Capítulo 5

Tris

Eu continuo olhando para cima e sorrindo e ele continua lá, com a cara embasbacada, não falamos mais nada um para o outro, ambos sabemos o que queremos. Meu cabelo está úmido e pegajoso, não deve ser uma cena muito bonita, uma descabelada sorrindo como uma idiota, mas não consigo evitar.

Caleb volta a sala com a notícia de que meu quarto está pronto, então pulo da maca e para ir de uma vez.

– Tris, está louca? Não pode sair pulando desse jeito, seu quadro é estável, mas ainda precisamos observar com calma, não se esqueça que você acabou de acordar. Sente se na cadeira de rodas – Caleb me diz naquele tom de repreensão que eu odeio.

Já entendi que não posso contrariá-los, senão piora pro meu lado, agora vou ter que ir na cadeira de rodas, sendo empurrada por Caleb.

Caleb vira a cadeira e a guia, enquanto Cara abre a porta para que passemos, mas ao fazer a curva no corredor, vejo Tobias correndo em nossa direção, ele se ajoelha ao meu lado e passa a mão nos meus cabelos.

– Não faça isso, meus cabelos estão nojentos – digo fazendo uma cara de nojo, enquanto ele sorri – Será que estou com a mesma cara de boba como ele? Penso e sorrio de volta.

Tobias se levanta e pega o comando da cadeira

– Deixe que faço isso, Caleb, só me diga pra onde

Sua voz é doce, calma e me tranquiliza, sempre me tranquilizou, desde quando eu era apenas uma iniciada. Lembro dele me ajudando a sair da rede no meu primeiro dia na Audácia, quando eu fui a primeira a saltar, perguntando meu nome. E da primeira vez que ele me tocou, segurando minha cintura, me ensinando a usar todo corpo em uma luta. Ele é meu guia e eu o seguirei pra onde é que ele for.

– Eu poderia ir andando, sabia – olho pra cima enquanto digo isso

– Me deixe cuidar um pouco de você, eles me impediram de fazer isso o dia todo, já está anoitecendo. - diz ele me convencendo rápidamente

Andamos pelo corredor até os elevadores, descemos ao sétimo andar, um lugar ainda mais branco do que a sala anterior, se é que isso seja possível, o chão é de mármore e, pela limpeza do lugar, parece nunca ter sido pisado, parece que o está totalmente vazio. Entramos no terceiro quarto no fim do corredor. Há uma cama de hospital e um aparelho de ecocardiograma.

– Deite-se, Tris, vou ligar os aparelhos para que possamos monitora-la durante esse período – Diz Caleb, que vinha logo atrás.

– Não antes de um banho, Caleb, eu estou terrível, você poderia me arrumar umas roupas decentes pelo menos, não é?

Digo isso e vejo Cara, Zeke , Shauna e um rapaz alto, muito parecido com ela entrando no quarto. É gente demais num lugar tão pequeno.

Não sei que meleca colocaram em mim, por fim, após um banho de quase meia hora, foi difícil, mas consegui limpar meus cabelos e deixa-los soltos novamente, eles parecem mais longos, mas não consigo vê-los, aqui é como a Abnegação, sem espelhos, volto para o quarto, estão todos aqui ainda, sorrindo sempre, vão acabar distendendo a musculatura da face. Será que meu estado foi muito grave? Deito-me na cama, conforme instruções de Caleb, que agora mexe no aparelho ao meu lado, enquanto Cara coloca os eletrodos mais uma vez no meu tórax.

– Seu eletrocardiograma anterior foi perfeito, se continuar assim por mais três dias, prometo que te daremos alta

– Ok, mas agora vocês podem, por favor, me explicar o que está acontecendo?

Essa pergunta parece assusta-los, Tobias pigarreia

– Tobias, por favor, vocês estão começando a me assustar - imploro

– Por quanto tempo você acha que ficou desacordada, Tris? Diz ele com aquela voz aveludada, novamente me acalmando?

– Uma semana? – sua cabeça balança em negativa- um mês? Três? Um ano? – Começo a desesperar

Ele põe a mão sobre as minhas.

– Achávamos que tivesse morrido, Tris – uma lágrima escorre em seu rosto – Por cinco anos, isso foi tudo em que acreditamos.

– Cinco anos?? – Grito desesperada

– Acalme-se, Tris, ou precisaremos sedá-la – Diz Cara ao meu lado – Você terá todas as explicações necessárias quando estiver totalmente recuperada, precisamos manter seu quadro estável

Tobias, passa a mão pelo meu rosto, fecho os olhos e aninho minha cabeça em suas mãos, ouço Caleb pedindo que os outros nos deixem e que voltem amanhã, não consigo me despedir de ninguém, mas não importa, sinto Tobias sentando ao meu lado na cama, ele vai ficar.

– Nem tente me tirar daqui, Caleb, ou te dou outro murro – diz Tobias

Abro os olhos com cara de interrogação e vejo um pequeno corte no supercílio de Caleb

– Por que bateu no meu irmão, Quatro? Digo em tom de reprovassão, percebo que é a primeira vez que o chamo por esse nome desde que acordei

– Me desculpe,Tris, ele mereceu, digamos que depois disso, ele nunca mais vai esconder nada de mim

Mais explicações vagas, eu sei que precisarei ser paciente, não quero Cara e Caleb no meu pé. Então me lembro mais uma vez, cinco anos, se passaram cinco anos, tudo mudou, o que aconteceu? Nós vencemos ou a cidade foi reiniciada? O que houve com o departamento?

Tobias percebe essas perguntas todas em meu rosto, então ele deita ao meu lado, passando os baços por baixo da minha cabeça, beija minha têmpora e me diz baixinho

– Tenha calma. Eu vou te explicar tudo. Está tudo bem. Estaremos sozinhos em três dias. Agora obedeça esses dois tiranos, feche os olhos e descanse, eu estarei aqui, do seu lado o tempo todo.