— Uma pergunta básica: quem eu deveria parabenizar por essa atitude ridícula? – Louis questionou, entrando na cozinha. O silêncio caiu bem como uma luva. – Ninguém vai responder? Isso significa que devo parabenizar a todos?

— Do que você está falando? – Travis questionou, sem encarar o irmão. Todos nós sabíamos do que ele estava falando.

— Isso é tudo dor de cotovelo, maninho? Por acaso você também queria a Amber e não conseguiu?

— Você sabe bem o que eu queria, Louis – Travis respondeu de forma seca.

— O que ele queria? – sussurrei para Rebecca, mas ela apenas riu.

— Já não sei de mais nada, Travis – Louis respondeu. Pegou uma maçã e encarou o irmão, sorrindo de forma... demoníaca. – Você parece querer tudo o que é meu.

E assim Louis saiu da cozinha, deixando um silêncio desconfortável entre nós. E eu sem entender o motivo.

— Você sabe que ele só está tentando te provocar – Miles respondeu, tocando o braço do irmão.

— Devi avisá-lo de que está conseguindo? – Travis questionou, irritado, e se levantou. Eu tentei dizer algo, mas ele apenas saiu da cozinha.

E assim haviam se passado os dias. Travis chegava, Louis saía. E vice-versa. Eu apenas observava a cena. Isso, até o dia em que Louis resolvera se sentar em nossa mesa durante o intervalo no colégio. Porém, ele estava acompanhado. De Amber. Eu levantei no instante em que a avistei, fazendo Travis rir e sair logo atrás de mim.

—

Sábado.

— Eu não acredito que o baile é hoje e você ainda não me mostrou seu vestido – Rebecca reclamou.

—Eu não acredito que o baile é hoje e você ainda não me disse com quem vai – rebati.

— Você vai ver meu acompanhante na hora certa.

— E você vai ver meu vestido na hora certa.

— Por favor, me digam que não estão tento a discussão vestido x acompanhante novamente – Travis resmungou, entrando no quarto.

— Eu já sei exatamente quais são os argumentos de cada uma – Miles completou, entrando logo atrás do irmão.

— Calem a boca! – eu e Rebecca ralhamos, em uníssono, rindo.

— Vocês vão almoçar conosco? – Travis questionou.

— Não sei, vamos? – perguntei à Rebecca, me jogando na cama.

— Acho que sim. Contanto que não demorem demais. Temos que nos arrumar.

— Becky... O baile é às 20h... – Miles comentou, olhando o relógio.

— Eu sei disso, e sei também que preciso estar perfeitamente e milimetricamente linda – ela esclareceu, dando de ombros.

— Você é meio louca, amiga – eu disse, revirando os olhos. – Você já é linda, não precisa passar oito horas em um salão de beleza para isso.

— Na verdade, você é quem deveria estar preocupada com isso, não é mesmo? – ela rebateu, parecendo irritada. Rebecca estava num humor um tanto quanto... cansativo nos últimos dias. Tudo a irritava e tudo era motivo para discussão. Consequentemente, acabava nos irritando também. Quando viu que eu não responderia, continuou. – Afinal, é você quem está concorrendo a Rainha do Baile.

— Obrigada por nos lembrar disso, Becky – Travis resmungou. Eu sabia que ele estava querendo aquilo, mas ele também sabia que eu não queria, e por isso fingia se incomodar. Eu me sentia completamente egoísta, mas, oras, não poderia me sentir confortável sabendo que concorreria com Louis e Amber!

— Ei. Aurora! Ainda está aí? – a voz de Travis chamou de algum lugar no fundo do universo.

— Ah, estou. Estava apenas pensando em uma coisa. – respondi, sorrindo.

— Certo. – ele me olhou, cabisbaixo, como se já soubesse no que eu estava pensando. – Nós já estamos saindo, você vai conosco?

— Vou sim. – respondi, pegando minha bolsa e saindo do quarto logo atrás de Travis.

—

— Onde é que vocês querem almoçar? – Mark questionou assim que entramos no carro. Miles entrou no banco do carona e eu, Becky e Travis tivemos que fingir que estávamos olhando qualquer coisa do lado de fora para os dois poderem dar um selinho, já que morriam de vergonha de fazer isso em nossa frente.

— Não sei, qualquer lugar pra mim ‘tá ótimo – eu disse, no momento em que meu celular tocou. Peguei o aparelho e encarei o visor. Demorei alguns – muitos – segundos para assimilar o nome à pessoa.

— Não vai atender? – Travis questionou, olhando por sob meu ombro e tentando ler o nome.

Eu apenas assenti, sem saber o que falar.

­— Alô – murmurei.

— Oi, Aurora! Quanto tempo! – a voz de Theo soou animada do outro lado da linha.

— É. Muito tempo – resmunguei.

— Então, como você está? Foi embora sem nem se despedir! Tô morrendo de saudades!

— Ah, desculpe por isso, eu sai com pressa e fui pega de surpresa. Também estou com saudades, Theo – respondi, e provavelmente até o motor do carro percebeu que eu estava mentindo.

— Quem é? – Travis questionou, sussurrando.

— Olhe, Theo, desculpe, mas estou realmente ocupada agora – respondi, sem entender porque diabos Rebecca estava tendo uma crise de risos – Ligo para você depois.

E desliguei rapidamente, antes que meu amigo chato protestasse.

— Quem é Theo? – Mark, Miles e Travis questionaram no mesmo instante. Becky apenas ria.

— Um amigo de Salem – respondi, dando de ombros.

— Você por acaso vai ao baile com ele? – Travis indagou, descendo do carro e batendo a porta.

— Mas que diabos...? – questionei, também descendo.

— Esqueça – Miles respondeu, rindo. Ele jogou o braço sob meu ombro, me abraçando. – Vamos.

—

— Você está incrível! – Phillipe exclamou, virando a cadeira e me fazendo virar junto.

— Tem certeza? – questionei. – A maquiagem não está pesada demais? Não estou parecendo um monstro de filme de terror?

— Assim você me ofende, garota! – ele reclamou. – Sua maquiagem está perfeita, afinal, fui eu que fiz. Agora levante daí e vá logo vestir a roupa, não queremos ninguém atrasada para o baile.

Levantei-me da cadeira, sorrindo agradecida e tentei me olhar no grande espelho do salão, mas Phillipe rapidamente me empurrou na direção contrária. Deparei-me com Miles e Mark sentados, lado a lado, de braços cruzados e cara emburrada. Eu não saberia dizer se Miles estava com ciúmes de Phillipe ou, bem, se Mark estava com ciúmes de Phillipe.

Mas resolvi deixar aquilo para depois, afinal, eu queria ver meu vestido de uma vez por todas. Ah, sim, eu havia escondido o vestido de Becky durante a semana inteira, mas eu nem eu mesma o havia visto. Aquilo era obra de Mark, obviamente. Abri a grande sacola preta e me deparei com um vestido azul maravilhoso. Me vesti rapidamente e voltei para que Phillipe terminasse meu cabelo. Eu estava tentando pensar em qualquer coisa menos no que aconteceria a seguir, mas a verdade era que eu estava morrendo de nervosismo. Eu não conseguia sequer pensar que estava prestes a encontrar Travis. Minhas mãos suavam de nervoso e eu mal conseguia respirar, mas eu apenas sorria.

Pelo menos eu ainda teria mais alguns minutos antes de morrer por completo. Como Travis era do time do colégio, ele teria que chegar lá antes de nós. Por isso – e pelo fato de que Louis provavelmente estaria em casa com Amber – ficou combinado de que eu iria com Mark e Miles e encontraria Travis lá, sem toda aquela formalidade. Eu queria admitir para mim mesma – para assim poder admitir para meu casal gay favorito, que aliás estava me pressionando – que estava louca para ver Travis, arrumado, cheiroso, engravatado e... Azulado só para mim. E foi com esse pensamento que eu calcei meus sapatos azuis de salto alto e peguei minha bolsa prateada, dando um beijo em Phillipe em forma de agradecimento. Mark e Miles batiam palminhas para mim, e eu acho que aquilo significava que eu estava pelo menos agradável aos olhos. Peguei minha máscara preta com detalhes prateados e a coloquei, ajeitando-a sobre meu cabelo, que estava preso em um meio-coque, com as pontas enroladas. Ajeitei meu vestido, pensando logo em como minha mãe piraria se visse a fenda sob meus seios e ri. Dei a mão para meus dois homenzinhos favoritos e sai do salão, me dirigindo para o carro.

— Bela Adormecida, já pode parar de tremer um pouco – Mark brincou, abrindo a porta para mim.

— Dá um tempo – reclamei, sem graça. Eu não queria que nenhum deles percebesse que aquele nervosismo nada tinha a ver com a coroação no baile e era simplesmente por causa de Travis. Não precisa de ninguém no meu pé.

Miles disse qualquer coisa que eu não ouvi por estar nervosa demais e Mark rapidamente deu a partida no carro. Eu procurei por meu celular em minha bolsa, coloquei os fones de ouvido e deixei tocar uma música aleatória, no volume máximo. Então fechei meus olhos e respire fundo.

E de repente meus olhos estavam pesados...

— AURORA! – Miles gritou no mesmo instante em que abriu a porta do carro, quase me derrubando.

— Você enlouqueceu? – questionei, brava, arrumando meu vestido.

— Eu é que te pergunto isso! – ele respondeu. – Quem você acha que é para dormir? Quer estragar essa obra de arte? – questionou, apontando para mim.

— Seu idiota – reclamei, rindo. – Bom, vamos lá, vamos encarar.

Estendi a mão para os dois e começamos a caminhar pela calçada de pedra do colégio, que estava toda iluminada e enfeitada com balões prateados. Rapidamente chegamos ao ginásio, e, antes que eu pudesse ver pelo menos a decoração, eu vi algo que fez minhas pernas bambearem. Eu queria ir embora dali, e acho que se Miles e Mark não tivessem me segurado, eu o teria feito.

Não foi porque eu vi Travis completamente lindo e sorridente parado a minha frente, nem porque eu vi Louis e Amber se pegando em um canto, mas sim... Porque eu vi Rebecca, a minha Rebecca, minha melhor amiga, usando o vestido rosa que eu escolhera, abraçada com uma pessoa. E eu não podia acreditar.

No canto do ginásio, uma Rebecca sorridente segurava um copo de ponche e conversava alegremente com Claire. E como se já não fosse suficiente... Eu podia ver seus dedos entrelaçados com os de um rapaz. Que eu conhecia muito bem. Josh.