O Som do Coração escrita por Vlk Moura


Capítulo 9
Parte 1: Capítulo 9 - Saída




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Ela voltou no meio da semana seguinte, estava agora sentada na cadeira tocando meu violão enquanto olhava notas na internet, essa menina é alguém especial, ninguém se importa tanto assim com alguém, ainda mais alguém que já te tratou muito mal e, bem, não me orgulho, mas em uma de suas visitas eu a machuquei de verdade, eu estava caído no chão, ela foi me ajudar e eu dei um belo de um tapa na sua mão, foi um pouco depois de eu ter levado os socos de Pietro, desde aquele dia to esperando a vinda de Marco.

– Você gosta? - eu a olhei, ela sorria para Rex - Ah, você está me olhando agora - ela sorriu para mim - Você gosta?

– Red Hot ainda é um dos meus favoritos - falei - Então, sim, eu ainda gosto.

– Ótimo, cante. - eu franzi o rosto - Eu vi vídeos seus na internet, sua voz é boa, gostei dela, cante.

– Não. - ela continuou dedilhando e me olhando, quando não comecei ela reiniciou e fez isso todas as vezes que eu passava da parte em que deveria começar a cantar.

Até que eu comecei. Ela lançou um sorriso, Rex latiu para nós dois como se estivesse entendendo o que acontece, ela foi tocando e eu cantando, quando acabamos ela deu um grito de vitória.

– Soube que você não cantava a mais de dois anos - ela veio até mim - Como você está perdendo matéria resolvi que vou te ensinar, você se importa?

– Não - falei sorrindo, seria bom ter noção de alguma coisa - Mas até onde sei você não é a melhor da turma.

– Não mesmo, porque você era e bem, quando o melhor da turma está fora da jogado acho que eu posso ajudá-lo. - confirmei.

Ela tirou os livros de dentro da bolsa, pegou um puffe e colocou ao lado da minha cadeira, ela pegou várias folhas de fichário e folhas de sulfite com cópias de folhas de fichário, ela as empulhou separando cada matéria, e começou a me explicar.

– Yara - ela me olhou, seu cabelo estava na minha frente - Posso te fazer uma pergunta? - ela confirmou - Quando e por que raios você fez isso com seu cabelo?

– Achou feio?

– Não! - ela riu do meu imediatismo.

– Tudo bem - ela falou o prendendo em um coque - Que eu comecei a pintar meu cabelo faz três anos, de acordo com o Marco desde que paramos de nos falar, que eu fiz isso - ela apontou para o cabelo - tem seis meses - ela deu de ombros - Parecia uma boa ideia na época, mas aparentemente só eu e a Marina gostamos - e a olhei confuso - A de cabelo azul - Ah...

– Sinceramente, não é feio - falei soltando seu cabelo - Mas ele cacheado e na cor natural é incrivelmente lindo - sorri, ela retribuiu o sorriso - Sem falar dessas lentes, desde quando você tem o olho azul - ela fechou os olhos eu ri - Você já é muito bonita, Yara, não precisa ficar se mudando assim.

– Você diz isso porque tem os olhos claros - ela grunhiu - E você tem o seu grupinho de amigos - levantei as sobrancelhas - Eu não tinha ninguém, só o Pietro e meu irmão e ninguém merece ficar grudada com eles, Marina era meio solitária também, já eramos amigas, acho que você se lembra de ter ido na casa dela algumas vezes comigo - neguei - Enfim... E ela achou que pintarmos o cabelo seria uma forma divertida de fazer com que todos nos vissem.

– Funcionou?

– Não sei, acho que não, ninguém veio falar com a gente por causa de nossos cabelos, mas ela arranjou um namoradinho de cabelo rosa que ele insiste ser roxo - ela deu de ombros e voltou ame explicar matemática.

A matéria não era díficil, então achei que eu conseguiria aprender e no ano seguinte caso eu voltasse para a escola eu conseguisse fazer os trabalhos sem o menor dos problemas.

Nas pausas entre as explicações ela pedia para que eu cantasse enquanto ela tocava, fizemos um tour entre Green Day, Coldplay, Nirvana, Led Zeppelin, BackStreet Boys e ela me fez cantar Jason Mraz. Em cada parte que eu cantava ela ria dizendo que estava fora do ritmo, pedi para ela cantar para mim e então numa próxima eu não erraria.

– Não, para. - ela me olhou - Se eu to fora do ritmo, você não canta nada bem - ela riu.

– Eu sei, por isso fico com o violão. - concordei que fazia sentido - Bem, agora eu tenho de ir - ela se levantou e estralou as costas - Se prepare que na próxima não ficaremos aqui.

Eu a fitei, não entendia o que ela estava dizendo, como assim não ficaremos aqui?

Eu descobri o que ela quis dizer, Yara tem uma forma de me forçar fazer as coisas que é muito caracteristico dela, junto do Rex e do violão depois de aprender mais duas matérias, ela me fez sair de casa, eu estava morrendo de medo, mas com ela por perto não parecia ser tão ruim, era como se ela tivesse me feito esperar até esse momento em que nos encontravamos, Rex com a focinheira estava amarrado ao pé do banco, a caixa do violão estava aberta na nossa frente, ela começara a dedilhar alguma coisa que logo captei como Hoobastank, ela me forçou a começar a cantar, algumas pessoas se aproximavam e eu tinha de me controlar para não sair correndo dali, minhas mãos suavam, minhas pernas tremiam, Rex nos observava e o olhar calmo da Yara me fazia querer continuar ali e não correr e me enfiar no quarto. Era a primeira vez que eu via o sol ou até mesmo o céu que não fosse pela minha janela e agora algumas pessoas até jogavam umas moedas para nós.

Ficamos ali por uma cinco músicas até ela encerar as notas e me olhar empolgada, ela queria fazer algo mais ainda, mas eu não sei se mais uma surpresa seria boa para minha alma.

– Só não te farei algo mais porque o Rex ta coma gente - ela falou sorrindo - Mas se você sobreviveu hoje, acho que na próxima posso te levar para outro lugar - ela me mandou uma piscadela do portão.

– Yara, eu consegui sair hoje, mas na próxima não sei se consigo.

– Você consegue e sabe porquê? - neguei - Porque eu acredito em você - ela me abraçou - Se cuida e cuida do garotão aqui.

No quarto depois de tirar a coleira e a focinheira do Rex, eu comecei a olhar as anotações da Yara e a rir de seus desenhos pela folha do fichario.

– O que a coleira e a focinheira fazem aqui? - minha mãe subiu até meu quarto e repetiu a pergunta.

– A Yara nos levou para dar uma volta.

– Aquela coisinha ainda está vindo aqui? - confirmei - Ela não tem jeito, será que não entendeu que não a queremos aqui e...

– Mãe! - ela me olhou - Ela está me ajudando, então, por favor, não a proiba de vir aqui, ela me faz bem e veja, hoje eu consegui sair de casa.

Ela reclamou algo que eu não entendi e me olhou caridosa.

– Tudo bem, mas eu vou querer ter uma conversa com ela sobre isso - confirmei.

A ouvi ligar para Yara e falar que ela deveria vir aqui em casa no final de semana, ela pareceu dizer que já estava pensando em vir e parecia ter algo para falar com meus pais, algo sobre a escola, ela parecia ter conseguido negociar algo com o diretor e os professores e isso pareceu quebrar a ideia dos meus pais ao meio, não sabiam que ela estava me dando aulas e começaram a fazer várias perguntas para a menina que parecia respondê-los calmamente como se eles não estivessem fazendo um enorme interrogatorio. Quando finalmente desligaram cochicharam sobre ela e disseram que não esperar que ela fosse capaz de fazer tudo o que fez.

No final de semana fiquei na escada ouvindo o que meus pais conversavam com ela que veio acompanhada da menina de cabelo azul. Eles agradeceram por ela ter conseguido fazer com que eu andasse um pouco, quando ela contou que eu cantei eles quase não acreditaram e ela parecia ter algo mais para contar a eles.

Sobre a escola ela disse que conseguira um acordo com o diretor, mas a minha mãe e meu pai precisariam ir até lá para firmar, ela me daria aulas em casa, perguntaram se ela cobraria e la negou, claro que negaria, ela já estava me dando aulas, e finalmente ela falou que conseguira que eu fizesse as provas em casa, na semana seguinte as das provas um professor viria até em casa para me aplicar uma prova geral, elaborada por todos os professores juntos, essa prova e daria as notas para todas as matérias, e os trabalhos eu os faria em casa e ela entregaria aos professores, os grupos seriam ignorados, nada de trabalho em grupo para mim.

– E como você conseguiu isso? - meu pai perguntou.

– Descobri que a filho do diretor teve um problema parecido quando mais nova, logo ele entendeu pelo que o Wilke passava e concordou com um acordo, mas você precisam me prometer que irão lá na segunda para firmar tudo isso.

– Faremos de tudo para ajudar o nosso filho - minha mãe falou - E vejo que você também - ela confirmou - Obrigada, Yara.

Ela se levantou e junto da menina de cabelo azul veio para escada, corri para meu quarto, as duas entraram quando eu tentava iniciar um jogo.

– Essa é a tal Marina que você tanto fala? - ela confirmou - Sou Wilke.

– Sei quem você é, você me deve três barras de chocolate e quatro potes de sorvete - ela falou - Cuidar do Meleca não é fácil - eu não entendi.

– Meu irmão - Yara interveio - Ela cuida dele enquanto eu cuido de você.

– É verdade que você não conseguia nem encarar a rua? - Marina perguntou, confirmei - E a Yara conseguiu te fazer cantar no parque? - confirmei - Nossa.

– Pois é, eu sou tipo uma super-heroina - ela falou fazendo pose o que nos fez rir - Acho que você iriam gostar um do outro se se dessem a chance.

– Por que? Eu não gosto dele.

– Isso é ciúme? - Yara confirmou e Marina negou - Marina, não se preocupe, não pretendo roubar sua melhor amiga, me veja como... - eu pensei e larguei o controle do video-game - o Pietro, só que mais bonito.

– Bem mais mais bonito, você quer dizer - eu olhei Marina constrangido - Desculpa, cara, mas na real, você é muita mais lindo do que ele.

– Marina! - Yara a censurou - Para com isso.

– O quê? - a de cabelo azul ria - Você mesma diz isso, por que eu não posso?

Olhei Yara, ela estava da cor do cabelo de tão vermelha que ficou o que me fez rir.

– Então você me acha lindo? - falei rindo, Marina percebeu o que falou e logo começou a rir.

– Ahm... É algo tipo isso - ela falou - Agora vá se arrumar, nós vamos sair.

– Quê? - eu olhei Marina, ela confirmou - Como assim?

– Eu te falei que na próxima iamos sair, agora vá se arrumar.

Ela me obrigou a trocar de roupa, colocar um tênis, dessa vez saímos apenas os três sem o Rex, Yara e Marina me levaram até o shopping onde encontramos o cara de cabelo rosa, o tal namorado da Marina e realmente o cabelo dele é rosa, e ele é bem estranho, ele ficava atrás de nós com uma cara amarrada enquanto as duas me faziam rir de suas imitações das pessoas da sala, ficamos na praça de alimentação do shopping comendo várias batatas e conversando sobre coisas aleatórias que há muito tempo eu não falava com ninguém.

– Você tem tatuagem? - Marina me perguntou.

– Não - as duas pareceram ficar chateadas - Por que essas caras?

– Tatuagem dá aquela valorizada, sabe - Yara me explicou.

– E vocês, têm? - elas trocaram olhares e riram, olhei Yara - Você tem tatuagem? - ela confirmou - Ah, para, eu quero ver.

– Não.

– É tão secreta assim?

– Não vou te mostrar minha tatuagem, não dá para mostrar assim.

– Uh! É aquele tipo de tatuagem que só no mais intimo alguém veria?

– Então o Juca já viu - Marina falou, o namorado estranho riu, olhei Yara, ela tentava calar a Marina.

– Quem é Juca? - perguntei curioso.

– Ninguém é Juca.

– É o namoradinho dela - Marina falou rindo - Se conheceram em uma festa e agora estão tendo casinhos aqui, casinhos ali, ele já deve ter visto a tatuagem.

– Claro que não! - ela falou e eu ri o que a deixou ainda mais sem graça - Para, Wilke!

Paramos.

O casal foi para um encontro enquanto ela me levava de volta para casa.

– Então - ela me olhou - Esse Juca, ele já viu sua tatuagem? - el ame olhou assustada que eu tivesse voltado a esse assunto, eu ri e a abracei - Não se preocupe, não contarei ao Pietro, nem ao Marco e nem para a Marina, juro.

– Não fala merda - ela riu - Eu e ele não é nada sério, então, duvido que ele vá ver a tatuagem, agora - estavamos de fora de casa - vê se vai lá para dentro e trata de estudar tudo direitinho, você precisa passar de ano.

Confirmei e a obedeci. Depois de três partidas eu comecei a estudar e ler o novo material que ela me entregara.

Sinceramente, acho que logo poderei voltar a sair sozinho. Enfrentar a escola ainda é algo difícil de dizer, porque eu não conseguiria encarar aquele grupo novamente, mas sair com a Yara e a Marina parece ser bem divertido por enquanto.


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