Pride escrita por Laís


Capítulo 3
Parte 3 - Dano emocional


Notas iniciais do capítulo

Olá :3
Então, esse é o último o/
Espero que tenha ficado bacana e não dê dor de barriga em ninguém. Perdão por qualquer erro fugitivo.
Encontro vocês lá embaixo!



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Sherlock, desesperado em ocupar a mente, decidira aceitar casos aos quais nunca concordaria em investigar em tempos normais. Mas aqueles não eram tempos normais. Mycroft eram quem cuidava do alvoroço causado pela suposta volta de Moriarty e ele se encarregava em solucionar problemas insípidos que se mostraram tão entediantes quanto permanecer em Baker Street ouvindo a conversa entre Janine e a Sra. Hudson. A sua hóspede insistia em que ele lhe concedesse mais tempo, ela estava certa de que seu ex-marido a contataria eventualmente e ele não apresentou relutância. Na verdade, nem ao menos se importava. Ela poderia esperar o quanto quisesse.

Quase uma semana se passara desde a última vez que falara com Molly, por isso o detetive ficou completamente consternado ao chegar em casa e encontrá-la conversando com Janine.

–Querida, você poderia ter me avisado que tínhamos visita - sorriu abertamente na direção de sua falsa noiva - Dra. Hooper - cumprimentou com um leve meneio de cabeça.

–Não vou me interromper em seus assuntos, que provavelmente devem incluir vários homicídios horríveis - informou com um sorriso singelo e somente Sherlock compreendeu sua ironia - Fiquem à vontade.

E saiu da sala lançando uma piscadela na direção do detetive.

Molly possuía a expressão um pouco mais branda do que naquele dia que se encontraram no Barts, porém seu olhar ainda não lhe parecia natural. Havia uma nova austeridade contida em todos os seus traços.

–Dra. Hooper - cumprimentou mais uma vez.

–Ah, pelo o amor de deus, Sherlock, não seja tão infantil - repreendeu - Para você é Molly e sabe disso. Está parecendo uma criança fazendo birra.

Sherlock limitou-se a fitá-la, sem conceder resposta alguma.

–Lestrade disse que você não o atende e que nunca mais encontra você em casa - informou.

–E é sobre isso que você veio falar? - perguntou evasivamente, esquivando-se da reprimenda.

–Não - declarou Molly com uma voz mais suave - Também vim pedir desculpas. Fui rude com você sem motivo algum e sinto muito por isso. Você é meu amigo, apesar de muitas vezes eu sentir vontade de jogá-lo de um prédio alto e não ajudá-lo a se safar com isso - ambos sorriram languidamente mediante o comentário - você é meu amigo, Sherlock Holmes e ajudá-lo jamais será um problema. Eu espero ainda poder contar para você.

Molly não podia negar o peso que aquelas palavras lhe causavam, mas estava disposta a deixá-lo ir. Não de forma com que ele não fizesse mais parte de sua vida, somente deixando de nutrir mágoa por Sherlock não ser quem ela gostaria que fosse.

Não, isso estava errado. Ele era exatamente quem ela gostaria que fosse e Molly o veria partir, mesmo o tendo tão próximo todos os dias. No fim das contas, a única opção que temos é aceitar a dor antes de abandoná-la por completo. Todos somos tolos tentando preservar um orgulho que é tão facilmente aniquilado. Ela estava decidida a aceitar um amadurecimento doloroso. Perdoar por um erro não propriamente cometido.

–Você sempre contou e ainda conta, Molly Hooper - confirmou com um sorriso.

Bruscamente, todas as palavras estavam formuladas em sua mente e ele quase pôde ouvir sua voz revelando tudo o que quis dizer na última vez que se encontraram. Mas qual seria o sentido daquilo? Que diferença faria? Contar a verdade seria admitir uma outra muito mais asfixiante. Uma verdade para o qual ele não estava pronto.

–Sendo assim, já vou indo. Não esqueça de falar com o Lestrade e... Mande um beijo para Janine.

–Molly? - chamou quase que instintivamente. Ela já havia passado por ele e se encontrava transpondo a saída.

–Sim?

Sherlock olhou em sua direção e não conseguiu descobrir o que tinha a dizer.

–É muito bom ver você de novo. Espero que compareça ao casamento.

Semanas depois

–Molly? Você pode examinar o cadáver número 3 a cada meia hora e anotar as alterações mais alarmantes visíveis, por favor? - pediu.

–Sherlock, eu estou muito ocupada, sinto muito.

–Então talvez eu seja obrigado a ficar.

–Que seja, contanto que não me atrapalhe.

Sua hostilidade não era proposital, a legista estava realmente muito atarefada naquele dia, contudo sentia o peso dos olhos de Sherlock sobre ela.

–Janine e eu terminamos - ele deu de ombros e recebeu um mero "sinto muito, Sherlock" em resposta.

A indiferença de Molly era algo com o qual ele não estava acostumado, contudo não se sentia no direito de reclamar. Era egoísta pensar dessa forma, porém sempre imaginara que, quando estivesse pronto, ela ainda o estaria esperando.

Molly, por sua vez, não ansiava por mais nada do que o que sempre recebera de Sherlock. Eram amigos e, ocasionalmente, trabalhavam juntos. Tempo o suficiente se passara e a legista realmente chegou a acreditar que ele não exercia mais nenhum efeito sobre ela. No entanto, a notícia do fim do casamento destruiu seu frágil castelo de cartas, mas não voltaria àquele estágio anterior. Finalmente, o deixara ir. Se não fosse Janine, seria outra pessoa e ela não se colocaria no meio de tudo aquilo mais uma vez.

John Watson uma vez escrevera em seu blog que Irene Adler fora a primeira mulher a fazer com que Sherlock respeitasse a inteligência feminina, contudo aquela afirmação não correspondia inteiramente com a verdade. Molly fora a primeira a fazê-lo não somente respeitar seu potencial como também a deixá-lo atônito devido a isso. Ela nunca correra em busca de sua ajuda ao passo que ele sempre precisava dela até para favores minúsculos. Era estranho pensar que era dispensável em sua vida de uma forma que ela nunca seria na sua.

–Molly?

–Sherlock, mais uma vez, eu estou muito ocupada. Do que você precisa?

Não era a primeira vez que ela lhe perguntava aquilo e sua resposta não seria diferente.

–Você.

–Quem você irritou dessa vez? Eu chutaria a máfia russa, mas já passamos dessa fase - redarguiu tepidamente.

Sherlock riu sem humor à medida que se aproximava dela.

–Desculpa, Molly, talvez eu tenha deixado um espaço para ambiguidade. Não preciso que faça algo por mim, eu só preciso de... Você.

Repentinamente, o trabalho de Molly foi interrompido no ato. Todo seu corpo parecia dominado por um torpor que não obedecia aos comandos de seu cérebro. Um turbilhão de pensamentos a atingiu com ferocidade. Ele estava falando sério? De todas as formas, não fazia diferença. Não olhou na direção de Sherlock logo de imediato, porém quando o fez, seu olhar era implacável. O detetive perdurava com sua expressão intransponível, mas havia algo brando em seus olhos. Molly abriu a boca para falar uma, duas vezes até finalmente encontrar a voz de sua fúria.

–Você só pode estar brincando, certo? Por favor, diz que isso é uma piada de mau gosto - retrucou com algo contido em sua voz que era parte escárnio e parte raiva.

–Molly, eu...

–Não, Sherlock. Chega. Chega - repetiu em tom cortante. Talvez aquela segunda ordem tenha sido para ela mesma. - Eu não quero ouvir você falar, não consigo imaginar algo que você tenha a dizer que... - suspirou com impetuosidade - Por favor, não faça isso de novo. Só... Não faça.

Suas últimas frases eram lânguidas, pois seu acesso de cólera fora de extrema efemeridade e logo substituído pelo cansaço em ter que lidar com o mesmo assunto mais uma vez.

Um silêncio quase tangível passou a habitar o ambiente. A aflição parecia reduzir drasticamente o fluxo de oxigênio e ambos sentiram-se sufocados.

–Molly, eu sinto muito por qualquer... - pigarreou, evidentemente desconfortável - Dano emocional que eu tenha causado.

–Dano emocional? - ela resfolegou violentamente, completamente desacreditada do que ouvia. - Sherlock, simplesmente não pode fingir que não sabe o efeito das suas ações e palavras, porque você sabe. Você sabe - pronunciou cada sílaba com lentidão - Conhece as reações que espera ter e sabe exatamente como causá-las. Um sociopata altamente funcional, não? Então está bem familiarizado com essa definição.

Sherlock tentou interpelar o monólogo, mas sua mera investida foi sobrepujada.

–Alguém com aptidão social quando deseja. Alguém que sabe ser encantador. Alguém que conhece o meio mais fácil de conseguir o que deseja - vociferou - Mas... Passamos disso. Você não precisa ser cativante para que eu o ajude. Somos amigos, farei isso de bom grado, mas pare de brincar como se isso causasse mágoa.

Mais uma vez, a ausência de palavras tornou-se palpável até o instante em que Molly prosseguiu, mais comedida que antes.

–Não o culpo. Você viu em mim uma fraqueza e tirou vantagem disso, mas essa rachadura já não existe.

–Existe em mim - ele objetou quase de imediato.

–Sherlock... - Molly já ia começar a despejar mais uma torrente de argumentações e acusá-lo da mais fria crueldade, porém foi interrompida.

–Não, você já falou o que tinha para falar e não imagino que encontre outra forma de desnudar absolutamente tudo que eu mesmo não gosto de encarar. Espelhos são difíceis de aceitar e estou olhando para um agora. Esse tempo todo, não estava tirando vantagem para que você me fizesse favores, eu... Realmente precisa de sua ajuda, mas... - hesitou, desviando o olhar, mas manteve a entonação firme quando voltou a falar - Não posso arriscar chegar muito perto de alguém sem aceitar os riscos de que essa pessoa pode vir a se machucar um dia. Mas acho que essa desculpa não vale com você, não é mesmo?

–Completamente cética quanto a isso - replicou imediatamente.

–Então...

Molly gargalhou.

–O que há de tão engraçado? - Sherlock perguntou com o semblante franzido. Por um momento, pensou que ela estivesse rindo dele, mas crueldade não era algo que fizesse parte do feitio de Molly.

–Sherlock, eu gastei tanta energia vital martelando em algo que, agora, vejo claramente que sempre esteve fadado a não dar certo e... É cômico. - explicou.

–Talvez haja uma forma.

Molly o encarou com perplexidade e, por fim, sorriu.

–Sendo assim... - deu de ombros - talvez você devesse perguntar o que eu quero.

–E o que seria isso?

–Bom... Você.


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Notas finais do capítulo

Pera, não vai embora ainda.
Então, eu realmente me sinto um pouco desconfortável em escrever uma fanfic com o Sherlock sem ter um caso propriamente dito, porém p/ trabalhar no caso da Janine essa história provavelmente seria batizada com o nome da mesma e a parte Sherlolly seria inexistente. Além do mais, era p ser uma coisa curta, então me esquivei completamente do caso, mas essa não é minha zona de conforto UEHUEH ~gosto de expandir investigações
Eu nem sei como ressaltar o fato de não me sentir bem com romances q eu escrevo, não é minha área e fico morrendo de medo de fazer algo patético, então qualquer crítica e sugestão é bem-vinda e recompensada com pão de queijo.
No mais, milhões de beijos no coração de todas que leram *u*
Que a Força esteja com todas vocês!