Pride escrita por Laís


Capítulo 2
Parte 2 - Perdoe-me, Dra. Hooper.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente :3 Esse é o segundo e penúltimo capítulo, espero que tenha ficado bom. Revisei com um olho aberto e o outro fechado, então talvez um errinho tenha me escapado.
Queria dar boas-vindas para a Rose. Rose, sinta-se convidadíssima p hora do biscoito!
Boa leitura!



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–Nós precisamos tornar isto público, Sherlock - argumentava Janine enquanto o detetive folheava o jornal descuidadamente, deixando algumas páginas soltas caírem.

Sherlock Holmes continuava fingindo que mantinha sua atenção presa ao noticiário quando Janine agachou-se próximo ao local onde algumas folhas haviam caído e deixou uma dentre elas em seu colo.

–Que bom que você não mostrou objeção, querido. Porque eu já cuidei de tudo - informou com jocosidade, passando as mãos nos cabelos rebeldes do detetive.

E, em sessão vizinha ao obituário, um anúncio matrimonial. Em fonte pouco maior que as outras lia-se sobre a junção de Sherlock Holmes e Janine Hawkins.

Dois dias se passaram desde que ela começara a morar em Baker Street e nesse ínterim se mostrava menos propícia aos usuais gracejos provocativos. Quando estavam sozinhos, Janine se mostrava uma companhia leve, mas talvez isso se devesse ao fato de que passava maior parte do tempo em um silêncio apreensivo. A sra. Hudson, que fora a única visita que tiveram nesse meio tempo, estranhara a presença da mulher, porém logo engajaram em conversas que, para Sherlock, eram só desperdício de energia vital.

"Como você o convenceu a isso? Sherlock, pisque duas vezes se essa agradável moça estiver o mantendo como refém." Seguida de várias risadas amistosas e um revirar de olhos por parte dele.

John chegara no instante em que ele terminara de ler a declaração.

–Nem mais um passo - vociferou Sherlock fazendo com que o amigo instintivamente ficasse imóvel. O detetive pegou o casaco e seguiu na direção da porta - Agora vire-se na direção contrária e pare de ficar postado aí com essa expressão vazia, é simplesmente irritante.

John só teve tempo de fazer um meneio de despedida para Janine e acompanhar Sherlock.

–Não volte tarde, Sherly - já estavam na soleira da porta quando ouviram o grito e John percebeu os lábios do amigo se crisparem.

–Por que o timbre da voz dela tem que ser tão absurdamente irritante?

–Você sabe que, já que vão se casar, vai ouvi-la falar bastante - disse recebendo somente um grunhido em resposta. - Parabéns, inclusive. Fiquei surpreso por não ter me contado nada, mas... É o grande Sherlock Holmes, ninguém prevê seus passos - havia um certo tom de repreensão e ressentimento contido em suas palavras - Não há nada que você queira me pedir?

–Você está tentando deixar o bigode crescer de novo e, por favor, não faça isso.

–Só não tive tempo de fazer a barba - explicou, impaciente - mas não é disso que estou falando. Não há nada que você queira que eu retribua? Algo que você mesmo já fez por mim em uma determinada ocasião especial - insistiu enquanto tentava acompanhar as passadas largas de Sherlock.

–Você me perdeu completamente, não faço ideia do que esteja falando.
–Diabos, Sherlock! Eu já tenho metade do discurso pronto e você ainda não me convidou para ser o padrinho do seu casamento - queixou-se.

–Porque seria cruel da minha parte convidá-lo para ser uma coisa que você não será.

–O que? - trovejou - Isso é mais uma das suas brincadeiras que ninguém acha graça? Como por exemplo se fingir de morto por dois anos? Quem possivelmente possa...

–John, subitamente, seu timbre tornou-se insuportável. E sua respiração sempre foi tão alta assim ou você está fazendo isso exclusivamente para me irritar? - e continuou resmungando, quase para si mesmo - Fingir de morto... Por acaso eu sou um cachorro agora?

Sherlock sinalizou para um táxi que passava naquele instante e, ao entrar no veículo foi logo fechando a porta, desfazendo-se da companhia de John.

Quanto ao lamentável caso que tinha em mãos, só teria que esperar e isso o frustrava porque algo complexo lhe fora prometido e ele não tinha nada em mãos. Era só um peão no tabuleiro.

Janine tinha um passado muito semelhante ao de Mary e se tornara assistente de Charles Augustus Magnussen para descobrir um meio de eliminar seus inimigos, seus pontos de pressão, como seu antigo chefe chamava. O próprio Charles, não obstante, possuía informações suas, porém não se apresentara como uma ameaça. Ela esperava encontrar arquivos sobre as pessoas que caçava, o que se mostrou uma busca frustrada. Mary Watson, por sua vez, aproximara-se dela com o intuito de eliminar o próprio Magnussen. A esposa de John Watson tinha pleno conhecimento de quem Janine Hawkins verdadeiramente era e a isso se devia sua relutância em deixar que ela ficasse à sós com Sherlock. Mas aquilo tudo eram as peças que o detetive conhecia por conta própria, pois quanto ao caso, ela se recusava a lhe dar qualquer informação.

–Você vai precisar confiar em mim - fora tudo que ela dissera, rompendo sua promessa de que tinha uma verdadeiro investigação para o detetive.

Na ocasião, Sherlock caiu em seu habitual silêncio taciturno que é capaz de levar alguém à loucura. Sempre que fazia isso, mantinha o olhar perscrutador fixo na outra pessoa e uma expressão completamente vazia. O que levava qualquer um a tentar decifrar o que ele estava pensando e, simultaneamente, sentir-se completamente despido, como se todos seus segredos estivessem sendo arrancados um por um.

–Em que você está pensando? - ela quis saber, mas não obteve resposta. - Vamos, Sherlock! Você sabe que está doido para falar várias coisas sobre a minha vida que eu mesma pensava que ninguém pudesse ter conhecimento e ver meu ar embasbacado e sem palavras. Não é esse o seu modus operandi? Vamos, mostre a sua genialidade, sr. Holmes, tente arrancar todas as minhas palavras.

Sherlock não aquiesceu e desviou o olhar, descartando o assunto. Janine prosseguiu.

–Você sabe o que eu acho? Eu acho que você joga verde. Você não deduz, você palpita. São só chutes e as próprias pessoas se entregam. Vamos, Sherlock. Tente comigo.

–O que acontece quando jogamos água em um formigueiro? - perguntou evasivamente como se não estivesse ouvindo as provocações - Todas as formigas saem em uma corrida frenética e caótica. Você está jogando água em um formigueiro porque não sabe com o que está lidando. As formigas podem ou não atacá-la e você quer anteceder o golpe fazendo com que elas venham até você no momento em que está preparada. Esse é o seu m.o.

Naquele instante, Sherlock levantara e caminhara até ela, quase como se encurralasse um animal ferido.

–Seus antigos chefes... Nenhum deles era como Magnussen, eles não vão me ver como um desafio. Nunca viriam atrás de mim, logo eu teria que ir atrás deles, mas você não quer que eu faça isso porque não me deu informação nenhuma, então isso não tem nada a ver com eles. Estamos falando de alguém que conhece você e que pode ou não se tornar uma ameaça, porém não se pode dar ao luxo de esperar para ter certeza, quer se certificar de atacar antes de ser atacada. Então, Janine, a pergunta é: ex-namorado ou ex-noivo?

Atônita, ela recuou e, passados alguns minutos, respondeu secamente:

–Ex-marido - corrigiu - Só preciso que ele apareça, Sherlock, só isso. Depois você não precisa fazer mais nada. Sabe o ditado que diz que precisamos manter nossos inimigos perto? Ele sabe demais para ficar longe de mim.

E a conversa viu seu fim com aquela declaração.

Não sabia exatamente por que ajudava Janine, talvez o motivo fosse pois só conseguia pensar em uma razão para não ajudá-la e não estava disposto a admitir isso em seu âmago.

Molly.

Era ela quem ele estava indo ver. Não pensara em nenhum motivo específico, porém, sem um propósito lógico, queria desesperadamente explicar que o casamento era uma farsa. Na hora, pensaria em uma forma de mencionar o assunto de modo corriqueiro, sem que ele se apresentasse como a única coisa que o levara até lá.

Era um impulso completamente sem nexo para o detetive, porém sentia que devia fazê-lo mesmo assim. Um passo no escuro em território desconhecido, era disso que se tratava.

–x-

Em algum momento aquilo cessaria, aliás, por quanto tempo alguém era capaz de sofrer pela mesma coisa? Talvez houvesse um limite, no fim das contas.

A raiva de Molly, gradativamente, fora se dissipando deixando lugar livre para o cansaço. Naquele momento era só isso que ela sentia. Cansaço. Estava exausta em ter que lutar pelas mesmas causas perdidas, gostaria de poder, só por alguns instantes, admitir que aquilo a magoava profundamente, porém isso a reduziria a uma garota dona de uma paixão platônica. Ela precisava ser mais que isso. Portanto, renegava qualquer sentimento de perda relacionado ao casamento de Sherlock Holmes.

Mas então por que aquelas imagens insistiam em rodopiar ininterruptamente em sua cabeça? A voz de Sherlock lhe dizendo pelo telefone que precisava de sua ajuda, seu pedido para que ela o ajudasse em um caso e, finalmente, a pior de todas, ele a agradecendo por tudo e declarando que ela sempre importara. Talvez ela tenha interpretado de forma completamente errada. Entretanto, ele possuía uma das mentes mais brilhantes da face da terra, seria possível que simplesmente não notasse o efeito de suas ações? O que mais a assustava era a perspectiva de que talvez ele soubesse, aliás, como poderia não saber? Tudo poderia não passar de crueldade.

Pensar nessa segunda opção a fazia ficar com raiva novamente.

Não é mágoa, é só raiva. Só raiva. Que seja só raiva, por favor, que seja só raiva. Era tudo mentira, Molly. Tudo mentira.

Mas como poderia a raiva doer daquela forma?

Molly considerara fazer uma mudança drástica em sua vida, mudar completamente os ares e as pessoas, contudo estaria fazendo aquilo por ele e não permitiria que nenhuma de suas decisões girasse em torno de Sherlock Holmes.

Não concedia muita atenção ao que fazia e acabou deixando que uma ampola caísse, derramando seu conteúdo no chão. Assim que terminou de limpar o acidente, alguém irrompeu pela porta.

Quem mais haveria ser?

Sim, talvez fosse somente crueldade.

–Molly - Sherlock cumprimentou com uma formalidade fria.

Ela empertigou-se e retirou as luvas.

–Sherlock - fez o possível para responder no mesmo tom. - O que você quer? - questionou com aspereza.

Um traço de hesitação perpassou o rosto do detetive mediante aquele tratamento. Sherlock Holmes fora até lá para contar a ela sobre o casamento falso, sem ter certeza absoluta do porquê o fazia, sabia somente que era algo que precisava ser feito.

–Molly, eu... - começou a falar enquanto aproximava-se dela, mas algo na expressão da legista o fez estancar. Abriu a boca, ensaiando dizer dizer alguma coisa mais uma vez, porém tudo pareceu-lhe subitamente sem sentido. O olhar gélido de Molly o paralisara. Por que fora até o Barts mesmo? - Preciso de um favor. - concluiu, retomando sua postura inicial.

Molly sempre lhe parecera a única pessoa a não afetar-se em sua presença, jamais pensava duas vezes quando precisava repreendê-lo e ele quase sorriu ao lembrar-se do seu acesso de fúria quando pensou que ele havia voltado a usar drogas. E era sempre aquele olhar austero que o fazia recuar, exatamente como naquele momento.

–Isso não seria uma novidade, não é mesmo? - retrucou com severidade, sem alterar seu ar perscrutador.

Sherlock Holmes semicerrou os olhos e franziu o semblante como se algo lhe chamasse a atenção pela primeira vez.

–Não recordo de alguma vez tê-la obrigado a fazer algo por mim - objetou, indo em passadas curtas e lentas na direção dela. Sua expressão perdurava em uma máscara de intrigamento.

–Alguma vez já lhe ocorreu, só por um segundo, que o grande Sherlock Holmes não é absolutamente nada sem aqueles que sempre o ajudam? - sugeriu sem erguer a voz.

Molly não sabia dizer exatamente o porquê de estar esbravejando todas aquelas coisas, mas repentinamente a raiva retornara e ela não estava disposta a questionar razão ou o direito da sua fúria há tanto contida. Era um egoísmo absurdo, porém, lá no fundo, ela queria machucá-lo.

Para terceiros, tudo parece absurdamente fácil. No panorama exterior, a ideia utópica de que expor os sentimentos faz com que tudo se resolva magicamente é tentadora, entretanto existe um abismo entre essa alternativa fantasiosa e a realidade. Orgulho. Ninguém sabe dizer até onde pode-se abdicar da própria dignidade sem transformar-se em um tolo rastejante. Tudo poderia ser singelo, contudo, naquele momento, ninguém seguiria pelo caminho fácil. Uma parte de Sherlock gostaria de ter admitido que ela estava certa porque, aliás, de fato estava. Entretanto, ambas as partes conservariam o orgulho. E o coração partido.

Sherlock encurtou mais ainda a distância entre eles dois, seus traços assumindo a expressão altiva costumeira.

–Perdoe-me, Dra. Hooper, se alguma vez lhe importunei ou pedi mais do que estava disposta a conceder. Acredite, meu erro é proveniente da crença, obviamente falsa, de que podia contar com você - retratou-se em uma formalidade cruel - Prometo não lhe importunar mais com os meus problemas ou voltar a solicitar favores inconvenientes. Tenha um bom dia.

E retirou-se.

Acho que primeiro é melhor amar aquilo que temos condições de amar.

J.R.R.Tolkien


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Notas finais do capítulo

E então? *u*
Em uma parte desse capítulo, lembrei de um post no tumblr que mostrava todas as vezes que a Molly olhava com olhar de meio assassino (tipo mãe quando não pode brigar com o filho em público) p Sherlock e ele abaixava a cabeça e... Enfim.
Espero de verdade que tenha ficado bacana e até o último o/
Milhões de beijos!



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