Realizava-se o casamento de Tomoyo e Eriol.  

Agora, livre, Shaoran entrara na disputa da mão de Sakura. Tendo conquistado a Clow Reed, o tutor da moça, era questão de tempo para poder pedi-la em casamento.

Naquela noite, tratou ele de encarar Clow.

- Meu senhor, tua pupila é a das mais belas e valorosas desta corte. Farias-me um homem honrado se aceitasse meu pedido de casamento com ela.

- Tu és um rapaz franco e nobre, Li-san. Aceito tua proposta.

Sakura foi chamada. Estava belíssima. Shaoran mal se continha ao vê-la.

- Minha querida, este rapaz pediu tua mão em casamento. Eu a cedi baseado em minhas profundas convicções do valor e honra dele. Desagrada-te?

- De modo algum, meu tutor.

- Então está decidido. Agora são noivos!

Sakura fez uma tímida reverencia ao rapaz. Este correspondeu.

O noivado causou o maior frisson nas rodas da corte japonesa. Meiling e sua família retiraram-se da sociedade, ofendidos com a afronta. Mas o que as fofocas falam, o dinheiro cala. Aos poucos, só o luxo da cerimônia de casamento de Li e Kinomoto era falado.

E tiveram razão de fazê-lo.

A festa foi comentada por toda a parte. Comida e bebida vindos do continente e do extremo do país, enfeites esmerados, música de fina qualidade. Nada havia de faltar na festa.

Após a cerimônia fechada, veio então o casal receber cumprimentos. Sakura estava no auge. Maravilhosa no kimono de seda, com flores de cerejeira bordadas. Os cabelos arranjados de forma a emoldurar a graça de seu rosto. Os lábios sorriam cheios de pura alegria. Shaoran também estava muito bonito. Em seu traje, nem parecia real. Os cabelos lhe caiam tímidos pelo rosto, os olhos brilhavam orgulhosos.

- Belo casal – falou um general.

- Sim! Estão felizes! – Disse um comerciante.

Brindaram então aos noivos, sem ver a tristeza dos mais próximos à moça, que escondia sua amargura. Naquela noite, iria consumir de uma vez todo o fel de sua dor.

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Shaoran estava nervoso. Andava a frente da porta do quarto. Esperava RubyMoon terminar o arranjo nupcial de Sakura.  

Ouviu então um pequeno sino, sinal de que a criada saiu pela outra porta. Abriu nervoso e viu.

O quarto era luxuoso e maravilhoso, mas quem lá estava era ainda mais. Estava Sakura sentada perto da janela. Usava um roupão branco, alvo de doer a vista. Seu rosto, iluminado por velas, tinha a serenidade e o brilho das estrelas. Seu olhar era uma mistura de malícia e lúxuria, mas com doçura. Estava mais linda do que nunca.

Aproximou-se.

- Sakura, minha amada! Digo hoje que se morrer em teus braços irei feliz!

A moça sorriu.

- Eu sempre desejei alguém como você, minha bela. Receba meu beijo, tão carregado de amores por ti.

Quando foi fazê-lo, assustou-se. O sorriso sumiu, dando lugar a uma expressão de nojo.

- Carregado de amor pelo meu dinheiro!

Levantou num gesto enérgico. Ele a fitava abismado.

- Que significa isso?

- Significa que sei que você não é conde! Que você arruinou sua família e a fábrica de teu pai! Que desonrou uma moça de família virtuosa, do mesmo sangue que o teu! Que mentiu e continua a mentir!!!!

Ele congelou ao ouvi-la.

- Tu és um cretino! Eu sou o Conde Yue!!! Eu que dei a idéia a Eriol! E meu tutor só te aceitou porque eu ordenei! Nada do que fizeste não foi calculado por MIM!!!!

A moça suava frio. Ele a encarava perplexo.

- Isso não é verdade!

- É claro que é! A prova está aqui!

Abriu uma porta e viu Shaoran um velho curvado entrar. Senhor Tanaka.

- Eu sei de tudo Shaoran!!! Eu que paguei a este homem para fingir!!!

O rapaz engoliu em seco.

Assim que o senhor Tanaka se retirou, levando dinheiro e agradecendo a moça, olhou furiosa.

- Se ainda tens vergonha, não pedirá jamais para consumir este casamento. Nunca irás deitar comigo!

Ele enfureceu-se. Pensava agora que estava numa armadilha.

- Se pedir para acabar nosso casamento, terás que contar a verdade, pois não tens como pagar meu dote. E vai se desonrar. Se ficar comigo e permanecer nesta farsa, vais passar por um homem de pouco valor, pois não terás filhos. Que prefere?

Shaoran chorou.

- Por que fizeste isso?

- PORQUE EU TE AMAVA!!!! AMAVA LOUCAMENTE, E ME DISPENSOU POR UM DOTE MESQUINHO DE SUA PRIMA!!! COMO PODE???

Ele a olhava. Ela começou a chorar.

- TU NUNCA ME VISTE COMO EU SOU!! PENSAVA APENAS EM DESFILAR COM UMA MULHER BONITA! E QUANDO ME DEIXOU POR OUTRA POR DINHEIRO, PROVOU QUE NÃO VALE NADA! COMO PUDE ME APAIXONAR POR UM CRÁPULA??? EU TE COMPREI!! COMPREI E PAGUEI MUITO CARO!!!

Ela o encarava. Serenou-se a custo.

- Espero que entenda que você me devia muito. Mas agora a dívida está paga. Estamos quites.

Shaoran fez menção de aproximar-se, mas recuou.

- Vou me retirar. Quero dormir, amanhã é outro dia. Meu primeiro dia de mulher casada. Boa noite, meu marido. Espero te ver amanhã.

Apontou uma porta. Shaoran viu RubyMoon a sua espera, levando-o a outro aposento.

Ele foi, com a vergonha e a dor sobre si.

Nisso Sakura não se conteve. Rasgou a vestimenta, desalinhou os cabelos e chorou, agarrada a Kerberos, que entrou para acudi-la.

- Ele aceitou! Ele aceitou tudo!!

- Não devia ter feito isso Sakura!

- E eu? E meu coração estraçalhado? Mil vezes estas lágrimas que viver em pranto! Eu me vingarei até o fim!!!

- Que os céus nos ajudem...

CONTINUA...