Três. escrita por jubssanz


Capítulo 48
47. Decidindo.


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos reviews!
Boa leitura, espero que gostem. beijokas



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— E então? – Travis indagou assim que me viu desligar o celular. – Ela mudou de ideia?

— Não, ela não mudou. E você sabe que não irá mudar, eu já te falei. – respondi, jogando-me na cama.

— Você não pode simplesmente ir ficar com seu pai, Aurora! – ele exclamou.

— Diga isso a sua mãe, porra! Isso tudo é por causa dela.

— Olha, se tiver alguma coisa que eu possa fazer, você sabe que eu quero ajudar e...

— Há uma coisa sim, Travis. Me dar um pouco de espaço.

— Mas Aurora, eu quero te ajudar!

— Vai me ajudar se me deixar em paz por pelo menos cinco minutos. Não há nada que você possa fazer por mim agora, Travis.

— Certo – ele murmurou, irritado, e saiu batendo a porta. Abracei-me em meu travesseiro e fechei os olhos, chateada.

Fazia quatro dias desde que Annie havia dado o veredicto final. Todos nós, moradores da casa – não esquecendo do Peter e do Mark – havíamos tentado implorar de alguma forma para que ela mudasse de ideia. Mas nada do que falávamos adiantava. Annie estava disposta a vender a casa e levar os meninos de volta para a Flórida. A situação para Marise e Ferdinand não estava tão complicada, afinal, a situação financeira estava boa o suficiente para bancar dois adultos e cinco adolescentes – sem contar Peter e Mark – então eles conseguiriam alugar uma casa com facilidade. A questão é que, provavelmente baseando-se no exemplo da nossa querida Annie, minha mãe estava sendo uma vaca. Ela não queria de jeito nenhum que eu me mudasse com os Carter. Ela dizia que a situação estava conturbada o suficiente, e que tudo que não precisavam era da responsabilidade e os custos de mais uma adolescente – embora Marise me implorasse para ir morar com eles, pois sabia que a situação estava sendo um caos para Becky, e ela queria dar o máximo de normalidade para a filha. Fiquei feliz em saber que eu fazia parte da rotina de vida deles, e corri para contar isso para minha mãe. Mas... “O que está dito, está dito. Você não vai morar com eles.” Foi o que ela me respondeu. “Certo, então você vai me fazer largar o colégio e voltar para Salem mais uma vez?”, lembro-me de ter questionado. E a resposta que eu recebi, foi a pior, em todo o século. “Eu e sua irmã estaremos voltando para Canby dentro de, no máximo, três meses. Você pode ficar com o seu pai durante esse tempo. Já resolvi com ele.”

Certo. Minha mãe queria que eu fosse morar com meu pai e a adolescente assanhada que havia acabado com minha família. Oh, eu adoraria!

E no meio disso tudo, ainda havia meu... Relacionamento com Travis. Ele não estava ajudando em nada. Aliás, a extrema necessidade que ele tinha de querer ajudar em alguma coisa estava acabando com minha paciência e me fazendo ter explosões de raiva a cada cinco minutos, o que havia acarretado em dois dias de silêncio mútuo entre nós dois. Aliás, até então, eu não sabia o quão orgulhosa eu podia ser.

— Aurora, querida... – Marise abriu a porta de repente, me assustando. – Desculpe-me – ela pediu, rindo, a me ver pular da cama. – Não queria assustá-la. Só queria saber se você pode me ajudar lá na lavanderia. Os garotos foram ao mercado com Ferdinand e eu quero acabar aquela parte da casa ainda hoje.

Eu assenti, sabendo o quão estressante aquilo tudo estava sendo para ela também. Descemos até a lavanderia em silêncio. Marise me pediu para recolher as roupas da secadora, dobrá-las e levar ao quarto de cada um de seus respectivos donos, enquanto ela preparava o jantar. Torci o nariz ao perceber que eram na maioria roupas masculinas. Eu já sabia bem em que quarto iria parar.

Dobrei rapidamente as roupas, - demorando-me mais tempo do que o necessário nas camisetas que eu sabia ser de Travis. Só naquele momento, me permiti pensar que ele iria embora. Para longe de mim. Eu não o veria mais. Não teria mais que aguentar suas piadas sem graça ou sem carinhos excessivos. Não veria mais seu sorriso infantil, não sentiria mais sua mão segurando a minha por baixo da mesa de jantar. Não sentiria mais seus lábios doces ou seu toque macio em minha pele. Não saberia mais o que é acordar e ter um loiro maravilhoso e doce me esperando para tomar café da manhã, e também não contaria mais os minutos para sair do consultório, pois ele não estaria mais me esperando com um projeto de encontro maluco.

Só percebi que estava chorando ao sentir uma lágrima pingar em minha camiseta. Camiseta lilás que eu amava, e que havia sido presente de Miles. Respirei fundo na intenção de fingir para mim mesma que estava tudo bem, peguei a pilha de roupas que eu havia dobrado e subi rapidamente as escadas, antes que Marise me visse chorando e se sentisse ainda mais culpada do que já se sentia – e sem motivo. Ninguém tem culpa por ter uma irmã megera.

Abri a porta do quarto dos rapazes e acendi a luz, equilibrando a pilha de roupas em minha perna esquerda. Só depois de observar as três camas idênticas e meticulosamente organizadas, foi que percebi que nunca havia estado ali totalmente sozinha. Eu não poderia perder a oportunidade de fuçar em algumas coisas e roubar algo para mim, ainda mais sabendo que estaríamos separados em menos de duas semanas.

Deixei a pilha de roupas sobre a cama mais próxima e abri a gaveta do criado-mudo também mais próximo, tentando a sorte – afinal, não bastavam ser trigêmeos, precisavam ter os móveis e as roupas de cama exatamente iguais. Mexi rapidamente na gaveta, procurando algo interessante e com medo de ser pega. Achei um papel meticulosamente dobrado, o que atiçou minha curiosidade. Abri rapidamente o papel e constatei que era a cópia de um exame médico. Corri os olhos pela folha, sem entender absolutamente nada. Por curiosidade, olhei o verso. Havia algo rabiscado. Tive que forçar os olhos para poder entender.

O paciente Louis James Adams sofre de Transtorno de Personalidade Histriônica. Também apresenta um grau muito elevado de agressividade e dissimulação.

Dr. Greg Sandler.”

Amassei o papel em minha mão. Personalidade Histriônica? Que diabos seria aquilo? Louis não era normal, afinal? Fiquei paralisada, sem saber o que fazer. Deveria perguntar a alguém? Oh, claro. E sob qual desculpa? 'Perdão, Louis, por favor, não se torne agressivo, mas eu vi que você é doente porque mexi nas suas coisas. Pode me explicar qual o seu problema?' Cheguei a conclusão de que a coisa mais lógica a fazer seria pesquisar na internet. Sai do quarto correndo e respirei fundo antes de descer as escadas, tentando ao máximo camuflar minha expressão culpada. Antes que eu pudesse chegar ao escritório, porém – o único local onde eu sabia que não seria incomodada por ninguém – ouvi o barulho do carro de Ferdinand estacionando na garagem. Em seguida, ouvi a voz de Mark. E de Peter. Ora, teríamos uma reunião e eu não havia sido convidada? Foi então que me lembrei de que havia recebido uma intimação de Miles, mais cedo. Ele tinha uma “notícia bombástica” para nos dar. Dirigi-me correndo até a cozinha, curiosa a ponto de esquecer sobre o problema de Louis.

Sentei-me em silêncio na mesa, percebendo que só estavam me esperando. Miles me encarou abrindo um sorriso gigante, que era refletido no rosto de Mark. Qualquer um perceberia que o namorado já estava bem ciente da tal notícia bombástica. Ri, enquanto Miles respirava fundo.

— Bom, eu planejava um discurso e uma cena, mas estou ansioso demais para isso. – disse, passando as mãos pelos cabelos. – Pensei muito durante esses dias e hoje passei a tarde conversando com meus pais. Não preciso dizer que dona Annie não está muito feliz com isso, mas... – pausa rápida para segurar a mão de Mark – pela primeira vez na vida, resolvi pensar primeiramente em mim. E é por isso que vou continuar morando em Canby.

A explosão na mesa foi algo muito parecido com uma cena de filme. Eu não sabia se ria, chorava, gritava, batia palmas ou chutava a cabeça de Miles por ter demorado tanto para nos contar. Quando fechei os olhos, tentando conter minhas teimosas lágrimas de alegria, ouvi Travis pedindo silêncio.

— Eu também tenho uma coisa para dizer. – murmurou.

Oh, não. Eu não conseguia acreditar. Meu coração ia explodir. Já havia explodido. Eu estava morta. Eu ficaria com Miles e Travis? Eu teria meus dois amores perto de mim? Oh, céus!

— Queria muito poder pensar como Miles – Travis continuou. – mas acho que simplesmente não consigo. Não me imagino fazendo uma coisa que decepcionaria tanto meus pais, e sei que Louis também precisa do apoio de pelo menos um irmão. Por isso, vou me mudar para a Flórida.


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Notas finais do capítulo

Não levem a mal quando a Aurora diz que o Louis não é normal ou chama ele de doente, não vamos nos ofender, porfa. Sei (e sei que vocês sabem) que essas coisas não são uma doença e que pessoas não se tornam anormais por um transtorno desses, mas levem em consideração que a Rora é uma mera leiga no assunto, obg.



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