Capítulo 8

Tris

Os gritos e urros me deixaram surda. Fazia tempo que não me sentia tão animada. Os dias de convivência no complexo da Audácia foram poucos, mas me ensinaram o que é a liberdade, poder rir até cair. Lembro das sensações e da adrenalina viciante, descer na tirolesa, será que ela ainda existe?

Essas pessoas aqui são como uma família, que me acolheram e lutaram ao meu lado pela mesma causa e hoje eu estou de volta.

Vejo Zeke e Shauna, que estiveram ontem comigo, sorrindo e acenado de longe. Só então percebo a presença dela, ao lado de Shauna, lágrimas escorrem de sua face, ela é alta, sua pele é morena-escura, ela têm os cabelos raspados e mesmo assim continua linda, sigo em sua direção, como se houvesse um imã entre nós duas, mas sei que é amor, amor entre duas amigas que não se vêem a muito tempo.

– Christina – digo enquanto tento limpar suas lágrimas- não chore, eu estou aqui agora

– Você não sabe o quanto foi difícil vê-la morrer, parece que um pedaço de mim ficou naquele lugar a cinco anos atrás, e esses pedaços agora voltaram e estão me acertando com força no coração – diz ela entre lágrimas

Eu nunca fui muito de contato físico, sempre estranhei abraços, velhos hábitos da abnegação, mas desta vez, não tem como, eu preciso conforta-la, preciso que ela sinta minha presença, que ela acredite que estou viva. Eu a envolvo em meus braços e ela entrar seu rosto em meu ombro, chorando capciosamente, seu corpo todo estremece, consigo sentir toda a sua dor, lagrimas também escorrem sobre meu rosto.

– Eu nunca quis te causar dor, nunca – digo, lembrando de Will – Você foi a primeira pessoa que me enxergou, que foi sincera, que ganhou meu coração. Eu não seria o que sou se não tivesse você como amiga

– Você não entende? Foram cinco anos, cinco longos anos, senti tanto a sua falta.

– Eu estou aqui agora – respondo com a voz firme

Ela parece me entender e se recompor, estamos no ambiente errado pra demonstrarmos tantos sentimentos, mas eles estão ali, nos tencionando, pego em suas mãos e a guio pra fora do salão, ela me segue sem reclamar.

– Agora poderemos conversar – digo, já no corredor do quinto andar onde Tobias me espera

Ele ficou do lado de fora, só me observando, sorrindo, será que ele se orgulha de mim como eu dele?

Andamos pelo corredor e voltamos ao sétimo andar, Caleb só me permitiu sair por alguns minutos, diz ele que precisa monitorar constantemente, quer ter certeza que eu estou bem. Eu realmente o perdoei, não hoje, mas antes, quando decidi enfrentar o soro da morte no seu lugar, fiz isso por amor a ele e sei que ele lutou por mim todos esses anos porque também me ama.

No quarto ele já esta me esperando, tiro a blusa, ficando apenas com o top, ele conecta novamente todos os eletrodos e a maquina volta a apitar, ele acaricia meus cabelos

– Vou deixa-las sozinhas agora, preciso comer alguma coisa, me chame sentir qualquer coisa diferente – diz

– Estou ótima, Caleb, não se preocupe.

Ele fecha a porta e agora estamos eu, Tobias e Christina no quarto.

– Ótimos, agora somos só nós três, vocês dois podem começar me atualizando de todos os acontecimentos importantes dos últimos cinco anos.

Christina agora parece se convencer de que eu realmente estou viva, ela puxa uma cadeira e se senta ao lado da cama. Tobias me olha e sorri, ele sabe que nós duas precisamos de um tempo só nosso, então ele se deita num sofá, no canto do quarto, adormecendo em seguida. Christina ri.

– Não sabia que ele roncava

– Ele não roncava antes – respondo

Ela me olha com olhar malicioso e começa a rir. Lembro-me de lhe contar em detalhes minha noites com ele, não porque quis, mas porque ela era incansavelmente convincente e sabia como arrancar toda a verdade de mim.

–Shiiii, Christina, vai acorda-lo. Vamos aproveitar o momento. Você precisa me atualizar. Ninguém aqui tem me respondido nada.

Ela se ajeita na cadeira. Então começa a discursar freneticamente. Hoje o dia vai ser longo, mas amanhã estarei livre novamente. Ainda não sei o que irei fazer quando sair daqui, mas vida tem que continuar.