Pride escrita por Laís


Capítulo 1
Parte 1 - Um antigo pedido


Notas iniciais do capítulo

Olá :3
Então, essa fanfic era p/ ser uma one-shot, então caso não fique boa, podem reclamar com a srta. Scavone. UHEUHE
Mas, de todas as formas, meu presentinho para você, Rô.
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/592335/chapter/1

-É um apartamento bastante bagunçado, mas... Não sei explicar, há algo de aconchegante aqui. Talvez seja porque tudo remete à você, querido - a voz sedosa possuía um tom pedante e forçado, algo em parte sarcasmo e zombaria.

A mulher estava confortavelmente sentada na poltrona de Sherlock Holmes como se fosse sua própria. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios enquanto os cabelos longos e revoltosos caíam sobre os ombros, ocultando parte do vestido vermelho que trajava.

-Que bom que está de volta! - anunciou com um misto de solenidade afetada. - Meus amigos, será que eu poderia conversar com Sherly à sós?

Aquele pedido fora dirigido aos Watson que, ainda postados em frente a porta, observavam a situação em silêncio.

-Janine... - Mary começou a falar, contudo foi bruscamente interrompida.

-Mary, querida, eu não vou mordê-lo - franziu o sobrolho de forma a transformar suas feições em uma expressão de inocência - A não ser que ele peça - concluiu com uma piscadela na direção de Sherlock.

Mary Watson descansava ambas as mãos na barriga proeminente, um hábito costumeiro das grávidas. Seu semblante desnudava toda sua hesitação em deixar Janine Hawkins ter uma conversa privada com Sherlock. Mary a conhecia e isso era razão suficiente para duvidar de qualquer de suas intenções.

-Bom, Sherlock, estamos vendo que você já está bem acompanhado, então... Passar bem - John Watson foi quem rompeu o silêncio taciturno que caíra sobre a sala. Fez menção de sair, contudo percebeu que sua esposa ainda continuava estancada no mesmo lugar. - Mary, querida, acho que não somos exatamente bem-vindos no momento.

Mary, por sua vez, não desviava o olhar perscrutador da outra mulher. Janine era dona de uma beleza singela, mas sua conduta repleta de artificialismo a presenteava com uma graça provocante.

-Está tudo bem, Mary. Sherlock não é sua responsabilidade - o sorriso imutável em seus lábios poderia facilmente fazer com que sua reprimenda passasse por uma simples brincadeira, entretanto os olhos de Janine continham um prenúncio de coação.

Mary, por fim, aquiesceu e seguiu o marido até a saída.

-Enfim à sós. Você está tão calado Sherly, nem parece feliz em me ver.

Sherlock Holmes perdurava em sua postura impecável, as mãos escondidas no sobretudo que ainda usava.

-Eu não imaginava que você quisesse me ver - declarou evasivamente. Sua expressão não deixava nenhum rastro de emoção a ser seguido.

-Por que? Somente porque você me usou para chegar até meu chefe? Ah, bobagem, isso ficou no passado - descartou a hipótese com um abanar de mãos. - Eu estou aqui por algo muito maior - disse enquanto levantava-se da poltrona e caminhava em passadas lentas na direção de Sherlock - Você me fez um pedido, não foi? Eu vim responder. Sim, Sherly, eu aceito me casar com você.

-Você já pode parar com toda essa atuação, Janine. Estamos à sós - o detetive mudou com destreza sua aparência fria para uma expressão acolhedora coberta de simpatia.

Janine deixou seus ombros caírem, maculando a postura provocadora.

-Você é um diabo mesmo, não é? - suspirou.

-Prefiro o nome que minha mãe me deu.

-Eu preciso da sua ajuda, Sherly. Magnussen não era o único homem que possuía segredos meus - informou. Sua voz adquirira um caráter normal, sem toda a afetação que ela demonstrara anteriormente.

-Desculpa, Janine, mas caso tenha assistido TV hoje, sabe que tenho problemas maiores.

-Ah, por favor, Sherlock, não insulte minha inteligência. Moriarty voltando dos mortos? Mais provável que seja uma artimanha do seu irmão para continuar agraciando Londres com sua presença. Preciso da sua ajuda - suplicou. - Se as pessoas que estão me procurando souberem que sou sua noiva, talvez pensem duas vezes antes de me mandar para o Barts.

-Tenho uma grande amiga lá que pode acelerar todo o processo - ironizou Sherlock.

-Não estou brincando. Sei que você gosta de casos difíceis e eu tenho um para você. Por favor, deixe eu ficar aqui só até você concluí-lo. Eu pago o seu dote - brincou e quando o detetive não apresentou mais nenhuma objeção, viu sua causa vencida. - Minhas malas já estão no seu quarto. Salve sua noiva em perigo, Sherlock.

-x-

Molly Hooper fitava o rosto de Moriarty na tela sem a surpresa que certamente encobria o rosto de todos que também assistiam a transmissão.

Mycroft realmente deveria ser a rainha da Inglaterra, pensou e sorriu abertamente.

Tentou dizer a si mesma que não estava sorrindo por ele, contudo estava cansada daquelas batalhas internas e irremediáveis que tratava dentro de si.

Molly sempre encontrara dificuldades na hora de exteriorizar seus interesses pessoais e sua aparência frágil lhe concedia uma delicadeza que não tinha. Era inteligente, forte e nunca precisou de ninguém em seu encalço para ditar qual direção seguir. Não era do tipo que dedicava horas a fio pensando em algum amor platônico e simplesmente fazia com que toda sua vida girasse em torno disso, entretanto uma parte sua reconhecia que ela tinha uma fraqueza e ainda esperava por algo. Mas pelo que? Ela se repreendia toda vez que seus pensamentos divagavam em direção a essas probabilidades. Não passaria a vida inteira esperando por alguém, era auto-suficiente demais para isso.

Talvez por esse exato motivo detestasse tanto a postura que assumia toda vez que encontrava Sherlock Holmes. Seu estômago despencava e suas palavras pareciam perder o nexo. Tudo que dizia na presença do detetive soava como tremenda estupidez e Molly, acima de tudo, odiava fervorosamente a garota ridícula que se tomava o lugar da mulher independente sempre que se deparava com o detetive ao seu redor.

E também odiava admitir a dor remanescente, quase como se alguém enfiasse uma agulha em seu peito, toda vez que recebia um olhar frio em resposta a algo que propusera ou quando era descartada sem nem ao menos um segundo olhar. Disse a si mesma que era meramente o orgulho ferido falando e sentia raiva de Sherlock quando ele não estava por perto para, em seguida, aceitar que a culpa não era dele, aliás, era seu peculiar feitio que o fazia agir assim. O erro era inteiramente dela por esperar algo a mais.

Gostava de pensar que eram amigos, verdade seja dita, Sherlock já demonstrara isso inúmeras vezes, então aperfeiçoava-se em não deixar que aqueles sentimentos fúteis ficassem no meio de sua amizade. Ela era bem mais que um coração partido.

Então, por que razão, ela se perguntava, quando foi visitá-lo, sentiu um aperto enorme no peito quando uma mulher desconhecida abriu a porta?

-Pois não? - a morena arqueou as sobrancelhas enquanto esperava que Molly dissesse alguma coisa.

-Molly? - a voz grave de Sherlock interpelou a pergunta anterior.

-Vocês são amigos? Tudo bem, então, pode entrar - dizendo isso, Janine alargou a pequena fresta que abrira, deixando a passagem livre. - Não vai nos apresentar, querido?

Sherlock Holmes tinha os olhos fixos em Molly.

Ela não deveria saber disso, amaldiçoou.

-Janine, esta é Molly Hooper e - mais uma vez olhou na direção da legista e sua voz hesitou, assumindo um tom mais fraco - Molly, esta é Janine. Minha noiva.

Relutou em pronunciar a última palavra, mas quando viu, tudo estava dito.

Molly não conseguiu encontrar algo a dizer e receava que, se abrisse a boca, acabaria emitindo somente sons de engasgo. Janine estava ao lado de Sherlock com uma expressão de genuína felicidade.

Um misto de choque e incredulidade a atingiu violentamente, contudo, quando a surpresa inicial partiu, tudo que restou foram partículas de um orgulho completamente despedaçado.

Não, aquilo não era orgulho. Era outra coisa muito pior que ter a vaidade ferida.

Não, eu já deixei isso para trás. Nunca daria certo. Sherlock Holmes não me magoaria mais uma vez, pensou. Mas então, por quê? Por que doía tanto?

Seu próprio sistema nervoso parecia traí-la. Molly sentia os joelhos não oferecerem mais o apoio firme de que precisava e seu estômago dava cambalhotas. Algo ardia absurdamente em seu peito, uma mescla de raiva e vontade de gritar, sair xingando a todos e não mais ter que olhar para ninguém. Era uma fúria tão absurda que escondia a mais profunda tristeza, entretanto seu orgulho não a deixaria admitir que estava desolada pelo mesmo motivo mais uma vez. Portanto, fantasiava o desalento em cólera.

Mas não tinha razões para o rancor, aliás, Sherlock Holmes era somente um amigo.

-Noivos? Quem poderia imaginar, hein? Mas... - resfolegou e esperou que aquilo passasse como reação a uma surpresa agradável - Que ótimas notícias! É um prazer conhecê-la, Janine.

Ambas sorriram amistosamente.

-Digo o mesmo, Molly. Espere nosso convite, hein?
Sherlock lançou um olhar frio e austero na direção de Janine que, em seguida, suavizou com um sorriso. Será que ela não lembrava que era um casamento falso? Controlou a vontade de cutucá-la discretamente e resolveu falar algo antes que a moça piorasse as coisas.

-O que veio fazer aqui, Molly?

-Ahn, eu vi o vídeo, então supus que você estava... Só passei para... Dizer bem-vindo de volta - contorceu o rosto em um sorriso gélido - Londres não seria a mesma sem você. Janine - dirigiu-se novamente para a sorridente noiva - espero vê-la de novo. Vocês têm meus mais sinceros votos de felicidade.

-Muito obrigada, querida. Farei o possível para consertá-lo - gargalhou alegremente enquanto deslizava a mão pelas costas de Sherlock.

Consertá-lo? Ele não estava quebrado, Molly refletiu consigo mesma. A ideia de consertar alguém simplesmente não poderia ser sinônima ao conceito de amar.

Já estava com a mão na maçaneta quando a voz de Sherlock a fez estancar, interrompendo o gesto.

-Molly?

-Sim?

-Obrigada por ter passado aqui.

Sherlock sorriu com autenticidade desejando mais do que tudo poder revelar a verdade.

-Boa sorte com sua nova vida, Sherlock.

Enquanto saía, decidida a fechar a porta do apartamento 221B de Baker Street pela última vez, Molly não conseguiu repreender um amargo pensamento. Se ele ia deixar que alguém transpusesse sua armadura... Por que não ela? Sacudiu a cabeça na tentativa vã de anuviar tais considerações, mas era inevitável. Sentia raiva, vontade de voltar lá e gritar que aquilo nunca daria certo, que ele não devia estar com Janine e sim... Não. Nem pensaria naquilo.

Depois do interno acesso de fúria, tudo que foi capaz de sentir era o mais absoluto cansaço e desconsolo.

Não tinha o direito de estar com raiva, não podia exigir nada. Não havia o que cobrar. Sabia que Sherlock Holmes transmutava sua personalidade facilmente, já o vira sendo encantadoramente agradável com alguém só para conseguir o que queria e este seu efeito era infalível em mulheres. Quem sabe ela não interpretara tudo errado quando ele a fez acreditar que não era, afinal de contas, imperceptível aos seus olhos.

Aquela seria a última vez, prometeu.

Chega.

-x-

-Por que você tinha que ter falado todas aquelas coisas? Hein? - vociferou Sherlock.

-Ei, ei! O que é isso? - Janine ergueu as mãos em sinal de rendição. -Calminha aí.

-Esse casamento é uma farsa. Você esqueceu disso?

-Espera um instante... Por que, subitamente, você decidiu sair daquela postura superior onde nada é capaz de afetá-lo? - Janine engrossou a voz em uma pobre tentativa de imitá-lo. Cruzou os braços e o encarou com divertimento no rosto. - Detetive Sherlock Holmes, quem diria? Você gosta dela! Incrível como até mesmo um homem brilhante como você consegue ter a maturidade emocional de um menino.

Sherlock volveu-lhe um olhar rígido.

-Nenhuma palavra a mais sobre esse assunto, Janine.

-Não ficarei no seu caminho, Sherly. Vá atrás dela quando tudo isso acabar.

-Se me chamar de Sherly mais uma vez, eu mesmo darei este endereço para quem quer que esteja lhe procurando.

Janine gargalhou deliciosamente.

-Tudo bem, meu elegante cavaleiro de armadura branca. Eu vou dormir um pouco e você, querido, faça o que quer que achar necessário para salvar minha vida.

Sherlock não prolongou o assunto, queria Janine fora de sua vida o quanto antes. Despencou em sua poltrona e pôs-se a pensar, entretanto o olhar gélido de Molly oferecia resistência em sair de sua mente.

Mas, afinal de contas, ela sempre estava por lá.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Talvez eu tenha assistido Orgulho e Preconceito muitas vezes...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pride" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.