Capítulo 6

Tobias

Meu corpo todo está em choque, o que era impossível aconteceu, não tem como explicar.
Zeke fez piadinhas da minha cara de idiota o dia inteiro, mas eu não conseguia evitar. Foi o dia mais longo da minha vida, ter que espera-la passar por todos os exames necessários para garantir que estava realmente bem. Eu a queria de volta aos meus braços.
Agora ela está aqui, do meu lado e dorme feito um anjo sobre meus braços. Dessa forma parece uma menininha frágil que precisa de mim e eu vou cuida-la e mima-la até os fins dos meus dias.
Aquele aparelho apitou a noite toda, Caleb de tempos em tempos conferia alguma coisa no monitor, ele tem uma expressão tranquila, o que também me tranquiliza.
Já está quase amanhecendo, percebo que Caleb está realmente cansado, mas também não quer deixa-la.
Cara chega tempos depois, quando o sol começa a aparecer, ainda tímido, mas já iluminando um pouco o ambiente. Ela traz o café da manhã de Tris. Ontem ela não comeu nada, disse não ter fome alguma. Cara acredita ser efeito do soro, que eles apelidaram como Soro da Vida. Ela me explica calmamente que o soro é capaz de suprir todas as necessidades corpóreas, substituindo um tal de ciclo de Krebs e uma fosforilação de alguma coisa, nem sei como ainda me lembro dessas palavras, no entanto, agora que ela saiu da imersão, perderá gradativamente essa energia acumulada e deverá voltar a se alimentar normalmente, mesmo que não queira, precisamos mantê-la forte e saudável. O soro também conservou todos os seus órgãos, inclusive a musculatura, por isso ela não teve problemas em se movimentar, eles acreditam que, na verdade, o soro a fortificou ainda mais, que sua saúde nunca esteve tão perfeita, mas precisa ficar em observação, já que é a paciente Zero... a cobaia.
Ela se move sobre meus braços, estou atento a cada movimento seu, então ela abre aqueles lindos olhos azuis, cheios de interrogações.

– Bom dia – ela me diz sussurrando, percebo que ela não quer chamar a atenção dos dois tiranos que também estão no quarto, mas é em vão.

– Bom dia, Tris, dormiu bem? Questiona Cara, animadamente, com um prontuário nas mãos – Hoje você precisará se alimentar, ou não permitiremos que saia amanhã, ok?

– Amanhã? Achei que ainda teria mais dois dias aqui – ela responde mais animada se sentando na cama

Quando se afasta dos meus braços, sinto uma pontada forte no peito, preciso do seu toque. Eu abraço suas costas e digo baixinho, pra que apenas ela ouça.

– Amanhã seremos só nós dois – sinto que ela sorri e balança sua cabeça positivamente

Cara e Caleb estão conversando distraidamente e não me ouvem.

– Caleb irá descansar um pouco num dos outros quartos, ele se recusa a ir pra casa, mas não pode ficar três dias sem dormir –explica Cara

Enquanto isso, Caleb dá um beijo na testa de Tris, ela retribui com um sorriso e quando ele abre a porta, ouço a voz dela

– Caleb, obrigada por cuidar de mim!

Ele sorri e fecha a porta, jamais terei como agradecer Caleb e Cara por tudo isso, mas ainda não consigo entender os motivos que os fizeram esconder a situação de todos.
Cara empurra a mesa de refeição à frente de Tris, que começa a comer vagarosamente, ela me entrega um sanduíche e só então percebo o quanto estou faminto, não como nada desde ontem de manhã. Enquanto comemos, Cara atende o interfone do quarto que acabou de tocar e resmunga.

– Era da recepção – Diz ela – Pedimos para isolar este andar para que não fossemos incomodados, no entanto, parece que Zeke não conseguiu manter a língua na boca, estão todos lá embaixo querendo vê-la, Tris.

Percebo Tris tencionar todos os músculos em sinal de alerta

– Peça para que não subam todos de uma vez – Digo a Cara – Quem tanto está lá embaixo?

– Esse é o problema – ela me responde em pânico – estão todos lá embaixo, a Audácia inteira está lá embaixo.

Tris agora está realmente assustada. Acho que ela se deu conta de que, para todos, ela acabou de ressuscitar.

– Tris, não temos como impedir a curiosidade de todos, é melhor enfrentar isso de uma vez, para que acabe logo – digo

Ela assente com a cabeça e continua pensativa, depois de alguns segundos responde a Cara.

– Consegue agrupa-los em algum lugar aqui no prédio, Cara?

– Sim, temos o salão de conferência no quinto andar.

– Então faça isso, por favor, de uma explicação a todos de uma vez e eu aparecerei em seguida - ela responde calmamente- não quero ter que passar por isso a toda hora

Cara assente e sai do quarto para preparar tudo, ficamos sozinhos pela primeira vez.

– Você continua corajosa – sorrio pra ela, mas percebo o pânico em seu rosto, me aproximo e a abraço – Vai ficar tudo bem, vai dar tudo certo, agora a vida poderá continuar pra nós dois.

Só então nossos lábios se encontram, como se fosse a primeira vez!