Frágil Poder escrita por Thayná, Henrique


Capítulo 2
Intrigas e passado


Notas iniciais do capítulo

Está ai mais um cap para os leitores fantamas



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A adaptação de Brenda, João e Henrique à nova escola foi rápida, logo se sentiram entre velhos amigos e foram se acostumando com o jeito que as coisas por lá acontecem e funcionam. Uma bajulação aqui, uma hostilização ali, vida de “top” não é fácil não é mesmo? Tem de saber lidar com cada tipo de situação. Brenda e Paloma se tornaram próximas e já dividiam fofocas e segredos. João e Nicolas aprontavam poucas e boas pelos corredores e salas de aula, xavecavam várias garotas e não era difícil de ser ouvido por parte delas. Henrique se tornou muito amigo de Martin e Caíque e sua paixão e admiração por Vitória só aumentava a cada dia, cada beijo no rosto e abraço que recebia dela era como ganhar na loteria e como ela não é boba, percebeu as segundas intenções dele e deixou fluir. Mas os três não interagiam muito com Heloísa, Fábio e Laís. Perceberam que a quatrocentona, o namorado e a cunhada não eram do tipo que se faz amizade rápido. Além deles conheceram mais pessoas: Tomás Campos, Bernardo Esteves, Giovanna Toledo, Bárbara Andrade entre outros.
Quando o diretor anunciou no início de fevereiro que já estava na hora de formar as chapas para a disputa do grêmio estudantil, os estudantes não criaram tanta expectativa visto que era certeiro quem seriam os vencedores (novamente). Contudo não esperavam que Hector (do suco de laranja) estava arquitetado ser candidato juntamente com outros bolsistas.
– Mas que babaca! Acha que pode ganhar de nós? Quando eu digo que a pior coisa que fizemos foi aumentar o número de bolsas vocês não acreditam, tá aí a prova. – disse Laís com desdém.
– Não vai passar de uma pedrinha no nosso sapato. Sapato de grife para deixar bem claro. – disse Fábio – Isso já está no papo mais uma vez, se fosse da direção nem perdia tempo em organizar essa votação e já nos anunciava como ganhadores.
Certa vez Brenda perguntou para Henrique se ele sabia melhor como funcionava essa questão de votação para o grêmio estudantil e ele respondeu que todos os alunos escolhem a chapa que vai se responsabilizar por eventos e festas durante todo o ano, assim como assuntos do tipo competições esportivas e acadêmicas em parceria com a direção do colégio. Ele também explicou que pelo que Caíque havia lhe dito, cada chapa tem de ter no máximo dez membros fixos e no mínimo cinco. Além disso, cada aluno paga uma taxa de R$5 à R$50 (dependendo de quanto o aluno pode contribuir) para as despesas do grêmio e para a compra de produtos de uso dos estudantes e financiamento de eventos. A receita gira em torno dos quinze mil reais mensais.
Faltando uma semana para o anúncio das chapas concorrentes, Caíque e Sophia chamaram Brenda, João e Henrique para uma reunião junto aos outros membros do grêmio:
– Esperamos vocês na nossa salinha hoje no segundo intervalo! – convidou Sophia.
– Salinha? – perguntou João.
– Do grêmio. Onde fazemos nossas reuniões. – Caíque completou.
Talvez o termo certo não seja salinha. É grande com um chão de mármore com uma limpeza admirável, brilhando. As paredes brancas dão um tom de arejado e agradável ao local que conta com uma enorme mesa retangular de madeira e vidro, que deve custar uns sete salários mínimos, a qual cabem quatorze pessoas. As cadeiras da mesa são muito confortáveis, são de couro preto e design sofisticado. Há ainda um projetor Datashow, um moderno notebook, uma TV de 50 polegadas, uma estante com vários livros e papéis para anotações, um ar condicionado de última linha e um frigobar. A sala conta ainda com nove enormes fotografias dos membros em molduras douradas. Tudo muito aconchegante e obviamente, caro. Foi especulado que gastaram usando toda a verba arrecadada, mas disseram que muitos objetos ali foram comprados com o dinheiro dos próprios.
Na ponta da mesa senta-se a presidente Sophia. Ao seu lado esquerdo sentaram-se respectivamente Paloma, Martin, Vitória, Nicolas, Henrique e Brenda. Do lado direito, Caíque, Heloísa, Fábio, Laís e João Lucas. Todos chegaram sorridentes e Nicolas pegou copos de água, papel e canetas para os presentes.
– Como vocês sabem precisamos decidir quem serão os membros desse ano para a votação que será daqui umas três semanas se não houver mudanças no calendário. – começou Sophia.
– Acho que não vai ter nada de diferente em relação aos nomes né? – questionou Laís.
– É por isso que nos reunimos Laís, para discutir isso. – disse Caíque – Talvez nossos novos amigos queiram participar.
– Nós??? – perguntaram ao mesmo tempo Henrique, Brenda e João.
– Eles? – Fábio disse em tom de dúvida – Mas chegaram aos 40 do segundo tempo! Quer dizer, só tem uma vaga então terão que decidir entre vocês.
– Eu não abro mão do meu lugar! Me desculpem... – disse Laís.
– Muito menos eu. Queridos, apenas um. Na minha opinião o mais capacitado para se juntar a nós é o Henrique. – Heloísa deu sua opinião.
– Gente eu não me importo não, para mim tá tudo ok, desde que continuemos amigos. – disse Brenda.
– Eu acho que seria interessante participar... – disse João causando um certo desconforto na sala.
– Olha se tiver alguma maneira, tudo bem, mas caso contrário não quero criar discórdias entre vocês. Não ligo, por fim tanto faz. – disse Henrique.
– O grêmio precisa de renovação na minha opinião. Desde o nono ano sempre foram nós, podemos fazer algumas alterações mas os antigos membros continuaram participando das reuniões, não-oficialmente, tem mais cadeiras nessa sala, então daria certo. – opinou Martin.
– Então tá, sai você e o Nicolas e fica tudo certo. – disse Fábio para Martin.
– Por que eu? – perguntou Nicolas.
– Não estou dizendo que vou sair! Mas tem pessoas aqui que não contribuem em quase nada para a escola a não ser palpites. – disse Martin deixando o clima mais desconfortável.
– Você está insinuado que tem alguém aqui que não serve para nada? – perguntou Heloísa.
– Ele só quis dizer que poderiam dar lugar para pessoas mais participativas no cotidiano da escola. – falou Caíque.
– Querem saber? Concordo com o Martin. – disse Paloma.
– Obrigado! – disse ele.
– E como ficamos então? Ninguém quer sair, mas acham que precisa de mudanças? – questionou Vitória.
– Está ótimo do jeito que está. Sophia você quer agradar os novatos por interesse? Quer que os pais do Henrique organizem sua festa de dezoito anos com desconto? Ou quer compras mais baratas nos supermercados da Brenda? – Heloísa disse isso com um tom de deboche.
– Não sou interesseira como você que tá de olho no Fábio, porque cansando com ele, você mantém viva essa tradição quatrocentona da sua família! – Sophia respondeu com um tom exaltado.
– Apelou hein queridinha. Pior é você que fica nessa palhaçada com o Caíque, fazendo ele de gato e sapato! – disse Laís.
– É lavação de roupa suja aqui? Então vou mandar mais uma! Você Laís é uma imprestável! Vive na sombra do seu irmão, nunca se mexeu para ajudar em nada aqui. Só dava opinião! E gastava o dinheiro com besteiras! – disse Paloma.
– E você e o Nicolas que compraram várias vezes suplementos e comidas fitness? – perguntou Heloísa – Isso é uma necessidade para a escola?
– Ah vai se ferrar sua idiota! Quando a gente comprou, repomos o dinheiro de volta. – explicou Nicolas.
– Galera estamos perdendo o foco da reunião! Por favor, estamos assustando eles. – Vitória tentava amenizar a discussão.
– Foda-se! – disseram Laís e Fábio.
E Brenda, João e Henrique entreolhavam e não sabiam como reagir àquilo. Estavam atônitos com o tom de voz e dos xingamentos e palavrões (que deixo subentendido aqui) que ouviam. Quando Heloísa, Paloma, Martin e Fábio já se levantavam de suas cadeiras ou poltronas, Caíque se pôs de pé e disse em alto e bom tom para a discussão acabar. Os outros sentaram e a quase baixaria cessou. Sophia disse:
– Acho que o que aconteceu aqui expos que estávamos juntos mas ao mesmo tempo separados. Não sei se depois dessa cena teremos condições de continuarmos fortes como um grupo para disputar essa porcaria!
– Porcaria que você faz questão de participar não é? – disse Heloísa – Nem precisa retrucar amor. Eu e Fábio estamos fora, Laís também. Está obvio que vocês só se uniram a nós por simples interesse não é mesmo? Vamos formar nossa própria chapa e ganhar isso e provarmos para vocês que somos melhores em todos os sentidos.
– Viva! Finalmente! Viva! – comemorou Nicolas – Já vão tarde!
– Como conseguiu namorar essa metida? – cochichou Vitória para Nicolas se referindo à Laís. Sim, os dois namoraram durante o nono ano e o primeiro colegial, mas acabou não dando certo por motivos que ambos os lados não fazem questão de comentar.
– Isso... Comemore agora seu pançudo! No dia que o resultado sair vai choramingar para seus amiguinhos. – provocou Fábio fazendo com que Vitória e Henrique segurassem Nicolas para que ele não batesse em Fábio.
– Se preferem assim, não vou discordar. Será melhor para todos. – concluiu Caíque.
– Não vão conseguir achar pessoas que aguentem vocês como aturamos todo esse tempo. – ironizou Paloma.
– É o que você pensa. – disse Laís – Se fosse você cuidava das suas celulites ok?
– E se eu fosse você cuidava dessa sua espinha enorme na testa que mais parece uma segunda cabeça. Por favor passe alguma pomada antes que se torne uma nova Laís. Uma já é insuportável, imagine outra? – debochou Paloma que caiu no riso depois.
– Não se preocupe meu anjo essa sua acne logo sumirá, mas as celulites dela nem cirurgia plástica resolve o problema. – disse Fábio.
– Vamos sair daqui e deixar esses tolos falarem mal da gente pelas costas. Afinal, só sabem fazer isso né? Mais falsos que nota de trezentos reais! Usaram nossa beleza, simpatia e dinheiro para conseguir o “poder”. – desabafou Heloísa e olhando com desdém para Brenda, João e Henrique disse: Preferiram esses aí que nem ricos de berço são!
Heloísa, Fábio e Laís se levantaram e saíram da sala, batendo com força a porta. Os outros deram risada, mostrando estarem despreocupados com a situação. Enquanto isso, os recém-chegados estavam um pouco perdidos com o que acabara de acontecer. Sempre imaginaram os nove como um grupo sólido de amigos, indestrutível e inabalável. Pensavam que eram unidos em todos os momentos e que nunca trocariam palavras de ofensas entre si.
– Desculpem gente. Sabia que eles eram baixos por trás daqueles rostos de arrogância. Mas agora que saíram vocês três podem participar do grêmio. – disse Sophia.
– Demorou! – João Lucas concordou na hora.
– João! – repreendeu Henrique – Não sei se aceito, se aceitamos (e olhou para Brenda e João). Vocês não têm nada contra? Já que é meio culpa nossa essa briga.
– Ah que nada Henrique, fica sossegado! – disse Martin – Era mais do que hora disso acontecer.
– Mas a Heloísa vai ficar uma fera e vai fazer de tudo para nos atingir. – disse Brenda.
– Vai nada! Eles sabem que vocês três vão substituí-los. – disse Paloma.
– Eu já disse que topo! – lembrou João Lucas.
– Nesse caso eu também aceito. – disse Henrique e Brenda concordou com a cabeça fazendo entender que ela aceitava participar do grêmio estudantil também.
– Ótimo! Vamos comunicar à direção sobre as mudanças na chapa e oficializar nossa candidatura! – disse Sophia.
De repente Heloísa abriu a porta da sala e disse:
– Esqueci de falar! Temos que avisar aos aliados e a plebe que rompemos! Hoje é sexta-feira, então tem a coletiva semanal no anfiteatro, vamos falar para todos lá.
– Como você quiser. – disse Martin.
Ela deu uma piscada e um sorriso sarcástico e saiu da sala.
– É uma tosca mesmo. Óbvio que íamos falar para os outros alunos... Devia estar ouvindo o que estávamos falando por trás da porta. – disse Caíque – Temos que ir agora. A aula de física já vai começar e o professor Carlos não tolera atrasos... Nem mesmo os nossos!
Pulando para a parte da coletiva, Heloísa, Fábio e Laís já esperavam os outros na mesa montada em cima do palco para doze pessoas, quando o anfiteatro ainda estava vazio. Logo os demais chegaram, assim como o diretor Alberto, que cumprimentou um por um como se fossem amigos de longa data. Quando o sinal tocou, imediatamente o local ia sendo ocupado pelos alunos. No momento em que todos se acomodaram, a coletiva começou com Sophia:
– Bom dia a todos! Hoje iremos anunciar a nossa candidatura oficialmente bem como algumas alterações em nossa chapa. Concorrerá junto comigo, mais oito pessoas que são: Caíque, Paloma, Vitória, Martin e Nicolas que já fazem parte do atual conselho do grêmio. Henrique, Brenda e João Lucas agora estão no grupo que deixa de contar com a participação de Heloísa, Laís e Fábio. – nesse momento todos os presentes se entreolharam, o murmúrio foi geral. Alguns gritaram algumas palavras de ordem contra Sophia e o grupo. Nesse momento João, Brenda e Henrique entraram no palco e ocuparam as últimas três cadeiras reservadas a eles, recebendo palmas e algumas vaias do público. Depois Heloísa tomou a palavra:
– Bom dia queridinhos. Queria dizer que resolvemos criar a nossa própria chapa por diferenças de opiniões que não vem ao caso. O importante é que eu quero dizer que apresento aqui minha chapa que conta com meu namorado Fábio, minha cunhadinha Laís e nossos amigos Tomás e Giovanna. – os últimos subiram ao palco e acenaram para os presentes e olharam com desconforto aos outros colegas, visto que também eram próximos a estes – Confiem em nós que iremos melhorar ainda mais nossa escola! Beijinhos.
Martin comentou com Vitória que esperava que Tomás e Giovanna aceitariam rapidamente participar da chapa de Heloísa, pois eles eram bem amigos. Depois o grêmio (atual) informou aos estudantes sobre algumas notícias como que foi comprado um novo televisor para a sala de vídeos. Faltava ainda uma semana para a votação e os comentários era que desta vez a disputa seria acirrada e cheia de provocações e acusações uns contra os outros. Além disso, restava saber se mais alguma chapa se candidataria para confrontar os todo poderosos do Cooperativo.
Naquela tarde, Brenda e Henrique foram caminhar no Parque do Ibirapuera e falaram sobre os recentes acontecimentos na nova escola:
– Você acha que a culpa deles terem brigado foi nossa? – perguntou Brenda que não desgrudava de seu iPhone.
– Eu estou me sentindo meio culpado, mas eles iam acabar rompendo logo talvez. – respondeu Henrique arrumando o seu mais novo tênis de caminhada da Nike – E outra, a Heloísa já arranjou a turma dela, tá de boa.
– Verdade né. Nossa Henrique, estou animada para esse negócio de grêmio estudantil, sem falar dos nossos novos amigos! Dão de dez a zero no povinho da nossa antiga escola.
– Mano, com certeza. Sem falar que tem muito mais menina bonita né? – disse Henrique – Vou comprar alguma coisa para beber, você quer?
– Traz uma água pra mim fazendo favor.
Enquanto esperava Henrique sentada em uma mesa, Brenda avistou de longe alguém familiar. E não gostou nem um pouco de quem viu. A tal pessoa usava calça legging cinza e uma blusa preta da banda Nirvana e tênis esportivos. Estava fazendo caminhada mexendo em seu iPod e cantarolava. Loira e alta, usava também óculos de sol Ray-Ban. Devia estar à um cento e cinquenta metros de distância do quiosque onde Henrique e ela estava.
– Ai meu Deus! Ela não! – dizia Brenda para si mesma – Precisamos sair daqui antes que ela veja o Henrique.
Brenda se levantou rapidamente e nem esperou Henrique receber o troco da atendente do quiosque fazendo com que ele reclamasse e arrastou-o para longe dali.
– Por que tá tão com pressa assim? – perguntou Henrique.
– Não pergunta, apenar se apresse! – disse Brenda.
Na pressa, Henrique deixou suas chaves cair no chão e voltou para busca-las. E então avistou a mesma pessoa de que Brenda estava fugindo. Ele ficou meio paralizado, não sabia como reagir, se iria até ela para cumprimenta-la ou apenas ignoraria. Por um momento, ficou parado como uma estátua até que Brenda chamou por ele. Parte de sua mente dizia para ir até a garota, mas Brenda o “arrastou” de volta e eles andaram o mais rápido possível para evitar um encontro com a tal jovem que nem reparou na presença dos dois.
– Não sei se deveria ter evitado falar com ela. – disse Henrique em um tom de arrependimento.
– Ah fala sério né! Ela te esqueceu, vocês nem se falam como antes. – falou Brenda – E outra, ela é muito mala e antipática, não aguento ficar um segundo perto dela.
– Tem razão... Quer dizer, não falo com ela faz tempo. – concordou Henrique.
E foram embora do Ibirapuera sem tocar mais no assunto.
Na segunda-feira, 10 de fevereiro mais precisamente, os amigos estavam reunidos na “praça de alimentação” observando e comentando tudo o que acontecia na hora do intervalo:
– Como sempre tem gente que insiste em pagar o lanche com centenas de moedinhas. – disse Nicolas.
– Isso atrapalha tanto, na minha opinião. O cara demora um tempão contando tantas moedas, daí atrasa os outros que estão na fila. – opinou Martin.
– Eu não pago pelo que consumo nas cantinas do colégio, mas se tivesse, pagaria com notas! Sempre trago uns cem reais para utilizar em alguma urgência. – Brenda contou como se fosse algo comum nas escolas brasileiras os alunos levarem uma quantia dessas apenas para lanchar.
– Ah por favor... Olhem a quantidade absurda de tênis falsos que estão circulando por aqui, já repararam? – reclamou indignada Paloma – Isso prejudica tanto a economia e os empresários!
– Pois é Paloma... Meus pais recebem tantos processos por ano de companhias sérias que querem processar esses mal intencionados. – contou Caíque – O prejuízo é enorme e a cada hora aparecem com mais falsificações no mercado.
– Mudando um pouco o assunto, vocês não mantêm mais contato com seus amigos da antiga escola? – perguntou Sophia a Brenda, João Lucas e Henrique.
– Para falar a verdade não. – respondeu Brenda sem rodeios – Minhas antigas “amigas” eram muito falsas, então assim que soube que mudaria de escola, comecei a me afastar delas.
– Eu tenho amigos lá ainda. – disse João que devorava (literalmente) um hambúrguer.
– E você Henrique? – indagou Sophia.
Assim que ela fizera essa pergunta, Henrique voltou no tempo. Veio em sua mente, o tempo fundamental, as brincadeiras e aulas de educação física que eram as mais esperadas da semana. Lembrou-se também da sétima série, que foi o ano que as paqueras e os beijos começaram a dominar os assuntos na sala. Tantas coisas vividas naquela antiga escola... E os amigos? Estudou dez, nove anos com alguns deles. Foi se afastando de muitos deles nos últimos meses. A garota loira que ele e Brenda avistaram no Ibirapuera era uma grande amiga do “passado” recente, com quem ele viveu uma intensa amizade, com muitas gargalhadas, compartilharam choros e decepções, mas os momentos de felicidade foram mais presentes. A amiga em questão se chamava Annie Schreiner. Seus avós paternos e maternos são alemães, seus pais se conheceram em uma colônia germânica em Santa Catarina, mas atualmente estão separados. Annie mora com sua mãe e seus avós em São Paulo desde quando começou a cursar a quinta série, em 2008, já seu pai é engenheiro químico e mora em San Diego, na Califórnia. Seus avós maternos, assim como sua mãe, são patrocinadores de pesquisas científicas e possuem um renomado laboratório para desenvolvimento de remédios na capital. Ela foi para a Suíça estudar o segundo colegial, mas uma pequena crise financeira na família, fez com que ela retornasse um pouco antes do previsto para o Brasil. No período anterior à viagem, Annie e Henrique estavam brigados por motivos bobos e só voltaram a se falar no dia da partida dela para a Europa. Porém não mantiveram muito contato durante esse intercâmbio e desde que ela voltou, não se viram mais. E passado os últimos dois meses, ela era a única que insistia em conversar através das redes sociais. Então, Henrique voltou à vida real e respondeu secamente a pergunta de Sophia:
– Ah quase não nos falamos mais... – e olhou para Brenda e João Lucas que assentiram levemente com um gesto com a cabeça.
De repente eis que surge perante a mesa onde os amigos estavam sentados, Hector, o famoso garoto que jogou o suco de laranja em Vitória e em um tom de extremo deboche e ironia fala:
– Ei burguesia, ou melhor, nobreza, tenho um comunicado “real” para vocês.
– Vou ter que usar a força? – perguntou Martin com as veias de seus braços começando a saltar.
– Não vossa majestade! – Hector continuava debochando – Nós plebeus temos a consciência do poder de vocês. O que venho falar é de extremo interesse dos senhores.
– Para logo com essa chatice e fala de uma vez! – Henrique já estava se irritando.
– O rei novato já começou a dar ordens, olha só. Enfim, quero anunciar que nesse ano, além de terem que competir o grêmio com seus arquirrivais e antigos amigos, se é que um dia foram, vão ter a companhia da minha chapa! É isso mesmo, eu estou concorrendo também! – Hector disse em um tom de muita confiança e até mesmo de superioridade.
– Oi!? – falou Caíque não acreditando.
Todos caíram no riso, no caso de alguns, na gargalhada. Não acreditavam no que ouviram, afinal eram pífias as chances dele ganhar, assim como nos anos anteriores as outras chapas concorrentes não obtiveram êxito. Apesar de muitos criticarem o grupo, na hora da votação acabavam sempre por votar neles. Um pouco de hipocrisia e até medo. Hector se sentiu sem graça e ofendido e então atacou mais uma vez:
– Podem rir à vontade. Vocês estão no topo não é? Têm motivos para rir mesmo. Heloísa e os Werneck fizeram o mesmo quando contei para eles, acho que eles pensam que é brincadeira, mas não é. Inclusive já comuniquei à direção, minha chapa está registrada como C até pensar em um nome melhor, mais cinco alunos bolsistas estão comigo e....
– Querido, você sabe onde está se metendo? – indagou Paloma com seu famoso olhar, levantando a sobrancelha esquerda.
– Mais é claro minha rainha! Quem tem que temer são vocês, vou conseguir muito apoio e votos e vou chegar sim ao trono dessa escola.
– Para de usar esses termos de reis, nobreza! – pediu, ou melhor, ordenou Sophia – Pode concorrer, mas não vão ter chances, somos muito populares... E outra, tem a chapa da Heloísa. Isto aqui é briga para gente grande, rebelde.
– Deixa Sô, não adianta discutir e deixa ele se iludir com esse sonho! – disse Caíque.
– Vou esmagar vocês como insetos. – Hector estava menosprezando-os agora – Ou melhor, vou usar a guilhotina! – e foi ao encontro de seus amigos.
– Veremos mano, veremos. – disse Nicolas – O que é guilhotina mesmo?
– Que ridículo! O coitado acha que pode e o pior é que ele fica enchendo o saco! – disse Henrique que depois da pergunta de Sophia ficou meio incomodado e irritado.
– Calma, são só provocações, não vai dar em nada. Temos que nos preocupar com a Heloísa, ela sim é um verdadeiro problema. – disse Vitória – Ela vai tentar de tudo para conseguir esse feito, melhor ficar de olho neles.
– Falando nisso, cadê eles? – perguntou Paloma.
– Devem estar destilando veneno por algum canto da escola, espalhado fofocas contra a gente. É a cara deles fazer isso. – opinou Sophia.
– Aí Martin vai comer essas bolachas? Estou com muita fome! – disse João Lucas em um contexto totalmente paralelo ao assunto principal. – Desculpa gente eu estou ouvindo todos os lances e acho que a gente tem que meter o louco nesse povo aí.
Henrique estava estranhando essa fome de João Lucas e notava uma mudança de comportamento nele, mas não deu muita importância para isso. Sophia e Caíque se entreolharam devido essa falta de senso de João Lucas que parecia estar alheio ao que estava acontecendo. Por fim, Martin dividiu as bolachas com ele.


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Notas finais do capítulo

Não fiquem com vergonha e comentem suas opiniões e sugestões, isso é muito importante para nós!



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