O Som do Coração escrita por Vlk Moura


Capítulo 16
Parte 2: Capítulo 16 - Depois da infância




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A viagem para a fazenda mesmo com as encrencas de Juca e suas crises de ciúme estava boa, principalmente depois do que o Wilke fez que a julgar pelas indiretas que a Marina tem me jogado ela já está sabendo. Mas não me importo. Estava tudo divertido até escutarmos um carro encostando, estavamos na piscina e corremos para ver quem entrava e tive a surpresa de encontrar minha mãe descendo do carro acompanhada, ela nunca está sozinha. Ela nos olhou e sorriu, estava radiante como sempre, o longo vestido a fazia parecer mais alta e para minha surpresa ela usava salto alto na terra, quem faz isso?

– O que faz aqui? - perguntei instintiva e já tampando a tatuagem.

– Essa é minha fazenda, acho que posso vir até ela quando eu quiser.

Revirei os olhos e voltei para dentro da casa, coloquei uma roupa e saí novamente, ela ordenava os meninos para descarregarem seu carro, Marco já correra para longe, era o que eu queria fazer, me afastar, voltar para casa a pé parecia uma boa escolha.

Passamos os restos de nossos dias de férias na companhia dela, fui expulsa junto a Marco do quarto, fui par ao da Marina com Lucas e Marco foi para o dos meninos que pareciam sempre brigar antes de dormir. Entrar no carro, mesmo no banco traseiro espremida entre Wilke e Juca e Lucas era melhor do que ficar na casa com minha mãe. Na frente, Pietro e Marina dividiam o banco do copiloto, meu irmão parecia tão aliviado quanto eu.

– Desde que me lembro você e sua mãe são afastadas - Wilke falou - por quê?

– Porque ela é idiota e a odeio.

– Mas ela sua mãe - ele falou.

– Mãe? Desculpa ela está longe de ser minha mãe - ele me analisou - Primeiro ela largou Marco, tudo bem que do jeito que ele é chato eu também o teria largado - meu irmão tentou me acertar com tapas, mas errou todos me fazendo rir e esmagar ainda mais os meninos - Ela o largou com meu pai e depois que eu nasci ela me largou também, eu quase consigo contar nos dedos as vezes que ela nos procurou, ela não é uma mãe, é apenas uma reprodutora.

– Nossa... - ele deitou a cabeça para trás, eu queria deitar em seu ombro, mas com Juca ali e até eu encerrar tudo com ela vai ser difícil.

– Ela disse que você seria uma ótima modelo - Pietro falou me olhando - Disse que você podia tentar algo.

– Para que, ela arrancar todo meu dinheiro? Nem ferrando que... - senti uma pressão no ouvido - que eu vou fazer isso.

Nossa, está estranho. Eu os escuto, mas tem algo mais, é como se estivessem sussurrando, que estranho.

Cheguei em casa, deixei marcado para encontrar Juca daqui dois dias, o encontrei e a sensação estranha no meu ouvido continuava. Ele estava bonito, ele é lindo, terminar com ele é quase um pecado, mas tudo que a Marina gritou comigo é certo, não posso continuar com ele sabendo tudo o que ele já fez.

– Precisamos romper - falei, ele me encarou - Eu não posso mais ficar com você sabendo tudo o que você faz.

– Você gosta de mim, Yara, por que está fazendo isso?

– Porque eu não gosto de você, Juca, você é um ótimo amigo, mas um péssimo namorado, desculpe.

Eu me levantei, ele parecia gritar algo, mas o mundo parecia ter se silenciado, eu escutei algo como um tampão sendo retirado do meu ouvido e depois nada, nem apitos, nem zumbidos, nada, apenas o som do silêncio, fui até a avenida, Juca me puxou pelo braço, pela forma como se movimentava parecia exaltado, parecia gritar, mas eu não ouvia nada, meu ônibus, dei sinal. Entrei e ele parecia continuar falando algo, todos no ônibus me olhavam, o cobrador disse algo, pareceu ser "Termino de namoro?" eu confirmei, mas não tinha certeza da leitura lábial que eu acabara de fazer. Peguei os fones e os coloquei, eu não ouvia nada, nem mesmo batida, sentia um pouco das vibrações, mas eram muito fracas, meu deus! Desci do carro correndo, toquei o interfone, o porteiro abriu eu subi discando o número do meu pai.

– Pai? Eu não sei se você me atendeu ou se estou deixando mensagem na secretária, eu não sei mais nada, só sei que eu não estou nada, se puder vir para casa agradeço.

Desliguei, eu tinha de conter as lágrimas, se alguém me visse chorando ia tentar me parar e se eu não escuto não entenderia nada, isso não pode acontecer. Que horrível!

Corri para minha casa, não vi minha tia e agradeci, entrei correndo, Meleca estava na casa de Pietro. Entrei no meu quarto e bati a porta, droga, droga, droga, isso não deve ser verdade, eu não estou surda. Eu não... Olhei meu celular algumas mensagens eu as respondi, enquanto ninguém me liga posso ficar tranquila. E agora, como irei as aulas, como vou aprender algo, como vou passar de ano, como eu vou continuar... Pai, chega logo.

Eu deitei e me enfiei debaixo das cobertas, cobri a cabeça. Assustei quando meu pai me descobriu, ele estava bravo e meu rosto estava inchado de tanto chorar, mas até chorar é algo triste, porque eu não consigo me ouvir. Ele acalmou, sentou ao meu lado e eu pulei em seu pescoço, ele me abraçou, pareceu dizer algo porque senti o vento da sua boca atingir minha orelha.

– Eu não escuto - ele me olhou - Repete.

– O que aconteceu? - contei a ele o que aconteceu, ele suspirou e me olhou. - Vamos marcar um médico e ver o que pode ter acontecido, tenho certeza de que não é nada ruim.

– E o que eu farei até lá?

– Fique em casa, talvez seja melhor e... - ele olhou pela porta, gritou algo que eu não sei o que foi - Yara, você está com fome? - confirmei - Vamos comer um lanche isso deve te deixar mais animada.

Ele pegou minha mãe e me tirou do quarto, eu abracei seu braço, agora me sinto extremamente insegura, não sei como me comportar, não sei como vou contar para Marco que eu não posso mais ouvir, como vou falar com Pietro e Marina, como vou... Wilke, como vou falar com o Wilke se eu não posso ouvi-lo? Depois da nossa infância tudo parecia certo, até que nos separamos, agora estamos juntos novamente e isso aconteceu, que droga, eu quero voltar a chorar, pai, não me solta, eu preciso dessa sua força, assim me sinto levemente mais segura, pai, eu vou chorar, eu estou...

– Yara, ta tudo bem? - meu pai me fez olhá-lo. Neguei com a cabeça, meu irmão e minha madrasta com meu irmãozinho nos cercaram - Qual o problema?

Dei de ombros.

– Ah, não, vamos logo comer, a fome ta te deixando pior - ele me abraçou.

– Não quero sair - falei - Não posso sair assim?

– Marco, liga na lanchonete e pede os de sempre.

Ele pareceu protestar, porque meu pai parou d eme olhar e pareceu brigar com ele.

Fiquei na sala abraçada a minha perna. Minha madrasta sentou ao meu lado, ela tocou meu braço a olhei.

– Seu pai me contou o que aconteceu - ela olhou meus irmãos - Se você não quiser eles não precisam ficar sabendo. - confirmei - Vem cá, querida - ela me abraçou, foi algo maternal, eu chorei ainda mais - Agora, enxugue essas lágrimas e vamos comer, não quero que seu lanche fique todo molhado. - eu ri para ela.

Lavei o rosto, e refiz a maquiagem, quando voltei a sala todos comiam, me coloquei em meu canto e os acompanhei com meu sanduíche triplo, com bacon, milho, ervilha, maionese, muita maionese, mostarda, barbecue, alface, cebola, tomate, quase não cabia dentro do pacotinho, apenas um lanche fast food poderia me deixar feliz, se não completamente feliz pelo menos com minha alma preenchida com algo delicioso e sem fome, o que já era melhor do que antes.


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