Experiment escrita por Pris


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Deixamos de ser crianças a algum tempo, fomos forçados a lutar, tivemos amigos mortos, matamos, quase morremos, agora nosso maior dilema é “o que vou ser quando crescer?”.



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Capítulo 15

Tris

Tobias tenta incansavelmente me arrumar um emprego, diz que não devemos ficar ociosos por muito tempo, senão começamos a pensar besteira. A questão toda é que eu não sei o que quero fazer, antigamente eu pensava em seu um tipo de embaixadora entre as facções, agora que elas não existem mais, fiquei sem rumo, os outros tiveram cinco anos para se acostumar às mudanças, eu e Uriah não. Caímos num mundo totalmente diferente, mas ainda somos os mesmos.
Já tem três meses que acordei, até agora já tentei fazer de tudo um pouco. Johanna me deu liberdade para escolher o que gostaria de fazer, mas minha mente vagueia apenas pelo passado.

– Bom dia, meu amor – Ele diz e consegue espantar todos os meus pensamentos, estar ao seu lado faz a vida ser fácil, como respirar.

– Bom dia...

– Tudo certo pra hoje a noite? Tem certeza que não quer que eu chegue mais cedo pra te ajudar?

– Tenho. Estou precisando me ocupar com alguma coisa, preparar um jantar não é tão difícil assim.

Meus dias começaram a me entediar, todas as manhas a mesma coisa, pelo menos tenho Uriah como companhia. Ele tem sido um grande amigo, mas acredito que esteja mais confuso do que eu. Ele encara a vida de maneira mais solta, mais leve, no entanto, deixamos de ser crianças a algum tempo, fomos forçados a lutar, tivemos amigos mortos, matamos, quase morremos, agora nosso maior dilema é “o que vou ser quando crescer?”.
Uriah tem a possibilidade de ir trabalhar com George, ajudando no treinamento da força policial, acredito que ainda não começou por não querer me deixar sozinha, isso é muito gentil da parte dele, mas me deixa um pouco desconfortável.
Esta noite decidimos fazer um programa de adultos e convidamos nossos amigos mais íntimos para um jantar. Durante a tarde, Uriah me ajuda a carregar as compras do supermercado até em casa e vai embora, prometendo voltar as oito horas com os demais.
Preciso fazer alguma coisa mais elaborada, aprendi a cozinhar na Abnegação, sabor não era o nosso forte. Decido prepara comidas típicas da Audácia, hambúrguer, hot dogs e para sobremesa, bolo de chocolate. Zeke se encarregou de trazer as bebidas. Talvez não seja um programa tão adulto afinal.
Tomo um banho rápido para tirar o cheiro de comida do corpo, gosto de cozinhar, mas não de cheirar como a refeição. Eu e Christina costumamos ir sempre às comprar, ela diz que eu a devo cinco anos e devemos repor o tempo perdido sempre. Já comprei todas as maquiagens que ela quis, mas confesso não saber usar nenhuma, talvez seja por isso que ela resolveu chegar uma hora mais cedo pra me ajudar. Coloco um vestido simples, preto e reto, com uma gola canoa, ela me fez colocar um cinto bem abaixo da cintura, ele é couro, largo, coberto com taxas cor de cobre, diz que é pra definir, já que o vestido não tem forma, desisti de tentar compreender essas coisas e Christina parece feliz me tratando como uma boneca a qual ela precisa vestir da melhor maneira possível.

– Apenas um delineador, máscara de cílios, blush e um brilho labial, Tris – diz Cristina pegando todas as maquiagens que encontra.

– Apenas tudo isso?

– Sim, apenas isso, quase nada.

Tobias chegou pouco antes dela, mas quando ouvimos a campainha, disse estar sem paciência pra programas femininos, resolveu organizar as coisas pela casa, para que nossos convidados fiquem a vontade. Não o culpo, programas femininos podem ser um saco. Mas estou me acostumando a eles, afinal, sou uma garota.
Assim que Christina termina de me arrumar, as primeiras pessoas chegam a festa, Caleb e Susan. Eles estão namorando há um mês e me sinto feliz com isso. Susan ainda carrega toda a timidez da Abnegação, é simples e recatada, mas consegui arrancar informações ardilosas de Caleb. Segundo ele, ela nunca teve medo de contato físico, o que o fez ficar mais tranqüilo também, parece que ela é mais experiente do que ele e está ensinado-o a aproveitar os prazeres da vida. Confesso que quando ele me contou tudo isso, eu ri incontrolavelmente, enquanto ele corava, talvez seja o motivo dele preferir conversar mais com Tobias a respeito, tenho a ligeira impressão que ele tem pedido conselhos ao cunhado.
Zeke, Shauna, Uriah e Cristina são os próximos a chegar, eles moram no mesmo prédio, nos últimos andares do Edifício Hancock, então vieram juntos. Logo após, chegam Cara e Matthew. Eu ainda não o tinha encontrado desde que acordei.

– Bem vindos – digo

– Meus Deus Tris, é você mesmo? Reponde Matthew animadamente

– Sou eu, graças a Cara e Caleb.

– É, eu acompanhei de longe toda a pesquisa deles, não fiz parte a fundo, pois não era minha área de atuação.

– Mas por que não foi me ver quando acordei?

– Eu estava viajando, concluindo uma pesquisa a qual tenho me dedicado.

– E qual sua área de atuação no momento?

– Trabalho com pesquisas Psiquiátricas. Eu estava concluindo algumas pesquisas na margem e em outros lugares habitados na região, descobrindo divergentes.

– Parece ser muito interessante.

– Na verdade é sim. Você foi a primeira divergente que encontramos com aptidão a três características psicológicas, todos os demais, inclusive eu, temos apenas duas, isso me fez acreditar que, antigamente, nossos antepassados possuíam todas as características.

– Uau, isso é realmente impressionante, Matthew.

A festa segue como deveria seguir, o bolo de chocolate foi a primeira coisa a acabar, mas pela quantidade de bebida que Zeke trouxe, acho que vamos durar a noite toda. Christina e Uriah não são um casal, mas estão sempre grudados, eles possuem muitas afinidades, mas ainda não se deram conta disso, pelo menos não Uriah. Christina me contou que nesses últimos cinco anos teve muitos namorados, que não está a fim de ficar com mais um galinha infantil, como Uriah, mas também não negou o fato de estar caidinha por ele.
A bebida que Zeke trouxe é amarga e forte, sinto minha cabeça zonza, beber não é meu passa tempo favorito, mas só me lembro disso depois de já ter bebido um bocado.
Caleb e Susan foram os primeiros a ir embora, seguidos por Cara e Matthew, sobramos apenas os últimos membros da Audácia.

– Acho que devíamos sair - diz Shauna completamente embriagada.

– Pra onde, cunhadinha? – Uriah topa qualquer coisa pra se divertir.

– Pro Fosso, pra onde mais?

O Fosso se tornou um local de encontro dos antigos membros da Audácia durante os fins de semana, regado a música alta e muita bebida. É incrível como me sinto em casa nesse lugar, mesmo tendo vivido tão pouco tempo aqui, foi aqui que eu aprendi a viver, antes eu apenas existia.

– Você se lembra quando estávamos aqui e eu te disse que estava bonita? Tobias me pergunta enquanto paramos próximos ao abismo.

– Sim, jamais irei esquecer, achei que você estava bêbado demais pra ter falado aquilo seriamente.

– Eu estava muito bêbado, mas estar bêbado não quer dizer que eu não sabia o que estava fazendo, só me deixou mais corajoso, queria ter feito aquilo muito antes, meu medo era o que isso poderia te causar durante a iniciação. Eu dei tantas pistas, você nunca desconfiou do meu verdadeiro interesse?

– Não, atirar facas contra a cabeça de uma garota não é a melhor forma de demonstrar interesse. Al e Christina ficaram curiosos em saber o que você tinha me falado naquela noite, Will ouviu, mas eu não permiti que ele contasse.

– Eu quis socar o Al quando ele te carregou nos ombros logo depois, mas quando você acenou pra mim, foi como se ele não existisse e tudo aquilo tinha valido a pena - Ele sorri e me beija - Estamos bem agora.

Estamos bem, muito bem, só tenho medo de que essa calmaria não dure para sempre, nunca me senti tão feliz e tão perdida. Tobias segura minha mão e caminhamos juntos, passando pelo Fosso, ele me guia até uma porta que não está trancada, atrás dela, há um corredor escuro e um lance de escada, o lado oposto do abismo, ao olhar para cima, podemos ver o Fosso e as pessoas encostadas no corrimão se tornam pequenas, foi aqui que nos beijamos pela primeira vez. Ao entrarmos no lugar vemos dois corpos se enroscando fortemente, exatamente na rocha onde nos sentamos naquela noite. Tobias segura minha cintura e aperta, olho para ele, sem entender, ele apenas faz um sinal de silêncio e me guia pra um lugar onde consigo decifrar quem são. Uriah e Christina. Eu sorrio e indico para a porta, melhor deixarmos que eles fiquem sozinhos, não quero atrapalhar nada. Estou feliz, realmente tudo está perfeito. Meus dois melhores amigos.


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