O Som do Coração escrita por Vlk Moura


Capítulo 10
Parte 1: Capítulo 10 - Surpresa




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Quando a Yara veio mais uma vez, eu já a esperava usando meu jeans, camisa e tênis, cabelo arrumado a medida do possível, mas ela me surpreendeu dizendo que ficariamos em casa apenas estudando e ela me obrigando a cantar mais e mais. Eu a observava e ao seu cabelo muito bem colorido, ela tinha retocado, mas eu não comentaria. Ela juntou todo o cabelo em um coque alto, colocou o violão sobre a coxa e começou a dedilhar algo, ela me olhou meio de canto, eu não reconhecia a letra, era algo novo a julgar pelo arranjo. Quando percebeu que eu não reconhecia colocou a música para tocar no celular e junto do cantor ela foi tocando o violão, era tão sincronizado e lindo ver aquilo que não pude conter o sorriso.

– Que ótimo que estão se divertindo, mas precisamos ir - meu pai falou da porta do quarto, Yara o olhou e confirmou, que horas ele chegou em casa? Eu não o ouvi.

– Aonde vamos? - perguntei observando agora que a roupa dela não era tão extravagante como nos outros dias, se resumia a uma leggin preta, uma camisa branca regata comprida, um tênis comum e uma blusa amarrada a sua cintura.

– Surpresa. - ela falou me arrancando de dentro do quarto - Espero que não se importe de eu ir com você e seus pais.

– Sabe que não me importo - falei sorrindo.

Entramos no carro, minha mãe já estava de copiloto, meu pai dirigiu, Yara cantava as músicas da rádio com um sussurro, eu seguia cantando alto o que fazia os três me olharem, meus pais mais discretos, Yara me encarava e ria dos meus leves deslizes.

Um valet pegou o nosso carro, Yara entrelaçou nossos dedos e minha mãe do outro lado fez o mesmo, meu pai ia a nossa frente nos guiando. O restaurante estava cheio, pessoas andavam para todos os lados impacientes, Marina nos gritou, estava em uma mesa acompanhada do namorado e mais gente, eu travei, minhas pernas não mexiam, eu já estava assustado antes, mas agora com aquelas pessoas na mesa seria impossível continuar, eu não conseguiria.

– Não precisa ficar muito - Yara falou abraçando meu braço - Apenas curta um pouco, prometo que não vão te morder.

A olhei, ela sorria e era lindo, era o melhor sorriso que eu recebia durante todo o meu processo de recuperação, era o sorriso que eu mais aguardava durante a semana.

Na mesa várias pessoas levantaram para me cumprimentar, Pietro foi o primeiro, cumprimentou meus pais e percebi ele hesitar antes de me cumprimentar, depois Marco, depois o pai da Yara e a madrasta e por fim uma criança que deduzi ser o Meleca. Marina pulou em mim e bagunçou meu cabelo, depois o namorado de cabelo rosa apertou minha mão. E mais alguém, alguém que eu realmente não conhecia.

– Juca, Wilke, Wilke, Juca - Yara falou se sentando ao lado do menino, ele era um pouco mais baixo do que eu, loiro, olhos claros, algumas sardas no rosto.

– Ah... o namoradinho - falei sem pensar, o menino pareceu gostar de ouvir aquilo, mas não a Yara, ela me mandou sentar e me calar o que fez Marina, Pietro e Marco rirem.

Fizemos o pedido do primeiro prato, eu ficava nitidamente incomodado, não conseguia ficar sem olhar para os lados, eu esperava que os meninos fossem chegar de surpresa e me crucificar e quem sabe repetirem o que tinham feito antes, no fundo eu queria ver alguém parecido para que eu pudesse sair daquele lugar cheio que me incomodava, mas por outro lado ficar com a Yara ali era bom, ela ria e seu sorriso me encantava, o som de sua risada era calmo e controlado e só fugia disso quando Marina ou Pietro falavam algo extremamente vergonhoso sobre ela.

– Não vou poder ir - Yara falou com Juca - Vou para a casa do Wilke depois.

– Mas vai ser uma super festa, até a Marina vai.

– Não, Juca, é sério, vou para a casa do Wilke, vou numa próxima.

– Quantas próximas? Já te chamei para várias outras e você negou todas.

– Ela não é de festas - Marco interveio - Aquela em que vocês se conheceram, e ainda espero os agradecimentos, foi especial, porque ela estava alterada - Yara o olhou, Pietro riu.

– Então, Wilke, você já está se sentindo melhor? - o pai da Yara perguntou, eu o olhei, estava bem mais velho do que eu me recordava e eu nem me lembrava da madrasta, eles já estavam juntos quando eu frequentei a casa deles?

– Muito melhor - falei tentando ser simpático - A Yara me ajudou muito a conseguir sair para esses lugares cheios, ainda me incomoda, mas só de estar aqui já é um grande milagre.

– Não é milagre - Yara parecia ter saído da conversa que estava tendo antes - É esforço, e não foi por minha causa que você saiu.

– Deve ter sido sim - Juca falou - Eu também sairia de casa caso estivesse doente para poder ficar com você.

– Como você é fofo - ela falou com tom de falsidade o que me fez rir, ela me olhou rindo - Mas você saiu porque quis enfrentar, senão fosse isso você ainda estaria trancado naquele quarto.

– Mas um incentivo feminino sempre ajuda qualquer homem a se recuperar - Juca falou.

– Sério? - ela o olhou - Então hoje você veio por causa da companhia feminina ou por que realmente queria conhecer o Wilke?

– Porque eu tenho uma festa logo depois e vou emendar a bebedeira. - ele falou rindo.

– Que bom - ele olhou Yara, eu a olhei também, Marina soltou um 'lá vamos nós' enquanto Pietro tentava intervir na discussão. - Agora que você já bebeu aqui pode ir para sua festa, afinal foi para isso que você saiu, não foi?

– Não, bebê - bebê? Ele não chamou ela de bebê, né? - Eu não quis dizer...

– Mas disse, droga! - ela se levantou correndo, todos acompanharam o olhar dela, eu acompanhei para onde ela tinha ido, ela pegou algo da mão do garçom, todos da mesa se levantaram e eu não entendi o que estava acontecendo.

Ela se virou e tinha um bolo nas mãos, se aproximou e todos gritaram um "Surpresa!" em coro, logo começaram a cantar, eu fiquei nervoso, era muita coisa, a minha reação genial foi me levantar correndo e correr para fora do restaurante, fui até o outro lado da rua onde a confusão de clientes era menor, me apoiei em um dos carros e controlei minha respiração, eu não queria ter saído correndo, mas o meu pânico foi maior, eu estava cercado por pessoas e todas gritavam, isso era demais para eu absorver.

Ouvi alguém gritando pelo meu nome, sentei ao chão e inspirei com força, eu sentia que ia colocar todo o jantar para fora. Foi o que fiz, eu sentia tudo aquilo subir pela garganta e contaminar minha boca com o gosto horrível.

Uma mão tocou meu ombro, eu me assustei, a mão foi até minha cabeça e com calma e acariciando meu cabelo esperou que eu esvaziasse meu estomago. Quando terminei, virei a cabeça para cima e respirei cansado.

– Toma um pouco - ela me esticou uma garrafa de água - Vai ajudar, ou não - ela deu de ombros e se sentou ao meu lado - Se sentindo melhor?

– Agora que coloquei meus intestinos para fora estou.

Ela riu.

– Desculpa por isso - ela falou, eu a olhei, estava meio tonto ainda - Pela surpresa, eu devia ter adivinhado que seria demais e...

– Obrigado! - falei pegando sua mão e com a outra tomando a água - Sério, foi divertido, menos o Juca, não gostei dele.

Ela riu e se levantou, esticou a mão para mim, me apoiei e levantei. Ela entrelaçou nossos dedos, é como se inconscientemente ela soubesse que me passava tranquilidade quando fazia isso e realmente me ajudava.

Quando voltamos para o restaurante, Juca e Marina e o namorado já tinham ido embora para a festa, mas a menina de cabelo azul me deixara um cheiro que Marco fez questão de reproduzir em mim.

– O que aconteceu com o Meleca? - perguntei para Pietro que parecia não estar bravo comigo.

– Ele vomitou na sua mãe quando ela brincou com ele - eu não aguentei o riso o que fez Yara rir.

– Acho que nunca mais ela vai brincar com crianças - meu pai falou rindo.

Ficamos mais um tempo conversando até o pai da Yara chamar a família para ir embora, ele ficou receoso em deixar a filha conosco, mas meu pai prometeu que depois ligaria para ele para passar tudo o que aconteceu até chegarmos em casa. Eu não estava entendendo até que me contaram que ela dormiria lá em casa, ela queria ter certeza de que eu ficaria bem.

Colocamos um colchão no chão do meu quarto onde ela dormiria como quando eramos crianças, a diferença agora foi que usamos o colchão dela como banco e ficamos a noite toda jogando vídeo-game ou tocando e cantando. Mostrei a ela que eu tinha aprendido a tocar um pouco e ela riu dizendo que era melhor eu continuar cantando do que tocando.

Peguei meu celular e o coloquei para filmar, ela dedilhava calma e sorria para mim conforme eu cantava, quando ela parou de tocar já bocejava exausta, imagino que tenha sido dificil planejar a festa e convencer o pai, o primo, a madrasta e o irmão a irem até a surpresa quando eles queriam arrancar minha cabeça e ela não fez questão de esconder isso de mim nas outras vindas até em casa. E aparentemente Juca era um enorme idiota e uma pessoa ruim para ela.

Na manhã seguinte acordei com o toque da campainha, Yara estava com o cabelo um zona e o rosto todo amassado e babado quando me olhou, acho que foi a cena mais sexy em dias que eu tive de presenciar. Pés rápidos subiam a escada, nós dois dopados de sono olhamos para quem invadiu meu quarto, Pietro nos encarou e riu de nossa situação.

– Vou tentar melhorar isso aqui - Yara falou apontando para o próprio rosto - Você também deveria tentar - ela falou me olhando.

Ela foi par ao banheiro e se trancou, eu sentei na cama e fiquei absorvendo a cena da minha melhor amiga levantando.

– O que você está fazendo aqui? - perguntei sem muita cerimonia.

– Meu tio mandou vir buscá-la, ele disse que uma noite dela aqui é o máximo que ele suporta se ela passar mais o dia aqui ele surta.

– Algo me diz que ele ainda não gosta de mim.

– Ninguém gosta - eu o olhei assustado - Desculpa, mas é a verdade. Eu e Marco estamos suportando isso, mas na verdade queriamos que ela te largasse.

– Não são os únicos - falei e ele me olhou atento - As vezes acho que ela ficar vindo aqui atrapalha a vida dela.

– Eu penso o mesmo - ele falou - o Juca, por exemplo, te odeia, pelo simples fato de ela ficar mais com você do que com ele, mas acho que isso é bom, porque mais do que não gostar de você, eu odeio aquele loirinho metido.

– Então já temos algo em comum - falei e ele riu. - Ele parece ser um idiota.

– Não só parece, como é. Prefiro que ela fique com você do que saia com aquele cara. Mesmo você sendo um idiota.

– Você aproveitou que vinha buscá-la e veio acabar comigo, não foi?

– Que bom que percebeu - ele se levantou. - Yara, estou te esperando lá fora.

– Só vou embora depois do café. - ela gritou de volta, ele me fitou.

– Ela quer comer, o que eu posso fazer? - falei me levantando e indo para a cozinha.

Pietro pareceu se incomodar comigo apenas de samba-canção, Yara não ficou tão chocada quanto ele.

Preparei algo para nós comermos, Pietro estar ali me assustava, eu não sabia se ele realmente só tomaria conta da prima ou se ele tentaria me agredir mais uma vez, eu queria que Yara descesse logo, ficar com ele por mais cinco minutos faria com que nós dois saíssemos na porrada e eu mais em pânico do que antes. Graças que ela foi rápida, só não foi mais rápida descendo do que foi comendo, ela logo terminou se despediu me dando um longo e demorado beijo no meio dos meus cabelos e os bagunçando mais do que já estavam e os dois sairam discutindo o fato dela ter dormido no meu quarto e eu estar apenas de samba-canção.


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