Senhora escrita por urbaninha


Capítulo 3
Capítulo 3 - A leviandade de um homem




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Shaoran Li, de um clã chinês, filho de Daiki Li, homem próspero, fabricante de porcelanas. Belo rosto, cabelos castanhos, olhos ambarinos que brilhavam de maneira fulgaz. Rapaz acostumado desde pequeno aos luxos da sociedade. Mal imaginavam os que o viam tão elegante em seu passeio num cavalo de fino trato que ele era um cafajeste.


Ao morrer seu pai, as irmãs e a mãe decidiram que ele deveria assumir os negócios. Entediado com isso, deixou a responsabilidade nas mãos de um dos empregados, e fora aproveitar a juventude em farras com amigos. A família acreditava que devia investir toda seu dinheiro em seu único filho, para que ele pudesse fazer boa figura dentre a sociedade e com isso fazer um bom casamento, com uma moça de posição, ou melhor ainda, conseguir ser o protegido de algum nobre. Assim, todas as moedas das costuras e dos bordados das mulheres eram para comprar os melhores cavalos, os melhores kimonos, pagar as viagens e noites em casas de gueixas, na companhia de homens ricos e poderosos. Pensavam assim que ele chamaria a atenção de algum “figura” de alta posição.


Gastando desta forma, o rapaz consumia aos poucos todo o escasso recurso da família, mas nem parecia perceber.


Até que uma noite sua irmã pediu-lhe dinheiro para comprar o enxoval de casamento. Feimei se enamorara de um professor chamado Yuki Yoshiyuki. O irmão viu com bons olhos a união, uma vez que a garota não se interessara por homem algum antes.  


- Tua irmã precisa comprar o tecido do shiromuku* e do habutae*, devemos começar a costura imediatamente – disse Yelan, sua mãe, após o jantar – além disso, precisamos de muitas outras coisas. Graças aos céus que Yuki não pediu o dote.


- Realmente. Devo ter algum dinheiro guardado no depósito. Posso trazer amanhã.


- Ótimo.


Porém, ao verificar a quantia, percebeu Shaoran que o valor mal daria para o que planejava. Lançava sobre a irmã e a família uma desonra infinita, ao mostrar na cerimônia não ter o mínimo necessário para as roupas núpciais, comida e bebida para a festa. Nesta disposição, só lhe viera a cabeça que, como homem distinto e cavalheiro, impressionaria alguém de posição social. Bastava uma indicação de um de seus amigos, ou um casamento vantajoso. Casar estava fora de seus planos, mas confiava nos seus protetores. Se conseguisse antes do prazo sugerido para a cerimônia, de 6 meses, avultar o dinheiro, se livraria do embaraço.


Ao se dirigir aos amigos, percebeu que se enganara. Ninguém a princípio podia confiar-lhe bens ou indicar-lhe para algum trabalho valoroso. Shaoran não tinha experiência com comércio, e bem sabiam que ele seria um desastre nos negócios.


Assim, estava arruinado. Só lhe restava casar-se a tempo. Mas com quem? O único nome que viera a sua mente foi repelido com energia.


- Ela não! Nunca, jamais! Sakura morreu para mim!!


Transtornado, tomou todo o saquê que conseguiu e adormeceu, temendo pelo dia seguinte...


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Estava Kaho e Clow conversando na varanda bem ornamentada da mansão Kinomoto.


- O sarau estava maravilhoso. Pena que não podes estar conosco.


- Sim, é uma pena. Me atacou o reumatismo...Mas percebo que divertiram-se.


- Eu sim, Sakura não. Sempre se irrita nestes eventos.


- Ah imagino o porquê. Não a deixaram um minuto em paz, creio.


- De fato. Sakura já está na idade de casar, mas acho que não tem o menor espírito para tanto agora.


Enquanto Sakura recebia de sua criada Ruby Moon os cuidados nos cabelos ficara introspectiva. Ruby Moon era como uma irmã para Sakura, mesmo sendo sua serviçal. Em posição elevada para uma criada, trocava confidencias com a moça, junto com Kerberos, a quem Sakura acolheu quando se tornou rica, tornando-o conselheiro e amigo.


- Estás aborrecida?


- Não minha amiga. Estou apenas a pensar.


- E em que?


- Algo que sempre desejei e agora posso ter. Devo esperar para tomar posse do que me pertence?


- De forma alguma, querida.


Saiu então a moça andando pelo aposento ricamente decorado, indo a uma mesa de trabalho, se assim poderia dizer. Tomou papel e pena, e escreveu algumas linhas, com a mão trêmula. Parecia fazer algo de certa forma obscuro. Colocou seu carimbo no envelope e em seguida chamou o fiel Kerberos, seu maior aliado.


- Podes levar esta carta? É urgente!


- Mais rápido que puder, Sakura-sama.


Foi-se então que o viu partir, enquanto sentava-se para terminar o arranjo de sua aparência.


Entrou logo depois na sala vestindo um belíssimo furisode azul, com bordados vistosos de garças brancas. Os cabelos cuidadosamente penteados estavam atados por enfeites brilhantes de madrepérola, que lhe davam a aparência de um anjo. Mas o que mais chamava a atenção era sua formosura. Seus cabelos castanhos e sua pele clara eram a perfeita moldura de seus olhos verdes, que puxavam a atenção como florestas que abrigam os que se escondem. A voz doce era música, o corpo era bem desenhado, embora fosse apenas sugestão, devido ao recato.


Clow e Kaho levantaram com sua entrada.


- Por favor, não é necessário.


- Sakura, minha pupila. Alegra-me te ver tão bela – Clow fez uma profunda reverência.


Sakura suspirou.


- Já comeram?


- Ainda não. Te aguardávamos.


- Então vamos! Estou faminta!


Antes de entrar na sala de refeições, apareceu Kerberos.


- Sakura-sama...


- Ah sim. Espere-me um pouco, já falarei contigo.


- Hai.


Notou o tutor este detalhe, mas se ajoelharam perante a mesa de finas iguarias e delicadíssima porcelana da melhor qualidade, e servindo-se do fino chá, esqueceu totalmente.


Ao terminar, Kaho voltou-se para a moça.


- Queres ir dar um passeio, querida?


- Não fique a minha mercê, Kaho-san. Eu ainda não me decidi inteiramente. Mas a ti, meu tutor – encarou o homem – peço que aceite permanecer conosco.


- É claro.


- Vou atender meu criado. Conversamos logo após, sim? - Reverenciando os dois, se retirou.


Clow percebeu algo no ar. E não gostou nem um pouco.


 


CONTINUA...


 


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Notas finais do capítulo

*shiromuku e habutae são os nomes dados as vestimentas do casamento tradicional japones, respctivamente o feminino e o masculino.
Foi o Google que falou, eu só anotei!!



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