o encarando

Ele fica em silêncio por um momento.

— A gente tem que entrar — Ele responde

— Mesmo? — digo com um sorriso — a gente podia tacar fogo

Ele fica em silêncio e se levanta. Ele caminha até a porta e se vira:

— A gente vai precisar de mais bebida — ele responde

Eu sorrio e me levanto. Sigo Daryl até o interior da casa.

Pegamos os frascos e abrimos, jogando nas paredes e no chão. Foi a coisa mais divertida que já fizemos. Daryl pega fósforos que estavam no chão e saimos da casa. Faço questão de quebrar um na varanda.

Nos posicionamos em frente e ele retira varias notas de dinheiro, junto com fósforos. Não acredito que ele vai fazer isso. Meu sorriso fica aparente, ele é louco.

— Posso? — digo pegando os fósforos da sua mão

Ele estende as notas e espera. Eu risco o fósforo e coloco-o contra a nota. Ele arremessa na varanda e pega sua mochila. Rapidamente o fogo sobe, me viro para ir embora com ele. Mas minha mente não para de funcionar. Me viro de volta em direção da casa e faço questão de dar minha própria despedida.

Observamos a casa queimar.

Isso foi incrível.

Daryl me faz um sinal para ir embora e nos viramos de volta a floresta. Isso foi um sorriso Daryl?