FLASHBACK ON

PoV PEDRO

“Precisamos conversar!” Eu estava decidido, terminaríamos e eu iria encontrar Karina.

“O que você quer agora, Pedro?” Sua voz era de puro desdém.

“Terminar.” Fui direto.

“E por que eu deveria aceitar isso?” Ela era calma, mas sua voz de descaso me estressava.

“Porque eu não quero mais ficar com você, Vicky. Eu conheci outra pessoa e...” Pausei, ela não precisava saber de nada.

“Entendo, e você acha que eu te daria de mão beijada?” Seu tom de voz mudara, ela estava séria.

“Você não tem que dar nada a ninguém. Nós vamos terminar.” Eu estava me exaltando.

“Engano seu, querido. Presta bem atenção! Minha carreira está começando e preciso de alguns flashes para alavancá-la ainda mais. Pensando nisso, podemos fazer um acordo...” Ela começara.

“Que tipo de acordo?” O que ela estaria pensando?

“Não terminamos o namoro, eu consigo um contrato pra sua bandinha, gravamos algumas músicas como um casalzinho pop e feliz. Depois tramamos um escândalo e terminamos. Aí sim você pode ficar com quem quiser.” Ela contava o plano pausadamente, me dando tempo de digeri-lo.

“E eu pensando que te conhecia...” Minha voz era de pura frustração.

“Você não tem escolha, amor. Vai ser bom pra todos nós. Não era você que queria levar sua música pro mundo e blá blá blá? Então, o que me diz?” Ela imitava o meu discurso sobre meu sonho, arrancando-me um suspiro.

Aquele foi o acordo mais estúpido que alguém me propusera. Eu deveria entrar no jogo dela? Numa coisa ela estava certa, seria ótimo para todos nós... Menos para Karina. Eu não teria escolha. Respirei fundo.

“Aceito.”

FLASHBACK OFF

“No que você tá pensando, Pedro?” Karina estava enrolada numa toalha, assim como eu. Estávamos sentados no tapete de seu quarto. Ela percebera o meu desvio de atenção e ficara curiosa.

“Em como estou feliz por estar aqui com você, minha linda.” Ela sorrira de lado, com os olhinhos fechadinhos, despertando em mim um enorme desejo de enchê-la de beijinhos, o que logo fiz.

“Pedro...” Ela era manhosa, fazendo-me abraçá-la e repousar minha cabeça em seu ombro, acariciando seu cabelo. “Aquela música que você tocou ontem...” Ela parecia cuidadosa com as palavras.

“Você gostou?” Perguntei e ela confirmou “Eu escrevi ela para você...” Ela se virou, seus olhinhos azuis brilhavam, mas sua expressão não era das mais felizes. “O que foi?”

“Obrigada, mas...” Ela abaixou o olhar, cabisbaixa “E a Vicky?” Droga, até ali essa garota me atrapalhava.

“Olha, K, esquece ela. Vamos aproveitar o momento, certo? Um dia eu vou poder te contar o que tá acontecendo e você vai me entender, ok?” Tentei confortá-la, mas por dentro eu tinha medo, medo de magoá-la ainda mais. “Eu tenho uma ideia pra você esquecer...” Olhei-a com uma cara safada.

“Você não presta, moleque.” Ela ria, dando-me um soco.

“Você que está pensando besteira, eu tô falando disso aqui, esquentadinha.” Fui para cima dela, deitando-a no tapete e beijando-a.

A cada beijo, uma nova descoberta. Era inacreditável como eu podia me surpreender com ela cada vez que tocávamos nossos lábios. Uma nova descoberta, uma nova sensação, um novo sentimento nascendo. E ficamos ali, deitados, entregues àquele sentimento que nos conectava, até que adormecermos.

********************

PoV KARINA

Fui despertada pelo meu celular, que não parava de tocar. Percebi que a noite já havia chegado, minha vista estava turva, já que acabara de despertar. Quando finalmente encontrei o que buscava, ele resolve cessar o barulho. Visualizei as 10 ligações do seu Gael - podia considerar-me uma garota morta –, algumas de Bianca e Sol, e uma mensagem de Pedro. Foi então que percebi sua ausência no meu quarto.

Pedro

Oi minha Esquentadinha! Você tava dormindo tão bonitinho que fiquei com dó de te acordar. Não se preocupe que não roubei nada da sua casa hahaha mentira, só peguei uma maçã na geladeira, porque eu tava morrendo de fome :( enfim, eu tô mandando essa mensagem pra agradecer a ajudinha e o cuidado que teve comigo. Não vou perturbar mais, a gente se esbarra na faculdade... Beijos do seu guitarrista bêbado! Ps: já estou com saudades! (18:56)

Como era bobo esse moleque, suspirei lembrando-me dos últimos acontecimentos. Um pouco depois tomei coragem pra enfrentar a fera do meu pai. Disquei o seu número e enquanto o celular encaminhava a ligação, fui respirando calmamente, tentando não entrar em pânico.

“Karina, minha filha. Você ficou louca? Como você pôde fazer isso comigo?” Pronto, adeus Karina.

“Pai, me desculpa, é que...” Comecei a minha defesa.

“Você saiu ontem, voltou e até agora não tinha dado sinal de vida.” Ufa!

“É que eu acabei dormindo demais pai, desculpa...”

“Tudo bem, mas que isso não se repita. Olha, eu vou dormir aqui na Dandara. Tem algum problema?” Ele sempre ficava envergonhado quando o assunto era ela, por achar que eu sou contra o namoro, o que não é verdade, pois sempre os apoiei.

“Claro que não tem né, pai. Aproveita aí...” Insinuei algo à mais e ele percebeu.

“Karina!” Reprimiu-me.

“Calma, pai. É apenas brincadeira. Boa noite pra vocês e manda um beijo pra Dandara.” Ele desligou, deixando-me mais aliviada.

Minha relação com meu pai sempre foi complicada. Minha mãe morrera no meu nascimento e eu me culpo por isso, mas ele sempre diz que não posso me culpar, que não é justo. Mas eu vejo que ele é meio distante de mim, talvez seja por eu tê-la tirado dele. E sua preferência por Bianca é claramente visível, o que me entristece, reforçando a minha ideia de que eu estava ali como uma intrusa. Não gosto desse assunto, portanto tratei de afastá-lo da minha cabeça.

Voltando às ligações, fiz contato com Bianca, que perguntara o motivo do meu 'sumiço' e depois avisara que dormiria na casa de Duca. Depois de uns minutos de conversa, desliguei e agora era a vez de Solange. O telefone chamou algumas vezes e logo ela atendeu, dando-me uma repreensão.

“Karina, da próxima vez que você sumir, eu vou te caçar e só Deus sabe o que eu faço contigo, mulher!” Sua repreensão logo deu lugar a uma voz triste. Ficara muda, talvez tentando escolher as palavras que logo vieram. “Já to sabendo o que a anãzinha fez com o Pedro. Se você quiser e for se sentir melhor, eu saio da banda...”

“Sol, eu não sumi. Apenas dormi um pouco demais.” Sorri com as lembranças. “E seria egoísmo da minha parte pedir isso para você. Eu sou sua amiga e sei o quanto é importante pra você esse contrato. Portanto, não queira se penalizar por isso, ok? Se eu puder pedir algo, será para você agarrar essa oportunidade com toda sua força, para dar o seu melhor...” Sol fungava do outro lado da linha. “Ei, não precisa chorar.” Confortei-a.

“Tô chorando porque você tá me fazendo borrar a maquiagem...” Nós duas rimos. “Isso foi tão profundo que eu achei petróleo!” Ela não existia, definitivamente.

Conversamos por alguns minutos, deixando passar o que eu fizera pela manhã. Sol era minha amiga, mas conhecendo-a como conheço, ela poderia dar com a língua nos dentes, e a anãzinha saber do que ocorrera era a última coisa que eu desejava. Após o ritual de ligações, fui até a cozinha para comer algo – estava azul de fome.

Voltei ao quarto e ao passar pelo espelho, lembrei-me que continuava com as vestimentas da manhã, corri para um novo banho. Terminado o banho, escolhi um short preto soltinho e uma camiseta cinza, e logo voltei para a cama, precisava descansar mais um pouco. Antes, apanhei o celular e reli a mensagem de Pedro, rindo algumas vezes. Repousei minha cabeça sobre o travesseiro, lembrando-me dele. Um bem estar interior me consumiu, podia dizer que estava nas nuvens. Resolvi então ligar para ele, pra saber como estava. Disquei o número e segundos depois uma voz feminina atendera.

“Oi Karina, tudo bom?” A voz era doce, conclui se tratar de uma criança.

“Oi, como você sabe quem eu sou?” Não era a voz de Vicky, quem seria?

“O Pedro sempre fala de você. Ele te chama de... como é mesmo? Esquentadinha.” Ela parecia gentil, gostei dela.

“Ah sim” Fui gentil também. “Mas, quem é você?”

“Sou a irmã caçula dele, meu nome é Tomtom.” Ele tem uma irmã...que fofo!

“Oi, Tomtom! Prazer.”

“O prazer é meu, K! Posso te chamar assim?”

“Pode sim, poxa!” Uma voz masculina apareceu no fundo.

“Ai que bom! Mas K, agora vou lá. O Pedro tá aqui enchendo meu saco...” bufou “Beijos e ah! Eu shippo Perina.” Soltou uma risada e passou o aparelho para o irmão.

“Ela me mata de vergonha...” Ele parecia se desculpar.

“Nada a ver, eu gostei dela!” Prontifiquei-me a protegê-la. “Mas então quer dizer que ela shippa a gente?”

“Aqui em casa todos shippam Perina, só para você ficar ciente.”

“E a Vicky?”

“Não pronuncie esse nome aqui!” Repreendeu-me. “Ela é tipo o Voldermort, meus pais a chamam de Você-Sabe-Quem ou Aquela-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada.” Juro que tentei segurar uma risada, mas não consegui, fazendo-o rir junto. “É sério, poxa.”

“Ok...” Recuperava o fôlego. “Mas só liguei para saber como é que você tá. Devia ter me acordado antes de ir...” Minha voz era manhosa.

“Eu tô bem, depois da manhã de hoje... quem não estaria bem, não é?” Corei. “Não acordei porque você tava tão bonitinha, fiquei realmente com pesar de te tirar do sono.” Ele era carinhoso, me fazendo sentir-me acarinhada via celular – ridículo, eu sei.

“Tudo bem então. Mas agora vou desligar, preciso dormir mais um pouco que amanhã a luta começa de novo. Final de período tá aí e que a força esteja a nosso favor. Boa noite, moleque!” Ele era o meu Moleque, definitivamente.

“Vai lá então. E que os jogos comecem!” Rimos “Boa noite, minha Esquentadinha!” E eu era a Esquentadinha dele.