Três. escrita por jubssanz


Capítulo 40
39. Remember


Notas iniciais do capítulo

OI! Obrigada pelos reviews, assim que possível os respondo.
Seguinte: Este capitulo tem um super remember (é a parte em itálico) que é narrado por mim, autora linda, abençoada e maravilhosa, risos.
O detalha é: quando vocês lerem "tantos anos atrás", é tantos anos atrás contando DE AGORA, entenderam? (espero que sim, obg)
Enfim... hahaha qualquer dúvida me perguntem! Boa leitura!



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— Eu diria que você é um idiota – respondi, o encarando.

— Ah, então você não acredita em mim? – Miles questionou.

— Na verdade, não. – respondi, sorrindo ironicamente. – E para ser sincera, nem você mesmo deveria acreditar. Você sabe de tudo que a Claire já fez, me surpreende que você ainda dê alguma credibilidade a ela.

­— Aurora, não estou dando credibilidade alguma a Claire. Eu estou apenas dizendo o que vi.

— E você espera que eu acredite que minha melhor amiga está de picuinha com a garota que faz tudo para me prejudicar? Faça-me o favor, Miles.

— Pois bem – ele rebateu, e eu senti que estava começando a se irritar. – Então você acha que estou mentindo? Diga-me, o que eu ganharia com isso?

— É isso o que também quero saber. O que você ganha tentando me colocar contra Rebecca? Está com ciúmes? Quer nos separar? Não esperava isso de você, Miles. Não sabia que você era baixo assim.

— Aurora, pare... – Travis que até então estava quieto, se intrometeu, numa tentativa falha de me repreender. Falha porque eu não o dei a mínima chance de falar.

— Não, Travis, eu não vou parar. Eu quero saber porque é que Miles está fazendo isso. Nunca vi tamanha ingratidão e...

— Aurora, pare. – Travis me interrompeu novamente, e dessa vez, sua voz firme me fez parar. – Não se esqueça que você está falando do meu irmão. Não vou aceitar isso de maneira nenhuma, nem mesmo de você. Miles jamais faria uma coisa dessas e se ele diz que viu, eu acredito na palavra dele.

Senti lágrimas de raiva escorrerem instantaneamente por meu rosto.

— Pois bem. – murmurei, esfregando as bochechas. – Eu deveria saber, não é mesmo? Farinha do mesmo saco. Me surpreende você, Travis. Mas tudo bem. Não sou eu quem vou ter que lidar com a culpa de ter que morar de favor na casa de uma pessoa a quem eu acuso por aí e...

— Chega, Aurora. – Travis disse, me encarando friamente. – Entendo que você esteja chateada, mas você definitivamente passou dos limites. Chega.

Eu tentei falar, mas ele me cortou. Eu vi os olhos de Miles brilharem, segundos antes dele virar as costas, e simplesmente não tive coragem de encarar Travis. Os dois saíram sem nada dizer, me deixando parada na esquina, com lágrimas de mágoa e raiva escorrendo.

Eu caminhei vagarosamente por lugares aleatórios. Eu sabia que estava tarde, Marise e Ferdinand deveriam estar preocupados e eu deveria ir para casa, mas meu medo de encontrar Travis e Miles era maior que qualquer uma dessas preocupações. Eu sabia que havia falado coisas das quais me arrependeria – já estava arrependida – mas eles também deveriam entender meu lado. Eles deveriam saber que eu jamais aceitaria que falassem aquilo de Rebecca. Eu sabia que minha amiga jamais faria uma coisa daquelas. Ela nunca se envolveria com Claire.

E, pensando bem, eu não havia falado nada demais. Miles estava sim sendo ingrato, afinal, ele morava SIM de favor na casa de Rebecca. Eu também morava, mas eu não estava a difamando. Ponto. Decidi erguer a cabeça e ir para casa, afinal, teríamos que resolver aquela situação.

Coloquei os fones de ouvido e voltei pelo mesmo caminho de onde tinha vindo, com medo de me perder. Sentia meu coração palpitar conforme ia chegando mais perto de casa. Meu celular tocou. Peguei o aparelho e li o nome de Marise no visor, mas ignorei a ligação, afinal, já estava chegando.

Quando cheguei em casa, constatei que o carro de Ferdinand não estava no gramado, onde geralmente ficava, e de longe pude ver Marise andando de um lado para o outro em frente a porta. Eu soube que havia algo errado.

— Marise! – gritei, correndo até ela.

— Graças a Deus você está aqui! – ela exclamou, me abraçando. Senti sua blusa úmida e deduzi que havia chorado.

— O que aconteceu? – questionei.

— É isso que eu espero que me diga!

— Onde estão todos?

— Ferdinand e Louis saíram de carro para te procurar. – ela murmurou.

— E... os outros? – questionei timidamente.

— Travis e Miles simplesmente chegaram em casa, juntaram algumas coisas e foram para a casa de Mark, mas não quiseram me dizer nada. – ela sussurrou com mais lágrimas escorrendo por seu rosto. Eu senti minhas pernas bambearem. Eu era culpada? Eu havia feito aquilo?

— E Rebecca? – indaguei. Eu esperava que ela pelo menos não soubesse da confusão que eu havia causado.

— Ela saiu mais cedo e até agora eu não consegui falar com ela, outra que está me matando do coração – ela murmurou, me abraçando mais uma vez.

— Fique tranquila, tia, ela deve estar bem. A senhora sabe como Becky é bem avoada. Ela saiu sozinha?

— Não. - Marise respondeu, fungando. – Saiu com uma amiga do colégio. Aquela ruivinha, sabe? Você deve conhecer.

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10 anos atrás.

A garota loura de cabelos cacheados e bochechas coradas balançava-se vagarosamente, pensando na próxima travessura que faria com os primos. Ela sabia que sua mão provavelmente ficaria brava, afinal, aquilo geraria outra briga entre seu pai e seu tio, e,como sua mãe adorava dizer, “eles estavam de visita e deveriam respeitar o espaço dos moradores”, mas... Ela via os primos apenas uma vez ao ano, como poderia perder aquela oportunidade de provoca-los?

A garota chutou uma pedrinha qualquer e seu pensamento voou longe enquanto ela parava o balanço. Rebecca Carter tinha apenas nove anos, mas era uma garota esperta. Ela sabia que aquela viagem de férias para a casa dos tios, não era apenas uma viagem de férias para a casa dos tios. Ela sabia que seus pais estavam com problemas de dinheiro, pois os ouvira conversando. E ela sabia também que estavam ali para pedir ajuda à Annie, irmã de sua mãe, que havia casado com um cara que aparentemente tinha muito dinheiro. Pela conversa que Rebecca escutara atrás da porta, mesmo tendo três filhos – Louis, Miles e Travis – os tios Annie e Michael viviam muito bem. Rebecca só não queria ter que morar com os primos. As atenções em casa sempre foram só dela e ela não gostaria de dividi-las com ninguém, ainda mais com três garotos idiotas que riam tirando meleca do nariz.

Ali perto, na mesma pracinha, mas longe da vista da pequena Rebecca, outra garotinha a observava. Claire White, a típica ruivinha dos olhos verdes havia visto a garota loura por ali já há alguns dias e queria muito fazer amizade, mas era completamente tímida, e, bem... A expressão arrogante da garotinha não ajudava muito. Claire completaria nove anos dentro de alguns dias e estava a procura de alguém para brincar no dia de seu aniversário. Ela não poderia levar ninguém em sua casa para comemorar, afinal, seu pai havia os deixado, sua mãe era doente e seu irmão Josh só queria saber de sair com um amigo do colégio, Mark, não querendo assumir responsabilidades pela irmã. Claire forçou um sorriso, mandando toda a timidez embora e caminhou vagarosamente até onde a loura se balançava.

— Oi – ela murmurou, parando em frente ao balanço. A garota a encarou, fazendo Claire se arrepender da aproximação.

— O que você quer? – Rebecca perguntou. Sua voz era dura. Claire estremeceu.

— Eu queria saber se você gostaria de brincar comigo – a ruivinha questionou.

— Brincar? Você quer brincar? – Rebecca questionou, gargalhando. – Quantos anos você tem?

Claire esboçou um sorriso, ansiosa por contar que faria nove anos.

— Quase nove – respondeu, novamente tímida.

— Você tem nove anos e está querendo brincar? – Rebecca indagou, a olhando de cima abaixo. – Não temos mais idade para brincar.

— Não? E o que fazemos então? – Claire quis saber, curiosa.

— Venha, eu posso te mostrar. – Rebecca disse, descendo do balanço.

— É sério? – Claire indagou, feliz. Enfim, teria alguém para brincar no aniversário.

— Sim – Rebecca respondeu seca. – Mas há uma condição. Eu comando tudo. – ela disse, enquanto Claire assentia, a encarando atentamente.

3 anos atrás.

Rebecca Carter estava deitada em sua cama, com lágrimas de raiva molhando seu rosto. Sua amiga, Claire White, havia acabado de sair, batendo a porta, depois da terceira briga que as garotas tiveram no dia. Rebecca não aguentava mais aquilo. Ela sentia que Claire queria liderar tudo, mas Rebecca não era uma peão qualquer em um jogo de tabuleiro. Ela não queria ser controlada, muito menos por Claire.

Ela ouvira sua mãe a chamando no andar de baixo, mas não iria descer. Não naquele instante. Sua mãe estava fazendo a típica limpeza da casa para esperar os tios e os primos, e Rebecca achava aquilo extremamente irônico. Por que deveriam limpar a casa para esperar as visitas sendo que... as visitas eram as donas da casa? Sim, isso mesmo. Ninguém na cidade sabia, mas os Carter moravam de favor. A casa fora cedida pela irmã de Marise Carter anos atrás, quando a mesma passava dificuldades com o marido e a filha. Annie Adams e o marido Michael, juntamente com os trigêmeos Louis, Miles e Travis sempre foram muito aventureiros, por isso, sempre se mudavam, nunca parando em um lugar. A única parada obrigatória que faziam todos os anos, era em Canby, em sua antiga casa, que agora era usada por Ferdinand, Marise e Rebecca Carter.

Rebecca sentia vergonha daquilo, afinal, o que seus amigos e seu namorado Josh pensariam se soubessem que seus pais não haviam tido dinheiro para comprar a própria casa e acabaram se acomodando em uma casa emprestada? Para a sorte de Rebecca, ninguém sabia daquela segredo. Com exceção de uma pessoa. Claire sabia, e estava usando aquilo contra a amiga.

O que nenhuma das duas percebia – ou, na verdade, não queriam perceber era que naquele encontro entre duas garotinhas distintas, anos atrás, muita coisa havia mudado. Claire e Rebecca haviam compartilhado muito mais do que namorados, segredos e roupas. Elas haviam compartilhado sua personalidade. Sem querer, dividiram ora arrogância, ora inocência. E aquela troca não poderia ser desfeita.


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Notas finais do capítulo

Caso vocês se perguntem "Nossa, mas pra quê ressaltar tanto que a casa não é dos pais da Becky?", é pra vocês entenderem bem porque que os guris ficaram tão chateados com a Aurora quando ela disse que eles moravam de favor. Na verdade, a Becky é quem mora de favor.