O Som do Coração escrita por Vlk Moura


Capítulo 26
Parte 2: Capítulo 26 - Caminhe Comigo


Notas iniciais do capítulo

XIX - Slipknot



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Vê-la chegando na minha casa me deixou feliz de uma forma que eu não esperava, ela brincou com o Rex e depois me seguiu até meu quarto, o cabelo tinha sido pintado recentemente pela cor forte e viva que apresentava, ela me fitou enquanto eu a admirava, sorri, ela sorriu tímidamente de volta. Fechei a porta do meu quarto e mostrei no computador as músicas que eu tinha aprendido a tocar, ela me olhou e sorriu parecendo alegre.

Se sentindo da casa foi até meu violão o pegou, sentou ao pé da cama e começou a dedilhar de forma lenta, parecia que buscava o tom certo, eu diria que ela ouvia, mas el anão pode, então, provavelmente sentia, literalmente a música. Comecei a cantar, mas ela com toda a certeza não sabia que eu cantava. Fui até ela, ela me olhou com aqueles olhinhos brilhantes, eu queria abraça-la, mas não o fiz, apenas sorri. Ela se aproximou de mim e pediu delicadamente para tocar nas minhas costas enquanto eu cantava. Eu permiti que fizesse, pela blusa ela não sentia a vibração da minha voz, os dedos finos e gelados entraram na minha camiseta me causando arrepios que a fizeram rir. Comecei a cantar e olhei para ela, aos poucos ela foi se afastando, encostou as costas na minha e começou a tocar calma e quase no ritmo, ela errava uma parte e outra, mas nada que comprometesse tudo.

– Quer companhia até em casa? - perguntei enquanto a levava até o portão.

– Não, está tudo bem.

Nos despedimos e eu a vi se afastar pela rua. Eu queria ter ido com ela, mas não queria se rum chato superprotetor.

No dia seguinte ela faltou, e no outro também e no outro também. Eu realmente fiquei preocupado, tentei ligar para ela, mas não atendeu.

Liguei para Marina.

– Você não soube? - ela me perguntou surpresa.

– Do quê?

– Ela foi fazer a cirurgia - eu fiquei mudo, ela não tinha me contato aquilo - Foi internada quarta-feira, deve estar indo para a sala de cirurgia em poucos minutos.

– Como assim? Ela não me contou nada.

– Pensei que ela tivesse te falado, até o James está aqui - não pude evitar apertar mais o celular - Enfim, anota ai o endereço.

Anotei, e assim que desliguei procurei a forma mais rápida de chegar até lá. Saí de casa meio correndo, os ônibus demoraram muito, caminhei até o hospital depois de ter corrido para pegar o último ônibus e ver que a caminhada não seria tão longa quanto parecia no site. Dei o nome da paciente, eu não poderia entrar, me mandaram para a sala de espera, lá estava cheio. Eu não encontrei ninguém conhecido.

– Wilke? - olhei quem falava, James, a última pessoa que eu queria encontrar, sorri para ele - Ela disse que não ia te avisar - ele pareceu surpreso, mas não uma surpresa ruim.

– E não avisou, acabei descobrindo - ele se sentou ao meu lado - Como ela está?

– Não sei. Eu só vim aqui hoje porque era o dia da cirurgia, mas não pude entrar, apenas a família e a...

– Marina - ele sorriu e confirmou - Como ela estava?

– Nervosa, o trauma de infância não ajudou muito, tentei fazer com que ela se sentisse mais segura, mas não sei se deu certo.

– Ela é bem cabeça dura - ele confirmou, encostamos na poltrona e olhamos para a televisão que passava a programação do hospital, dando dicas de culinária, falando sobre pessoas que superaram doenças e coisas do tipo.

Não sei quem cria essa programação, mas essa pessoa devia ficar sabendo que faz as esperas que já são demoradas por si só se tornarem ainda mais longas e agonizantes.

– Você acha que vai dar certo? - perguntei, ele deu de ombros.

– Conheço pessoas cuja cirurgia funcionou e pessoas que não conseguiram nenhuma melhora - ele suspirou - Espero que ela estava na porcentagem positiva.

– Eu também.

Eu recebi ligações dos meus pais preocupados, contei onde estava, pediram para eu não chegar muito tarde. Conforme foi ficando muito tarde resolvi voltar para casa, James voltou comigo, deixamos uma mensagem para Marina.

Depois da aula tentei ir ao hospital, James já estava lá novamente e na sala de espera, ele me olhou e sorriu. Ligamos para a Marina que desceu e chegou até nós meio correndo e cansada.

Conseguiu adesivos de visita para nós. Subimos em silêncio, ela pediu para ficarmos quietos, Yara estava deitada trocando de canal impaciente. O cabelo bagunçado os olhos cansados e olheiras gigantes no rosto. Ao nos ver seus olhos se arregalaram por alguns segundos o que fez com que Marco se levantasse de sua poltrona e viesse até nós. Nos cumprimentou e nos permitiu entrar.

– Como se sente? - James perguntou, ela deu de ombros.

– Como está sendo a recuperação? - perguntei olhando Marco.

– O médico disse que tem chance de hoje mesmo ela receber alta, estamos torcendo por isso.

Ficamos ali um tempo, ela não falava com ninguém e mal nos respondia, era sempre com acenos. Depois da tarde lá fomos enxotados do quarto por uma enfermeira que dizia que ela precisava descansar. Yara não lutou para que ficassemos nem nada, ela se ajeitou debaixo do cobertor ruim de hospital e fechou os olhos. Eu me sentia mal de vê-la tão para baixo, eu queria poder tirá-la dali e levá-la para qualquer lugar tomar sorvete, jogar fliperama, qualquer coisa.

Marina me mandou uma mensagem no final da tarde do dia seguinte dizendo que ela tinha recebido alta e que não queria ninguém com ela na casa, nem mesmo o primo ela estava aceitando.

Pensei no que poderia fazer para animá-la um pouco, liguei para James, depois para Marina e Pietro, combinamos de no final de semana ir para a casa dela. Pietro preparou o terreno para nós, avisou o pai dela e a madrasta, eles nos apoiaram e até prepararam um estoque de pipoca de microondas para nos acabarmos durante a noite. Eu peguei uns filmes que lembrei que ela tinha comentado gostar, Marina pegou outros, levamos para a casa dela.

– Eu vou chamá-la para comer quando vocês disserem que já está tudo pronto - Maura falou nos entregando dois pacotes de pipoca já estouradas.

Colocamos o DVD, arrumamos o sofá para quem quisesse ficar lá, arrumamos o chão que aparentava ser o lugar onde a maioria iria ficar.

Maura foi até lá, ficamos esperando em pé no meio da sala. Pudemos ouvir Yara reclamando um pouco sobre não querer comer, mas resolveu sair. Maura passou pela porta e piscou para nós, Yara a seguiu e travou ao nos ver, ficou em choque, Maura sorriu para ela e apontou com a cabeça na nossa direção.

– Eu odeio vocês. - nós rimos e a puxamos, ela se sentou no sofá relutante, demos play e colocamos a legenda, eu não sabia o resultado da cirurgia, não sabia se tinha funcionado ou não, mas eu descobri minutos depois que não tinha, quando Pietro tentou falar com ela e ela continuou olhando as legendas, ele nos olhou surpreso, eu a olhei, ela ria com a cena, eu sabia que ela tinha aquele filme de cor na cabeça e só por isso ria. Saí do chão e me sentei ao lado dela, quando toquei seu ombro ela deu um pulinho de susto.

– Pietro falou com você - eu falei, ela me olhou tentando não demonstrar.

– Eu estava concentrada, desculpa - olhei o primo dela que me olhava da mesma forma que eu o olhava com pena.

– Você está bem? - eu perguntei sem estar virado para ela, todos nos assistiram, ela me fitou e virou o rosto, abraçou as pernas e segurou o choro. - Vem cá - eu a abracei, ela chorou, todos nos olharam surpresos, James sentou do outro lado dela e apertou a mão dela com calma, Marco e Marina sorriram um par ao outro enquanto Pietro ficava de joelhos na frente da prima.

– Não se preocupe, vai ficar tudo bem - ele falou, ela o olhou e sorriu, pulou no pescoço do primo que a abraçou e depois a afastou - Vamos todos passar a noite aqui com você, o que nos diz?

– Que vocês são irritantes - ela me olhou e sorriu - Mas vou deixar que fiquem.

– Que ótimo, porque os ônibus pararam há mais de uma hora - falei rindo, ela me mostrou a língua e chamou Marina para ajudá-la a arrumar as coisas para dormirmos todos juntos.

Marco e pegamos os colchões da casa e colocamos na sala, Pietro e James foram até o apartamento dele para pegar outros colchões, arrumamos todos e nos deitamos, o filme ainda rolava, mas não ligavamos mais para ele, apenas ficamos deitados, todos em silêncio. Yara vez e outra nos olhava para ter certeza de que ninguém conversava sem ela saber. Marina pegou na mão dela e sorriu firme, Pietro fez o mesmo e logo dormimos.

Acordei com uma perna invadindo meu colchão, era a perna do Marco, olhei os outros colchões, Pietro e Yara já estavam de pé, preparavam o café, eu me levantei e fui ajudá-los. James levantou pouco depois, mas teve de ir embora, tinha compromissos e estava quase atrasado, agradeceu a noite de filmes mesmo não podendo ouvir muito e logo partiu. Ficamos nós três no sofá tomando café e assistindo os péssimos programas de um sábado de manhã.

– Como foi a cirurgia? - Pietro perguntou.

– Não sei, pedi pela anestesia geral - ela falou apertando a caneca - Mas agora vejo que não deveria ter me submetido a isso.

– Pelo menos você tentou - falei, ela me olhou e sorriu de leve.

– As vezes acho que tentar só nos machuca ainda mais - ela se levantou e senti aquilo como uma facada no peito.

Conversamos mais um pouco, ajudei a arrumar a parte da bagunça que dava para ser arrumada e fui para casa. Eu queria planejar algo mais que pudesse ajudá-la, mas as provas finais se aproximavam eu ia precisar dividir muito bem meu tempo para poder ajudá-la como eu queria e conseguir ir bem nas provas.


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