O destino gosta de pregar peças em nós.

Passei semanas tentando encontrar Annanda, me dirigindo várias vezes ao lugar onde havíamos nos conhecido, mas ela nunca apareceu. Minhas esperanças de reencontrá-la estavam praticamente esgotadas, comecei a pensar que sua resposta não fora real. Talvez nós nunca mais nos víssemos. Talvez a Senhorita Jackson fosse apenas um sonho.

Mas, sabe, um dia pode mudar tudo.

Eu confesso que estava desistindo, mas sentia que deveria ir até aquele banco pelo menos mais uma vez. E foi o que fiz. A vida é imprevisível, e você deveria saber disso. Deparei-me com o banco vazio, como em todas as outras vezes. Sentei-me nele e senti uma raiva descomunal se apoderar de mim, eu poderia explodir a qualquer momento, e isso não seria nada bom.

Como eu deixei isso acontecer? Eu estava enlouquecendo, por causa de alguém que eu nem mesmo conhecia. Droga. Levantei meu rosto, encarando o céu. Uma imagem tão bonita, mas o cenário de tudo isso é sempre tão barulhento... Suspirei, tentando me acalmar, mas parecia impossível.

Levantei-me, certo de que nunca mais encontraria Annanda. Percebi somente nesse momento que havia começado a chover, fechei meus olhos e me entreguei à sensação libertadora que as gostas de chuva me traziam. Adeus, querida. Eu acho que nunca mais nos veremos. Pensamentos como esse invadiam minha mente, mas eu não me importava, só queria sentir-me livre.

Mas, uma voz foi o bastante para que eu esquecesse tudo isso e abrisse meus olhos novamente. Uma adolescente me observava, e eu a reconheci imediatamente. Aquela garota era a irmã de Annanda, a que eu vira na foto que ela me mostrara. Percebi que ela havia dito algo para mim, mas não consegui compreender o que era.

– O quê? – Perguntei, sem conseguir acreditar que eu havia encontrado a irmã de Annanda, mesmo que não tivesse sido de propósito.

– O que você está fazendo nessa chuva? – A garota indagou, franzindo a testa.

– Ah. Eu... Realmente não sei. – Ela me encarou, com uma expressão irritada. – Hey, não foi minha intenção lhe deixar brava. Seu nome é... Liana, não é? Os olhos da garota se esbugalharam, e eu achei ter cometido um erro.

– Sim, esse é meu nome. Como você sabe disso? – Ela perguntou. Liana era uma garota realmente muito bonita, mas sua expressão raivosa dizia que qualquer um que quisesse ficar vivo deveria se manter a uns quinhentos metros de distancia dela.

– Ãhn... Onde está sua irmã? – Minha curiosidade fez com que eu ignorasse sua pergunta. A garota deu um passo para trás, se preparando para correr, mas eu segurei seu braço, impedindo-a. – Eu sou um amigo da sua irmã. E eu preciso muito falar com ela, você pode me ajudar?

Liana soltou-se de meu braço e correu, minha última esperança ia embora, e minha frustração era avassaladora. Minhas pernas perderam a força, eu caí na calçada molhada, chorando como um condenado. Eu nunca mais a encontrarei. Minha cabeça latejava, eu me sentia muito mal, Annanda Jackson havia feito mal a mim, sua promessa de que nos veríamos novamente ecoava em meus ouvidos, mas eu achava que nunca mais a veria, eu nem mesmo sabia quem era ela de verdade.

Percebi que a garota havia voltado e me observava atentamente. Eu me sentei e a encarei, as lágrimas ainda escorrendo de meu rosto, mas eu não me importei com isso, minha esperança havia voltado inesperadamente.

– Eu nunca havia visto alguém agir desse jeito. – A voz de Liana saiu esganiçada, e eu continuei em silêncio, sem conseguir pronunciar palavra alguma. Ela suspirou. – Você quer ver a minha irmã? Eu assenti, e ela revirou os olhos. Tirou um papel e uma caneta de dentro de seu casaco e escreveu algo. Em seguida, me entregou o papel e guardou a caneta.

– Vá até esse endereço, você vai encontrá-la. – Ao me responder, Liana deu-me as costas e foi embora. Analisei o papel e guardei-o no bolso seco do casaco. Corri até minha casa, certo de que a encontraria, finalmente.

Troquei de roupa e me olhei no espelho. Encarava um homem esperançoso e sorridente. Eu não posso negar, estava apaixonado. Corri até meu carro, liguei a chave na ignição e dirigi rumo ao lugar onde poderia encontrar minha musa, meu coração batia rápido. Percebi que estava na rua do endereço que Liana havia me passado, e não demorou muito para que eu achasse o número indicado no papel.

Que droga de lugar é esse?

Analisei a fachada, intrigado. Parecia ser um tipo de casa noturna e havia uma placa onde se podia ler “Don’t Panic”. Eu a encontraria lá dentro ou aquela garota havia mentido para mim? Suspirei, encarando o nada. Não custa tentar. Saí do carro e me dirigi à porta, onde fui barrado por dois seguranças.

– O que você quer? – Um deles perguntou e eu lhes disse que queria ver uma garota. Sem dizer nada, os dois abriram a porta e me guiaram por um corredor estreito. Quando dei por mim, eles haviam desaparecido.

Tocava música alta. Várias garotas dançavam em um palco, homens assistiam e aplaudiam. Havia um estoque de bebidas, um homem barbudo as distribuía e anotava o nome de todos os que aceitavam em um bloco. Algo veio em minha mente, algo que Annanda havia dito para mim. Ela não quer que eu dance. Liana não queria que ela dançasse, e se ela...

– E agora, apresentamos-lhes nossa estrela. – Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz que ecoava em caixas de som presas ao teto. Uma salva de palmas pôde ser ouvida. As garotas que estavam dançando no palco haviam desaparecido, a sala inteira estava escura, com exceção do palco, onde todos mantinham seus olhares pregados. Uma melodia suave começou a tocar e logo se transformou em um ritmo típico de Las Vegas, a voz se elevou um pouco. – Senhorita Jackson!

Uma mulher extremamente bonita apareceu na parte iluminada da sala, e meu coração quase parou diante da enorme beleza daquela moça. Ela começou a dançar de um jeito único e eu entendi tudo.