Capítulo 4

Tris

Tem um grande relógio na parede daquela estranha sala branca. Minha cabeça está tão confusa. Cara me examina incansavelmente. Sinto-me tão bem. Pra quê tantos aparelhos conectados a mim?

– Cara, eu estou bem, você poderia, por favor, me deixar sair dessa cama?

– Só mais alguns exames, Tris – Caleb responde, invés de Cara

A grande janela foi fechada e eu não consigo mais vê-lo.

–Tris, agora preciso testar alguns reflexos, pode se sentar na maca? Você acha que consegue fazer isso?

– Claro que sim, por que não conseguiria?

Cara sorri, mas não me da nenhuma explicação, me sento na maca e faço tudo que ela pede, sem reclamar, desisti de fazer isso a uma hora atrás, depois de quase três horas de exames incessantes e nenhuma resposta às minhas perguntas. Ela bate o martelo em meu joelho e minha perna levanta involuntariamente, enquanto fala palavras vagas que eu nem tento entender e Caleb digita alguma coisa no computador.

– Cara, tem mais de três horas que vocês estão me fazendo todos os tipos de exames possíveis e até agora não me responderam nada.

– Tudo a seu tempo, Tris, mais um eletrocardiograma e uma ressonância magnética e te deixaremos sair - diz ela enquanto me entrega um recipiente.– Contraste, beba, em seguida começaremos a ressonância.

Ela me guia por um pequeno corredor no canto esquerdo da sala, entro então num salão com uma maquina estranha no meio, onde ela orienta para que me deite e não faça nenhum movimento pois se fizer, os resultados não serão satisfatórios e teremos que repetir, isso não seria bom, não aguento mais ficar nesse lugar sem nem saber porquê.

A maquina é barulhenta e me sinto realmente mal lá dentro, tento não me mexer, não quero ter que repetir e ficar ainda mais tempo aqui.

Ouço Cara mais uma vez, dessa vez por um alto falante.

– Ótimo, Tris, a ressonância já acabou, estou apenas efetuando a pré-análise para encaminhar ao seu prontuário. Terminamos por aqui. Agora apenas mais um exame.

Volto para a mesma sala, mais 40 minutos se passaram, estou realmente cansada de tudo isso. Deito-me em outra maca, enquanto ela coloca vários eletrodos em meu tórax.

Mais 15 minutos, ela olha uma pequena tela onde vê algumas linhas que sobem e descem.

– São registros gráficos da atividade elétrica do seu coração. Está incrivelmente perfeito – diz ela com um sorriso orgulhoso.

– Ótimo, posso ir embora?

– Você está muito impaciente, Tris, mas não, você não pode ir embora, precisamos mantê-la em observação por pelo menos três dias.

– Tês dias? Você me disse que faltavam apenas uma ressonância e um eletro alguma coisa – digo irritada

– Bem, eu nunca fui membro da Franqueza, não é mesmo? - pisca ela, fazendo uma piadinha da qual não acho graça nenhuma.

– Vou fazer uma coisa pra te alegrar, agora que terminamos a maioria dos exames aqui.

Ela aperta um botão sobre uma mesa e vejo a grande janela abrir lentamente, ele continua lá na mesma posição.

– Ele pode nos ouvir, Tris – Diz Caleb, com o nariz enfiado na tela do computador – E 4, há um microfone ao lado do vidro, mantenha o botão pressionado enquanto fala.

Olho pra cima mais uma vez, seus olhos estão brilhando, ele tem a mesma expressão embasbacada de antes, por quanto tempo será que estou aqui? se estão me fazendo tantos exames, devo ter ficado desacordada por muitos dias, ele deve estar preocupado com o meu estado, mas eu me sinto tão forte, até mesmo melhor do que antes, não tenho nenhum resquício da dor no ombro, eu levei tiros, mas também não sinto a dor, penso isso enquanto passo a mão pelo meu abdome, devo estar sob o efeito de analgésicos. Subo o olhos mais uma vez para vê-lo, percebo toda a tensão em seu corpo, ele baixa as mãos do vidro e segue até a lateral da janela, ficando num lugar onde ainda conseguimos nos ver. Ele parece diferente, o mesmo Tobias, mas diferente, aliás, Cara e Caleb também estão diferentes. Saio do meu torpor.

– Eu só queria estar sozinha com você

E ouço a sua voz pelo auto falante

– Eu quero isso em todos os momentos da minha vida