Dias se passaram desde a última vez em que falara com Pedro. A faculdade consumia muito o meu tempo, final de período então, nem se fala. A minha felicidade era saber que em pouco mais de alguns meses eu estaria formada e... O que eu faria?

Quando entramos na faculdade temos mil e uma vontades, sempre temos muitas opções que, agora, vão se afunilando. Hoje, após alguns estágios, tenho certeza de qual área eu quero seguir: fisioterapia esportiva. Não que isso seja uma surpresa para muitos, é claro que não é. Eu sempre quis ser lutadora, mas devido a lesão não pude prosseguir. Há males que vem para o bem, certo? Hoje estou me especializando para poder ajudar e ou prevenir outras pessoas que possam vir a passar por algo parecido.

Mas depois de ter o diploma em mãos, não vou parar de estudar, e nem quero. Por isso hoje estou me inscrevendo em um curso fora do país, será uma oportunidade ímpar se eu for convocada, mas eu sei que é algo muito difícil de acontecer – mas não impossível. Seja o que Deus quiser!

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PoV PEDRO

Hoje o ensaio seria mais, digamos, calmo. Como Paula, Rominho e Luís Cláudio estavam na faculdade, pois pegaram prova final, só restaram eu e Sol. Resolvemos então fazer um ensaio apenas de voz e violão, algo mais acústico.

“You got a fast car
I want a ticket to anywhere
Maybe we make a deal
Maybe together we can get somewhere
Anyplace is better
Starting from zero got nothing to lose
Maybe we'll make something
But me myself I got nothing to prove."

Outra vez fizemos um dueto, e posso dizer que estou começando a gostar disso. Sol canta tão bem, sua voz sempre se sobressai, ajudando-me quando semitono ou erro a letra.

"You got a fast car
I got a plan to get us out of here
been working at the convenience store
Managed to save just a little bit of money
We won't have to drive too far
Just 'cross the border and into the city
You and I can both get jobs
And finally see what it means to be living.”

Estava indo tudo tão bem, essa música me fazia viajar lembrando-me de Karina. Escolhemos aleatoriamente, mas ela coube exatamente ao que eu queria dizer à minha Esquentadinha. 'Talvez possamos fazer um trato. Talvez juntos possamos ir para algum lugar, qualquer lugar é melhor. Começando do zero não teremos nada a perder.'

Mais algumas estrofes e iríamos para o refrão, mas alguém chega para nos interromper.

“Olha, querida...” Era Vicky “Essa música não ficou boa na tua voz” Sol revirara os olhos. “E vê se vai descansar um pouco, preciso ensaiar uma música com o Pedro.” Sol saíra antes mesmo que ela terminasse a frase, não queria confusão.

“Tem como você não atrapalhar o meu ensaio?”

“Mas isso faz parte do ensaio, amor. Vamos ensaiar a música que você escreveu pra mim.”

“Beleza, só temos um problema. Eu não escrevi música alguma para você.”

“Eu sei querido. Mas ninguém precisa saber desse detalhe, não é?” Ela ria, passando-me uma folha que continha uma letra de música, passei os olhos correndo e notei que era um dueto.

“Segredos?” E ela agora estava com seu violão, iniciando a música.

“Seus olhos parecem perfeitos pros meus
Sua boca parece que já percebeu
Vem, me conta um segredo
Eu preciso escutar
Seu sorriso me faz esquecer onde estou
Se acordo sozinha já não sei quem sou
Vem, me abraça um segundo e prometa ficar.”

Eu seguia a letra e logo seria a parte que cantaríamos juntos.

“Você virou meu mundo de ponta cabeça
Vou dizer antes que eu esqueça
Você foi o melhor que me aconteceu
E agora nada é igual
Nada importa no mundo quando você me beija
Essa é minha única certeza
Quando tudo em volta parece mudar
Pra mim devemos ficar pra sempre assim.”

“E aí, o que achou? Falta ainda o final, mas já podemos ter uma ideia de como vai ficar.”

“Ficou boa, mas você sabe que eu não a escrevi, certo?”

“E ninguém vai saber disso, ok? Faz parte do acordo, então...”

“Ok, Vicky...” Suspirei, rendendo-me.

“Vamos ensaiar mais uma vez.”

Confesso ter demorado a aceitar de fato esse acordo que fizemos, mas hoje vejo que quanto menos eu protestar, mais rápido vai acabar. Logo estaremos com um CD gravado e, se tudo der certo, seremos reconhecidos. Esse é um ponto que me fez ver que vale a pena, outro ponto muito importante é uma garota linda que eu conheci e que desde então não sai de minha cabeça. Espero que tudo acabe bem.

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PoV KARINA

“Como foi lá, K?” Assim que entrei em casa, meu pai viera logo falar comigo.

“Fiz a inscrição e agora é esperar, pai.”

“Você vai conseguir, minha filha.”

“Tomara.” Sorri o abraçando, enquanto ele depositava um beijo no topo da minha cabeça e abraçava-me também.

Depois segui para o meu quarto, estava louca para, finalmente, assistir ao meu seriado favorito: The Walking Dead. Durante o período da faculdade, raras eram as horas em que eu tinha alguma folga, que eu aproveitava dormindo. Agora com as férias, poderei curtir uns zumbizinhos!

Coloquei o episódio no notebook enquanto trocava de roupa. Quando estava pronta para me deliciar com o episódio, meu celular resolve tocar. Meu coração disparou, seria ele? E para a minha infelicidade, não era.

“Fala, Zé...” Disse um pouco sem paciência.

“Oi, K. Tô atrapalhando?” Olhei para o notebook que estava pausado no início do episódio, suspirei.

“Não tá não. Tudo bom?”

“Melhor agora...” Corei “Então, eu tava precisando falar contigo.”

“Pode falar.” Ele aguçara minha curiosidade.

“Tem que ser pessoalmente.” Por que as pessoas fazem isso?

“Ok, quer encontrar onde?”

“Pode ser na praça José Wilker.”

“Beleza, chego lá em 10 minutos.” Desliguei e enquanto colocava uma roupa decente, tentava imaginar o que ele queria me falar.

Cheguei à praça exatamente no tempo em que lhe disse, e ele já estava a minha espera. Ele estava diferente, algo me dizia que coisa boa não viria dele. E eu devia ouvir mais essas ‘vozes’.

“Vou ser direto, Karina.”

“Pois seja.” Disse sem entender o que estava acontecendo.

Ele me passara um envelope, o que eu não entendi no começo, até abrir e me deparar com o conteúdo. Eu não podia acreditar no que estava vendo, quem fizera isso?

“Acho que o mestre Gael não vai gostar nem um pouco de ver sua menininha desse jeito aí...” Fotos minhas com Pedro, nós dois seminus. Não fizemos nada de mais, mas pelas fotos, pensariam algo além do que realmente acontecera.

“Como você fez isso, Zé?” Eu passava as fotos sem acreditar no que estava vendo.

“Karina, Karina. Você devia ser mais cuidadosa e não deixar a sacada do seu quarto aberta. Sabia que da janela de outras casas você pode ter uma visão privilegiada do seu quarto? Alguém pode te filmar ou até mesmo tirar fotos...” Ele ria com o que estava fazendo, como podia?

“Por que você fez isso?” Um nó se formou em minha garganta, não podia ser verdade.

“Sabe, eu sempre gostei muito de você. Lembra que depois do acidente nós ficamos muito mais próximos? Podíamos até ter tido algo, mas aí apareceu esse cara aí.” Sua voz era mudara ao citar Pedro.

“Que papo é esse, Zé? A gente é amigo!” Minha voz saiu mais alta do que planejado, fazendo com que algumas lágrimas rolassem em meu rosto.

“Amigo é o caramba, Karina! Vai dizer que nunca percebeu que eu queria ser muito mais que só um amigo?” Ele estava exaltado.

“Beleza, e o que você quer conseguir com isso? Me fala!” Reprimia alguns soluços.

“Pra começar, eu quero que você se afaste desse cara.”

“E mais o que?”

“Quero também que você fique comigo. Convenhamos, K. Eu tenho muito mais a te oferecer do que aquele guitarrista meia boca.” Ele ria debochado.

“Não fala do Pedro!” Agora eu que me exaltara.

“Tanto faz, Karina. O negócio é o seguinte: ou você aceita, ou o mestre vai ficar sabendo o que a filhinha dele faz enquanto ele não tá em casa.” Eu não tinha saída.

“Tudo bem, eu aceito.” Finalizei, recolhendo as fotos.

Não podia imaginar que um dia eu conheceria o Zé de verdade, e da pior maneira possível. É incrível como nos enganamos com as pessoas. Zé era como um amigo pra mim e hoje eu não sei o que pensar sobre ele. Além de tudo isso, eu me sentia culpada pelo que acontecera. Como pude ser tão burra? Deixar a sacada aberta... Talvez eu mereça passar por isso.