Experiment escrita por Pris


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Foi só quando ela fechou a porta que eu percebi que tinha ido longe demais



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Capítulo 18

Tobias

Foi só quando ela fechou a porta que eu percebi que tinha ido longe demais, esperei a noite toda, mas ela não voltou e eu não consegui dormir. Tris é impulsiva, não percebe que suas ações podem ser perigosas, não estamos numa guerra, mas tudo ao seu redor sempre se transforma, ela não consegue deixar que outras pessoas lutem por ela, precisa estar sempre à frente, sempre se arriscando, não vou suportar perde-la mais uma vez, no entanto acho que já a perdi.

O dia está quase amanhecendo, preciso fazer alguma coisa, não posso admitir que isso aconteça. Sinto-me impotente e idiota. Ela não percebe que está errada?

Talvez eu não devesse ter sido tão incisivo. Ela não deveria ser tão teimosa. Decido sair e procura-la, ela deve ter ido para a casa de Christina.

– Ela está aqui? Pergunto quando Christina abre a porta, me esquecendo de dar bom dia ou explicações.

– O que foi, Quatro? Do que você está falando?

– Tris saiu de casa ontem..

– Por quê?

– Tivemos uma briga, ela saiu, achei que fosse andar para espairecer, mas ela não voltou até agora.

– Ela não está aqui, mas entra e me explica o que aconteceu..

Eu conto tudo, exatamente como aconteceu. Christina me encara com um olhar severo.

– Ela não teve tempo de me contar sobre essa viagem até a Margem para coletar dados de pesquisa, mas concordo com ela, é uma ótima ideia.

– Você concorda com isso? Arriscar a vida dela mais uma vez?

– Você é um completo idiota, Quatro. Ela não está arriscando nada, é uma viagem técnica, a trabalho.

– Você sabe que o mundo conspira ao redor dela.

– Não, não conspira, você teve tempo demais enclausurado, idealizando a mulher da sua vida e se esqueceu do fato dela ser humana, corajosa e impulsiva. Você não pode controla-la, nem deveria tentar, relacionamentos não funcionam assim.

– Como funcionam então?

– Funcionam com liberdade e aceitação, ninguém tem o direito de mandar em você, de controlar suas atitudes, isso seria abusivo. O que houve com você? Você sempre confiou nela, acreditou na força que ela nem sabia que tinha, agora está agindo como um babaca?

– Eu tive medo.

– Então encare seu medo, não há nada que você possa fazer para impedi-la de viver, a não ser que queira que ela o exclua da sua vida.

– Se ela aparecer aqui você..

– Se ela vier até aqui, irei agir como a melhor amiga dela.

– Tudo bem, obrigado.

Saio do apartamento de Christina, eu sei o que devo fazer, agora que admiti o que estou sentido, preciso conferir uma coisa. Paro frente a porta, eu nunca consegui deixar de vir aqui, mas depois que ela acordou, esta é a primeira vez, meu estomago se revira, sinto que dessa vez será pior. Ligo o computador, pego uma das seringas e do soro que mantenho aqui, aplico no meu pescoço, não sinto a dor, entro na sala da Paisagem do Medo.

A princípio tudo é igual, estou no último andar de um prédio qualquer, sem condições de saída, já estou tão acostumado com isso, que apenas subo no parapeito e deixo meu corpo cair. A dor é angustiante, ao atingir o solo, ela aumenta como uma corrente elétrica subindo dos pés a cabeça, eu respiro com dificuldade, então a paisagem muda para um lugar fechado, as paredes começam a se mover a minha volta, diminuindo a cada instante, me apertando, o teto baixa, me fazendo abaixar junto, começo a sentir uma falta de ar insuportável, lembro-me de quando estive aqui com ela, segurando em sua cintura, sentindo seu cheiro, as batidas do seu coração, encaixando seu corpo junto ao meu, perdendo totalmente a concentração, deixando que nossos sentimentos nos guiassem, esses pensamentos me acalmam, pensar nela me acalma, as paredes se rompem num barulho ensurdecedor. Outra paisagem aparece, agora o céu é claro, estamos em frente aos portões da cidade, a nossa frente, pessoas miram suas armas em minha direção, eu vou morrer, um deles se aproxima, mantendo a mira na minha cabeça, sinto como se fosse vomitar, ele engatilha a arma, fecho meus olhos esperando o disparo, ouço o barulho, mas não sinto a dor, os disparos aumentam, todos estão atirando ao mesmo tempo, abro meus olhos, Tris está na minha frente, seu corpo se move a medida que as balas a acertam, eu grito e a puxo para mim, as pessoas desaparecem, ela está com os olhos abertos, todo o seu corpo sangra, ela está morta nos meus braços, ela se sacrificou para me salvar, eu abraço e a seguro sobre meu peito, choro, isso é insuportável, perde-la novamente é pior do que morrer, nunca senti tanta intensidade de sentimentos, eu beijo seus lábios sem vida, chamo pelo seu nome, mas nada acontece, de repente seu corpo desaparece, não tem como existir um medo pior do que esse.

Ao meu redor tudo fica cinza, estamos na Abnegação, me preparo para ver Marcus, como poderia teme-lo mais do perder Tris? No entanto ele não aparece, outra pessoa desce as escadas, Tris veste roupas cinzas e largas da nossa antiga facção, seu cabelo está preso num coque simples, ela para na minha frente, olhando para cima, para os meus olhos.

– Eu não vou ficar aqui – Ela diz, sua voz congela meu corpo, tamanho a intensidade, seguro firmemente seu pulso – Me solta, você está me machucando – ela continua e eu seguro ainda mais forte – Você não me controla, ninguém me controla – Ela cospe as palavras sobre mim, seus olhos estão raivosos, eu a puxo mais uma vez e acerto um tapa em seu rosto com minha mão livre.

As luzes se acendem, estou de volta à sala da paisagem do medo, meu coração continua acelerado, minha respiração é falha, me encosto à parede, deixando meu corpo desabar, seguro meus joelhos próximos ao corpo. Meu maior medo é minha capacidade de feri-la, magoá-la, machuca-la. É de ser como ele, me tornar uma cópia de Marcus, de causar sofrimento a quem eu mais amo.

Não posso permitir que isso aconteça, que esse medo me domine. Eu não sou como ele, na simulação eu vi a força e a coragem em seu rosto, ela é assim, sempre foi, mesmo quando não conhecia sua própria força. Respiro fundo, tentando me acalmar, preciso sair daqui, preciso encontra-la.

Deixo o complexo da Audácia, não sei por onde começar a procurar. Onde ela poderia ter ido? Aonde eu iria nessa situação? Eu não teria ido à casa dos meus amigos, buscaria a paz de não precisar falar nada, apenas ser aceito, eu procuraria por Evelyn. Ela só possui um membro vivo da família, Caleb.


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